Trabalhe! - Capítulo 51
“Por que será que amamos nos prender?” Susi
— Suspiro! — Me espreguicei.
Olhei minha agenda, ainda tinha muito trabalho a fazer, mesmo assim precisava acabar tudo logo, pois iria passar duas semanas fora depois.
Desde que disse que ia pensar um pouco sobre as coisas, só trabalhei, Inclusive, já tinha chegado setembro e eu continuava enrolando, por isso decidi adiantar logo o trabalho e parar de fugir, até porque teria que ficar fora por duas semanas de qualquer jeito.
Pois é, eu tinha ficado mais de uma semana fugindo de algo, quem diria que um dia assim chegaria em minha vida.Mas acontece, por mais que não devesse.
Em minha defesa, minha rotina era bem barulhenta, então era fácil se distrair. Pô, quando milhares de pessoas dependem das suas decisões e o trabalho se empilha, não é tão fácil parar e refletir sobre a vida com calma.
Pense um pouco, é impossível alguém pensar sobre si mesmo, quando está sendo perseguido por um tigre e carregando peso nas costas. Fez sentido?
No fim, tinha tantas obrigações que o tempo parecia passar rápido. Mesmo assim, isso foi algo que fiz para mim mesmo, ninguém pode reclamar da prisão que impôs em sua própria vida e todos podem sair das prisões que se impõe, basta querer.
Ou seja, foi uma semana de enrolação mesmo.
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— Ei! Já arrumou tudo? — Por trás daqueles óculos pretos, tinha um olhar que me julgava.
Em desleixo, dei de ombros. — Arrumar… para que?
— Aff! — O suspiro dela carregava uma decepção muito maior do que a situação pedia, que fique claro. — Eu sabia, você é sempre assim, Suzana, vamos viajar hoje, esqueceu?
— Tá… deixa eu ver, tô terminando uns negócios, espera só um pouquinho e já podemos sair.
— Imaginei que seria assim, vou conseguir um vôo mais tarde, pelo menos suas malas já estão arrumadas?
— Nem lembro se pedi pro mordomo fazer. — A propósito o mordomo era dos meus pais, nunca gostei muito de morar em casas grandes, muito menos ter gente desconhecida por perto, mas naquele dia tinha visitado minha mãe e estava por lá.
— Vou olhar também.
No fim nós chegamos a tempo… Tá não foi no tempo planejado, mas foi a tempo, afinal o que seria chegar a tempo, senão chegar a qualquer momento, tempo é relativo, ou seja, qualquer momento no tempo é a tempo.
— Pare de trabalhar um pouco também. — Minha secretária tomou meu computador, mesmo que tenha sido ela quem colocou tanta coisa na minha agenda de afazer. Muito injusto!
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Chegamos, um carro já estava à nossa espera, como esperado da minha secretária, extremamente profissional. Logo cheguei ao hotel, ainda tinha algumas coisas para acabar, por isso só fui dormir mais tarde. Me deitei, mas demorou um pouco para pegar no sono.
O resultado foi acordar com sono, problemas de dormir em lugares diferente do que estava acostumada. Pelo menos, já me era rotineiro lidar com sono, nem precisei de café.
Minha melhor amiga me chamou, e a seguir. Fato curioso, mesmo num sábado às 5:30 da manhã, ela estava vestindo seu terno de secretária, isso que chamo de uma pessoa diligente… ou doente, tanto faz.
Inclusive, esse “vamos” se referia a uma festa, sim, tinha viajado para ir festejar, só não espere nada divertido, era só uma confraternização de velhos chatos… ahan! Queria dizer, ricos de famílias tradicionais.
Vale dizer, foram os meus pais adotivos que organizaram tudo, até por isso tinha que participar. Não que fosse um grande problema, no final das contas era boa com esse tipo de evento.
— Ola! Filha a quanto tempo. — Como sempre as coisas começavam com os comprimentos. Depois tinha o: “como você cresseu”, aí chegavam os vinhos, as coisas chiques e os grupinhos de conversa se formavam.
A propósito, eu não cresci! Inclusive, não crescia a uns 12 anos, mas parece que minha tia adotiva ficava cada vez mais baixa e, medindo da perspectiva dela, tudo estava crescendo.
Enfim, comecei gastando um tempo com os parentes, era necessário, algo meio cansativo, mas aconchegante, muito melhor do que não ter uma. Depois fui cumprimentar a galera que conhecia além de pessoas importantes, ou seja, gente para caralho.
O pior, mesmo tendo que fazer esse tipo de coisa sempre, eu nunca cheguei a me acostumar completamente, mas pelo menos lidava melhor. A dor de cabeça depois sempre era ruim, mas não vem ao caso. Álcool é um porre! Falar com mais de 100 pessoas é ainda pior.
— Alguém está com cara de velho ranzinza que não gosta de festas. — E a garota que parecia uma secretária até usando um vestido de gala, apareceu no meu único momento sozinha.
— Está tão óbvio assim? — Meu tom era leve, até porque , diferente das outras pessoas lá, ela era alguém com quem eu gostava de conversar.
— Não, estava apenas brincando, você não deixaria isso transparecer na sua cara. — Soltei um suspiro de alívio ao ouvir aquilo.
Aí ficamos no canto da festa juntas, para evitar pessoas se aproximando fingi estar resolvendo algo de última hora, algo bem comum a quase todas as pessoas ali, por isso funcionava bem.
Isso até que um veio para falar comigo, um homem loiro, de olhos azuis, 1,85 acho, ombros largos, difícil de dizer por causa da roupa, mas provavelmente forte e sorridente.
Conversamos por algum tempo, apenas nos dois, vale dizer. Ele era… divertido? Na verdade, talvez engraçado até demais, ao ponto de ser chatinho. Bem, ele estava nervoso, então tudo bem, além do mais ele não fedia a álcool ou cigarro.
Resumindo, era bom suficiente para eu pelo menos lembrar do nome, no caso era… Leo? Leonardo? Talvez Pedro? Ok, eu tinha esquecido, de qualquer forma, poderia perguntar para minha secretária, ele sempre lembrava o nome das pessoas por mim.
E sim, ele estava dando em cima de mim, se não ficou óbvio ainda.
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Foi só de madrugada que minha liberdade veio, consegui escapar daquela festa chata. Chegando lá, a garota com pijama de secretária estava me esperando. — Então, como foi o resto da festa?
— Foi bem, mas estou cansada.
— Entendo, e aquele cara ele… era bonito, né? Mas fiquei surpresa de você responder ele, achei que ia só espar…
A garota continuava a dar voltas sem falar diretamente o que queria, o que era um pouco irritante. Cheguei perto dela, e disse:
— Sabe, eu agradeço você ser sempre tão gentil comigo, você sempre me ajuda, ajuda muito, se não fosse por sua ajuda não chegaria tão longe.
— Que?! — Foi divertido ver a cara de surpresa dela, bem, eu mudei o assunto do nada no final das contas. — Eu não fiz nada para merecer esses elogios, eu… — Como sempre, faltava autoconfiança
— Sim, você fez, mas não é disso que quero falar. Tati, você é minha amiga, por isso se sinta livre, apenas pergunte o que quer, não vou ficar irritada.