Spes Homini - Capítulo 18
Era uma rua calma, de um bairro pobre de Washington. Os pequenos comércios pintavam o simples lugar.
— Parece que é aqui, preparado? — revelou Nicolai ao guardar um papel dentro do bolso.
— Não parece que vai ser difícil, mas me pergunto o porquê de ser numa alfaiataria.
— Acho melhor entrarmos, está quase na hora.
No relógio marcavam cinco da tarde. Sem pensar duas vezes eles então avançaram. Michael um pouco mais rápido segurou na maçaneta e rodou-a. Do outro lado, meia dúzia de cadeiras vazias, diante delas dois clientes resgatando algumas peças de roupa.
Enquanto Michael analisava todo o espaço com o seu olhar penetrante, Nicolai tomou a frente e sentou-se rapidamente. Depois de olhar tudo em seu redor, foi a vez do assassino descansar, com um simples movimento ele sentou-se apressadamente, revelando em seguida: — Existem duas câmeras aqui dentro, sem pontos cegos. Além disso, há uma grande chance de o atendente ter uma arma embaixo do balcão. O melhor é não parecermos suspeitos.
Ao ouvir aquilo o pistoleiro virou a sua atenção para ambos os objetos que o vigiavam, aquilo incomodava-o.
De repente eles ouviram a porta fechar, estavam tão concentrados em seus pensamentos que nem tinham visto a movimentação dos clientes que momentos antes se encontravam no balcão. O atendente ao ver os dois sentados de imediato falou: — Próximos.
Olhando para o homem, ambos ergueram-se e lentamente foram de encontro ao balcão cinzento, feito de alumínio. Assim que o seu corpo encostou no objeto, Michael, levantou a sua mão e colocou-a sobre o frio metal.
— Boa tarde, a que se deve a vossa visita. Deixaram aqui alguma roupa? — questionou o homem encarando os dois sujeitos.
— Não, estamos aqui por conta do contrato azul.
— Entendo senhores.
O atendente então levou a mão para baixo do balcão fazendo com que as portas e janelas fossem cobertas. Todo o lugar de imediato foi tomado pela escuridão, contudo as luzes vieram em seguida iluminando o humilde espaço. Assim que tudo estava preparado o senhor continuou a sua fala: — Preciso que me mostrem as vossas identidades.
Os dois companheiros ao ouvir aquilo levaram as mãos aos bolsos e as colocaram sobre a bancada. O homem apressadamente pegou nelas e as inspecionou detalhadamente.
— Senhor… Francis J. Hatcher… — disse ele olhando fixamente para Nicolai.
O agente ao notar aquilo fez um pequeno gesto, como se fosse um comprimento, e com um leve sorriso respondeu: — Isso mesmo.
— E senhor… James K. Chambers… Algum motivo para o atraso?
Michael de imediato tomou a dianteira e respondeu calmamente: — Sim senhor, alguns membros da minha família moram em San Antonio, quando eu soube dos eventos recentes fui para lá a correr. Como amigos o Francis veio comigo.
— Realmente deve ter sido difícil, mas agora voltando ao que vocês vieram aqui fazer. A informação parece estar toda correta, então podemos prosseguir. Caso tenham alguma arma peço que a coloquem em cima do tabuleiro que está na mesa.
Eles abriram as malas que carregavam, retirando de dentro uma katana e algumas armas de fogo. Assim que viram que não restava mais nenhuma colocaram-as sobre o equipamento.
— Agradeço, agora por favor sigam-me — disse o atendente dirigindo-se para os fundos com o tabuleiro em seus braços.
Ambos os agentes seguiram-o, intrigados. Michael temendo algum perigo foi na frente e analisou calmamente todo o espaço, parecia um armazém comum. Foi então que o homem dirigiu-se a um painel que apresentava letras na sua tela, sem hesitar ele combinou-as, gerando uma passagem diante dos olhos dos dois homens. Nicolai tendo passado toda a sua vida em campos de batalha ficava pasmado com aquelas evoluções científicas que apenas países de primeiro mundo poderiam oferecer.
O atendente então adentrou a porta e seguiu reto no corredor, sendo acompanhado pelos outros dois. Tudo à volta deles era braco, a única iluminação vinha das lâmpadas que de vez em quando falhavam.
Michael não conseguia enxergar o fundo e isso preocupava-o, sempre procurando ter o controle de tudo ele temia perder-se na imensidão que era o acaso. Temendo o pior, o agente abaixou-se como se fosse verificar algo no seu sapato. Com um movimento imperceptível, o assassino retirou uma pequena lâmina do seu calçado e, preparando-se, escondeu-a na manga da sua jaqueta.
