Trabalhe! - Capítulo 19
Dia 5
10:23
— Então, está tudo certo, decidi voltar a namorar ele. Hoje de manhã mandei uma mensagem, conversamos melhor e nos acertamos, estou muito feliz!
Errado, é óbvio que tudo iria dar errado, mas porra! A resolução dela não podia ter durado um pouco mais? Uma noite! Sério que demorou só um dia para ela voltar atrás?
Para piorar, pego um puta de um trânsito, o táxi vai sair caro pra caralho!
17:47
Estou cansado, reuniões são tão chatas! A pior parte, estou morrendo mesmo não tendo feito nada de útil o dia inteiro.
A propósito, não se preocupe, Bia estava empolgada com a volta e trabalhou por três, hoje. O problema é o amanhã, quando ela ficar putinha ou tristinha com o relacionamento e causar mais dor de cabeça.
Queria só demitir ela, na verdade, demitir todo mundo junto comigo mesmo e não trabalhar mais! Claro, Susi não vai deixar.
Ainda vamos ter que fazer umas coisinhas a noite, Bia está animada no whatsapp agora e eu vou aproveitar meu tempo livre…
Chato, chato, pena não encontrei nem um jogo interessante, coloco uma musica no fone, vamos procurar mais um pouco, suspiro!
Olha a fotinho desse é legal, vou guardar o nome para olhar depois, esse também, e esse… Tá, acho que não tô muito afim de jogar hoje,
Vou só tomar banho e esperar meus últimos 30 minutos de paz acabar.
18:20
Bora trabalhar, yup, yup! Estou tão animado para traba… Esquece, estou com preguiça de ser irônico agora.
Cansei desse dia.
18:25
Mas esse dia não cansou de mim, acabei de receber uma mensagem da Bia, vou ir jantar com ela de novo e agora Susi está ligando para mim.
O que eu fiz para merecer tanta coisa ruim num mesmo dia? Sinf! De qualquer forma, atendo.
— Que foi? — digo sem vontade.
— O que houve? Me conte imediatamente.
Frente a uma ameaça tão incisiva começo a contar a história do meu fracasso ao som das risadas daquela garota.
Então, depois de acabar de ouvir tudo, ela diz: — Entendo, foi divertido ouvir você, boa sorte.
— Eu te odeio! — grito. — Você não quer nada, não? Por acaso só ligou para rir da minha cara? — Para falar a verdade não estou particularmente irritado.
— Claro.
— Não fique me usando para seu entretenimento, que saco!
Ela ri mais um pouco. — Não fui eu que fiz as coisas de qualquer jeito e me meti nessa. Agora se vira.
Me despeço da Susi porque preciso ir para falar com a Bia, afinal me tornei alguém com quem ela fala sobre o relacionamento.
19:12
Em só um dia, eles brigaram de novo. Isso que eu chamo de eficiência, puta que pariu!
Eu nunca deveria ter tentado nada! Porque eu esqueci da regra mais importante de todas, se sentir que deve fazer alguma coisa, não faça! Se quer fazer algo, não faça!E claro, se não quer fazer nada, também não faça! Simplesmente não faça nada! Essa é a regra primordial do vagabundismo.
Agora sinto que os problemas só vão continuar a se acumular, droga!
No fim, só existe um caminho, eu preciso atrasar os problemas o suficiente para acabar o ano, mas como?
Ok, eu sei a resposta, mas… Terei que quebrar a regra primordial e me arriscar mais uma vez a fazer alguma coisa.
Isso, por um dia, menos ainda, só até o final dessa noite eu vou tentar fazer as coisas direito.
Sim, lá vamos nós para mais uma falha.
O plano começa de forma simples, eu conto uma história falsa sobre um relacionamento ruim que eu tive. Óbvio, a história é parecida com a da Bia, só para criar empatia.
— Está curiosa para saber como consegui sair dessa? — Por fim, tento mover a conversa para direção do meu agrado.
Bia me olha com uma cara que diz: “entendi, por isso você estava falando da ex do nada.” — Ok, me diz, como você saiu dessa? — Esquece, parece que já falhou, isso foi mais rápido do que eu esperava.
