Trabalhe! - Capítulo 29
Dia 1
— Ok, vou listar todos os motivos, mas ouça com atenção, pois serão inúmeros. — Ela continua com o olhar confiante e agora parece mais sádica.
Agora é rezar e se preparar para o massacre.
Susi respira fundo, então começa a falar. — Primeiro, você nunca leva nada a sério. É um saco, não tem como falar seriamente com você!
Eu até pensei em responder com uma brincadeira, mas ela já começou me colocando numa sinuca de bico.
— Não só isso, você fica fazendo as coisas de qualquer jeito e só me causa problemas o tempo todo. — Em minha defesa, você que me obrigou a isso.
Por outro lado, ela já é uma pessoa bem ocupada, me sinto um pouco mal de causar problemas.
— Mas, de todas as coisas, o que mais tem me irritado recentemente, é como você só está destruindo sua vida. Caralho Iky, eu sei que é mais inteligente que isso, para de ser tão cabeça dura!
Glup! Dessa vez eu consegui sentir uma raiva bem honesta, meu cu até trancou por um segundo.
Sinto até as palavras dela me perfurando, mal consigo a encarar nos olhos. No fim, tento me focar nas formigas passando pelo chão e ignorar as palavras que acabei de ouvir.
Falho. Não tem como, minha mente não me permite viajar para outro mundo. Porra! Estou me sentindo mal agora, talvez eu devesse fazer alguma coisa.
Que saco! Eu já tinha decidido nunca mais tentar! Não vou deixar essa garota entrar na minha cabeça tão facilmente.
— É frustrante! — Susi chega perto, perto demais inclusive.
— É como dizem, investir sua energia emocional em salvar alguém é o caminho mais rápido para a loucura. — Por que disse isso? Não sei porra, não tenho controle sobre o que falo e sou burro.
— Você quer me deixar ainda mais irritada por acaso? — Não, não, relaxa aí, pô! — Olha que eu nem comecei! — Me fodi.
Susi me olha com um mix de sentimentos, sim, uma mistura de raiva, ódio e pode colocar mais duas doses de raiva. Ok, verdade seja dita, ela também parece me mostrar um certo carinho e outras coisas, mas ninguém liga.
— Seu cabeça dura de merda, porque você não consegue mudar de ideia nunca? — Susi reclama.
— Não quero ouvir isso vindo de você. — Se acha que eu sou insistente, é porque não conhece a garota que passou 3 semanas tentando convencer todo mundo que a lata de coca cola era amarronzada, só porque ela tem daltonismo leve. Vale dizer, ela só se deu por vencida com o laudo médico.
Susi parece ser pega de surpresa. — Como assim? Eu não sou cabeça dura, sempre avalio as coisas calma e racionalmente, antes de tomar uma decisão final. — Uma decisão final = depois de decidido ela nunca mais volta atrás, nem deus a convenceria nesse ponto.
— Vamos Susi, sei que é narcisista, mas pelo menos isso consegue reconhecer. — Resolvo provocar mais, sabem como é, os inteligentes não brincam com o fogo e, como previamente explicitado, meu QI não é dos mais altos.
— Quem está chamando de narcisista? Eu definitivamente não sou assim, buu! — Que nostálgico, o biquinho de raiva dela é sempre fofo.
Um sorriso mais leve aparece no meu rosto. Ufa! Finalmente consegui escapar de ser criticado unilateralmente.
— Vamos, liste 5 defeitos seus. — Uso a mesma provocação que usava há vários anos atrás. Naquela época tudo era bem melhor, bons tempos quando eu discutia com a Susi sem ser a pessoa errada da história.
— Bem… — Como o esperado, ela não consegue responder, não de primeira.
Boa! Venci.
— Ok, eu admito, posso ser um pouco teimosa, menos que você, mas às vezes tenho dificuldade de mudar de ideia. Também tenho uma certa dificuldade de admitir meus defeitos e me acho levemente melhor que os outros, o que pode se enquadrar como um grau de narcisismo.
Que? Desde quando a Susi pode dar uma resposta desse tipo?
— Por que essa cara de surpresa? — Ela, para variar, lê minha mente. — Sabe quantos anos passaram? Já tive tempo para mudar, tive meus traumas, dramas e amadureci e meu narcisismo não é um transtorno, por sorte.
Qual a diferença entre ser narcisista e ter um transtorno? Bem, de forma simples, alguém com um transtorno narcisista sente uma necessidade de ser o centro das atenções, não sente empatia por outras pessoas, não consegue admitir quando erra e… Pera! Eu não vou ficar te dando aula de psicologia aqui, foda-se! Você pode dizer que um machuca as pessoas ao seu redor e as traumatiza o outro só é chatinho e muito auto confiante.
— Iky, pessoas normais, — diferente de você, Susi diz com os olhos. — amadurecem pelo menos um pouco conforme envelhecem, sabe? — Dói um pouco quando ela me olha desse jeito
O sentimento de derrota é inevitável, novamente, eu estou errado na situação, merda! Será que não tem mais nenhuma forma de virar o jogo?
Esse sorriso, essa garota parece entender e gostar da própria vitória, isso me irrita um pouco, claro, não estou falando de ódio, só de rivalidade…acho, sei lá! Não faz sentido nenhum.
Olhando pelo lado bom, pelo menos desviei o assunto o suficiente para voltar a minha zona de conforto.
No fim, sou só um vagabundo e para alguém da minha espécie, nada é mais importante do que manter se manter na sua zona de conforto.
— Hahaha! Isso me lembra dos velhos tempos. — Agora, para acabar com esse momento, ajo amigavelmente, só me resta aceitar a derrota absoluta.
Susi hesita um pouco em responder e posso ver uma fagulha de raiva queimar nos olhos dela por um segundo.
Ela dá alguns passos para trás, me olha frustrada e murmura — desisto por hoje.
Essa foi a primeira vez que vi ela desistir de algo, não sei exatamente do que ela está desistindo, mas sou incrível por ter conseguido isso.
— Mais uma última coisa, obrigado por ter sido a coisa mais irritante que conheci, isso me ajudou a evoluir. — Susi diz comentando sobre o passado. — Um “rival” é sempre conveniente. — Que fique claro, apesar das aspas que ela faz com as mãos, na época eu era capaz de rivalizar com ela, em parte graças a minha idade, era dois anos mais velho.
Me curvo como um servo e completo com uma voz irônica. — Não há de quê, é sempre um prazer ajudar.
A garota me ignora e vai na direção de um táxi que tinha parado ali, era o nosso amado Motorista-san, ela tinha vindo.
Entramos no carro e blá, blá, blá.
Tei! Um peteleco forte atinge minha cabeça, era Susi. — Ai! — Ela solta um murmuro de dor honesto e acaricia um pouco o próprio dedo machucado. — Como esperado, é duro que nem ferro, idiota.
Do nada Toma no cu!
Enfim, chegamos ao nosso destino e… Já sabem, né? Só no próximo capítulo do dia mais longo da minha porra de vida!