Trabalhe! - Capítulo 43
Julho 07
Dia 31
— Agora somos só nós três. — O primeiro a registrar o óbvio é Felipe.
— Como nos velhos tempos, haha! — Já levemente bêbado, Caio diz.
— Apesar de que não bebíamos na época — digo.
— Verdade.
Velhos tempos, até agora esse foi um assunto que evitamos tocar, até porque ia ser meio desconfortável para a Carla. Imagina você estar em um grupo onde só conhece uma pessoa e todo mundo estar falando sobre coisas do passado, não teria como participar da conversa.
— Fiquei surpreso de terem se reconciliado, mas fico feliz com isso. — Felipe abre um grande sorriso.
— Quem ficou surpreso fui eu. Por que não me contou que estava namorando uma garota linda e divertida? — Caio já bebe mais um pouco e passa a mão na cabeça do amigo.
— Bem… — Já o Felipe ficou vermelhinho, ele continuava meio tímido para essas coisas.
— Coitado você deixou ele parecendo um pimentão — brinquei.
— Não tenho culpa.
Todos acabamos rindo, em grande parte graças ao efeito do álcool, eu gosto de beber sozinho, mas é nesses momentos em que a cerveja mostra seu real potencial, afinal ela tem efeito em área.
Enfim, naturalmente, em algum momento começam aquelas perguntas de: como vão as coisas, como você estão indo e coisas do tipo
— Para falar bem a verdade, bem mal até pouco tempo atrás. —Caio é o primeiro a responder e diz algo pesado nós pegando de surpresa.
Até agora o clima esteve leve e animado, no entanto claramente isso acabaria mudando com o que ele tinha para dizer.
Seria isso algo ruim? Na minha humilde opinião, o completo oposto, apenas mostra que, de uma forma ou de outra, voltamos a ser próximos. Convenhamos, apenas pessoas próximas falam sobre o que sentem de verdade.
— Fiquei quase dois anos desempregado, foi bem complicado, apenas dei sorte de ser contratado numa campanha de assistência social, mesmo assim tenho medo de ser demitido logo, acredito que a empresa só tenha participado para marketing, para melhorar sua imagem pública.
Só deixando algo claro, Caio está trabalhando comigo, entretanto não somos da mesma empresa, ele trabalha para uma empresa que é… como posso dizer? Uma empresa free lancer, tipo uma empresa que é contratada por outras para fazer alguns trabalhos específicos.
Se quiser saber o nome, chama empresa terceirizada.
— Honestamente não sei o que vou fazer, minha formação não foi das melhores, na época fui idiota achei que não importava, mas agora é difícil conciliar estudos com trabalho. — Por fim, Caio acaba com seu desabafo.
Ele olha para o copo de cerveja e dá uma grande golada, então bate com o copo forte na mesa.
— Merda! Eu preciso melhorar logo, quero mostrar que sou bom no que faço e garantir esse meu emprego.
E o assunto tinha que ser trabalho, né?! Não podia ser qualquer outra coisa, porra! Como é que o sr. não formado que só conseguiu emprego por ajuda dos outros, vai poder ajudar alguém nesse assunto. Sou, literalmente, uma das piores pessoas no mundo para falar sobre isso.
— Eu devia ter me esforçado como me disseram, foi idiotice não ter ouvido, mesmo assim se puderem podem me ajudar, como faziam para aprender as coisas sozinho. — Ok, agora acho que o desabafo acabou mesmo, ou seja, é o momento de darmos conselhos.
Quer saber o pior, Felipe tenta dizer algo, mas não consegue formular direito, então os dois olham para mim com esperança, para mim! Ai é foda.
— Iky, como foi que conseguiu chegar a gerência, tem algum macete para entrevistas de trabalho, para estudar, como eu deveria causar uma boa primeira impressão? — O truque é: namore a CEO.
Recebo uma enxurrada de perguntas. Como sempre, na moral, só qual é a das pessoas desse mundo, por que pedir conselhos para mim?!! Sério, por favor façam escolhas melhores da sua vida.
De qualquer forma, não podia dizer o que queria. Acabamos falando algumas dicas para o Caio, tanto eu quanto o Felipe. Para falar a verdade, nós apenas ajudamos a levantar sua autoestima e incentivamos ele a tentar com tudo, ou seja, convencemos ele de que ainda dá tempo de mudar o que ele fez de errado.
Até porque, infelizmente, para ele, um dos seus amigos é um inútil que só trabalha por ser forçado e o outro é… bem, Felipe definitivamente não é um vagabundo que nem eu, mas ele só pega qualquer trabalho para ter dinheiro e continuar correndo atrás dos sonhos, nada mais.
Ou seja, não temos nenhum exemplo de sucesso para ajudar ele.
No fim, Caio acaba indo para casa, já eram cerca de 2:00 da manhã, ou mais tarde, resumo tô fodido, mais fodido de uma forma astronômica para acordar amanhã.
— Espero que ele consiga ajeitar a vida. — Felipe dá um suspiro triste e eu concordo com a cabeça, também torço por isso. — E você? Não quero tocar em assuntos delicados mas…
— Não se preocupe, eu entendo, obrigado por se preocupar. — Fico em silêncio por um tempo, estava bebendo um grande gole. — Haaa! — Solto um som satisfeito com o gole.
Agora só me resta falar, falar sobre tudo, eu devo isso a ele, até onde conseguiu e pode ele foi um amigo em quem se pode contar.
— Acabei dando sorte, muita sorte, conheci uma pessoa incrível.
— Entendo. — Ele parece feliz e arrependido ouvindo isso.
Me espreguiço um pouco. — Quero te contar muita coisa, mas honestamente já estou muito cansado esta tarde afinal.
— Verdade, nesse caso, precisamos nos encontrar de novo, também tenho muito a dizer.
— Sim, sim, infelizmente, Caio vai estar fora, eu não preciso necessariamente ir para o evento, posso mandar qualquer um da equipe, então vamos tomar um café no dia que for melhor para você.
A propósito, vou mandar o Gabi se alguém estiver curioso.
— Entendo, nesse caso, hummm! Dia 3 que tal?
— Sem problemas.
Não posso negar, foi divertido, talvez…
Pego o celular e mando uma mensagem para a Susi: “posso te pedir ajuda com uma coisa?”.