Trabalhe! - Capítulo 44
Dia 1
00:03
Eu não acredito que mandei aquela mensagem!
Por que?
Sério! Para que eu fui fazer isso?
Rolo no sofá de um lado para o outro enquanto a vergonha me toma, me tortura, destrói minha alma.
Na moral, “posso te pedir ajuda com uma coisa?”, é muito vergonhoso. Ela deve estar rolando de rir, isso se ela viu a mensagem, talvez ela esteja dormindo. Isso é só eu apagar logo, ela já deve estar dormindo, não tem a menor chance dela ter visto isso a essa hora.
Dois vistos azuis são a única coisa que encontro.
— É obvio que ela ia estar acordado e ia visualizar na hora, porra! — grito para que o mundo sinta minha indignação. Bem e passar um pouco mais de vergonha não faz mal, né?
Ahan! Não vamos pensar em como os vizinhos vão interpretar ou reagir a um idiota que grita sozinho.
Voltando ao importante, o que será que a Susi vai responder? Droga, tenho medo de olhar o celular. só tenha me ignorado, só tenha me ignorado, só tenha me… Ela me ignorou, porra!
Comemorei como nunca.
Mas e se ela estiver vindo para cá? É bem a cara dela vir me visitar do nada. Olho para a porta. Engolindo seco, a cena de terror daquela porta abrindo sozinha vem a minha mente, eu ainda vou morrer essa noite.
Não, não, não, tenho que relaxar. Está tudo de boa, eu só invento alguma coisa idiota… Isso, eu só preciso pedir ajuda com alguma baboseira, talvez para comprar um jogo, ela vai rir da minha cara e vida que segue.
Tenho um plano perfeito, hehe!
Mas sério, por que fui mandar essa mensagem idiota? Eu sempre causo problemas para mim mesmo, porra!
Me ajoelho e junto as mãos como alguém orando.
— Me perco, ôh! poderosa deidade. O grande vagabundo, aquele que criou a preguiça, me perdoe. Sim, não lhe abandonei, sei que cometi pecados, inclusive o maior deles, pensar em mudar, mas me arrependo de tudo isso, não abandonarei o caminho que me mostrou. Por favor, deus dos vagabundos, me aceite de…
— O que está fazendo? — Ela tinha que aparecer bem agora? Sério, tenho até a impressão que ela ficou esperando só para me pegar nesse momento.
— Não é óbvio? Estou fazendo algo que não é da sua conta. — Será que ser grosso vai servir para… Não! Glup! Conheço esse olhar de raiva, ela vai me fazer explicar direitinho o que estava fazendo.
— Você, quase de madrugada, me pede ajuda do nada e ainda responde desse jeito, imagino que queira morrer, né? — Admito que ela tem um ponto.
Abaixo a cabeça. — Desculpa.
— Não quero desculpas, quero explicações, o que houve? Por que mandou a mensagem do nada? E que merda estava fazendo.
Me fodi! Enfim, não tem o que fazer, pelo menos começo explicando o que estava fazendo. É uma sessão de tortura? É, mesmo assim, explico direitinho do que se trata as orações para o deus dos vagabundos.
Não vou entrar em detalhes sobre as risadas dela, ok? Inclusive, vamos fingir que isso nem aconteceu, isso, nada aconteceu, ok?
— Agora, por que me mandou essa mensagem? — Claro, essa pergunta não seria esquecida, não tinha chance disso, merda!
— Bem… — Pensa na desculpa, pensa, pensa, pensa… — Eu queria comprar um playstation 5, é isso! Preciso da sua ajuda, me empresta uma grana, por favor! — “Imploro” Enquanto choro.
Uma veia salta na cara da Susi, que parece estar prestes a explodir de raiva. Seu olhos se encontram com os meus, posso ver suas leves olheira e uma raiva cintilante.
Glup! Acho que ela não acreditou muito na minha história, mas… Vamos ser otimistas, ainda deve dar tudo certo no f…
— Se mentir para mim mais uma vez eu corto sua cabeça fora. — De onde veio essa faca? É perigoso e, por favor, afaste isso do meu pescoço.
— Eu não estou mentindo, sabe quanto custa um PS5, tá impossível de conseguir! — Sou um mentiroso convicto, depois que eu escolher minha verdade vou com ela até o fim. É como dizem, para mentir bem, tem que repetir sua mentira até acreditar nela e tenho experiência em fazer isso.
A faca chega mais perto, perto demais! — Iky, qual foi a última vez que você me pediu ajuda com alguma coisa?
— Sei lá, deve ter sido quando… — Nada! Não lembro de nenhuma vez, bem, teve aquele dia no qual ela me ignorou, mas isso faz anos. Sério, memória, me ajuda aí! — Não lembro.
— Eu lembro, foi 11 anos atrás e, antes disso, você nunca tinha pedido, ou seja, essa é a 2° vez que você me pede ajuda desde que nos conhecemos, não tem chance disso ter sido por um videogame de merda.
Ei! Não xingue o grande PS5 ele tem vários jogos maneiros! Claro, não vou dizer isso em voz alta, só posso pensar mesmo.
— Bem…
Ela chega perto e, graças a deus, solta a faca que cai no chão o perfurando e ficando em pé. Sim, ela estragou o piso para nada mas isso eu vejo depois.
Seus olhos estão perto… Droga! Não sei nem para onde olhar, porque ela está tão perto? Pior, suas mão estão geladas, sinto todo o calor da minha bochecha ser roubado por ela.
Dito isso, é muito confortável quando ela me toca assim. E, se maliciou, vai se foder, seu merda!
— Vai, pode me contar.
Fujo daqueles olhos cheios de vida e me volto para a madeira, inclusive, meu chão já está bem gasto e precisava limpar um pouco melhor.
— Eu… eu… — Que saco! Por que é tão difícil? Merda! — Pode me ajudar a recuperar as coisas que perdi, por favor. — Uma quase verdade acaba conseguindo escapar como um sussurro espremido.
Susi respira fundo meio decepcionada. — Ok, acho que é melhor do que nada, se é o que quer, eu te ajudo, claro.