Trabalhe! - Capítulo 16
Dia 18
2:04
Que preguiça! Entretanto tenho que enganar todos, manter a ilusão de que está tudo dando certo, ou seja, “resolver” o problema.
Rolo na cama frustrado, pensar dá muito trabalho!
Que saco! Por que aqueles dois tinham que se estranhar? Por que os prazos são tão curtos? Mais importante, por que inventaram essa porra de trabalhar?
Ok, vamos começar fazendo uma lista mental dos problemas… Não, pensando bem, só vou ficar mais sem vontade se pensar em tudo que tenho que resolver nesta vida.
Tá, nesse caso vou focar só no mais fácil, a briga entre Bia e Caio. Vamos ver… tudo isso começou com os problemas de relacionamento da Bia e… mas que porre! Não quero lidar com problemas pessoais dos outros!
Sim! Foda-se isso, só vou fazer trabalho administrativo, sou gerente não psicologo, porra!
Abro meu computador, olho para o prazo, olho para o que fizemos.
Pensando bem, cuidar do emocional também é o trabalho de um gerente. — Haha… vou assumir responsabilidade — murmuro para mim mesmo, enquanto dou uma risada sem vida.
Agora vamos ao meu plano de ação, a operação: todo mundo é amiguinho, começa agora!
Já sobre o prazo, bem… Não vamos falar sobre isso nunca mais, ok?
— Nunca mais abrirei aquele computador, juro pela mãe que nunca tive!
De volta ao importante, de repente eu fiquei muito motivado a achar algo para fazer… principalmente algo que me faça esquecer do que vi naquela tela do computador.
A você que ainda desconhece as maldades do mundo, deixo-lhe o aviso e conselho: prazos são assustadores, não olhe para eles nunca, apenas finja que não existem. Esse é o único jeito de combater esse terrível monstro.
Agora vamos pensar no que fazer!
4:22
Ahhhh! Pensar dá muito trabalho, droga! Eu não sei o que fazer, tomar no cu! Por que não tem um jeito fácil de resolver todos os problemas? Sério, a vida devia vir com um botão de resolução instantânea de problemas.
4:47
Trinn!! E quando estou, depois de ter desistido da minha missão, quase pegando no sono, um barulho do inferno surge!
Claro, a única pessoa que ligaria a essa hora é Susi, afinal, diferente de um humano que precisa dormir, ela recupera suas energias sugando a alma das pessoas, ou pelo menos essa é minha teoria pessoal.
— O que quer?
— Nada, apenas queria saber como você está, hehe? — Se eu matasse ela agora, isso seria legítima defesa da sanidade mental, né?
— Uma pergunta, onde você está agora? Outra coisa, pode me emprestar uma arma, eu sei que seus “pais” tem várias em casa.
Susi ri por uns segundos e diz: — Mas me matar não daria muito trabalho? E depois os processos legais, tem energia para passar por isso? E depois tem a cadeia, você não vai querer voltar para lá, né?
Susi definitivamente sabe como me convencer, só de pensar em sair de casa de madrugada já perco a vontade.
Mas o mais importante é… — Para de ler minha mente!
— Não é culpa minha se você é tão óbvio. — Não, eu não sou! Ela que é anormal.
— Só diz o que quer de uma vez.
— Nada demais, apenas queria saber como está indo? Apenas achei que a essa hora você teria cansado de rolar na cama buscando uma solução mágica e teria desistido. — E é por isso que eu tenho um medo genuíno desse ser vivo capaz de emular a forma de comunicação humana.
— Como você consegue saber o horário?! Mais importante, você ficou acordada até essa hora só para fazer isso?
Susi diz com uma voz doce: — Sim, afinal eu te amo… haha — Logo depois a gargalhada começa.
Contenho a vontade de jogar o celular na parede. — Vai se foder!
— Foi mal, foi mal, mas de fato fiquei acordada, bem, estava resolvendo umas coisas do trabalho de qualquer jeito, além do mais é só um dia, se for para ajudar alguém com quem me importo, fazer só isso é fácil.
— Por ajudar você diz rir da minha cara?
