Sua Alma Amada - Capítulo 22
— Olha para eles Kyron, para de bobeira, e é bom que aproveitamos para descansar. Pois a jornada no deserto será muito complicada — Thome continua a acariciar Jack enquanto fala.
— Vamos fazer assim então, mas você vai na frente — fala Kyron com um olhar de decepção estampado.
Os dois lobos uivam de alegria, em especial o Jack que por causa da felicidade acaba lambendo o Thome. Que não está nem um pouco ligando, muito pelo contrário, o sorriso em seu rosto denota um sentimento genuíno.
Enquanto ocorre o diálogo, por causa da extensão de Jack e Holly, o Zac permanece com seu poder ocular ativo. E em sua mente ecoa uma voz conhecida, que é abafada por um barulho de asas batendo, Zac se atenta no que se tornaria um diálogo.
— A diretora falou que era bom eu ficar um tempo com vocês, depois eu volto para academia.
— Essa parte eu entendi Dionísio, mas o que aconteceu, soube de alguns acontecimentos mas a Flora só me falou que você ficaria um tempo conosco, eu vim pessoalmente, mas preciso passar isso para nosso pai.
— Apolo você sabe muito bem que não é por isso que você está aqui, se quiser falar para ele fique a vontade. — Após terminar de falar, Dionísio saca a gaita e começa soprar, por não entender como funciona o som sai bastante arranhado.
— Dionísio, você não é assim, o que é isso que você está usando? Cadê a harpa que nosso pai te deu? Eu sabia que aquele garoto era má companhia. Bora rapaz, me responda. — Após o questionamento, nenhuma resposta é ouvida, Zac só ouve o som de um instrumento sendo mal tocado, gerando um contraste do que acabou de ouvir com Thome.
— Ei garoto, está dormindo? Toma aqui meu instrumento, cuide bem dele. — Thome está com o contrabaixo em sua mão e apontando para Zac.
— Desculpa, estava lembrando de um amigo meu que ia gostar de ouvir você tocando, ele é um bardo. — Zac pega o contrabaixo com muita dificuldade e medo de quebrar alguma coisa.
Ele se surpreende com o peso do instrumento musical que Thome carrega, pois é extremamente pesado e mesmo assim ele se movimentava de forma suave.
Jack não para de brincar com Thome, que sem nem pensar duas vezes já sobe no lobo, mas Jack está tão afoito que começa a correr sem uma direção certa.
— Isso é muito legal, porque não fizemos isso antes — questiona Thome.
— Já que temos que ir vamos logo, Zac faz ele voltar aqui para irmos logo. Ainda estamos próximos da torre e não acho muito bom ficarmos parados por aqui.
— Jack, volta aqui — Zac enquanto fala faz sinais com suas mãos e emite sons como se tivesse chamando atenção do animal.
Holly vendo toda essa situação começa a uivar, e no mesmo momento Jack para de correr e começa vir na direção do Zac.
— Muito obrigado Holly, ansiosa para irmos juntos? — Ela responde com um latido e uns pulinhos.
Zac coloca o contrabaixo nas costas, porém diferente do Thome, que por ser alto coloca na vertical, ele coloca na horizontal e parece que ele está com os braços abertos. Juntando a roupa que tira a mobilidade, o Zac começa a se questionar do porquê se ofereceu para levar o contrabaixo.
— Kyron vamos logo, é muito divertido, o vento cortando no rosto é simplesmente incrível.
— Você está muito animadinho, nem parece que vai ter que passar pelo deserto.
— Para de ser chato, quando a gente chegar vamos resolver isso. Só fecha a boca e sobe logo.
Enquanto a conversa acontece, Zac sobe na Holly, que está um pouco menor que o de costume, com muito cuidado por causa do instrumento. Uma situação bem engraçada para quem está vendo de longe.
— Como faz para subir? Tem algum lugar para apoiar? — questiona Kyron.
— Rapaz, você foi criado com vó? Só sobe nele e se achar que vai cair só segurar em mim — Thome solta uma leve gargalhada pois sabe que seu amigo está desconfortável.
Kyron que mesmo contrariado sobe em cima do Jack, senta um pouco distante do Thome e sem falar nenhuma palavra permanece com um olhar neutro.
— Jovem, como vai ser isso, tem que falar com eles a direção? Eu nunca fiz isso, me desculpa se falo muito, mas como não posso ver o que me resta é falar heheheh.
— Nada, então eu meio que vou guiando eles, mas como não sei o lugar, fica um pouco complicado. Outra coisa, não quero ser visto como rude, peço perdão, mas como você sabe qual direção seguir.
— Não é rude não, mas eu me guio pelo vento, pelo cheiro, pela textura do chão, pelo som, hehe tem muitas coisas, não sou dependente de um único guia não.
— Vamos embora, vocês dois vão ficar conversando mesmo? Muito diálogo e pouca ação. Eu hein, Zac eu vou te falando até chegarmos no deserto. Até lá é só seguir reto.
— Kyron, você não tem educação não? O rapaz e eu estamos trocando uma ideia, jovem liga para ele não. Por enquanto segue reto, mas pra frente vou te falando para onde ir. Eu hein, tu precisa de modos Kyron.
— Tá bom, Jack acompanhe a Holly, além de estar menor, tá sendo difícil me equilibrar, então nada de sair correndo.
— Bem feito, você ofereceu agora que se vire, com todo respeito é claro. — Thome solta uma leve risada.
