Trabalhe! - Capítulo 36
Dia 27
— Você não fica com calor vestindo luvas o tempo inteiro, além de camisa de manga comprida e calça. — Espera, só isso? — Ei! Ei! Terra chamando.
— Desculpa, fui surpreendido, esperava que fosse ser algo mais difícil de responder. — Por algum motivo Susi está sendo gentil, isso é estranho e me preocupa.
— Responde logo se é tão fácil assim.
— Não, no começo incomodava, acho que me acostumei, apesar de ser meio chatinho as vezes.
Susi fica pensativa. — Então preferiria morar num país mais frio?
Sem pensar muito, responde que sim, mas me arrependo em seguida, eu perdi a chance de me negar a responder assim como Susi fez comigo.
De qualquer forma, acho que essa sádica realmente só está preocupada comigo, talvez pensando sobre onde poderíamos viver no futuro.
O jogo segue e eu ganho. — E você, tem preferência por algum lugar?
— Não tinha, mas agora estou preferindo o deserto do sara. — E o sorriso sádico está de volta, esquece ela não ficou nada gentil.
Continuando, ganho mais uma vez. — O que você acha sobre isso? — Levanto o meu braço direito completamente coberto.
Minha namorado hesita antes de falar, eu a relembro que vai perder se não responder e ela finalmente diz:
— Ja disse varias vezes, idiota, acho estupido e não consigo entender para que quer tanto esconder isso. Ao mesmo tempo, fico preocupada e ficar preocupada com você é irritante!
— Eu… — Até quero falar algo, mas não consigo, não sei o que dizer, não posso deixar de concordar racionalmente, no entanto não consigo, simplesmente não consigo.
Infelizmente perco e Susi tem a oportunidade de perguntar algo.
— Como conseguiu esse machucado e quão grave ele foi? — Ela abraça meu braço de forma romântica, apesar de não poder sentir nada, ela está envolvendo apenas uma prótese afinal.
Dou de ombros. — Você já ficou sabendo pelos médicos.
— Sim, mas quero ouvir você falando sobre isso. — Entendo, finalmente entendi porra! O motivo para todas as perguntas dessa garota até aqui.
Resumindo, o que ela quer perguntar é: “o que aconteceu depois de sair do orfanato que lhe fez perder a fé em si mesmo e em tudo?” Porém ela sabe que não quero responder isso, portanto está tocando o assunto aos poucos. De certa forma, Susi está sendo gentil comigo.
Primeiro perguntou sobre o fato de eu esconder a prótese, agora está perguntando como a consegui, não duvido que os próximos passos será me colocar mais e mais contra a parede até que ela descubra tudo.
Como faço para escapar disso? Droga, preciso de um plano.
Enfim, primeiro preciso responder. — Eh… — Isso é mais difícil do que eu esperava, merda!
— Tudo bem? — Não sei se é ilusão ou não, mas seu olhar parece tão caloroso. Continuei olhando seus olhos, isso me conforta. Por outro lado, as péssimas memórias do passado me dominam, que saco!
Ondas, ondas, me sinto em um mar agitado, na escuridão da noite me afogando. Repentinamente uma luz aparece, não me salva, mas pelo menos me permite enxergar com mais clareza, o agitado mar, agora que melhor vejo, nem sequer parece tão ameaçador.
Finalmente consigo começar! — — Estava voltando da… Acho que faculdade, ou será que era outra coisa? Sei lá, lembro que estava com dois amigos meus voltando de algum lugar e…
Merda! Travei de novo. Susi segura minha mão e continua olhando para mim atentamente, esperando que eu volte a falar.
— Então vi uma forte luz, um carro desgovernado, invadiu a calçada, joguei para longe meus amigos, também tentei desviar e… E então tudo acabou.
— Acabou?
— Eh… Quero dizer… Teve um clarão e, a partir daí, não lembro de mais nada. — Merda! Eu sei que meu sentimento depois foi que minha vida tinha acabado, mas essa não foi a melhor escolha de palavras.
Susi parecia pensativa sobre o que disse, mas não falou nada, apenas me deu um olhar que dizia: “acabe de contar a historia”.
Ok, já estamos quase lá, depois disso teve o hospital e… Ahhh! Não quero falar nem pensar nisso! Que saco!
— Está tudo bem? — De novo isso? Quando a Susi passou a se preocupar comigo? Acho que realmente só a deixo preocupada, suspiro! Isso que dá ser um inútil!
— Acordei no hospital, foi então que recebi a notícia, sabia que sem um tratamento caro, instalando próteses, seria impossível voltar a usar minhas mãos. — Finalmente voltei a contar.
