Trabalhe! - Capítulo 25
Maio
Dia 1
6:58
— Acorda! — Uma voz feminina grita na minha orelha.
É sério que essa garota esperou eu pegar no sono só para me acordar assim do nada? Vai tomar no… Não, pera, foi um sonho.
Ao meu lado, o sol está levantando lentamente, iluminando tudo, inclusive o lindo rosto da Susi.
Sim, ela definitivamente está dormindo profundamente; o que me acordou, nesse caso, foi um pesadelo, merda!
De qualquer forma, sinto que, no momento em que acordar, ela vai querer falar sobre o passado, não quero isso! Tomara que ela durma bastante.
Eu, por outro lado, nem consigo mais dormir, minha mente não consegue parar de ficar tensa e lembrar de várias coisas.
Não tenho outra opção, abro um manga, ler vai me fazer ficar concentrado em outras coisas, ou assim espero.
E o plano falha. Não consigo nem ler no momento. As palavras parecem distantes, não as entendo mesmo que saiba seus significados, elas não formam frases, estão todas distantes, apenas palavras isoladas, rodando…
Desisto! Vou assistir alguma coisa, apenas ouvir deve ser melhor, devo estar cansado, nunca acordo cedo por isso não consigo ler.
Fico com fome e resolvo cozinhar alguma coisa, só que não tem ingredientes, bem, fazer o que, me viro com o que tiver e…
— Nossa! Ainda são 7:30, que raro você acordar essa hora, antes de mim, além do mais, está até cozinhando, acho que nunca mais vou ver isso. — Merda! Tinha esquecido completamente sobre ela.
— Humm! Quer comer? — Não precisamos começar o dia com o pior, né? Vamos encher a barriga primeiro.
Infelizmente Susi não pensa da mesma forma. — Claro, mas sobre ontem, o negócio do orfanato.
— Você foi bem direto ao ponto, hein?
Mantendo a tradição de ignorar meus comentários e perguntas, Susi só continua com seu raciocínio:
— Eu realmente fiquei pensando no que você disse, fazer um orfanato, mas por que não sugeriu o nosso? Além do mais, por que implicitamente disse que não confia naquele orfanato, vamos o que exatamente aconteceu?
— O que aconteceu, ontem estava tão evasiva, por que ser tão direta agora? — Cadê a Susi com bom senso de ontem?
— Sempre fui assim, ontem foi exceção, sabe disso. Agora, por favor, eu quero saber. — Ela me encara diretamente.
— Não diria que sempre, antes você não queria saber sobre nada, né? — digo sem nem pensar.
Susi não responde nada, ela apenas olha para baixo meio culpada. Droga! Agora estou me sentindo mal por ter dito aquilo, por que eu continuo querendo tocar nas feridas dela? Eu já a perdoei , né?
— Você tem razão, mas agora eu quero saber. — Susi insiste.
Merda! Não consigo dizer não nessa situação, mas… Deixa eu pensar alguma desculpa para falar rapidinho. — Êh…Tá vou falar, o que aconteceu foi que… êh.
Susi toca no meu rosto e o vira a força. — Não desvie o olhar, não precisa ficar inventando desculpas também.
Que espécie de Susi é essa? Ela parece estar sendo quase gentil.
— Tome. — A garota me passa uma torrada. — Não tenho intenção de te forçar a falar nada.
Sem falar nada me viro novamente para o fogão.
— Mas eu realmente queria saber.
Ela me abraça por trás e sussurra, não consigo ver sua expressão no momento, apenas posso sentir o calor agradável. Não vou conseguir resistir se ele jogar sujo assim, porra!
O que dizer? O que dizer? O que dizer? O que dizer? O que dizer? O que dizer? O que dizer? O que dizer? O que dizer? O que dizer? O que dizer? O que dizer? O que dizer? O que dizer? O que dizer? Dizer? Dizer? Dizer? Dizer? Dizer? Dizer? Dizer? Diga? Diga? Diga? Diga? Diga? Diga?
— Vamos jogar um pouquinho antes. — Preciso de um intervalo.
O monstro dá um sorriso encantador, em alguns momentos ela pode ser tão fofa, droga! — Claro.
Jogamos em silêncio por um tempo. Vale elogiar nossa sincronia, mesmo sem qualquer palavra, atuamos perfeitamente como time. Dito isso, continuamos em silêncio o tempo todo.
Estranho, muito estranho, é raro para Susi agir desse jeito, paciente, gentil, o que aconteceu para ela mudar do nada?
Sério, ela normalmente é tão imponente, mas agora sinto como se… Não sei, tanto faz, é só que estamos perto, digo, sentados um do lado do outro.
8:44
— Susi, obrigado. — Fracamente as palavras meio que saem, na verdade, são quase como o suspiro suprimido liberado pela panela de pressão, quando o vapor se acumula demais.
Desculpa a metáfora estranha, apenas que estava cozinhando a pouco tempo atrás, não que eu tenha usado uma panela de pressão.
— Relaxa, é normal não obrigar as pessoas a dizerem, o que não querem dizer. — Mas não é normal vindo de você.
— Não estou falando disso, só obrigado por tudo.
Silêncio.
— lembra de quando éramos crianças?
Memórias me vem…Não, foco… Já sei! Apenas uma pequena piada e posso desviar a conversas, mas… Droga! Não consigo/quero fazer isso, por tanto opto por uma singela concordância com a cabeça.
Ela dá um leve sorriso em resposta. Olha um pouco para cima, se concentra novamente na tv em nossa frente e diz com um tom de quem pede por perdão:
— Por muito tempo tive vergonha disso, poucos sabiam da minha origem. Não gostava de dizer que tinha sido adotada, principalmente quando todas as crianças ricas estavam se vangloriando das proezas dos seus antepassados. Em algum ponto, eu quis pagar todas as minhas memórias, esquecer dos 13 anos que passei sem pais, fingir que nunca aconteceu.
— Puft! Então até você pode se sentir insegura de vez em quando. — Não consigo responder isso de outra forma, preciso deixar o clima mais leve e com urgência.
Susi me deu um olhar sério. — Só vou dizer isso uma vez, eu sou perfeitamente humana. — Acho que esse perfeitamente é exagero, talvez 37% humana se eu for ser otimista.
— Só estava brincando. — Ou será que não?
— Enfim, apesar de não admitir nem querer mais entrar em contato com o passado, sempre levei algo daquela época comigo, melhor levarei.
Olha, ainda tem louça para lavar, melhor eu ir lá, né?
— Eu te amo. — Merda! Não devia ter olhado para a louça, não posso me distrair um segundo que acabo falando coisas sem pensar.
Eu só queria falar: “vou ir lavar a louça”, mas a porra das frases são “claramente” muito parecidas!
Como sempre, sinto o arrependimento instantâneo logo depois de falar, mais rápido que miojo essa porra.
Que saco! Quando deixei a conversa rumar assim?
— Como exatamente deveria responder isso? — Susi parece surpresa, é a terceira vez em menos de 24 horas, será que os reptilianos devolveram a humana que tinham capturado?
— Que tal responder da mesma forma que da última vez.
— Bem, da última vez você não falou com um tom tão sério, além do mais as palavras que você usou eram completamente diferentes. Eu preciso te lembrar o que me disse?
— Não, não, esquece essa porra.
— Sério, mas eu até tenho gravado aqui, olha. — Susi toca uma gravação no celular dela, porém certas coisas que foram ditas não devem ser lembradas, por isso…
Já sei! Tivemos problemas técnicos e esse capítulo está fora do ar a partir de agora.