Trabalhe! - Capítulo 23
Dia 30
— Claro que não, — mentira detectada — eu só escolhi pessoas qualificadas, o resto foi coincidência. Mas isso não importa, agora você tem que falar sobre o Gabriel, então vai logo.
— Ok, ok, mas não tenho muito o que falar, ele não fez as pazes com o Eichy, eles ainda são ex-amigos e Gab está meio isolado de todo mundo.
O olhar da coisa na minha frente deixa claro que eu preciso falar mais. Droga, ela não vai aceitar só a versão super resumida.
O que mais eu posso dizer?
— Ele está sendo bem útil ultimamente, — bora falar de trabalho então — não tinha notado antes, mas ele é bem criativo, costuma pensar em boas soluções Nada fora do normal, mas ele sempre pensa em um truque ou dois, para facilitar a vida.
Susi dá um sorriso que diz que ela já sabia disso. — Por que só agora viu isso? Subestimou ele, que feio.
— Pare de fazer perguntas que você já sabe a resposta!
Ela me dá um olhar de desentendida. — Mas eu não sei, hehe.
— Tudo bem, vou explicar, antes ele era muito maria vai com as outras e não dava a própria opinião, eu não leio mentes, não tinha como descobrir.
Um sorriso orgulhoso e arrogante surge naquele rostinho. — Eu consegui.
— Ok, vou mudar a frase, ele era muito maria vai com as outras e não dava a própria opinião, eu, por ser humano, não leio mentes logo não possuía dos meio ou capacidade para descobrir.
E ela só me ignora, nem sequer reage ao que eu disse, ela apenas continua como se nada tivesse acontecido.
— E como tem sido ter essa nova pessoa útil trabalhando para você? — De novo isso, tá estampado na cara da Susi que ela já sabe a resposta.
— Um inferno, agora ele está dando a opinião dele o tempo todo e daqui a pouco vai virar um Caio 2.0. Para piorar, ele, diferente do Caio, me odeia.
Susi não consegue parar de rir. — E o que vai fazer sobre isso.
— Nada, óbvio.
Susi me dá um olhar de desprezo. — Ainda não apreendeu sua lição?
— Nunca!
— Tá, tanto faz, você vai ter que resolver isso querendo ou não, mas, por agora, você tem que me contar sobre a Bia.
— Calma aí.
Me levanto, me espreguiço, vou pegar água, minha boca já está seca.
Estou cansado, ela quer me tornar numa máquina de contar histórias para seu entretenimento, é muito cruel, salvem-me.
Já sei! Eu tenho que fugir, só preciso de uma descul…
— Então? — Ela olha para mim com olhos cheios de expectativa.
— Continuo a mesma merda, foi um saco, acontecia alguma coisa quase todo dia, ela foi na minha sala uma 20 vezes, agora em especial que eu me lembre teve:
Dia 11(acho)
Depois dela ter ido para casa no dia anterior, finalmente descobri o que tinha acontecido, era aniversário dela e ele além de esquecer, ainda disse que tinha que ir se encontrar com uns amigos, foi aí que depois de muito desabafo ela disse “ele nem liga pra mim, deveria parar de falar com ele”. Meio chorosa.
Naquele ponto eu só estava implorando para ela parar de falar com ele, mas duvidava muito que algo aconteceria. No dia, ela me garantiu que não falaria mais com ele, que era uma pessoa nova, mas…
dia 15(por ai)
Lá estava ela reclamando: “nunca mais falo com, nunca mais! Dessa vez ele passou de todos os limites”. Só me restava olhar cansado sabendo que aquilo se repetiria de novo e de novo
dia 22(ou outro dia, ninguém liga para datas)
Bia lamentou algo como: “por que? Eu sempre me apaixono de novo por ele ”.
Deixa eu reclamar um pouco aqui, tudo isso ficou acontecendo porque essa arrombada fica tentando se convencer de que se desapaixonou e que agora pode voltar pro relacionamento, pois agora tem controle. Ninguém controla os próprios sentimentos! Que saco, o único jeito é não falar com ele até passar, NÃO CONTROLAMOS NOSSO SENTIMENTOS!
— Fala pra ela, não pra mim.
— Eu sei, já tentei de forma mais sutil, só que não adiantou de nada. Se não me engano até usei uma metáfora, devo ter dito algo como: “sentimento são como sons em instrumentos de corda, quando tocamos forte eles continuam ressoando por um bom tempo, quando tocamos fraco eles logo morrem. Existem aqueles que ressoam por um longo tempo, claro, pode ser que um sentimento repentino afogue por um tempinho o som que está ressoando, porém logo os sentimentos pequenos passam e os de longo prazo voltam a imperar. Também é importante que entenda, não podemos parar um sentimento quando ele começa, apenas esperar ele passar”
Ai quer saber o que ela respondeu? Nada! Ela só concordou com a cabeça e ignorou, porra! Eu me dei ao trabalho de me esforçar para nada, que saco!
E esse é o fim da história, tudo está bem, mas ainda foi cansativo e me deu um trabalho razoável.
— Que chato, é só eu não estar por perto que você empurra tudo com a barriga. E a Ana, como foi com ela até agora?
— Pode perguntar para ele se quiser saber.
— Já perguntei, eu sei o que aconteceu, só quero te forçar a falar até sua garganta ficar seca. — Vai se foder! — Falando sério agora, só quero saber sua opinião.
— Que saco! Ok, acho que ela melhorou um pouco, ela consegue dizer não de vez em quando e está bem independente de mim, ela dá um jeito por si mesma… Provavelmente.
— Que pena, nenhum romance. — Ela murmura, de maneira quase inaudível, logo depois se levanta para pegar uma água.
Tenho quase certeza que ela disse isso só alto o suficiente para mim ouvir, mas tão baixo que não tenho certeza se foi ou não de propósito, maldita Susi! Enfim, ela volta e pergunta:
— Ok, para acabar, me fale sobre o Caio.
— Sem problemas…