Trabalhe! - Capítulo 34
Dia 27
Ok, ficar sem ar por 0.5 segundos é diferente de morrer e eu não estou velho o suficiente para ter um infarto, por isso precisamos continuar.
Recapitulando, Susi disse isso: — Sobre sua declaração, desculpa não ter falado nada até agora.
Aí vem a questão, como eu respondo? Talvez tentar mudar o assunto? Ou, talvez, devesse…
— Não tem problema, mas continuo gostando de você. — Lá vou eu ser rejeitado de novo sem necessidade.
— Entendo…. — Porra! Por que ela parou de falar no meio? Não fode, esse silêncio é muito constrangedor.
Por outro lado, pela primeira vez na vida vejo aquela garota sem saber o que dizer, ou pelo menos parece sem saber, sei lá.
— Sabe, acho que era apaixonado por você naquela época, apesar de nunca ter notado. — Merda! Perdi minha melhor chance, porra!
Agora eu entendo melhor o sentimento de quem podia, mas não comprou magalu quando estava custando 1 real. Pior ainda, aqueles que pensaram em comprar, mas acabaram desistindo, esses devem chorar pelo leite derramado até hoje.
O olhar de julgamento recai sobre mim. — Que idiotice você está pensando agora?
— Só estava pensando em como odeio o passado! — Vamos omitir a analogia com as ações de magalu, ninguém precisa saber disso.
Gritei aquilo numa tentativa de quebrar o gelo, mas já estou me arrependendo, Susi não parece ter achado engraçado.
— Desculpa, talvez não devesse ter dito isso.
O tempo passa e o silêncio continua.
Porra! Diz alguma coisa caralho! Não sou velho o suficiente para ter um infarto, mas você está me envelhecendo uns 20 anos aqui!
To falando, essa história vai acabar comigo morrendo por infarto, isso que nem sou gordo ainda.
— Tudo bem. — Finalmente porra! Pelo menos o silêncio acabou, meu coração agradece. Agora, “tudo bem”, não fode! Como é que alguém só fala isso e depois começa a olhar para o nada? O que e isso, um novo tipo de tortura que a Susi esta testando em mim.
Silêncio, silêncio, silêncio e mais silêncio eu não suporto isso! Foda-se, vou falar alguma coisa então.
— Eh… — Merda, não sei o que dizer.
Susi ri levemente e decide acabar com minha tortura de silêncio. — Estar com você é surpreendentemente bem divertido e desestressante.
Agora que ela tomou a frente em falar também não abro mais a boca, podia fazer uma piada, mas prefiro só ouvir, vai que o CD Susi para de rodar de novo e eu fico nesse silêncio mais uma vez.
— Deixa eu aproveitar e agradecer, sei que normalmente se preocupa com meu cansaço e tentar ajudar. — Não nego, mas dá vergonha saber que ela notava, merda!
Não precisa agradecer, é apenas natural fazer isso, você me ajudou tanto, além do mais gosto de você, nunca iria querer te ver sofrendo. Penso em dizer isso, no fim, não consigo, me restou silêncio como resposta.
— De certa forma você é especial para mim, por isso me preocupo tanto, ate demais, maldito troco problemático — Susi reclama apontando para mim, “Não” sei porque, me diga uma situação na qualeu fui um problema? Sou apenas um pobre coitado forçado a trabalhar por uma sociedade malvada que não valoriza as pessoas inúteis.
— Me importo muito com você, mas, honestamente, não tenho certeza de quais são meus sentimentos… — Lá vem, estou sentindo, a resposta que eu tanto quero e não quero está vindo.
Minha mente se torna um caos, cada segundo passava mais devagar do que quando na aula de matemática, mas devagar do que quando está apertado para ir para o banheiro.
O coração resolveu acelerar bastante, espero que essa porrinha não invente de quebrar agora.
Nunca antes na vida, me senti dessa forma, ao mesmo tempo que queria ouvir aquelas palavras, também implorava para que nunca chegasse, queria parar o tempo, queria me manter no estado de superposição, onde não sou rejeitado nem aceito.
— Por isso…”
Seus lábios se moviam, eu quero saber, eu quero muito, mas estou com medo, conhecimento é poder, poder é responsabilidade, a partir do momento em que sabe de algo, não tem mais como ignorar.