Paro de novo, dessa vez só precisava respirar mesmo, falar rápido demais fode a garganta e te deixa sem ar, não faça isso. Limpei a garganta e disse:
— Estava com ambas as mãos comprometidas, principalmente a direita. Ou seja, me fodi e, sem o tratamento, não tinha como usar um computador, conseguir fazer uma prova ou qualquer coisa do tipo, virei um inútil em apenas 10 segundos, por causa de um bêbado!
Na verdade, até tinham opções, mas não espere que eu pensasse com calma naquela hora! Não só isso, também não tinha muito o que fazer, eu era destro, já tentou aprender a escrever com outra mão? E uma merda!
Além do mais, na época, ainda não era adepto do vagabundismo, por isso ser forçado a uma vida sem ser capaz de fazer nada direito me incomodava. Hoje, vejo como o paraíso, mas isso é outra história.
Só para acabar de contar, eu desabafo:
— Foi assim que perdi tudo instantaneamente, uma luz, um carro e nada mais, não tinha nada, alguém que se preocupasse, dinheiro, ou ideias.
— Êh….. — Susi parecia procurar desesperadamente algo para dizer, assim como eu, porém falhamos.
Parabéns eu mesmo, agora o clima está pesado! Que bosta! Quero um encontro leve, por isso pego a moeda e jogo o quanto antes. Sério, qualquer coisa serve agora, se eu puder parar de pensar no passado.
— Qual o tamanho do seu sutiã. — Ganhei e tive uma ideia genial, se liga só, a Susi parecia desconfortável de falar desse assunto, ou seja, tem uma chance dela não responder essa pergunta, não só isso! De brinde, e uma pergunta tão merda e vergonhosa, que o clima pesado sumiu.
Desvantagens?
Só a dor na cara mesmo, mas depois de tantos tapas já estou me acostumando, serei Iky o bochecha de ferro a partir de hoje.
— Eh… — Susi cora e age como uma criança, isso é meio fofo, não esperava encontrar a fraqueza dela assim. — Idiota, que tipo de pergunta e essa.
— Reclame o quanto quiser, mas se não responder perde. — A sensação de ser o sádico da história é muito boa.
O pimentão diz:
— Quase sempre é G, mas pode mudar um pouco de uma marca para outra, por isso às vezes compro GG. — São maiores do que eu esperava. — Ei! Por que está me olhando dessa forma?
Susi fica realmente envergonhada, hehe! Sim, eu finalmente achei a fraqueza dela, se continuar com perguntas sobre o assunto sem dúvidas vou vencer.
Jogo a moeda de novo e adivinha? Ganhei de novo, boa porra!
— Glup! Por que está comemorando tanto ter ganhado? — E não é que ela está preocupada com o que eu vou perguntar, isso é fofo.
— Não esperava que você ficasse tão envergonhada com isso, até parece que não tem experiência… — Comento sem pensar, mas na hora capto uma micro reação no rosto da Susi e decido mudar minha pergunta: — Ei! Por acaso, você é virgem?
Ela olha para um lado e para o outro. — Si-sim. — Quem diria, a Susi é tão inexperiente assim. A propósito, eu não sou, se quiser saber.
— Espera, só por curiosidade, você já namorou?
— Já fez sua pergunta, segue o jogo. — Basicamente ela está confessando que não, isso é de fato surpreendente.
Continuando o jogo, infelizmente, Susi ganha. — Finalmente, usarei bem minha chance. — Merda, ela ficou séria. — Sobre seus amigos…
O clima parece ter ficado mais pesado, chuva é isso, quase como se estivesse chovendo em pleno sol de rachar.
— Que pena, parece que perdi — digo sem nem pensar.
— Não desista tão fácil, não é possível que isso é tudo que tem. — Susi tenta me provocar, vendo que não vai funcionar ela apela para… — E sabe, não importa se é nesse jogo ou não, me recuso a falar sobre minha vida amorosa!
Não sei exatamente quantas frustrações a Susi de fato tem ou teve com sua vida amorosa, mas, traduzindo o que ela disse, Susi só queria dizer que aceitava fazer qualquer coisa que eu pedisse contanto que eu respondesse a pergunta.
Uma proposta tentadora, muito tentadora, frente a uma situação dessas a única resposta correta a dar é… — Não, infelizmente perdi.
Lamento, mas tem coisas sobre as quais não quero falar não importa o que.
Dia 30
23:40
— Pode fazer isso? — Lembro vagamente do que a Susi me ordenou fazer usando da sua recompensa.
— Pode esperar até mês que vem, agora eu meio que não consigo. — Essa foi minha resposta.
— Ok.
Merda! Merda! Merda! Por que fui responder isso? Agora o mês está para acabar e eu me fodi.
Que bosta!