Trabalhe! - Capítulo 10
Dia 20
18:00
Como hoje é sexta acabei liberando todos mais cedo, surpreendentemente até Caio acata e vai.
Então por que você ainda está aí? Talvez se perguntem, a resposta é: por medo.
Olha, não sei como, mas tenho certeza, ou quase, de que a Susi descobriria se eu fosse embora mais cedo e não quero arriscar.
Agora, adivinhem quem também não foi para casa? Se você disse garota do TI, você acertou.
— Então como vão as coisas, não pretende fazer nada no final de semana? — Também não tenho nada para fazer, por isso vou perguntar.
— Não, normalmente vejo minha família, mas é complicado viajar todo final de semana, por isso só vou uma vez em 15 dias.
— E sair com outras pessoas na cidade? — Que fique claro, eu não estou dando em cima de ninguém, só estou entediado mesmo.
Ana olha para baixo, desvia o olhar, pensa, antes de dizer: — Não seja mal, sabe que não tenho ninguém para chamar!
Sinf! Que triste, me sinto quase comovido pela situação da garota. Claro, continuo sem ter o que fazer, por isso vamos continuar nessa, digo:
— Já ouviu falar de internet?
— Sim, mas… — Esquece, já mudei de ideia, eu já sei onde isso vai acabar, não quero mais falar nesse assunto.
Ana fica em silêncio, por uns 20 segundos. Aos poucos, vejo a resolução surgir em seu olhar, merda! No fim, ela me olha diretamente e diz:
— Na verdade, eu já tentei e… — Droga! Reconheço esse olhar de cachorro morte de quem vai me pedir ajuda!
Ana para de falar mais uma vez, pega o celular do bolso e guarda. Então pensa de novo e finalmente continua. Porém saibam, não importa o que acontecer, não vou me envolver mais!!!!
— Iky…
18:13
— Tem certeza de que não liga de mostrar para mim? — pergunto para Ana, que me mostrava as conversas no seu celular com naturalidade.
A garota dá de ombros e diz: — Por que eu ligaria? Além do mais, confio em você.
— Valeu, agradeço a confiança. — Apesar de não recomendar.
Agora vamos dar uma rápida olhada no celular dela e…. Eu já estou ajudando, né? Como eu me odeio!
Ok, vamos lá, já que cheguei aqui, sejamos rápido.
18:25
Só 12 minutos e li absolutamente tudo, sou muito rápido, né? Não! Na verdade, é só a Ana que não fala com ninguém mesmo.
Porra! Ser ruim em se comunicar é uma coisa, mas não conseguir nem sair do “oi, td bem?” é foda!
Não, pera! Esquece, não tem porque eu ficar frustrado com isso. Sim, são só problemas da Ana, sem relação com você.
Eu não me importo, eu não me importo, repitam comigo: EU NÃO ME IMPORTO COM NINGUÉM. Sim, repita isso sempre, pelo menos três mil vezes ao dia, só por garantia.
— Mal consegui começar, né? — Notando que acabei de ler, Ana comenta com voz e cabeça baixa.
— Pois é… — Adoraria gritar com ela, mas mantenho o tom calmo. E novamente, eu nem me importo, por isso não fico frustrado de verdade.
Não é como se eu quisesse que ela já tivesse conseguido, ou ficasse puto pelo fato dela estar tão longe de se tornar capaz de socializar.
Estou tão calmo, que a primeira coisa que a Ana diz, depois de ouvir minha “palestra” sobre socialização, é: — Calma, calma, devagar por favor.
Tá, talvez eu me importe um pouco, mas não importa. Relaxei e expliquei com calma e sim, acabei ajudando mais do que pretendi.
No fim, Ana ainda parece ser iluminada por uma maldita determinação e me pergunta:
— Posso te pedir uma coisa?
— Se pá, só que já é tarde, não dá para demorar muito. — Só espero que não seja nada trabalho, sério, por favor não seja nada trabalhoso.
— Vai ter uma convenção de robótica e… Êh que… Po-poderia ir comigo?
— Um encontro, hein? Claro que vou.
Ana não hesita nem um segundo responde com um rosto sério: — Não tenho esse tipo de interesse. Desculpe! Te dei a impressão errada.
Não sei o que dói mais, ou fora, ou ela não ter entendido minha ironia. Enfim, só explico para ela que estava brincando e pronto.
Dito isso, eu realmente não precisava saber que ela tinha tão pouco interesse em mim, ele não hesitou nem um segundo, sinf!
Pronto, acabei com um “encontro” marcado para domingo, apesar de ter preguiça de ir.
23:40
Estou jogando, como sempre, até porque amanhã não tenho que acordar cedo, então do nada Susi me ligar.
Olha, eu quero atender? Não, mas ainda valorizo minha vida. Além do mais, não estou jogando nada online. Atendo e a primeira coisa que ouço é:
— Vai fazer algo no domingo? — Falar “oi, tudo bem” ou pelo menos um “alô” que é bom, nada? É foda!
De qualquer jeito, apenas respondo que vou na porra da convenção de tecnologia. Susi parece se surpreender um pouco e pergunta
— O que houve? Isso não parece com algo que você faria.
— Acontece que Ana me convidou, por isso eu vou. — A propósito, falo bastante com a Susi, então já devo ter comentado sobre a Ana.
Ao ouvir isso Susi ri maliciosamente e comenta: — Vai em um encontro, então?
— Nem.
— Então onde vai ser? Também vou. — Ela é sempre assim, na verdade, já é surpreendente ela ter a consideração de querer saber se era um encontro ou não.
— Sinta-se à vontade.
— Ok, me fala que horas vai, posso te dar carona se quiser.
Boa! Consegui carona, então estou até que com sorte.