E agora? Meu plano era ela achar a historia parecida comigo e ficar muito interessada na minha solução, não olhar com essa cara de foda-se sem acreditar muito em nada do que eu disse.
— Não fiz nada, nem sequer consegui resolver, ela só cansou de mim, se mandou e me bloqueou. Na época estava pobre e ela já não tinha interesse fazia tempo, só continuava por minha insistência e pelos presentes, porém foi só então que pude me libertar.
— Acha que vou acabar do mesmo jeito?! — Olha, se a carapuça serviu o problema não é meu. — Além do mais meu namorado não é… — ela hesita instantes antes de defendê-lo — um babaca.
— Não necessariamente, além do mais, em nenhum momento falei mal dele, não conheço ele e imagino que você saiba a resposta. — Como eu disse! Se a carapuça serviu, o problema não é meu.
Ela me dá um olhar complicado, no fundo ela sabe, eu estou certo. Apreciam, afinal esse é um dos raros, não! Raríssimos momentos em que eu estou certo.
Agora é só eu esperar e naturalmente ela vai me perguntar como terminar com ele, definitivamente, isso vai acontecer em qualquer momento.
Tipo agora!
Não, não, ela ainda parece estar refletindo.
Talvez agora?
Agora!
20:02
Foda-se! Não tenho o dia todo, vou dizer alguma coisa, qualquer coisa.
— Olha, para falar a verdade, eu não estou nem ai para com quem você namora ou deixar de namorar, se acha que vale apenas se machucar por ele só vai. — Merda! Por que eu sempre abro a boca para falar merda? As coisas estavam finalmente indo bem, aí eu decidi ser honesto do nada.
Calma, respira fundo, ainda dá para salvar… espero. Olho seriamente para Bia, minha voz fica grossa e de respeito, então digo:
— Não tem problema machucar a si mesma, mas descontar isso nos outros e permitir que afete o ambiente de trabalho, isso é algo que não posso permitir de forma alguma.
— Mas…
— Vamos, não é uma condição tão difícil. Eu sei, controlar as emoções pode ser difícil, mas tenho uma ideia que pode ajudar.
— Diga, eu não posso nem quero continuar prejudicando os outros à minha volta. — Boa! Agora ela está com cara de quem vai me ouvir.
— Duas coisas, primeiro se estiver irritada ou só instável pode vir falar comigo. E, mas só em casos urgentes, pode sair para resolver problemas de relacionamento, vou garantir que ninguém fique puto.
Bia ouve atentamente.
— Em contrapartida, a vai ter que fazer seu trabalho perfeitamente, mesmo que depois em casa de madrugada, entende?
Bia concorda com a cabeça.
— Ok, agora a segunda condição, se você estiver discutindo e eu intervir, é porque você está sendo irracional e precisa ir para a varanda ficar um tempo sozinha e se acalmar. Consegue fazer isso?
Bia pensa por um tempo. — Vou tentar. — Porra! Seja mais confiável.
Eu suspiro. — Ok, vou te deixar trabalhando com o Eichy, então não deve ser muito complicado, ele não é de brigar, apesar de que você vai acabar com trabalho extra.
— Eu dou conta e… desculpa por causar tantos problemas. — Pare de ser tão racional e fofa! Assim vou começar a sentir pena e, por conseguinte, me importar de verdade.
Não, pera! Para começo de conversa, o que estou fazendo? Eu não resolvi nada, eu apenas aumentei o meu trabalho.
Assim, tecnicamente tudo vai funcionar melhor agora, mas eu ainda aumentei minhas responsabilidades, uma solução que me força a me esforçar não é uma solução. Sou muito burro porra!
Droga, será que eu comecei a me importar sem perceber? Quando isso aconteceu?
— De boa, não se preocupe. — Se preocupe sim, puta! Você está me fazendo trabalhar, tomar no cu! Ahan! Mantendo o ato de cara legal. — Uma última dica, se decidir terminar com ele, entenda, não tem como deixar de amá-lo do nada. Você não controla suas emoções, mas controla suas ações, basta cortar contanto, ou seja, bloquear e o amor sumirá com o tempo. Acredite em mim, funciona.
Lindo! No fim ainda invento de dar lição de moral! Como se eu tivesse moral de dizer isso. Enfim, agora é torcer para ela colocar esse conselho em prática logo.