Trabalhe! - Capítulo 52
Por que ainda tropeçamos, mesmo treinando caminhar desde o nascimento?
— Sim, você fez, mas não é disso que quero falar. Tati, você é minha amiga, por isso se sinta livre, apenas pergunte o que quer, não vou ficar irritada.
— Eu-eu — fofamente, ela hesita para falar — quero saber porque você não rejeitou ele de cara?
Forcei ela a falar o que queria, nem por isso estava realmente preparada para responder. Pois é, eu sempre fazia essas merdas, mas acontece. Respirei fundo e com calma, era só encontrar as palavras certas.
— A resposta curta é: porque estou indecisa. — Ela parecia não gostar da minha resposta, bem não a culpo, foi uma forma horrível de dizer isso. — Não sei bem o que eu vou fazer daqui para frente e fiquei curiosa para ver como meus sentimentos reagiriam a alguém querendo dar em cima de mim.
— E como foi? — Ela tinha um olhar muito curioso.
Sorri e fui direta: — Foi uma merda. — Como disse, aquele cara era o suficiente para eu lembrar o nome, apesar de ter esquecido, mas só isso, conversar com ele era um porre.
— Por que não rejeitou a proposta de casamento ainda? — A propósito, não contei ainda, mas meus pais direto traziam esses caras ricos e bonitões que queriam casar comigo, mas em geral só recusava em 10 segundos.
— Bem, eu tenho uma semana para responder, né? E lembra, como eu disse, estou indecisa, não sei o que quero fazer da vida daqui para frente, nem sei se gosto do Iky. Ou seja, uma semana é só uma forma que criei de me dar um prazo, só vou rejeitar a proposta quando souber o que fazer da vida.
Tati me olhou sem entender nada, ela olhava para mim como se eu fosse idiota por fazer isso, absurdo, né!?
— Inclusive, não tenho intenção nenhuma de casar com alguém que não conheço, por isso preciso descobrir logo, me ajude, ok?
Ele não disse nada, porra! Aquela era a hora que ela tinha que dar a opinião, o silêncio depois disso ficou mó anticlimático.
— Êh… acho que eu entendi, talvez; mas… não importa quanto eu pense, parece idiota, muito idiota. — Algo muito raro aconteceu naquele dia, Tati me criticou sobre alguma coisa. Fiquei até comovida, só faltava chorar.
— Por que é idota?
Ela me olhou realmente surpresa, parecia que ela esperava que tudo fosse uma piada, mas não era.
— Bem… — medindo mais as palavras, ele explica — é só que ter dúvidas é algo normal, sabe? É quase como se você chegasse e dissesse: tenho um problema gigante, mesmo dando o meu melhor, ainda não consigo viver sem dormir. Claro, pode ser só que eu não tenha te entendido direito.
Até o fim, ela era muito, muito mesmo, cuidadosa na hora de falar qualquer coisa contra mim, isso era meio irritante, mas eu era a principal culpada por todos serem assim ao meu redor.
— Sério? Eu achei que fosse grande coisa… — murmurei.
— Sério pergunto eu, por acaso viveu sua vida sem nunca duvidar de si mesmo?
A primeira resposta que vinha na minha mente era sim. Pelo menos desde que tinha largado a faculdade, não lembrava de nenhuma situação em que estava insegura sobre algo. Antes disso, ser adotada e estar num mundo novo me deixava insegura e no orfanato tinha o Iky.
— Alguma vez já tivemos esse tipo de conversa? — Ela negou com a cabeça. — Alguma vez já disse que não sabia o que faria sobre um assunto importante? — E outra negativa pela cabeça veio.
— Mas… — Ela ainda não conseguia aceitar.
— Tati, sabe muito bem, apesar de ser sociável, sou bem criteriosa para aqueles que considero amigos de verdade, só você e o Iky. Acho que já tem sua resposta, né?
Ela ainda tinha uma cara surpresa, parece que eu era mais estranha do que imaginava. Talvez só talvez, eu devesse ter ouvido um pouquinho todas as vezes que o Iky me chamou de anormal… Apesar de que era o Iky, a opinião dele nem conta.
— Sabe a forma decidida e convicta, que sempre pareci ter, então eu de fato era assim.