De repente o atendente parou, à frente dele uma parede branca, aquele gigantesco corredor parecia levá-los para lado nenhum. Sem entender nada os dois companheiros olharam entre si, estranhando a situação.
— Vocês realmente achavam que eu não ia notar as identidades falsas? — disse o homem.
Nicolai sem entender o que se passava olhava para ele assustado e gaguejando tentou responder: — Como assim… elas são… verdadeiras…
Mesmo antes de concluir a sua atrapalhada fala ele foi interrompido pela voz silenciosa do Michael penetrando o seu ouvido e ecoando a sua branda fala: — Calma, isto não passa de um teste, já ouvi o John falar sobre algo assim quando estava na CIA. O objetivo é fazer com que tu te entregues sem perceberes.
O atendente ao ver o silêncio que se formava atrás dele voltou-se e encarou os dois homens, olhando bem no fundo da alma deles, indo para cima em seguida.
O assassino rapidamente empurrou o pistoleiro para fora do alcance do adversário, colocando logo depois o seu braço junto ao peito para absorver o impacto do soco que vinha em sua direção.
O som intenso gerado por aquele rápido embate repercutiu por toda a sala, porém não foi o suficiente para fazer Michael recuar. Ele então olhou para o corajoso homem e ao reparar na pequena altura dele em comparação com a sua levantou o seu outro braço e em instantes acertou a cara do atendente.
— Não tinha nada de errado com as nossas entidades, mas se quiseres arranjar briga eu estou disponível.
Sentindo a dor do golpe o sujeito passou a mão na área atingida e em seguida respondeu à provocação do seu oponente: — Este doeu tenho de admitir. Desculpem-me por estas boas-vindas calorosas, mas são práticas da organização — ele então voltou-se e como se nada tivesse acontecido dirigiu-se de novo ao fundo do corredor.
— Agente cinco, porque razão paraste com o que te foi pedido? — questionou um homem do outro lado do comunicador que ele tinha no ouvido.
— Se eu tivesse feito mais alguma coisa neste momento certamente estaria morto…
O assassino confuso endireitou-se e ajeitou a lâmina que escorregara momentos antes pelo braço abaixo. Nicolai ainda perplexo no chão estendia a braço como sinal de auxílio para subir, Michael ao ver aquilo aceitou de imediato ajudá-lo segurando na mão dele.
— Por favor sigam-me — assim que o atendente disse aquilo a parede dividiu-se e uma porta igual à que minutos antes tinham passado surgiu.
Nicolai não confiando no homem ao ouvir aquilo interrogou-o: — Mas isso vai nos levar onde?
Sem resposta, os dois já recuperados seguiram o homem para dentro do que parecia ser uma sala. Ao entrarem puderam observar aquela magnífica construção, assim como a sua base, grande parte era no subsolo. Ambos então continuaram a ser guiados pelo sujeito, este que mostrava-se focado.
Nicolai parecia uma criança de tanta animação, ele mostrava-se o mesmo ser ingênuo que Michael conheceu, aquilo deixava o frio assassino intrigado. Como uma pessoa que fazia da sua vida a guerra podia estar tão surpresa com aquilo.
— Em pouco tempo estaremos no lugar. Abram a porta e sentem-se, os vossos lugares vão ter o vosso nome em cima. Já agora, se precisarem de qualquer coisa eu chamo-me Ryan — revelou o atendente como últimas palavras para ambos os homens.
Em alguns minutos eles estavam de frente a uma porta, porta qual lhes foi mandada abrir, assim o fizeram, adentrando o espaço de imediato. Há volta dos dois companheiros dezenas de soldados de todos os feitios, mas com uma única coisa em comum, uma sede incontrolável para proteger o presidente.
— Michael, onde nós estamos? — sussurrou o pistoleiro.
— Eu não sei, mas melhor sentarmo-nos.
Os dois agentes da Spes Homini sem pensar duas vezes dirigiram-se aos assentos que continham os nomes das suas identidades, sentando-se em seguida.
Foi então que um homem trespassou a porta da sala, ele impunha respeito, a sua cara era coberta por uma longa cicatriz, parecia ser um militar respeitado a contar pelo número de medalhas estampadas no seu peito.
— Agradeço que todos puderam vir. Como já sabem nós reunimos os melhores soldados em solo americano para fazer a defesa do presidente contra qualquer eventual perigoso que possa surgir nesta época de eleições…