Trabalhe! - Capítulo 60
Outubro 5
Dia 24
— Já chega — Susi dá um murmuro quase inaudível. — Desculpe ter feito você esperar tanto, vamos ter uma conversa sobre nossa relação.
Olho para um lado, olha para o outro…
— Olhe nos meus olhos.
— Desculpe apenas que…
— É muito vergonhoso, sei, ninguém chega para o namorado e fala isso, ninguém normal pelo menos, por isso da vergonha. Mas sabe, se quiser encontrar uma resposta que pessoas normais não tem, então comece por não agir normalmente, hehe! — Ela é muito fofa, droga.
Ainda tento desconversar dizendo que ela estava agindo muito como adolescente apaixonada, mas Susi estufa o peito e aceita a alcunha. No fim, não tem como escapar dessa garota. Pior, tudo que ela faz sempre parece tão daora.
Porém, como sempre, adivinha quem nos visita? Meu velho amigo, o silêncio. Lá fora, uma chuva começa, sempre chove aqui quando começa a tarde. Inclusive, agora, 2:30, se fosse numa quinta, estaria vendo oregairu, ou era 1:30? Não lembro.
— Sem perder o foco com coisas inúteis. — Susi não me deixa escapar da realidade, que saco! — Mesmo assim é uma bela chuva. — E, claramente, não sabemos por onde começar, mas assim você saberia? É foda irmão.
Honestamente, já que está tudo cagado mesmo, junto o resto de coragem que tenho e jogo a bomba, digo:
— Quer casar?
— Mas que tipo de proposta é essa? — Até Susi foi pega de surpresa, no mínimo, consegui ver a fofíssima surpresa da Susi.
— Sei lá, não sabia por onde começar. Agora, o que quer, vai casar comigo ou não? — Já aprendi, o segredo numa conversa, é jogar a responsabilidade para o outro lado.
— Bem, respondendo a pergunta, não sei.
— Não tem problema, nesse caso tome o tempo que precisar, isso, se de fato gostar de mim, o que acha?
— Eu sem dúvidas gosto.
— Mas não necessariamente romanticamente, né?
— Nem sei o porquê, mas honestamente não posso te dar nenhuma resposta satisfatória.
— Então, vamos falar sobre mim. — Por vontade própria, viro os canhões para meu lado, que genial!
Minha sanidade mental está sendo perdida, mesmo assim achei uma boa ideia, por pelo menos alguns segundos, antes de me arrepender claro.
Eu realmente preciso parar de falar as coisas assim do nada.
— Tem certeza, vai virar tudo para você assim, mesmo que estivesse na vantagem? — Até a Susi está questionando minha sanidade, de fato, estou com problemas mentais graves.
— Não precisa me dizer, já notei meu erro, mas nem sequer temos outra opção, não vai conseguir dizer nada útil hoje, então só resta eu.
— Então… êh — um sorriso demoníaco surge no rosto dela — vou assumir o papel de fazer perguntas, será um prazer. — Fudeu, definitivamente fudeu, de quem foi essa ideia de merda de me colocar no fogo? Me odeio!
Enquanto tenho uma crise interna, Susi me olha com um enorme sorriso, ela definitivamente vai me torturar hoje.
— Pera, antes de fazer qualquer pergunta, temos que fazer um acordo, todas as perguntas que fizer hoje, vai ter que responder amanha.
— Ok, justo. Hummm… pode começar me dizendo por que gosta de mim — Surpreendentemente, ela me olha tímida quando pergunta isso. Fofa, fofa, muito fofa, ela é muito fofa.
— Cute. — Inglês é mais chique.
— Responde direito, porra!
— Primeiro você perguntando foi muito fofo, tanto que perdi o raciocínio, segundo isso é parte do motivo.
— Aparência? — Ela pareceu decepcionada.
— Peraí, guarde o seu olhar de decepção para depois, pois, provavelmente, o fato de ser rica também colaborou”.
— Isso…
— Parece superficial, melhor, é superficial, mesmo assim são partes de você, por mais superficial que seja, também são parte do que me fazem, ou melhor, são parte do que todos os humanos olham nos outros..
— Mas… — Ok, chega dessa brincadeira, sinto que estou arriscando nosso relacionamento pela piada. Engulo seco e falo mais sério:
— Dito tudo isso, você gosta de mim e eu não tenho nenhum desses atributo. Mais importante, atente-se na palavra “parte”, essas coisas são uma parte às vezes mais, às vezes menos relevante, mas estão longe de ser tudo. — Pronto, acho que já salvei um pouco a situação.
No fim, para minha sorte, existem pessoas com um mau gosto extremo.
— Você realmente precisava ter começado pelo pior? — Achei que seria engraçado, mas foi uma má ideia, admito, nem vou comentar isso, inclusive, melhor mudar de assunto:
— Mas, sabe, olhe para fora.
— É bonito, e daí?