Para mim a vida sempre foi algo natural, nunca precisei pensar muito, as pessoas podiam achar que a vida é como um labirinto, porém eu sempre a vi como uma grande estrada.
— Entendo, apenas achei que não confiava em mim o suficiente para falar sobre isso e que, como uma mera secretária, não deveria ficar fuxicando sobre. — E descobri que Tati tinha vivido em um grande mal entendido.
— Que saco, você não é só uma secretária, você é a Tati! — Por mais que a cara dela fosse de secretária, o cabelo fosse de secretária, o jeito de andar fosse de secretária, até o jeito de comer me lembrava uma secretária, mas ela ainda era um ser humano, ok?
— Desculpa, é só que…
Olhei ameaçadoramente para ela. — Você é minha amiga, ok? Uma pessoa muito próxima e importante, entenda isso de uma vez por todas. — Ok. — Dessa vez ela finalmente entendeu… provavelmente.
Com isso, finalmente acabamos a primeira parte, que foi convencer minha melhor amiga de que ela era minha amiga. Só ai, eu podia partir para pedir conselhos. A vida é bem trabalhosa às vezes!
— Ok, para mim é bem difícil imaginar que uma pessoa como você existe, mas o que faria alguém tão incrível entrar em crise existencial, que pergunta tão difícil é essa? — Tati perguntou.
— A pergunta seria, hummm! Acho que podemos resumir em: eu gosto do Iky? Sim ou não. — Meio bobo, né? — Bem, derivado disso, seria: o que vou fazer daqui para frente? Antes tinha certeza do meu planos, ia crescer minha empresa mais um pouco, vender elas para as pessoas certas, aí trabalhar com…
— Pera, pera, não preciso saber tudo que você ia fazer pelos próximos 50 anos, já são 4 da manhã. — Ela tinha um ponto. — Além do mais, já sei da maior parte, você já me contou. — Ela tinha mais um ponto. — Enfim, a primeira pergunta não deveria ser simples?
— Deveria, mas… — Desanimei um pouco. Era um saco não conseguir entender as coisas, não gostava de não saber o que fazer, inclusive, madito Iky! — Não sei porque, mas é muito difícil entender, talvez por ser o Iky.
— Duvido muito que seja isso, provavelmente algo mudou.
Até que fazia sentido, afinal tudo tinha começado recentemente, não quando o reencontrei. Mas o que seria esse algo? Caralho! a cada vez que pensava sobre, tinha mais perguntas. Antes achava que humanos era essencialmente curiosos, contudo naquele dia minha opinião mudou, são essencialmente indecisos.
Aí comecei a ficar cada vez mais para dentro, esqueci do mundo externo e comecei a mergulhar nas minhas dúvidas e pensamentos. Ou seja, estava ignorando a amiga que tinha obrigado a ficar acordada falando comigo de madrugada.
— Olá, olá, terra chamando! — Cansada, Tati me deu um golpe de caratê na cabeça e me acordou dos pensamentos. — Posso te dar um conselho?
— Pode não, deve! Era isso que queria — respondi,
— Haha! Entendo, mas antes pode responder uma pergunta. — Contei que sim com a cabeça. — O que quer fazer com essa duvida?
— Me livrar dela naturalmente.
Tati me deu um olhar de: já entendi tudo. Claro, isso me deixou surpreso, por isso olhei atentamente para ela. — Você está completamente errada. — Dei um olhar de dúvida, afinal ela explicou muito mal. — Suspiro! Acho que deveria explicar melhor, né?
— Claro que sim! — reclamei.
— Tá, vou copiar suas palavras que me ajudaram a um tempão: não se livre dos problemas, enfrente-os, peça ajuda, esperneia até poder atravessá-los, e sair mais forte do outro lado.
— Isso é apenas algo que o Iky disse quando era criança — respondi com certo deboche.
— E qual o problema? — Quando ela perguntou isso, percebi que tinha ignorado o conselho da mesma forma que o Iky fazia com os meus.
— Verdade, nenhum!! — Tati até se assustou com o grito do nada. — Valeu, ajudou muito, acho que já sei o que fazer! — fiquei motivada.
— Pera! — Tati me segurou pelo ombro. — Nem pense em sair do quarto, você vai dormir agora, ok?