Trabalhe! - Capítulo 47
Dia 3
Simplesmente, o silêncio toma conta de tudo, afinal não quero mais contar, não quero porra!
— Iky, relaxa. — E essa porra de voz me hipinotisa, por que ela me acalma tanto? Que saco! Não consigo mais entender meus sentimentos.
— Não estou gostando disso. — Tento fugir, preciso escapar logo daqui, se não vai doer muito.
Ela me para, essa puta de… — Por favor? — Espera! Ela também está chorando? Por que?
Fodas-se — Vou contar, não chora! — Maldita chantagem psicológica de merda! — Lembro que no segundo ano já estava mais normal, sim, naquele ponto eu já tinha recobrado minha sanidade perfeitamente… confia. E, honestamente, sem contar o fato de eu não ter que acordar às 6, tudo que me lembro é… chato para calho, nem vou contar.
Pronto! Acabou, eles não vão querer saber mais que isso, né? Porque eu não vou lembrar, não vou, não vou, não vou, não vou, não vou, não vou… ahan! Desculpa, o disco veio com problema, as vezes trava,
Eles ainda estão com cara de curiosos, porra!
— Também comecei a fazer a merda de trabalho voluntário, queria sair logo dali. Também não trabalhava muito, nem sabia como ia quitar as dívidas depois, já não tinha muita esperança. Sem contar que meu braço doía pra caralho, não ia ficar me esforçando. Deve ter sido por ali que eu descobri o caminho do vagabundismo: ignore o trabalho, ignore as pessoas ao seu redor, ignore a dor, ignore tudo e descanse de boa, a melhor das filosofias! — minto com orgulho.
Depois ainda acabo contando um pouco sobre a parte pôs vagabundismo, quando já estava de boa. Conto como passei a usar um sorriso falso, fiz amizades falsas, criei uma personalidade falsa e consegui ter uma vida muito mais de boa lá dentro. Ou seja, estava sobrevivendo melhor, mas…
— Era uma merda ficar lá, obrigado por me salvar. — Com honestidade, agradeci a Susi.
E choro de novo! Já virei protagonista bundão de shounem, foda!
— Ok, agora acabou, não vou contar mais nada, que saco! Por que você tem que ser tão…
Um abraço.
Susi, uma mão grande na minha cabeça, um cafuné acredito. Empatia é algo bastante gostoso de receber, até que abraço são legais. Dito isso, ter empatia só cria mai trabalho, é uma merda!
— Está tudo bem agora. — Susi não desgruda nem a pau e diz coisas como isso, acho meio repetitivo, mas não vou ficar reclamando. E, claro, não tem a menor chance de eu estar chorando agora.
Enfim, cansei dessa cena, que tal um pulo no tempo?
17:23
Pronto! Perfeito, estamos jogando vôlei.
Como chegou a isso? Ninguém liga! Mas, para não te deixar curioso, digo que fui eu que inventei essa porra e quebrei o climinha de drama na marra. Os dois acabam tendo que concordar.
A prósito, inventar essa porra de praticar esporte foi…
Uma péssima ideia!!!!!
Por que achei que isso ia dar certo? Sabe o pior? Ainda tenho que ficar ouvindo isso da Susi:
— Vocês dois deveriam fazer mais exercícios; além do mais, não cheguem perto, estão todos suados. Iky, vamos passar na sua casa, vocês precisam de um banho e mudas de roupa.
Quem foi o idiota que foi ter essa ideia!? Velhos não deveriam tentar fazer o que não conseguem, é triste admitir, mas tenho trinta e um corpo de 50. Vale dizer que só jogamos por 20 minutos e não vou entrar no assunto.
17:46
Pronto, mais um pulo no tempo e já tomamos o banho, emprestei umas roupas para o Felipe, Susi tinha as dela na minha casa e fomos para um restaurante.
Olhando pelo lado bom, depois disso tudo entre nós, o clima já está muito mais leve, parecemos um grupo de amigos de longa data, mesmo assim assunto sério tem que surgir em algum momento.
— Susi, foi muito divertido te conhecer, mas agora temos que falar sobre o Gustavo, então… — Do nada Felipe me manda essa, mais especificamente, logo depois de nos sentarmos num restaurante e conversarmos um pouco. Para ser justo com ele, não é como se o Felipe fosse mal educado, ele provavelmente estava querendo dizer isso faz tempo, apenas não sabia como, por isso acabou dizendo de uma forma ruim num momento de impulso.
Enfim, o real problema é: não quero mais falar sobre nada sério por hoje! Estou morto e quero que todos os problemas do mundo explodam!
Só que as coisas não são como quero.