Trabalhe! - Capítulo 62
O que eu sinto?
Acordo, hoje deveria ser nosso último dia aqui, ou seja, o prazo parece apertado, tenho que tomar uma decisão logo.
Me arrumo, dá um pouco de trabalho por estar cansada, mas, enfim, não é nada muito complicado, apenas trocar de roupas e alguma maquiagem.
Saio do meu quarto, olho em volta, parece que ele ainda não acordou, bem, tinha achado estranho ele ter acordado cedo nos outros dias, então imagine em um domingo.
— Ei! Acorde idiota. — Chuto a porta.
Ufa! Não acredito que fiz isso, para que? Nem faz diferença, na verdade, queria adiar o máximo possível esse dia, essa decisão, então por que a acelerei?
Merda! No fim, tenho essa minha mania de não fugir, droga! Eu não podia aceitar esse medo dentro de mim, por isso me obriguei a fazer algo idiota para enfrentá-lo o quanto antes.
— Já estava acordado, apenas me arrumando.
— Entendo.
Agora, o que fazer? Devemos ir comer, mas nem estou com fome, humm! Sair de novo… talvez. Chuá! Como se rindo da minha ideia, a água cai do céu em grande quantidade.
— Nossa, está chovendo muito, bem hoje, que azar, seria melhor nem ter acordado cedo — Iky comentou.
Eu sei, droga! De qualquer forma entendo o que ele quer dizer com isso, algo como: que desculpa pretende usar agora para passar o tempo, principalmente agora que me acordou tão cedo?
— Quer ver um filme? — pergunto meio sem certeza.
— Se é o que tá tendo de opção, qual gênero?
— Romance, acho. — Juro, realmente juro, disse isso sem querer, não pensei em nada. Por coincidência, esse é o tipo de filme que gosto mais, saiu naturalmente, pouco tempo depois, estava morrendo de vergonha.
Deve ter demorado meio segundo para falar, mais meio segundo para notar e morrer de vergonha, depois de agonizar por mais ou menos mais um segundo, já sei! Pensei em algo para dizer para disfarçar, mas..
— Haha! Tenho certeza que está agonizando de vergonha agora, disse isso por força do hábito, né? — Cala sua boca! Não me vem como esse olhar de superioridade, filho da puta!
No mínimo, a raiva me fez esquecer a vergonha, boa jogada Iky!
— Bem… sim — ainda assim, respondi envergonhada.
Nesse caso, tudo que posso dizer é concordar, assim, evitamos o tópico desconfortável.
— Mas não tem motivo para ficar com vergonha do seu gênero favorito de filme, nesse caso, porque não encaramos isso agora, senão passaremos o dia desconfortáveis.
Um golpe crítico! Não esperava o Iky trazendo ativamente o tópico desconfortável, apesar de que, nesse caso, isso interessa ele, imagino que esteja ansioso por uma resposta, mesmo que não demonstre muito.
— Desculpe, eu ainda não… — Eu ainda não sei, apenas essas palavras deveriam ser suficientes, mas não consigo dizer isso.
Sem reação, palavras, gestos, nada, Iky apenas espera meu movimento, a decisão é minha, mesmo se quisesse mudar de assunto agora ele provavelmente permitiria.
Sua sensibilidade para momentos como esse, quando falar, quando ficar quieto, quando dar espaço, quando pressionar. Como sempre, ele é muito bom nessas coisas, sempre forçando os outros a falar aquilo que está mais fundo dentro de si. Inclusive, aprendi a fazer isso com ele, mas não vem ao caso.
A quanto tempo será que faz? Quando foi a última vez que vi esse Iky? Deve ter sido no orfanato. Desde criança, esse foi um talento dele, imagino que tenha parado de usar por vários motivos.
Desvio um pouco o olhar, se nos encararmos vou me sentir desconfortável. Suspira! Inspira! Se acalme, lide com isso, tenho que decidir, se não puder decidir devo ao menos falar isso, tenho que dizer algo agora, por isso diga!
— Desculpe, não sei nem o que dizer. — Só me resta admitir, deprimente, mas é a única resposta que consegui dar, mesmo espremendo meu coração até o fim.
— Você odeia estar comigo? — Ele pergunta, uma voz calma, sem pressão é até um pouco difícil de entender, o que ele está sentindo no momento.
— Claro que não! — Se for uma pergunta fácil dessas, até meu eu atual pode dar uma resposta direta.
— Nesse caso, me ama?
— Não sei, existem mais nuances entre um e o outro.
— Haha! De fato, existem e muitas. Então, o que acha de passar o tempo com minha incrível pessoa?
— Gosto, acho —digo francamente.
— Hummm! Nesse caso não tem problema vivermos juntos por mais um tempo, não acha?
— Isso…
Eu entendi onde ele quer chegar, mas isso não torna a decisão fácil, mesmo que esse seja o caso agora, não entendo direito meus sentimentos, por não entender tenho dificuldade de confiar neles, por isso…
— Não acha que está pensando um pouco demais em tudo. — O comentário quebra completamente minha linha de raciocínio. Uma cara de dúvida é tudo que posso dar em resposta. — Na minha opinião, só há dois tipos de decisões que precisamos tomar, as de merda e o resto.
Não entendo porra nenhuma, mas olho fixamente ara ele dizendo, com o ohar, para continuar logo com o que quer dizer.
— As de merda são minoria, são aquelas que não podemos mudar, como quando você tem apenas dinheiro para um jogo e escolhe um ruim, ao invés do outro que era foda e todos os seus amigos tem.
Depois de dar um exemplo extremamente específico e pessoal, o olhar do Iky se perde do nada, parece vaguear pelo passado, sinto o peso do arrependimento em seu olhar.
Encosto no ombro do garoto e encaro com empatia. — Força, tenho certeza de que podemos jogar esse jogo qualquer dia. — Iky parece estar próximo das lágrimas. — Mas não estou nem aí para isso agora, continua logo com a palestra. — Antes que fique emocional, corto ele.
— Má, má, demônio! — Iky reclama para o nada, em resposta, dou um sorriso ameaçador. — Glup! Voltando.. onde estava mesmo? Algo sobre escolhas, né… Lembrei! Tem o segundo tipo, as que dão para mudar.
— Mas isso não é algo que…
— Posso mudar. — O filho da puta me interrompe e completa a minha frase! — Tem certeza? E o que te impede de trocar depois?
— É complicado e…
— Mas ainda pode trocar, claro, não estou dizendo para não pensar sobre isso, afinal, mesmo que possa mudar, depois o tempo perdido não volta, contudo isso também não quer dizer…
— Que eu não possa arriscar! — Chupa, Iky! Dessa vez eu terminei sua frase, venci!
Fico animada depois de finalmente entender uma coisa óbvia. Na verdade, isso é irritante, sinto que estive por baixo na maioria das discussões nessas casa. Decidido, não vamos voltar para cá! Com certeza a culpa foi da casa, confia.
Finalmente com um entendimento melhor de várias coisas, decido acabar com o capítulo.
Por que?
Não é obvio, porque sim, foda-se.