Trabalhe! - Capítulo 48
Agosto 5
— Susi, foi muito divertido te conhecer, mas agora temos que falar sobre o Gustavo, então… — Felipe disse.
— Entendo, mas o problema dele tem a ver com emprego, me pergunto se o sr. artista e o desempregado vão conseguir ajudar? — Claro, minha namorada, não é o tipo de pessoa que tem o bom senso de não se envolver nos problemas dos outros.
O pior, Felipe… — você tem um ponto, um muito bom vale dizer — diz isso e se rende a ela. Não tem mais como fugir.
— Acho que não tem o que fazer, Suzana-sama, poderia por gentileza nós emprestar um pouco do seu tempo dando conselho. — Pelo menos, posso zoar ela um pouco.
Por algum motivo, Susi parece ficar muito surpresa, não entendo o porquê, apenas fiz uma piada.
— Então você sabe meu nome. — E ela me mete nessa.
— Claro! Por que a surpresa?!
Ps: Juro que ainda não bebemos e que somos todos adultos… provavelmente.
Depois da nossa pequena troca idiota e inútil, um curto silêncio. Nossos semblantes ficam sérios, sem necessidade de palavras todos entendem o tipo de comportamento que devem ter a partir de agora.
— Podem me dizer o que aconteceu? — Susi pergunta.
Felipe explica tudo que sabemos, que não era muito. Basicamente, ouvimos os desabafos dele bêbado, por isso a história estará meio fragmentada. De qualquer forma, podemos só perguntar para ele, se necessário.
Resumindo a história em poucas palavras: Caio estava com medo de ser demitido e nos contou na última noite que estivemos juntos.
— Na minha opinião, ele deveria começar parando de se preocupar. —Não era bem o conselho que esperava. — Entendo porque ele está preocupado, mas pensar sobre é inútil, só vai lhe deixar tenso demais sem necessidade. Existem coisas que não podemos controlar, só podemos seguir a vida e lidar com essas aleatoriedades frustrantes.
É muita sabedoria estoica de uma vez só, por isso me sinto esmagado, não quero ouvir! Não vou colocar nada disso em prática mesmo… bem, apesar de que ela está falando só para o Caio, ou seja, não tem nada a ver comigo, né?
Ela ainda continua. — O ideal nesse tipo de situação é simplesmente fazer seu melhor, se esforçar para não se arrepender e ter certeza de que fez o que pôde. De resto, ele não pode controlar a decisão do chefe, nem deve tentar.
— Entendo.
— Além do mais, para não ficar apenas em conselhos emocionais, espera só um pouco, cadê… Achei! Vejam, aqui uma lista de habilidades que costumam chamar atenção nos currículos nas áreas dele, mesmo se for demitido, vai dar tudo certo, basta ele seguir isso.
— Por que não mostrou isso desde o começo? Porra, isso é bem mais útil do que aquele papinho.
— Cala a boca, — ela aponta a faca para mim — Felipe, vou te mandar isso em PDF. — Por que ele recebe sorrisos e eu facas?
— Como conseguiu isso. — Felipe ainda está boquiaberto.
Com naturalidade, Susi conta algumas coisas. Tenho e já tive várias empresas, sem contar amigos meus, meus pais e conhecidos. Resumindo, já trabalhei muito contratando pessoas.
— Empresa?
— Espera, você não sabe? — Eu e Susi perguntamos ao mesmo tempo. Sim, talvez eu tenha esquecido de contar, mas não vem ao caso. De qualquer forma, explicamos tudo e ele fica ainda mais boquiaberto.
— Co-como tudo isso aconteceu? Como se conheceram? Por que estão namorando? De onde brotou essa pessoa tão rica? — Ele parece uma criança surpresa, o que é engraçado.
Susi olhou como se fosse óbvio e deu de ombros. — Bem, como eu teria ajudado tanto o Iky se não fosse por isso.
— Sim, eu já esperava que fosse rica, mas não tinha imaginado tanto.
— A vida é cheia de surpresas, hehe! — brinco. Inclusive, depois desse momento engraçado acabamos bebendo juntos por um tempo, foi até que algo bem divertido.
Por fim, as despedidas vem e acabo ficando a sós com o Felipe, enquanto isso Susi já foi para sua casa. Enfim, quero falar um pouco com ele, por isso pedi para voltar para casa com ele.
Assim, começamos a andar, a rua estava vazia, apesar de nem ser tarde, apenas 10 da noite. O silêncio continua por um tempo, até meu amigo dizer:
— Então você já consegue andar no meio da calçada. — Caralho, ele ainda lembra disso. Depois do acidente, passei a andar o mais longe da rua possível, apesar de não mudar nada.
— Sim, acabei… Na real, nem sei, devo ter perdido o trauma em algum momento, estou de boa agora.
Ele sorri feliz. — Então você já voltou a dirigir? — Ai ele pegou num ponto delicado, acho melhor mudar de assunto.
— Êh… o que isso tem a ver com o assunto? — Desvio o olhar.
— Não se faça de bobo, pare de fingir que não lembra. — Que saco@ Por que ele tinha que lembrar disso?
— Já faz tanto tempo, por que ainda lembra desses detalhes? Tá, admito, desde o acidente nunca mais toquei num volante, nem gosto muito de chegar perto de carros. — Inclusive, Susi aumentou meu trauma recentemente, mas isso é outra história. Agora vamos acabar com o assunto. — De qualquer forma, nem ligo mais, é só pedir Uber ou carona, mais fácil.
Ele olha fixamente para mim, parece incomodado com o que eu disse. — Isso não é bom, devia tentar enfrentar, você ainda tem a péssima tendência de fugir dos problemas, né? Vamos, cadê o cara que enfrenta tudo de frente e sorrindo? — Mataram ele atropelado! E com umas outras porrinhas.
— Tá, tá, vou voltar às aulas de direção. — Não vou ne fudendo, mas foda-se, cansei desse assunto. — Agora, o que eu realmente queria, Felipe, como tem ido as coisas? Conseguiu realizar seu sonho.
— Bem, como digo isso sem suas depressivo? — Ele olha para o céu meio triste enquanto fala. — Fui um fracasso, de novo, mas… — Valeu por se preocupar, mas falhei.
— Não lembro de você dizendo que seu sonho era ser rico ou bem sucedido — digo com um sorriso irônico.
Lembrando do passado, um sorriso surge — Eu já desisti disso, não tem como eu criar algo ideal dessa forma, a arte é assim, nunca ficamos satisfeitos. E, no fim, descobri que existem coisas mais importantes.
— Tipo comida?
Ele dá um sorriso irônico. — Não tem o que fazer, a menos que seja rico, não tem como se focar inteiramente em atingir seu perfeccionismo. — Estendo meu punho para ele, pedindo um toca aqui, ele corresponde com um soquinho. — Valeu, que merda! — ele grita para o mundo — as coisas definitivamente não estão funcionando, mas acho que as coisas devem dar certo alguma hora.
— Você é sempre determinado, só não faça nada louco.
— Ei! Não diga isso depois de me motivar!
— Nem reclame, o errado é você por se deixar motivar por mim sou a pior pessoa do mundo para dar conselhos, sabia? — Ele ri disso e, coincidentemente, chegamos na casa, no caso, hotel, enfim, foda-se. — Até mais, se precisar de alguma coisa me liga.
— Pode deixar, só espero que você me atenda dessa vez! — Ahan! Não vamos entrar nesse assunto, naquela época eu queria cortar laços porque só ia atrapalhar a vida dele.
— Pode deixar, dessa vez eu atendo.
Para acabar o dia, volto para casa e durmo.