Trabalhe! - Capítulo 7
Dia 17
7:00
Depois de um dia de descanso parece que já estou melhor. Sem muito esforço consigo me preparar e ir, espero que dê tudo certo.
Assim que chego já comprimento todos: — Olá, desculpa pelo atraso e por não poder comparecer ontem.
Assim que me vê, Caio pergunta um pouco ansioso: — Você está bem? O que aconteceu? Por que a Suzana veio em pessoa?
Só pelo que ele falou, já consigo imaginar toda a história. Susi de ter vindo avisar eles que estava doente. A empresa é gigantesca, nunca em uma situação normal a dona viria avisar sobre um funcionário que está doente.
Enfim, não posso deixar de achar engraçada a tensão de todos, mas seguro o riso. Ok, agora só preciso responder qualquer coisa, tipo: — Nem sabia que a Susi tinha vindo, mas não aconteceu nada demais, relaxem.
— Susi? — Merda! Por que eu tinha que usar a porra do apelido? Se antes estavam suspeitando, agora eu só piorei tudo, sou um gênio mesmo.
— Susi abreviação para Suzana, não é genial?… Só por favor não contem para ninguém sobre isso, foi só uma piada, preciso manter meu emprego também — digo.
Ok, talvez desconversar de última hora não seja meu forte, mas aquela foi a melhor coisa que pensei em dizer. Infelizmente, agora só resta torcer para acreditarem.
De qualquer jeito, também não é o fim do mundo, posso deixar eles criarem as teorias e fanfics que quiserem na cabeça, não vai mudar nada.
Outra coisa, logo descubro que, ontem, a Susi deu folga para todo mundo. Até aí tudo de boa, mas tenho certeza que ela aproveitou para olhar como tudo está indo, ou seja, estou fodido e, de brinde, o nosso cronograma já atrasado, ficou ainda pior.
20:00
Gostaria de ir embora logo, mas a Ana está com cara de quem quer falar comigo, por isso fico. Viu, sou um cara muito legal, por isso, Deus, por favor me dê mais crédito(karma), porque estou precisando, desperdicei o último, infelizmente.
Agora finalmente não tem mais ninguém, por isso Ana deve vir falar comigo em breve. Contudo essa vida de ficar até mais tarde é um saco, por isso digo:
— Não precisa ficar esperando até mais tarde, se está com vergonha de falar na frente dos outros use mensagem.
— Não tem problema, não ligo de passar o dia aqui.
— Mas eu ligo, já ouviu falar de leis trabalhistas? É um crime se ficar tanto tempo aqui sem ganhar mais para isso. — Mais importante, não quero ter que ficar esperando porra! É muito chato.
— Humm! Mas você não entra mais cedo e sai mais tarde que eu, isso já não deveria ter sido considerado criminoso?
Apenas invento algumas desculpas para a Ana. No fim, meu caso é um pouco único, mal dá para me chamar de funcionário, sabiam que nem salário eu recebo?
Claro, nunca processaria a Susi ou qualquer coisa do tipo, até porque ia precisar pedir dinheiro emprestado para ela, para conseguir o advogado.
Agora a gente pula a parte, que eu convenço a Ana a me mandar mensagem, ao invés de ficar esperando até mais tarde e chegamos nela dizendo:
— Mais importante, já tinha esquecido. Você está bem? Fiquei esperando porque estava preocupada. — Olha e não é que eu sou um ladrão de corações, deixando tantas ladies desesperadas, com um simples desmaio.
Enfim, vamos só com a resposta padrão: — Sobre isso, bem, pode relaxar, tô de boa. — E pronto, isso já deve ser o suficiente, não quero dar uma explicação.
Depois, ela insiste em saber mais, eu conto uma coisa e outra, omitindo algumas partes, até que ela faz a pergunta:
— Mas por que você teve uma reação auto-imune? — Boa! E de novo eu consegui falar demais, porra! Duas vezes em um dia é de foder.
Claro, eu não quero ter que ficar explicando nada para ela, por isso vamos tentar… sei lá, só dizer qualquer coisa:
— Não importa muito.
