Spes Homini - Capítulo 21
— Senhor, chegamos…
No banco de trás do carro, o chefe da Spes Homini observava o hotel perdido nos seus pensamentos. Ele sabia que aquele era o melhor local para os assassinos atacarem, mas de onde e quando eles viriam era o que o preocupava.
— Senhor, está tudo bem? — questionou o motorista estranhando o silêncio do seu chefe.
— Sim… Sim… Não é nada demais… — de imediato o homem abriu a porta do automóvel e saiu.
Do lado de fora dezenas de rosas azuis preenchiam as laterais do caminho, dando vida ao morto passadiço de pedra. À frente daquele curto percurso um prédio de enormes dimensões sombreava as plantas.
O chefe da Spes Homini então abaixou-se diante daquele mar de flores e observou de perto o vivido oceano que elas formavam. Aquilo encantava-o, era como se estivesse a contemplar o seu próprio olhar.
Foi então, que depois de passar longos tempos admirando as rosas que o homem se recompôs e ajeitando a sua roupa foi em direção à porta principal.
“Algo se passa com a minha cabeça, ando me distraindo com tudo ultimamente. Que ódio.”
O chefe em segundos caminhou até ao segurança que protegia a porta. O homem alto e forte ao notar a aproximação dele desviou-se de imediato, só pelo olhar ele conseguia reconhecer Paul R. Johnson, o terceiro homem mais rico do mundo.
Com um simples movimento o empresário empurrou a porta e adentrou o lugar. Diante dos seus olhos uma linda sala principal, decorada com os mais chamativos objetos que o dinheiro podia comprar. Aquilo assim como as flores tomou a sua atenção, contudo não por muito tempo, do seu ouvido de repente ele escutou alguém o chamar.
— Paul meu amigo, há quanto tempo. Preparado para ver mais um brilhante discurso do nosso candidato?
— Ah… — de imediato ele virou o rosto e viu David, um velho amigo — Claro que sim, estou a apostar muito dinheiro na campanha de reeleição dele
Eles rapidamente aproximaram-se e deram um leve aperto de mão, fazia meses que não se viam. O chefe da Spes Homini então deu um leve sorriso. Porém, falsificado. Não que ele não gostasse de David, mas ninguém ali era realmente sua amiga, o mesmo para o outro lado. Era assim que se fazia nesta vida, de amizades e romances falsos, repletos de ambições e planos.
— Eu não duvido que ele vença, o nosso presidente é um homem com o dom de cativar a população.
Entre pequenas formalidades ambos pareciam compensar o tempo que passaram separados, Paul não tardou a responder: — Sem dúvida, o nosso país só tem a ganhar com ele.
Os dois sem hesitar seguiram conversando sem parar até à sala de conferência, sentando-se em cadeiras da primeira fila. O espaço estava cheio de jornalistas e homens de negócios, pessoas que aguardavam ansiosas a aparição do presidente.
— Agora que eu me lembrei, acabei por saber do que aconteceu na tua cidade, deve ter sido difícil… — expressou David com tristeza em seu olhar.
— Realmente foi, mas o importante é que passou. O processo de reconstrução já começou, a cidade vai ficar mais bonita que antes.
O homem do lado do chefe da Spes Homini ao ouvir aquilo abriu a boca e soltou um enorme bocejo, as noites para ele pareciam ter sido duras.
— Que sono, eu juro. As coisas também andam bem cansativas ultimamente na empresa… Vários negócios mal feitos…
— Eu compreendo, se quiserem um dia eu vou lá dar-te uma aula — Paul virou a sua atenção na elevação de madeira à sua frente e deu uma leve gargalhada
Foi então que o tão aguardado homem entrou no palco, imponente, passava respeito a todos os presentes, começando o seu discurso logo a seguir: — Boa tarde a todos os presentes e aos milhões de americanos que nos acompanham por vídeo, eu Joseph V. Kessler venho por este meio informar que irei me recandidatar nas eleições que se aproximam. Caso ganhe continuarei com o glorioso plano que levei a cabo nestes últimos quatro anos. E que Deus continue a abençoar os Estados Unidos da América.
Todos bateram palmas assim que o silêncio tomou a sala, mesmo uma frase curta fazia a população animar-se, era espantosa a popularidade daquele homem.
— Senhor presidente, o que tem a dizer aos seus concorrentes? — perguntou um dos entrevistadores.
O homem elegante então deu um gole na garrafa que levara consigo e prontamente respondeu: — Realmente este ano temos fortes candidatos do lado republicano e democrata. Contudo não temo, o povo depois destes quatro anos viu do que eu sou capaz e provavelmente continua a acreditar em mim e no poder dos candidatos independentes.