— Exatamente, afinal, na frase, a pessoa com quem eu me importo seria eu mesma, e no caso rir da sua cara me ajuda a relaxar — Susi diz ironicamente… acho. Sei lá, vindo dela é possível que seja verdade.
— Você é um monstro cruel! Se vai ficar rindo da minha cara, por que não me dá uma dica de como resolver tudo sem ter que me esforçar?
— Hummm! Durma, porque nos sonhos isso existe, agora, se quiser um problema real você precisa assumir riscos e dar seu melhor. Bem, você é sortudo, não terá que assumir risco nenhum, só dar seu melhor, afinal qualquer coisa que der errado vai acabar sendo problema meu no fim.
— Sim, sempre que eu penso em como posso acabar te causando problema, acabo ganhando um pouco de motivação para trabalhar, para me esforçar em fazer a pior gestão possível.
— Haha! O que é isso, vingancinha?
5:10
Susi desligou o telefone, no fim falamos por bastante tempo, apesar de nada muito importante.
Olho para o teto.
Que saco! Não quero fazer nada! Mas… Talvez eu possa conversar com o Caio, né? Ele é do tipo que aceita bem críticas e é muito profissional, basta pedir e ele vai se desculpar com a Bia.
Sim, a culpa nem é dele, mas enfim… Não é problema meu!
Mais importante, também podia explicar para ele, que ser perfeccionista demais é um problema e que ele tem de… meh! Muito trabalho, vou falar só o necessário para o convencer.
Sim! Um remendo aqui e um ali e tudo vai dar certo, pelo menos por agora.
Enfim, acho que posso jogar um pouco, então vou dormir… Merda! Já são quase 6 da manhã! Que porra, perdi minha noite inteira sem nem ver.
Dia 28
Dito e feito, de uma forma ou de outra chegamos ao final do mês sem ninguém querendo se matar e com o prazo sobre controle.
Isso! Eu sabia que dava para resolver tudo só empurrando com a barriga, algumas horas extras e, enquanto as pessoas não se odiarem ao ponto de quererem sair na porrada, está de boa ter um pouco de rixas.
Hahaha! Eu nem tive que trabalhar tanto, eu consegui! É só aguentar mais 10 meses nesse modelo e tá tudo certo.
Claro, sei que não resolvi absolutamente nada, Caio continua desnecessariamente perfeccionista, Bia continua chata pra caralho, Eichy continua um preguiçoso, apesar de um pouco menos inútil, Gab continua meio depressivo desde que brigou com o ex-melhor amigo e Ana… Bem, na verdade, ela está de boa, Ana é legal.
Você pode até ficar preocupado, mas o trabalho de um gerente não é resolver os problemas pessoais das pessoas. Talvez você possa incumbir um líder disso, mas nem todo chefe tem que ser um líder de verdade, a maioria não é.
No momento, convencer as pessoas a adiar o prazo de entrega, esse é meu único trabalho.
Dia 1 de abril
7:00
Esse capítulo não chama março 4? Sim, é um absurdo esse dia estar aqui, mas não há o que ser feito, acho.
Enfim, ontem a Susi me mandou uma mensagem bem concisa: “Sem fugir, estou assumindo os riscos mesmo, só vai!”
Sim, eu sei, as coisas podem muito bem explodir se eu não fizer nada, mas… preguiça.
A propósito, Ana também me deu bronca dizendo que tinha que fazer algo, sim, até a Ana está me dando bronca agora.
Só a que ponto chegamos?
Ahh! Foda-se! Não consigo só olhar a merda iminente.
Vou fazer alguma coisa, pelo menos sobre a Bia, sim, vou levar ela numa viagem de negócios e tentar dar uma de psicólogo de novo.
19:44
Por que? Por que sempre acabo fazendo alguma coisa? Por que em alguns momentos me sinto motivado? No fim só arrumo trabalho para mim mesmo.
Vou dar uma de psicólogo, onde estava com a cabeça?
Primeiro, quando foi que eu tentar resolver algo deu certo? A resposta é: nunca deu!
Terceiro mandamento do vagabundismo: se algo vai dar errado, não tente arrumar, você é inútil demais para isso, apenas torça para alguém arrumar.