Trabalhe! - Capítulo 24
Dia 30
Ela volta e pergunta.
— Ok, para acabar, me fale sobre o Caio.
— Sem problemas, humm!
— Qual problema?
— Nada, é só que não sei direito o que contar, com ele todos os dias parecem iguais. Todo dia perguntando e querendo aprender o melhor jeito de falar isso ou aquilo, um porre!
Susi riu um pouco, mas no fim admitiu que parecia chato demais e que não estava interessada em ouvir.
— Ok, mas ainda temos um tempo, então quer jogar alguma coisa?
— Na verdade, já estou com son… — Eu me rendo ao olhar ameaçador de um certo monstro que não dorme. — Claro! O que quer jogar?
— Haha, quanta animação, pode ser o que preferir, não toco num videogame a anos, afinal.
Preferia que ela descansasse, até atropelei as histórias para isso. Mesmo que não seja humana, até a Susi precisa dormir e descansar de vez em quando, pelo menos eu acho que precisa, vai saber.
Bem, acho que posso pelo menos tentar entreter ela, acho que jogar conta como relaxar o que é quase o mesmo que descansar.
Agora sobre o jogo, poderia ser esse… Não, não, também tem aquele e… Já sei!
Depois de muito pensar, finalmente encontrei algo que seja uma boa opção. Às vezes escolher pode ser um grande porre.
Enfim, o importante é que eu escolhi, coloquei o jogo para rodar e até expliquei todos os comandos para a Susi.
Para começar, temos uma ou outra partida de treino.
Como o esperado, a garota se acostuma com tudo muito rápido, é sempre fácil ensinar ela, isso até me deixar um pouco nostálgico.
Bons tempos em que a única pessoa que eu precisava era um gênio com ela, em pouco tempo ela aprendia qualquer coisa sozinha e eu mal tinha trabalho.
Agora vamos ao jogo!
3:55
Ok, tecnicamente nem mais em abril estamos, mas você não se importa com isso, né?
Nem vem me encher o saco.
Também posso dizer que Susi é extremamente determinada, ela ficou jogando o tempo todo sem se desconcentrar e melhorou muito rápido, rápido até demais, vale dizer.
Claro, ela ainda cometeu um ou outro erro idiota que me permitiu rir da cara dela.
Enfim, finalmente cansada de jogar ela me passa o controle. — Finalmente consegui matar essa porra! Estou morta.
— Bom trabalho, agora conseguiu concluir ⅛. — Dado que ela não jogava a uns 15 anos e que o jogo em questão é Dark Souls e devo repetir, a pessoa na minha frente não é da mesma espécie que eu.
— Só ⅛ , queria completar em um dia! — Mal voltou a jogar e já quer fazer speedrun, essa é a Susi. — Enfim, foi divertido, mas já estou muito
Aponto para o relógio. — É óbvio que você está cansada, já estamos jogando a 4 horas.
Espanto aparece na cara da Susi, isso é algo bem raro de ver, até tiro uma foto para comprovar que esse espécime de alien, ou algo do tipo, é capaz de sentir surpresa de forma semelhante a humanos.
Logo depois ela olha para o celular, apenas para confirmar. — Desculpa, só eu joguei.
— Relaxa, foi divertido te ver, na verdade, fazia tempo que não me divertia assim.
— Também. — Susi sorri. Ele tem um sorriso realmente lindo que me deixa bastante nostálgico.
Essa porra de nostalgia vai tomando conta de mim, até que…
— Isso me lembra um pouco os velhos tempos. — Tá ai uma coisa que eu realmente não esperava ouvir.
O silêncio aparece como um trovão! Ok, acho que essa frase não faz sentido, mas de fato ficamos sem falar nada por um tempo.
Desde que nos reencontramos, Susi basicamente nunca falou sobre nossa infância. Bem, isso foi a 14 anos, não teria porque ficar falando sobre, além do mais… Enfim, não importa.
As palavras saem da minha boca inconscientemente, como um murmúrio de alguém que pensa alto: — Por que?
Susi nunca teve o hábito de responder às minhas perguntas e de novo esse foi o caso.
— Ei! Sabe, minha empresa vai doar alguns milhões de dólares em uma ação filantrópica. — Ela já vai mudar o tópico da conversa? Também não tenho coragem de reclamar muito.
— O que eu tenho a ver com seus milhões? Não precisa ficar esfregando na cara, mas se quiser doar para mim eu aceito.
Susi me dá um olhar irritado de verdade. — Vai se foder, apenas estava pensando alto. O alvo da campanha serão orfanatos, queria saber se tinha alguma boa dica, que eu lembre você passou por três.
Meu corpo se levanta antes mesmo que eu percebesse. Logo em seguida, sem pensar, me aproximo da garota com passos rápidos.
Então toda essa volta foi só para me perguntar sobre isso? Vai se foder! Sério, vai se foder, vai se…
Ahan! Não adianta xingar ela mentalmente, isso não vai mudar nada, apesar dos pesares Susi não lê mentes… acho.
— Por que você sabe sobre isso? — pergunto irritado.
Sim, eu sei, ela provavelmente já sabe de tudo sobre minha vida, mas…
Não, eu preciso me acalmar. — Desculpa.
— Tu-tudo bem, — Susi me mostra um olhar um pouco assustado e decepcionado — vamos voltar a jogar, que tal?
Mostrando uma consideração que nunca vi ela ter, Susi decide não tocar mais no assunto, ou pelo menos eu espero que ela tenha decidido isso, não leio mentes afinal.
— Sim.
No fim, resolvemos não tocar no assunto por um tempo, pegamos um controle cada e, sem qualquer palavra, começamos.
Apenas o som vindo da tv existe, entre nós o silêncio reina.
— Não sei se vai achar estranho, mas não acharia uma boa ideia criar seu próprio orfanato, assim pode ter certeza da qualidade. — Não aguento mais esse silêncio, isso é muito desconfortável, precisava quebrá-lo em algum momento.
— Talvez, vou pensar sobre isso.
4:53
— Ahh! Já está tarde, amanhã a gente joga mais, onde eu durmo? — Susi age como se ela tivesse me avisado antes que ia passar a noite aqui.
— Me avise antes se pretende dormir aqui.
— Por que? A casa é minha.
— Sim, mas… Aff! Tá, vou arrumar tudo, já volto.
5:10
Nos deitamos e ficamos falando sobre o jogo, estratégias e mais algumas coisas, acho que passamos uns 20 minutos assim, até que Susi pega no sono, espero que ela descanse bem.
6:58
— Acorda! — Uma voz feminina grita na minha orelha.
Vai tomar no cu!