Assim que ele terminou outro dos jornalistas levantou a mão, mas este era mais maldoso e cutucando uma ferida que surgiu antes das eleições, questionou: — Excelentíssimo senhor presidente, gostaria de saber a sua opinião em relação ao escândalo de corrupção que veio a público durante o seu mandato?
— Ainda bem que perguntou — respondeu gesticulando as mãos — sobre esse assunto eu nada tenho haver e prometo a todos os cidadãos que estará resolvido o quanto antes.
David de repente virou o seu rosto para Paul e aproximando a sua boca do ouvido dele sussurrou: — Aquele jornalista realmente tentou difamar o Joseph, ai… ai… Parece que a concorrência nunca aprende.
— Presidente e quanto ao recente numero excesivo de atentados o que tenciona fazer?
O homem então deu um leve suspiro e colocando uma cara ameaçadora no seu rosto, exclamou: — Iremos reforçar a segurança, aumentar o investimento em atividades contra terroristas e se tudo correr bem extinguir o máximo de grupos possíveis. Os nossos cidadãos têm de se sentir seguros na nação que tanto amam!!!! — os seus movimentos, a voz e a postura faziam a população vibrar com cada palavra e movimento, aquilo animava os pequenos corações esgotados da classe trabalhadora.
Toda a plateia motivada bateu palmas, nunca antes um presidente americano tivera tanta popularidade e isso era visto nas ruas e becos, nos restaurantes e botecos.
Contudo a onda de braços no ar não tinha cessado, muitos ainda eram aqueles que queriam ver as suas questões serem terminadas pelo presidente. Não seriam todos ouvidos por ele, mas com certeza a fila ainda era grande e a esperança ardia nos corações de cada repórter.
— Senhor, e quando a San Antonio, tenho notado que tem deixado esse tema de lado nas suas entrevistas. Seria por conta da sua ligação com Paul R. Johnson? — exclamou um dos entrevistadores, ele parecia já saber o motivo exato, todavia assim como noutros havia maldade contida nas suas palavras. Maldade essa que se refletia na cara do homem.
O presidente assim que ouviu aquilo parou e pensou, ele sabia o objetivo da pergunta. Porém mais matreira que a questão era a sua resposta. Dependendo do que fosse dito talvez algum dos lados não ficasse feliz.
— Que merda de pergunta, mesmo no ponto fraco. Como será que vocês vão sair desta? — revelou David caindo em gargalhadas a seguir. Assim que deitou o ar todo para fora observou o homem ao seu lado. Paul não demonstrava estar nervoso, sem expressão observava suavemente o rosto da figura no palco fixamente. Aquilo assustou o empresário que intimidado apenas desviou os olhos e calou-se.
Todos na sala silenciaram-se aguardando pacientemente pela resposta do chefe da nação, com as câmeras apontadas e blocos de notas abertos olhavam entre si. Ele então bebeu um gole de água.
— Eu compreendo o seu ponto de vista, contudo eu acredito não ser o principal tema a abordar nas eleições. Eu sei muito bem que vão usar esse evento contra mim, mas os factos do que aconteceu estão todos disponíveis — o olhar do homem focado nos jornalistas naquele momento mudou de alvo e atacou Paul — Dias atrás Paul R. Johnson falou à imprensa tudo sobre o caso.
O chefe da Spes Homini assim que se deu o fim da fala foi o primeiro a bater palmas, recompensa digna de um trabalho bem feito. Mesmo sem motivo todos seguiram o empresário, em segundos o som preenche toda a sala com o ritmo desordenado.
Com um sorriso o presidente saudou toda a plateia por toda a admiração que tinham dele, tomando para si de novo a palavra: — Bem, eu realmente gosto de todas as vossas perguntas. Porém o meu tempo aqui terminou. Adeus e que Deus continue a abençoar os Estados Unidos da América — logo em seguida o presidente deu um leve adeus com a mão e dirigiu-se à parte sem visão da plateia.
Desmotivados com as rápidas declarações aos poucos foram saindo da sala, muito poucos eram aqueles que seguiam para a sala da festa. Apenas os magnatas, empresários e membros da comitiva tinham esse direito.
— Bem acho que terminou, hoje vieram preparados para jogar pedras…
— Mesmo assim não importa David, a parte difícil começa agora. A razão de todo este evento é convencer os milionários a apoiar a campanha. Já tinha saudades do mundo da política — expressava-se ele enquanto forçava o seu corpo lentamente a sair daquela confortável cadeira de classe.
Fazendo o mesmo movimento, o amigo de Paul confuso falou: — Acho que é um mundo ao qual eu não pertenço, a minha área são mulheres gostosas e negócios apertados.