Sua Alma Amada - Capítulo 3
— É muito bom ver crianças se divertindo nos dias de hoje, entretanto não em horário de aula! Gostaria que vocês dois do 3º ano, limpassem essa bagunça que vocês fizeram. Já vocês dois aqui, venham comigo. — Com um olhar alegre em seu rosto, o professor sorri para os alunos.
O professor pega sua espada de uma mão só, que possui um cabo azul e um pomo feito de ouro puro e no formato do infinito. A sua guarda-mão é constituída de um relógio que marca as horas em números romanos. Além do mais, a espada possui fio em ambos os lados, no meio é possível ver alguns símbolos que pulsam na coloração azul-turquesa.
O professor faz um corte vertical bem na frente dos seus alunos, e no exato momento que o fio da lâmina encosta no ar, gera um atrito no espaço-tempo, atrito esse que acaba formando uma fissura temporal. A fenda é feita de pura energia, para ser mais específico de energia estática, raios fluem de dentro da fissura e ao seu redor a realidade parece estar sendo distorcida.
O professor olha para os seus alunos e estende sua mão direita em direção a fenda.
— Vamos logo, pois a aula já começou. — Após falar, ele parte em direção ao corte e o atravessa.
Dionísio segura nas mãos de Zac e o ajuda a se levantar, eles pegam as coisas que estão no chão e sem entender muita coisa, os dois passam pela fissura. Quando olham novamente, estão no meio de uma sala de aula.
A princípio os dois só sentem um leve desconforto na barriga, porém logo em seguida, Dionísio sente uma vontade muito forte de vomitar, entretanto consegue segurar e manter sua pose.
Zac observa e percebe que a sala é semelhante a de uma universidade, que possui cinco quadros brancos formando círculo e uma mesa grande que separa o professor dos alunos. Além disso, a outra metade da sala é constituída por cadeiras que sobem semelhante uma arquibancada em um formato circular. A sala é cercada por paredes feitas de um marfim muito nobre e com detalhes em dourado, já na parte superior da sala, se encontram diversos vitrais coloridos, que estão cercados por cortinas com o símbolo da Academia.
O professor pede para os dois alunos se assentarem, Zac e Dionísio estão exatamente no centro da sala de aula. Confusos e tontos eles vão se recuperando aos poucos, alguns alunos confabulam o porquê deles chegarem usando uma fenda temporal e como isso foi acontecer.
Dentre eles é possível ver um jovem que está sentado no canto esquerdo da sala, e que com um olhar de insatisfação bate na mesa e murmura algo.
Uma claridade azul vindo dos vitrais vai em direção àqueles dois jovens, deixando-os ainda mais em evidência.
Zac está indo em direção ao seu assento, quando de repente olha para um vitral específico e percebe um vulto preto passando. Vulto esse que se assemelhava com o que tinha visto no portão da praça. Enquanto isso, Dionísio passa pedindo desculpas por estarem atrapalhando o andamento da aula.
Zac tem um leve pensamento acerca destes vultos, com o intuito de tentar lembrar o período em que eles começaram a aparecer. Porém falha miseravelmente e não consegue se lembrar o momento certo que isso começou.
Zac e Dionísio se sentam na penúltima fileira, ficando um do lado do outro.
— Sejam bem vindos a nossa Academia, me desculpem pelo o atraso e pela forma que cheguei. Me chamo Kyron e leciono a matéria de compreensão da alma, durante todo período escolar, eu serei responsável por ensinar como compreender e transformar parte da sua alma na energia que conhecemos por mana.
Ele fecha os olhos, cerra seus punhos, e em seguida estende sua mão direita, que aos poucos vai abrindo, e de repente uma bola branca de energia vai surgindo e ganhando tamanho.
Ele abre os seus olhos, em questão de segundos aquela bola branca de luz se condensa e transforma-se em um líquido branco que se move dentro de uma bolha. Esse líquido tem um comportamento semelhante ao de pequenas ondas, que estão indo e voltando.
Alguns alunos ficam surpresos e impactados pelo grande domínio de seu professor.
O professor dá um estalar de dedos usando a mão que estava estendida e surpreendente a bolha estoura. Junto com o estouro, um barulho de *tic-tac* ecoa por toda a sala.
— Essa parte ficará para outra aula, já que hoje eu preciso dar algumas informações que a reitora me pediu.
O professor apresenta um pouco mais da Academia de magia. É dito para os alunos que o território de Urano é dividido em cinco capitais, e que a academia se encontra na capital do ensino, denominada Paideia ( Paideia era o local dedicado a educação na Grécia) e que a academia é especializada na formação de guerreiros e intusiastas que desejam impedir o avanço das forças do império negro.
Também é apresentado que a capital Paideia possui uma outra academia e que é conhecida como Academia geral de ensino. Ela é focada na educação e construção dos jovens que não possuem vigor físico ou aptidão mágica, jovens que futuramente trabalharão para o crescimento tanto econômico quanto científico do país.
Um jovem de estatura média, com cabelo preto e uma franja tapando metade do olho, além de possuir um corte disfarçado e um tom de pele clara. Olha de forma debochada para alguns alunos da turma e fala:
— Não é possível, eu acho que estamos na academia geral, pois só vejo pessoas sem aptidão nenhuma, onde já se viu, estou na mesma sala de um suporte que só possui um feitiço de cura e um debuff inútil.