Jack balança a cabeça para cima e para baixo, solta muita baba. Então os dois começam a caminhar, ganhando um pouco mais de velocidade começam a correr, numa velocidade de mais ou menos 55 km por hora, (lembrando que é uma conversão, mas em contrapartida um lobo normal pode mover-se a uma velocidade de até 65 km/h) com extrema naturalidade.
— Rapaz, isso é devagar para você?
— Pode se dizer que sim, esses dois correm ainda mais rápido.
— Como não temos muito contato com os animais, eu me surpreendi. Gostei dessa ideia, vou ver se encontro algum animalzinho para mim.
— Eu reparei, já falei com Dio no passado, pois isso é muito estranho para mim. De onde eu vim tinham diversos animais, talvez você encontre algo lá.
— Aliás, esse Dio que você fala, seria o Dioniso? Filho de Zeus?
— É sim, somos amigos, ou éramos amigos. Ainda não sei muito bem.
— Ahhhh sim, agora faz muito mais sentido. Kyron como te conheço você não deve ter falado para o rapaz para onde estamos indo né?
— Fiquem a vontade para conversar, por enquanto só quero descansar. — Kyron consegue esconder o medo, mas por dentro ele está muito nervoso, pois acha que pode cair a qualquer momento e se isso acontecer ele não vai pensar duas vezes para voltar no tempo.
— Como assim? Eu achei que somente Kyron e Flora sabiam do plano.
— Mané, plano rapaz, eu só sei para onde estamos indo. Me liguei que conecta com a família de Zeus, pois vamos até a casa de um velho conhecido desta família.
— Me desculpa, mas vocês mais velhos ficam falando em códigos. Tem algum problema só falar o que é? Eu não entendo isso.
— Rapaz, com a idade vem a maturidade, tenha calma. Nós estamos indo para um lugar onde o tio distante do Dionísio mora.
— Tio distante? Ele nunca me falou de nenhum tio que mora longe.
— Então rapaz, por isso tenha todo o cuidado. Pouca gente sabe do que você está prestes a saber, talvez nem mesmo seu amigo sabe disso. Poxa eu queria estar com o contrabaixo para te contar essa história cantando.
— Sem querer soar grosseiro, mas você poderia só contar a história não?
— Kyron, ótimo trabalho com essa geração hein, tiveram pouco tempo mas ele tá tão chato quanto você.
— Já falei, vocês que se virem, começou a contar a história agora você que termine de contar. — O medo de cair é tão grande que ele tá suando frio, suas pernas estão fazendo força ao redor de Jack só para evitar de cair.
Mas como Jack está conectado com Zac, ele percebe que o Kyron está pressionando suas pernas contra o corpo do animal. Muito provavelmente por causa do medo de cair, e percebendo isso, Zac comunica mentalmente para eles irem mais devagar.
— Jovem não vou conseguir me segurar, pois sinto um cheiro de boa vontade no ar, por favor com suas mãos me acompanhe, bate palmas enquanto eu canto, com um som um pouco ofegante abra sua mente e sinta esse encanto.
Thome começa a bater sua mão em um ritmo bem suave. duas batidas e duas pausas, duas batidas e duas pausas, construindo um tempo musical bem ritmado.
— Me acompanhe. — Zac que meio desengonçado segue o tempo proposto por Thomé.
O bardo então começa a soltar pequenos solfejos, e sem mais nem menos inicia uma canção, que parece muito mais uma poesia recitada que dizia assim:
Numa tarde mergulhada na luz artificial,
Mestre e aprendiz, sobre lobos negros, tão especiais.
Pelas ruas de uma cidade, coração pulsante,
Onde o concreto se mistura com o sonho vibrante.
Sobre os lobos negros, ágeis e destemidos,
Mestre e aprendiz, pelos arranha-céus atingidos.
A cidade, uma sinfonia de neon e aço,
Testemunha a jornada, enquanto o tempo voa.
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Mas algo inesperado acontece, pois no meio da canção os lobos diminuem a velocidade bruscamente, e ao invés de correr, dão pequenos saltos como se estivessem aproveitando a música, em um desses saltos, Zac se desconcentra e perde o tempo. Ainda bem que Thome consegue se reorganizar rapidamente e voltar ao compasso. Mesmo errando, Zac sorri, depois de um longo tempo, um sorriso genuíno que fica estampado em seu rosto.
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Então, num momento entre cabos e conexões,
O aprendiz, em silêncio, tece boas ações.
Na cidade pulsante, onde a compaixão se revela,
Um ato de nobreza, na era digital.
Que a melodia flua como dados em uma rede,
Mestre e aprendiz, sobre lobos, na cidade que cede.
Na tarde brilhante, onde o futuro se encontra,
A compaixão floresce, como uma faísca que encanta.
Após a música acabar, Zac continua a bater palma, mas não no tempo da música, ele vai acelerando as batidas em comemoração e felicidade. Pois de alguma forma, a música do Thome alcançou com a sua alma.
— Que coisa linda Thome, muito obrigado mesmo, que música linda. — Enquanto fala, os lobos uivam concordando com as palavras de Zac.
— Que nada, eu apenas comecei a sentir um cheiro suave junto com uma bela música.
Zac percebe que todo mundo parou de bater palmas, mas o som continua em sua cabeça, ele pensa ser algo de sua imaginação. Ele então começa a refletir e percebe que o som tá seguindo o mesmo ritmo que as palmas, porém ele lembra do som do instrumento, um som que ele ouviu tem pouco tempo, muito semelhante a de uma gaita, só que dessa vez o som estava melhor e sem ruído. O som para do nada e uma voz amiga do Zac diz:
— É eu acho que gostei desse presente.