Trabalhe! - Capítulo 50
“Por que perguntar os porquês?”
— Até — Meu namorado usou essa singela frase para se despedir. Como sempre, usava poucas palavras. Por fim, ele explicou que tinha que resolver algo sobre o trabalho.
Quem diria que chegaria nesse ponto? No começo do ano, eu estava preocupado, mas com o tempo as coisas foram bem. Para falar a verdade, até teve um momento que cheguei a achar que as coisas não dariam certo, mas, como sempre, consegui.
— Então foi isso… — Por outro lado, minha amiga continuava na minha casa e estava olhando para o tabuleiro como uma maniaca. Ela não tinha lidado bem com as derrotas.
Falando nisso, até o Iky ficou incomodado de perder a última, foi a primeira vez que vi ele levando um jogo realmente a sério desde que o reencontrei.
Claro, ele, às vezes, fingia se frustrar perdendo, mas nem sequer levava a sério ou tentava. Era bom ver ele mudando. Inclusive, o dia estava sendo divertido. Talvez eu devesse ter parado ele… ou não, ele finalmente estava levando as coisas a sério.
— Quer fazer o que? — pergunto.
— êh… — De novo, ela parecia surpresa com esse tipo de pergunta. — O que preferir, não me importo muito.
— Também não tenho ideia.
Algo parecia errado, mas não conseguia entender na hora… era irritante! Parecia a típica situação de restos de comida nos dentes, todos notam, mas ninguém fala sobre.
As pessoas deviam esconder menos o que pensam, é irritante! Ser polido é inútil se não vai dizer o que precisa ser dito, mentiras só servem para se acumular e piorar as coisas.
⅕ da nossa energia vai para o cérebro, ou seja, ele é um empregado caro, sério, caro para caaralho. Imagina você ter um funcionário que custa ⅕ do seu lucro bruto e, mesmo assim, desperdiçar a sua força de trabalho, pensando sobre sua aparência, tem que concordar que isso não é produtivo, nem inteligente.
A propósito, se acha isso uma boa ideia, te dou uma recomendação pessoal, nunca! Assim, nunca mesmo, tente abrir uma empresa.
— O que aconteceu? Você tem agido estranhamente hoje, não você tem agido estranhamente faz tempo? — Enfim, se as pessoas não tinham coragem de falar diretamente, eu tinha de perguntar.
— Bem, apenas é estranho ver você assim. — Ela ficou surpresa e olhou para o chão envergonhada.
— Assim como?
— Indecisa, muitos poderiam achar arrogantes, mas me acostumei com seu jeito de ser, sempre tomando a frente, dizendo o que fazer e assumindo toda a responsabilidade.
Não esperava ela dizendo aquilo. Não sabia bem quando, mas em algum momento mudei um pouco.
— Por isso é estranho quando você age de forma indecisa, quando pergunta sobre o que quero fazer e coisas do tipo, faz sentido?
Sinto que estava sendo descrita como uma pessoa horrível, mas eu digo: não acreditem nas mentiras dela! — Ei! Você não me vê como uma pessoa tirânica demais?
— Não, não é assim! — Ela negou o mais rápido que pode. — Sei que está sempre aberta a novas ideias, mas… Como digo isso? Você ouve os outros, mas é muito estranho ver você ativamente pedindo opinião dos outros. Explicando melhor, o normal seria você dizer o que vamos fazer e, se alguém sem algo contra, que diga; se não, toca o barco
Pensei um pouco. — Entendo o que quer dizer, mas hoje não foram apenas perguntas sobre coisas idiotas? Acho estranho agir como chefe em um momento casual. — Não ia admitir que mudei ou que tinha ficado mais insegura.
— Não estava falando sobre hoje.
— Mas eu estava perguntando sobre hoje. — Dei uma péssima resposta. Sim, apesar dos pesares, eu cresci aprendendo com o Iky, ou seja, quando notava que ouvir ou falar sobre algo ia me machucar, eu fugia… bem menos que ele, mas fazia isso.
Enfim a hipocrisia, é foda.
Eu sabia sobre o que ela estava falando, não tinha como não saber, não era idiota. Sei que foi hipócrita, mas minha boca se moveu antes que eu pudesse pensar, naquele momento encerrei a discussão.
Poderia ter começado a conversa; mas, no fim, era muito mais covarde do que pensam, gosto de assumir tudo, tomar a frente, parecer corajosa, mas não era nada disso.
— Foi mal, — me arrependi rápido — acho que não quero falar sobre isso agora, sei do que está falando, mas…
— Não se preocupe, apenas me fale quando quiser contar comigo, sempre estarei disponível! — Ela estava animada com sempre. Era uma boa e prestativa amiga.
No fim deitei na cama e pensei um pouco sobre o assunto. Tinha passado bastante tempo da minha vida sem mudar muito, estava só trabalhando sem pensar, mas…
Realmente, Iky era muito irritante, não bastava dar trabalho, ele ainda me fazia repensar as coisas. Sempre foi assim, enquanto todos me seguiam, ele era o carinha irritante querendo me questionar.
Não é atoa que acabei me apegando a ele como irmão mais velho, mas isso é outra história.
— Parece que vou ter que pensar um pouco. — Sorri e dormi muito bem.