Assustados alguns alunos começam a falar, e mais ao fundo é possível ouvir a voz de uma jovem aluna, que possui um cabelo loiro com tonalidade cinza nas pontas.
— Mais uma vez o Lacer tá arrumando confusão, não cansa de passar vergonha, desde criança é assim e até agora não aprendeu a se portar.
Lacer continua falando em voz alta.
— É você mesmo Dionísio, o mais fraco dentre os filhos de Zeus, você não deveria estar nessa família, você só nos trás vergonha! Você deveria desistir de frequentar essa academia. Aproveita e vai logo para academia geral e vê se lá você serve para alguma coisa.
— É, eu acho que deveria ir mesmo né, Lacer? — Com olhar triste, Dio olha para a turma e pede desculpas pelo comportamento do seu irmão mais novo. Logo em seguida ele volta para o seu assento, porém o Lacer continua a falar.
— Você é podre Dio, ainda por cima é um covarde, não sabe se defender. Porém eu sei que você só se aproximou desse moleque aí para que ele te defendesse. Mas se aproximou logo de quem? O mais problemático de Urano, a garotinha do livro amaldiçoa…. Enquanto Lacer está terminando a sua fala, um barulho de um animal corvejando ecoa pela os céus e uma sombra passa entre os vitrais.
Também é possível ouvir o bater das asas, quando inesperadamente um corvo dá um rasante, quebrando o vitral em vários pedaços e indo em direção ao jovem conhecido como Lacer.
Todos que estão na sala se espantam, o corvo com uma de suas três garras, acerta o rosto do Lacer causando uma perfuração profunda em seu rosto.
Um estalo de dedos é ouvido, o som do estalo ecoa por toda sala e o tempo para.
Zac sente seu coração parar, e aos poucos começa a forçar a sua respiração, rapidamente ele percebe que está voltando ao normal e ao olhar ao seu redor ele vê que tudo parou! Ou pelo menos não tudo.
O professor sai de sua mesa e vai em direção ao jovem Zac.
— O que você estava disposto a fazer? Qual é seu intuito? Senti uma sede de sangue vindo do seu coração e fico imaginando até onde você é capaz de ir?
— Eu jamais faria isso, ele apenas precisava de uma lição, ele não sabe por tudo que o irmão dele passou. Dionísio é uma pessoa incrível, além de ter sido o único que em todo esse tempo nunca olhou para mim como um monstro, ele sempre viu algo bom em mim. Eu estava com raiva e do nada tudo ficou preto e agora estou aqui, não sei oque aconteceu, só sei que tudo parou. Falando nisso, porque só eu e você estamos…
Novamente um estalo é ouvido. Zac sente o coração parar, assim como da primeira vez, porém agora mais acostumado consegue voltar rapidamente. Quando de repente percebe que Lacer estava terminando sua fala.
— A garotinha do livro amaldiçoado.
Ele se espanta ao ver que a janela estava intacta e o professor Kyron estava olhando em sua direção, Zac fica espantado ao ver novamente a habilidade que ele acha ser de seu professor, só que aos poucos essa memória vai se diluindo e ele não consegue se lembrar do que havia acontecido.
A aula continua, a presidente do corpo estudantil do primeiro ano, vai até a mesa do professor e fala sobre como será o semestre, ela fala sobre algumas atividades que serão feitas e que todos os alunos precisarão participar de pelo menos uma atividade. Podendo ser dança, música, pintura, escultura, teatro, culinária entre outras.
Zac está muito confuso com tudo o que está acontecendo, ele não presta muita atenção no que está sendo falado, desse modo ele apenas pega o seu caderno e começa a desenhar a silhueta de uma mulher que sempre aparece em seus sonhos e algumas lágrimas acabam caindo em seu caderno.
Dio fica preocupado e olha bem nos olhos de seu amigo.
— Aconteceu algo, Zac?
— Nada foi apenas um cisco no olho.
— Ahh, que bom então Zac, e sobre a atividade extra-curricular? Eu tô pensando em participar da culinária, eu quero aprender a fazer vinhos e bolos para conquistar os coraçõ…. Enquanto ele falava, percebeu que o seu amigo continua chorando.
Zac seca seu rosto e diz:
— Cuidado para não queimar o bolo e espantar as pretendes. Com um sorriso forçado em seu rosto.
— Ainda não sei qual atividade eu devo fazer Dionísio.
O sinal toca e eles guardam seus pertences em suas mochilas e enquanto estão saindo eles ouvem seu professor.
— Você é o Zac? O famoso menino do livro, um pássaro me contou, hehehe talvez seja um dizer um corvo né?, que você possui bastante mana, independente se for verdade ou não eu ficarei de olho em você.
Zac fica se perguntando como seu professor sabia onde eles estavam antes da aula começar e como ele sabe sobre o corvo. Algumas perguntas surgem na sua cabeça.
Kyron com o relógio na mão olha para Zac e acena.
— Só o tempo vai responder. — Logo em seguida estala seus dedos e desaparece.