Trabalhe! - Capítulo 8
Dia 18
7:20
Já estou no escritório, mas como não tem ninguém por aqui, eu tiro um leve cochilo…
Míseros minutos se passam e já ouço alguém abrindo a porta. Por sorte, minha reação é sempre rápida. Em instantes acordo e volto parar
É um saco isso! Não posso nem mais dormir no trabalho, que já aparece gente para me atrapalhar.
20:00
Naturalmente o tempo passa e o que viria a se tornar minha rotina se repete. Ana decidiu ficar de novo, mas dessa vez ela também mandou uma mensagem, palminhas… só que não! Porra! Não quero ficar esperando ela.
— Pergunte logo o que quer. — Vou até ela e digo. A propósito, a mensagem que ela me mandou foi: “posso falar com você mais tarde, quero fazer uma pergunta?”.
Sim, ao invés de só perguntar de uma vez, ela vai lá e pede para perguntar. É foda! Enfim, vamos ouvir a resposta da Ana.
— Eh! Desculpa se eu estiver atrapalhando, mas…— Parece que deixei minha falta de vontade óbvia de mais no meu rosto.
E agora eu criei mais um problema para mim, porque o nervosismo da Ana dispara e ela começa a falar muito rápido. Resultado: não entendo nada.
Pelo menos é algo um pouco fofo de ver, eu diria. Mas não tenho tempo para perder, por isso digo: — Relaxa e fala com calma, por obséquio.
— Desculpa! — Ana nota seu erro e se desculpa exageradamente.
— Tanto faz, só continue com mais calma.
Ana olha para baixo e diz: — Sim, desculpa por ser um incômodo
Que saco! Ela não para de se desculpar. Ok, já que, se ela continuar assim, provavelmente vou morrer de tédio, deixa eu ver…
— Você é um incômodo, se desculpar não vai mudar nada — Ok, vendo a cara de depressão da Ana, diria que exagerei um pouco na minha fala.
De qualquer forma, continuo falando: — Incomodar e ser incomodado por outros faz parte da vida e principalmente dessa porra chamada amizade.
Ana olha para mim sem entender. Boa! Aparentemente consegui uma frase de efeito enigmático. Ok, agora que já brinquei de mestre misterioso, acho que posso explicar logo, por isso digo:
— Pense, se não há ninguém que possa incomodar quando precisa, significa que está sozinha, por conseguinte se tem alguém, esta pessoa deve então ser chamada de amigo.
Resumindo, a amizade é uma relação estranha, onde você deixa outra pessoa atrapalhar sua vida com os problemas dela. Claro, tem a parte da afinidade e diversão, mas essa é mais fácil. Continuando minha palestra:
— Ou seja, se nunca se permitir incomodar os outros, nunca vai conseguir construir esse tipo de relação. Só conte com as pessoas em quem confia e aquelas que não quiserem te ajudar, bem, é só tratar normalmente no dia seguinte, como um colega.
Ana me olha cheia de interesse quando ouve isso, consequentemente acabo me empolgando e…
20:50
Ana encolhe os ombros, fala muito baixo, mas ainda com certa clareza: — Iky, posso te pedir para me ajudar a fazer novos amigos e com várias outras coisas.
Merda! Basicamente ela perguntou: somos amigos, né? Então me ajuda. Porra! Como isso chegou a esse ponto?
Que saco! Não adianta reclamar, afinal eu sei que só existe um culpado para as coisas estarem assim, a Susi! Se ela não tivesse feito eu sair do meu quarto, eu nunca teria feito tanto merda, tipo conseguir uma amiga.
Ok, eu sei que a culpa é minha. Tudo começou quando Ana olhou cheia de interesse para mim, então me empolguei.
Por mais vagabundo que eu seja, ainda sou um humano, ou seja, sou um animal social de merda, que gosta de receber admiração dos outros.
Ana, por outro lado, é alguém sem critério nenhum, burra o suficiente para achar que algo que eu disse faz sentido e realmente considerar algo valioso, as merdas que eu digo.
A pior parte dessa merda toda, é que eu sou um vagabundo inútil, não tem como eu conseguir ajudar alguém!
Enfim, depois de tudo o que eu disse, não posso fugir e dizer: não estou afim de te ajudar, por isso só me resta dizer: — Ok, conte comigo.
Ana sorri alegremente em resposta. Enquanto isso, eu não faço ideia de o que fazer em seguida.
Olho para Ana, ela definitivamente parece esperar que eu diga algo. Que saco! Vamos lá, já que estou nisso, podia pelo menos enssinar ela a se comunicar, apesar de que isso é meio idiota.
Deixa eu pensar… êh, alguns truques básicos devem ser o suficiente, depois é só jogar ela no fogo para aprender o resto sozinha.
— Ok, vamos começar com algo simples, que qualquer tímido consegue fazer: pessoas gostam de ser escutadas, faça uma ou outra pergunta aberta em seguida escute atentamente e pronto.
21:30
Ah! Sim, nunca esqueçam, se quiserem mais informações, comprem meu curso, não vou ficar dando de graça!
Enfim, falei sobre muitas coisas e acabei perdendo um bom tempo nisso. Pelos menos, acho que pude provar em tempo real como as pessoas gostam de ser ouvidas, principalmente quando são perguntas sobre sua vida ou ideias.
Não é como se eu precisasse explicar o óbvio, ninguém vai gostar de ficar falando por horas, sobre suas contas de luz.
Claro, depois de passar tanto tempo falando, também ensinei outra coisa, as pessoas gostam de ouvir, apesar de que para isso existem mais condições.
Mas já chega, novamente, isso não é um curso de como fazer amigos e influenciar pessoas, até porque esses truques não criam amigos, só fazem as pessoas gostarem de você.
23:00
Olho para o espelho e me encaro tanto, que posso me sentir olhando para minha própria alma. Eu deveria estar indo dormir agora, mas estou de volta no meu arrependimento noturno.
— Eu me odeio!
E mais uma vez, eu acabo o dia com mais trabalho do que quando comecei, se continuar desse jeito, eu posso até virar um membro útil da sociedade até o fim do ano, porra!