— Se não fosse por essas suas qualidades, nunca poderia ter a memória que ficará para sempre na minha mente, muito mais nítida do que qualquer foto dessas montanhas. — Foi romântico, né?
— Isso… — Boa, consegui a reação fofinha que queria!
— No fim, o que nos faz amar alguém é um conjunto de tudo, mesmo do mais relevante, até o mais profundo, tudo isso junto deixa uma marca na nossa alma.
— Ahan! Que forma bonita de dizer que está com alguém por interesse. — Se recuperando da sua vergonha, Susi tenta fazer um comentário irônico.
— Não é? Acho que deveria virar palestrante. — Mais uma vez o nível de seriedade é reduzido, acho melhor assim. — Vamos ver um anime? — Agora é aproveitar o momento descontraído e sair pela tangente.
— Sério, isso vai ser sua resposta? Se não melhorar ela logo, acabou.
Merda!
— Merda!
— Haha! Sua cara é impagável.
— Seu sorriso, a forma como deixa o clima mais leve, amo isso. — De surpresa, solto o meu ataque.
— Humm! Valeu. — Ela fica um pouco tímida com a resposta repentina, ou seja, meu ataque foi super efetivo.
— A Forma como me ajudou, minha gratidão, admiração se misturaram em desejo, queria ser mais próximo, isso acabou se tornando amor. — Estou começando a me empolgar. — Sua obstinação e talento, principalmente quando éramos crianças, sua existência era como uma rival e amiga, isso me encantava, por isso virou minha crush.
Cada vez mais, Susi virava um pimentão fofinha. Isso! Tenho que continuar, hahaha! Até ela ficar super fofa! Bora!
— Seu senso de humor, inteligência e habilidade de ler as entrelinhas, tudo isso sempre nos permite ser muito próximos à nossa forma, adoro isso, é divertido. Particularmente, amo quando conversamos de forma que ninguém entende, me sinto tendo um momento especial, apenas meu.
É muito divertido ter uma pessoa próxima, essas piadas que só nós dois entendemos, todas essas coisas.
— Tem outra coisa, sua compreensão, você dificilmente julga alguém de forma enviesada, isso é impressionante. Sem contar a forma como consegue fazer de tudo, sempre quer mais, a forma como parece inalcançável, mas ao mesmo tempo uma garota perdida.
Para por um tempo, até eu tenho um limite no quanto de coisas consigo inventar. Pode parecer que consigo falar merda infinitamente, mas acaba o ar. Bem, para finalizar digo:
— O fato que estar perto de você deixa todos mais relaxados, afinal sempre assume todas as responsabilidades, acho isso admirável. Sem contar, que seus longos cabelos lindos, seu…
— Já chega, quanto tempo pretende ficar nessa?
— Se eu levar a sério até amanhã.
Ela olha para o relógio, 4 da tarde.
— Considerando quanto tempo já passou, não duvido nada.
— Mas, sabe, no fim, o que amo mais sobre você é simples, me sinto em paz comigo mesmo quando estou com você.
Um motivo egoísta, acima do interesse superficial, da admiração, da inteligência, de tudo, apenas uma auto satisfação, sinto que contanto que esteja com ela, estarei no caminho certo na vida.
— Sinto que você vai me forçar a avançar, mesmo quando eu não quiser, por isso me sinto em paz, por não ter que ser eu aquele sempre repensando a vida.
— Não vai só me achar insuportável por isso? — Num momento único e, que nunca se repetirá, Susi mostra preocupação com o que penso dela.
— Talvez, melhor, provavelmente… vou, quer dizer, não vou.. sei lá.
— Isso não parece confiável.
— Mas quero apostar na chance de darmos certo. — Meu comentário é super efeito, mais uma vez, ela fica fofinha.
20:45
Depois disso não tocamos mais no assunto, por que? Não lembro mais, acho que fomos assistir algo na TV, bem acho que no fim foi por que ela precisava desse tempo.
— Ei! Vamos fazer uma briga de travesseiro?
— Que idiotice, para que?
— Para passar o tempo, para nos aproximar, sei lá, parece divertido, vamos apenas esquecer tudo, limpar nossa mente para amanhã.
Com um suspiro, ela concordou com minha ideia. No começo, ela não foi muito séria, mas logo se engajou, afinal a competitiva Susi nunca perderia, mesmo em um jogo sem regras lógicas, ou vencedor.
No fim, seu quarto ficou destruído, ela foi dormir em outro, continuei com a terceira porta, estava, de novo, muito cansado para andar o corredor inteiro, mesmo que eu goste mais de dormir no final do corredor.
A propósito, acho que nunca disse sobre isso, apenas uma superstição de família. Não que tenha uma família, apenas inventei isso para sentir como se tivesse, não faz muito sentido, mas pro meu eu criança fazia. Na real, apenas não queria ser diferente dos outros, que tinham costumes que os pais ensinaram.