Trabalhe! - Capítulo 6
Dia 16
7:00
Que sonho esquizofrênico do caralho! Se antes eu estava no fundo do poço, agora sou um louco no fundo do posso, muito legal! Porra!
Aí! Depois da reclamação matinal tento levantar, contudo estava me sentindo muito mal. Com muito esforço consigo medir minha temperatura: 39°.
Merda! Para piorar tô com uma puta dor de cabeça, mas, olhando pelo lado bom, se pá consigo atestado, isso é algo bom, né?
Tento ainda me levantar e ir ao doutor, entretanto minha visão embaça e caio, agarro meu celular e simplesmente com as poucas forças que me restam ligo para o único contato que tenho salvo e deixo a mensagem socorro.
Vrummm!!! Depois de um tempo sou acordado pela vibração do meu celular. Parece que receberam a mensagem, porém não tenho sequer forças para atender, apenas me contorço e rapidamente voltou a dormir.
Não sei quanto tempo depois, acordo. Lentamente recobro a consciência, me deparando com uma luz branca, devo estar no hospital.
Abro os olhos lentamente, me acostumando com essa claridade do caralho. O médico nota logo que acordei e rapidamente vem me perguntar:
— Como está se sentindo?
— Minha cabeça ainda dói, mas estou bem melhor, o que aconteceu?
— Você teve uma reação auto-imune, no entanto parece que seu corpo voltou ao normal naturalmente, você já teve alguma dessas depois da cirurgia?
— Não, é a primeira vez.
— Entendo, por enquanto pode ir para casa, se sentir algum sintoma venha imediatamente, vou fazer um atestado de uma semana é melhor para seu corpo descansar por enquanto.
21: 00
Finalmente estou livre! Depois que acordei, o médico me explicou mais algumas coisas, mas foda-se, o importante é: não tem nada de errado com meu corpo. Resposta auto-imune, algo que pode acontecer às vezes, com quem usa prótese.
Claro, houveram mais procedimentos do que isso, não a toa estou morrendo, só quero voltar para casa e dormir! Fiquei só duas horas no hospital desmaiado, o resto do tempo foram exames atrás de exames.
Enfim, não quero continuar falando sobre o hospital, na verdade, eu não gosto de hospitais, eles me trazem lembranças ruins!
— Você está bem!? — E não é que ela está com cara de preocupada. Susi pode ser surpreendentemente fofa, às vezes.
— Melhor que nunca, até tenho um atestado, olha! — Tento deixar o clima mais leve falando e me movimentando animadamente, apesar da dor.
Enfim, tudo que é bom dura pouco, Susi deixa de ser fofa rapidinho. — Não me preocupe desse jeito!
— Hehe! O importante é que agora não vou ter que ir trabalhar. — Abro um sorrisinho deixando-a mais irritada.
— Você… rash! — Ficou em pedaços. Vendo minha salvação ser rasgada, sinto uma enorme dor no meu peito, quase como se um parente tivesse morrido.
Ok, sem mais exageros e a cara irritada da Susi, é bem melhor que a de preocupação. Sim, assim é bem melhor, só espero sobreviver.
Ah! Sim, eu tenho quase certeza que isso é ilegal, mais importante, espero não ter que ir trabalhar amanhã.
De qualquer jeito, vendo a situação digo de forma chorosa: — Meu atestado, que crueldade.
— Essa merda não importa, mas agora me responde seriamente a pergunta. — Parece que ela está mais preocupada do que eu esperava.
— Falei a verdade, estou bem… provavelmente. — Digo sem muita confiança. — Mais importante, você deveria estar aqui, não tem obrigações mais importantes?
— No momento não, posso cancelar uma coisinha ou outra. — Desculpe qualquer pessoa que teve sua reunião desmarcada, mas não vou me responsabilizar.
Susi depois de dizer isso, para pensar por um instante. Depois, com um tom estranhamente gentil, que nunca vi ela usando, Susi diz:
— Mais importante, o médico disse, que uma das possíveis causas é o estresse. Desculpa ter rasgado seu atestado, mas pode ficar sem ir uma ou duas semanas eu dou um jeito.
Achei uma mina de ouro! Parece que hoje é o meu dia de sorte! Não sei o que fiz de bom recentemente, só sei que meu crédito com o universo(karma) está positivo.
E o que você faz quando tem crédito no cartão? Gasta até ficar endividado de novo. Talvez eu consiga até um mês de folga, só usar estresse como desculpa.
Afinal, como todos aqui sabem, estou “muito” mal, minha mente está se corroendo, mal me aguento mais em pé. Isso! Basta uma pequena mentirinha e poderei voltar a ser vagabundo. Mas não consigo fazer isso.
Mentir para a Susi é algo rotineiro, faz parte do meu dia a dia, mas ficar preocupando ela por nada, é diferente, não conseguiria.
— Ei! Susi, vai dar trabalho me substituir, né? — digo.
— Claro, vou ter que encontrar uma pessoa competente, disponível, que possa lidar com as merdas administrativas que você fez e consiga rapidamente se acostumar com uma equipe nova e tocar os projetos.
— Entendo, então vou fazer um favor para você, mesmo me arrastando e passando por um sofrimento inimaginável vou trabalhar. Abdicarei do meu direito de ficar em casa, mas o que ganho em troca?
— Como esperava. — Susi diz algo muito baixo para ouvir, então grita. — Idiota, cara de pau! Quer que eu te ensine o que é um sofrimento inimaginável?!
— Não, pera ai, já me arrependi! — Não tive escolha. Ela nem se mexeu, mas confio na validade de sua ameaça. Acreditem, só o olhar desse monstro na minha frente, já faria um orc ter medo.
Susi sorri, desfeita sua aura de monstro ela diz: — Se já entendeu, tudo bem, que tal um presente de aniversário?
Eu olho para ela com um rosto de dúvida. Eu tecnicamente nem sei quando é meu aniversário, além do mais não comemora faz tempo.
— Esqueceu? Na época do orfanato decidimos escolher o mesmo dia, mas quando fui na sua casa comemorar não te dei nada então.
23:00
Olho para o espelho e me encaro tanto, que posso me sentir olhando para minha própria alma. Eu poderia estar jogando agora, poderia não ter que ir trabalhar amanhã, poderia ficar numa boa, mas…
— Eu me odeio!!!
Como sempre, eu causei mais um problema para mim mesmo e perdi meu pote de ouro. O pior, nem sei o que vai ser o presente, mas, vindo da Susi, nada me garante que não será mais uma coisa problemática.
Enfim, que fique de lição para vocês que seguem o caminho da vagabundagem, matem a empatia e o amor, esses dois sentimentos só vão te atrapalhar.