Independente de qual seja o som, o vazio som, emitido pelo conjunto de músculos estranhos, chamados cordas vocais, apenas vibrações, que distorcem cuidadosamente o ar, usando da língua e dentes, usando dos pulmões, lábio e por fim sendo interpretado pelo nosso cérebro, essas vazias ondas, essas insignificantes vibrações do ar, que nem uma formiga podem machucar, são a causa do maior medo e ansiedade da minha vida.
Ok, desculpe, acho que estou perdendo o foco aqui. Honestamente, ainda tenho milhões de coisas que queria pensar e adoraria que o tempo simplesmente congelasse agora, mas…
— Como disse, você é especial para mim, por isso me preocupo tanto, mas estou confusa, por isso mesmo que eu aceite sua declaração neste momento, não tenho como te garantir que será uma resposta definitiva.
Como eu deveria reagir a isso? Isso foi um sim ou um não? Facilita para mim, porra!
— Desculpa estar sendo egoísta, quero entender meus próprios sentimentos. Acho que a única forma de saber se vai funcionar ou não e tentando, o que acha?
Pera! Isso foi um sim, né? Merda, quero perguntar para confirmar, mas se fizer isso vou destruir completamente todo o clima que temos no momento. Mais importante, como que eu respondo agora?
Que saco!
A olho seriamente, determinado, ta, na real, dou um olhar indeciso e fraco. Um silêncio se instala, talvez por horas ou segundos.
Vamos Iky, agora não é momento de ser um protagonista virjão, sei que em algum lugar no fundo do meu ser tem um cara fodão esperando para despertar a qualquer momento, tipo agora…
Ta, não rolou, pena.
A propósito, a Susi está me olhando confusa, isso é estranho. Entendam, ela sempre foi o tipo de pessoa que tinha certeza de tudo, nunca tinha visto ela assim, é fofo e dá vontade de apertar.
Chego perto o suficiente para tocar na pele da garota, é mais quente do que eu esperava, ou talvez minha mão esteja muito fria.
Um sorriso lindo surge no rosto da Susi, isso significa que ela está me dizendo para continuar, né? Merda, não consigo ler mentes que nem o monstro na minha frente, mas eu queria.
Assumindo que ela deixou, aproximo os meus lábios do dela.
É óbvio o que fiz em seguida, né?
— desculpa. — Susi me olhou surpresa sem saber o que eu quero dizer com isso.
No fim, ainda sentia alguma culpa por causar problemas para Susi e, em um lapso de autoconsciência, digo desculpas admitindo que preciso mudar.
Dito isso, foi só algo do momento, já mudei de ideia.
Ah! Sim, antes que eu me esqueça, beijo ela. Assim, sem dizer nada de forma clara, construímos uma relação ambígua.
Assim, a partir de hoje sem dúvidas temos uma relação mais íntima que antes, qual nome deveria dar para ela? Sei lá, parece muito trabalhoso pensar nisso, por isso um beijo é a melhor resposta no momento.
Até porque, como já aprendemos, sempre que algo for trabalhoso, adie a solução pra mais tarde que eventualmente tudo se resolverá sozinho.
Confiem em mim, isso é a prova de falha.
— Que demora, já estava cansada de esperar, garoto lesma! — Susi reclama do longo tempo que fiquei só a encarando e tocando seu rosto.
— Desculpa, não sabia que você prefere homens mais agressivos, devo pular para cima de você e tirar suas roupas? — beijo Susi de novo e digo algo do tipo para a provocar.
Surpreendentemente, Susi é capaz de se sentir envergonhada, não só isso ela é bem fora e recua fácil.
2:00
Por fim, nos deitamos juntos, não para fazer o que esperavam, não que eu não queira, esse, no entanto, só não é o momento.
Sem palavras nós olhamos, olhamos para o teto e adormecemos.
Não temos muito o que falar, não tenho como dar as respostas para a Susi e ela, por sua vez, resolveu desistir de me salvar por hora.
Esse foi o fim do dia mais importante da minha vida.
Esse foi o fim de mais um dia da minha vida.
Qual dos dois seria o resultado não sei, talvez nunca saiba, mas se fosse chutar, diria o terceiro, haha.
É isso, fecho os olhos e durmo.