— Claro que é importante. — Ok, com minha puta habilidade de mudar de assunto, é óbvio que não iria conseguir. Que saco!
Já que é assim, só me resta contar o que houve: — Resumindo, sofri um acidente e acabei machucado o braço e quebrando alguns ossos, ai tive que colocar uns troços e principalmente o braço, como só arrumei um bom tempo depois, às vezes da pau.
Pronto, acho que essa explicação ficou boa, né? E se acha que não, vai tomar no cu, porque não quero ficar lembrando do dia!
Sim, espero que a Ana não peça mais nenhuma explicação, porque não quero dar. Inclusive, deixo claro no meu tom de voz que não falarei mais sobre isso.
— Entendo, deve ter sido complicado, sempre quis saber porque anda sempre de luva. — Boa! Ela não perguntou mais.
— Ah! E sobre a luva, só não gosto de mostrar. Mas já chega de falar sobre mim e você como está? — E acabou o assunto sobre mim, nunca mais quero entrar nele.
Ana olha para o chão meio insegura, provavelmente as coisas não estão indo bem no trabalho. Faço um cafuné nela, por força do hábito. Só para acabar, vamos com alguma frase motivacional bosta:
— Por enquanto, tente focar nas suas obrigações e no que pode fazer, não precisa ficar se preocupando se vai dar certo ou não. — Na real, nem sei se isso conta como motivacional.
— Ok, vou tentar, mas… — Suavemente bato na sua cabeça e em tom leve digo:
— Já chega de falar tão sem confiança. — Não tive que trabalhar ontem, por isso hoje estou meio que disposto, por isso vou dar um conselho aleatório.
Ana olha para mim, meio que perguntando: que diferença faz. Eu, como ser iluminado que sou, por algum motivo me presto a explicar:
— Infelizmente os humanos são subjetivos, não adiantam fatos, o importante é como esses fatos se parecem.
— O que quer dizer?
— Simples, tendemos a achar nossa primeira impressão, mais verdadeira que a análise fria da realidade, ou seja, se não puder demonstrar confiança e transmitir o que pensa, a maioria simplesmente não a ouvir.
Ana me olha preocupada, ela deve estar pensando: fudeu, nunca vou conseguir. Ou talvez não, sei lá, não tenho o poder de saber o que os outros pensam.
— Relaxa, nem é tão difícil, posso até te ensinar alguns truques simples, para facilitar com isso.
— Sim!
— Ok, deixa eu lembrar… Êh, costas retas, isso é importante. Também não se esconda atrás dos braços, quando estamos inseguros escondemos o peito e o pescoço, abaixando a cabeça e usando os braços. Outra coisa…
E para ter todo esse conhecimento, basta comprar meu curso, por apenas 1200 reais! Só que não, mas esse não é um livro de autoajuda, e sim uma história sobre mim, não tem porque continuar nesse assunto.
Se quiser saber mais, apenas vá procurar os artigos científicos que embasam isso, eles são pirateados gratuitamente, basta procurar no sci hub. De brinde, você pode aprender inglês, para conseguir lê-los.
Sim, eu sei que ninguém vai fazer isso, é muito trabalho, mas sempre tem a opção de um livro de auto ajuda, que provavelmente não funciona.
Enfim, não importa, por sorte meu eu do passado, já fez o trabalho de aprender isso por mim, por isso é fácil ensinar a Ana.
23:00
Olho para o espelho e me encaro tanto, que posso me sentir olhando para minha própria alma. Eu deveria estar indo dormir agora, mas…
— Eu me odeio!!!
Mais uma vez arrumei mais trabalho para mim mesmo. Depois de dar algumas dicas, Ana ficou super agradecida. Aí, por algum motivo, me ofereci para ajudar de novo.
Porra! Por que eu sempre acabo fazendo as coisas sem pensar? Agora me envolvi ainda mais, se eu conseguisse só ignorar a existência dela e deixá-la se foder sozinha, minha vida seria bem mais fácil.
A pior parte, além de me meter, eu sou um preguiçoso inútil, por isso o resultado só vai ser: eu terei que trabalhar mais e nem ajudar de verdade vou.
É estupido esperar que eu consiga fazer algo útil!