Trabalhe! - Capítulo 41
Dia 14
Estou atualmente no trabalho. Acabei de descobrir quando o Felipe vem, ele vai estar aqui por duas semanas, entre julho e agosto.
Surpreendentemente, não estou ocupado, me sinto até um pouco sem ter o que fazer. Fazia tempo que tudo não ia tão bem assim.
Ahan! Mas nem vou continuar nessa, porque, se o fizer, daqui a pouco me aparece um prob…
— Está ocupado, queria falar com você sobre algo pessoal? — Eichy me pergunta.
Puta que pariu!
Ok, está decidido, eu nunca mais, em hipótese alguma, vou falar que as coisas estão calmas de novo, caralho!
— Claro, o que quer? — Acho que não tem para onde fugir, bora conversar com o Eichy, sinto que vai ser emocionante.
— Para falar a verdade, estou pensando em me demitir. — Que!? Calma ai, meu coração quase deu uma paradinha, ainda assim evito transpor isso.
Não chega a ser uma notícia ruim… acho, se bem que ele não estava atrapalhando nem causando problemas ultimamente. Não sei; mas é, de qualquer forma, muito surpreendente.
— Por que? Aconteceu alguma coisa?
— Honestamente, acho que não é isso que quero fazer da minha vida, até hoje escolhi o caminho mais fácil para ter sucesso. — E o mais vagabundo, mas não vem ao caso. — Só que, ultimamente, isso tem me incomodado muito, sinto que, até agora, desperdicei um pouco a vida.
Pelo menos, ele veio com a reflexão já pronta, ou seja, ele não quer o psicólogo do Paraguai aqui… espero. Na verdade, agora que falei isso, posso ter me fodido de novo, porra!
— Entendo, então o que quer de mim? — Ok, voltando para a realidade, vamos só perguntar diretamente.
— Qual sua opinião sobre isso? — Óbvio que ele quer minha opinião! Que saco, só decida sozinha, pensar dá trabalho, gasta muita energia. 20% de toda a energia que consome, se quiser um número mais exato! O que dá, em joules, coisa para caralho.
Mais importante, porque de todas as pessoas no mundo, o cara foi escolher justo eu, sério isso? Não é possível! Acho que nem tentando ele ia conseguirir alguém pior, porra.
— Mas por que a minha opinião. — É bom ele ter uma puta justificativa, senão vou considerá-lo burro pelo resto da minha vida. Inclusive, que puta ameaça “assustadora” essa, hein?
— Bem imaginei que tivesse mais experiência nisso, ou algo do tipo. — Espere? Mais experiência em mudanças e lidar com problemas? Ou em desperdiçar a vida?
Não tenho certeza, mas agora comecei a sentir que ele está só querendo tirar uma com a minha cara.
Ou, se ele estiver falando sério, então é só burrice mesmo, minha opinião nunca vai ajudar ninguém na vida delas. Claro, também não tem como eu responder isso, por tanto digo:
— Entendo, na minha opinião, não deveria se demitir agora.
Eichy olha meio triste para o chão. — Então já é tarde de mais para recomeçar.
— Não foi isso que quis dizer, você está realmente longe do tarde de mais para recomeçar, você chega nesse ponto apenas numa hora específica, qual era o nome mesmo… Ah! Lembrei: Morte.
Eichy me olha com uma cara de dúvida que diz: então por que não deveria recomeçar caralho? Sorrio e explico:
— Disse que não recomendo, primeiro para garantir sua saúde financeira, depois você me parece em dúvida. Sei que tem muita gente que gosta de se jogar nas mudanças quando percebe que desperdiçou a vida, mas sou mais a favor de ir com calma.
Pó, até que o discurso está bonito, pena que não aplico nada disso, nem nunca vou… provavelmente.
De qualquer forma, vamos só acabar logo com isso, só preciso de uma última fala bonitinha e pronto.
— Comece olhando para dentro, encontre seu propósito, teste coisas novas, não precisa necessariamente trocar tudo, não precisa jogar tudo fora, apenas analise e veja o que vale ou não a pena na sua vida.
E, pronto, acabei meu discurso hipócrita . Ainda assim, me pergunto: por que ele mudou tão do nada? Até pouco tempo atrás, Eichy me parecia bem convicto da sua vida.
— Êh… Mais uma coisa, meu avô morreu, então eu vou tirar licença na próxima segunda para o funeral, mas se precisar de mim avisa, eu não preciso necessariamente ir.
Ele parece bem desconfortável dizendo isso. Vale dizer ele já tirou licença para funeral várias vezes, ou seja, ele claramente mentiu em algumas delas, bem de qualquer forma acho que já sei o que deu um chacoalhão na vida dele, Eichy provavelmente gostava muito do avô.
— Pode ir, a gente não vai fazer nada na segunda mesmo. —Na real, até íamos; mas, com uma desculpa na mão, acha que eu vou trabalhar? Nem a pau! Segunda estaremos trabalhando quase nada.
Por fim, ele sai da minha sala. Provavelmente vou me foder na segunda, certeza de que vai cair, do céu, trabalho, uma porra para fazer só por causa disso, mesmo assim parece que estou idiotamente gentil hoje, suspiro!
Dia 19
O Felipe só vem na próxima semana, ou seja, tô entedia e um pouco ansioso esperando isso. Sabe aquela ansiedade do: eu quero que chegue logo só que não? Tô mais ou menos assim.
O pior, ainda estou num dia chato, cansei de jogar, já acabei o trabalho, por isso só pego meu celular para ler uns manga. Também tem a opção de ligar para a Susi, mas é melhor não, ela está sempre ocupada.
De qualquer jeito, mando uma mensagem para ela, não custa tentar, né.
Plin!
Resposta. Ela apenas sugere irmos para algum lugar com a Ana, parece que ela está com saudades da garota, elas não se vem a muito tempo.Decidimos ir juntos para algum lugar.
Inclusive, já faz um tempo que não pergunto para Ana sobre seu progresso em se tornar sociável, afinal ela consegue se virar sozinha e viria falar comigo se tivesse algum problema.
Criei um grupo com as duas e elas quiseram ir para o museu, sim, para a porra de um museu! Dito isso, aceitei ir, tamanho era meu tédio.
ooo
E estou de volta para casa, honestamente minha intenção inicial era aproveitar bastante o dia, fazer milhares de coisas, mas em algum momento preferi só relaxar e descansar.
Nada de importante, nada de relevante, principalmente nada romântico acabou acontecendo, por isso hoje vou apenas me deitar sem muito o que dizer.
Espera, como assim tirar o dia para relaxar?! Eu deveria tirar todos os dias para relaxar, porra! Quando foi que me deixei enganar pela vida?