Spes Homini - Capítulo 16
Naquela sala do hospital, branca com uma mesa no meio, todos os membros mais importantes da Spes Homini juntavam-se para uma reunião, as suas expressões de nervosismo eram evidentes.
— Sejam todos bem vindos a mais uma reunião. Como sabem temos uma nova integrante na equipa, Jennifer, ela vai servir como nossa infiltrada na ONU.
Todos começaram a encarar-se, aquilo era confuso de aceitar, os olhos pareciam pequenos insetos que não conseguiam parar de se mover.
— Confiar numa pessoa que horas atrás era nossa inimiga não é pedir muito. E se ela nos trair? — exprimiu o assassino encantando ela com desconfiança.
— Eu sei disso Michael, — disse ele revirando os olhos com tamanha incerteza do relutante assassino — vamos aproveitar o desaparecimento do Robert e faremos do John o novo braço direito dela. Alguma dúvida quanto a esse assunto?
Nesse momento a mulher esfregou o nariz e em seguida bastante incomodada perguntou: — Eu acho que não estou bem mentalmente, talvez seja melhor vocês matarem-me.
— Isso é uma possibilidade sim, mas a sua influência dentro da ONU pode ser uma carta interessante para os nossos planos.
— Mas eu não sinto que posso oferecer algo, eu perdi a minha confiança, eu acho que não consigo tocar mais em armas — naquele momento as memórias do dia anterior fizeram meia dúzias de lágrimas banharem os seus olhos.
Nicolai preocupado levou a mão ao bolso e com um leve sorriso ofereceu um lenço, foi então que nesse momento John falou: — Eu sei que mal nos conhecemos, mas deixa-me tentar substituí-lo, não posso prometer ser igual, mas não deve correr assim tão mal.
Naquele momento, os dois agentes tentavam consolar aquela pobre mulher, mesmo que as suas tentativas fossem inúteis.
Ao ver aquilo o chefe da Spes Homini esboçou um pequeno sorriso, Michael percebeu de imediato e encarou-o com curiosidade.
“Será que isto era o que ele esperava o tempo todo?” — questionou-se o assassino observando cada expressão do seu chefe.
Enquanto todos conversavam, o líder de forma apressada revirou de imediato os papéis na sua mesa, ele parecia um pouco incomodado, algo que eles nunca tinham visto ele expressar. Ele era um homem frio e manipulador, mas aquela cara era diferente, a sua feição era genuína, não uma mera criação.
— Bem, acho que encerramos esse assunto. Agora para o prato principal, recebemos um e-mail anônimo — nesse momento ele apontou para a tela que revelava a tal informação.
Todos olharam espantados, aquilo significava que algo grande vinha aí.
— Mas porque eles tencionam matar o presidente atual meses antes das eleições? — questionou perspicazmente o assassino.
— Fazer um ataque dessa escala… quem teria força para isso?
— John e Michael, eu ainda não tenho como responder às vossas perguntas, mas a realidade é que com o incidente de San Antonio o presidente atual vai perder muita popularidade. Existem duas possibilidades, ou o mandatário é um grupo extremista, ou outro dos candidatos.
— E exatamente o que nós fazemos agora? — interrogou o John com a curiosidade em suas veias.
— Bem, quando eu li eu pensei que era um e-mail falso, mas a verdade é que depois de eu pedir para eles depositarem metade do dinheiro, eles realmente enviaram. Por isso vocês vão investigar. Tudo isto ainda é estranho, existe algo grande por trás de tudo, eu posso vos garantir.
— Lá isso é verdade — disse baixinho enquanto gaguejava a Dama de Ferro.
— Vou precisar especial da vossa ajuda, Jennifer e John, serão os nossos infiltrados no alto escalão do país. Se for verdade eu não vou deixar seja quem for acabar com uma eleição democrática.
— E eu e o Nicolai?
— Vocês integraram a guarda oficial do presidente. Agora, para todos, menos a Jennifer, tomem.
— O que é isto? — perguntou o assassino, enquanto cruzava os braços.
— As vossas novas identidades, peço que se refiram apenas com esses nomes a partir de agora para garantir que nada corre fora dos planos.
— Entendido chefe, acho melhor começarmos já a tratar disso.
— Sim, começa a primeira fase do plano, a infiltração. Terminamos então. Por favor, preciso que todos saiam agora.
Ao escutarem aquilo cada um foi saindo, em minutos toda a sala ficou completamente vazia. o som da respiração do chefe preenchia o calado espaço.
Puxando uma cadeira rapidamente o chefe sentou-se e desanimado deixou a caneta escorregar dos seus dedos.
— Eu sinto como se o fim estivesse perto…
Naquele instante o celular que ele carregava na outra mão começou a vibrar incessantemente, olhando para o ecrã o chefe observou um número desconhecido, rapidamente ele atendeu.
— Estou sim, boa tarde, posso saber quem é?
— Tal como falamos no e-mail ligamos para acertar umas coisas do acordo. Já agora, eu gostaria de saber a sua identidade…
— John ultimamente paredes muito distraído, aconteceu alguma coisa? — questionou Nicolai notando o olhar pensativo do seu companheiro.
— Eu acho que ainda não me recuperei totalmente de tudo o que ocorreu nestes dias, foram muitas coisas ao mesmo tempo, — “para além disso a morte do Mark, eu ainda me culpo, e aquelas vozes” — mas eu acho que em breve vou estar de volta ao normal.
John de imediato mudou a direção dos seus olhos, do chão para o céu coberto de nuvens brancas. Foi então que observando as abstratas formas que eram formadas em cima da sua cabeça que ele retirou um cigarro do bolso.
— Queres um? — questionou ele ao mesmo tempo que o aproximava de Nicolai.
O pistoleiro ao perceber parou o avanço do braço do companheiro e respondeu: — Nã… não, eu estou a tentar não fumar.
— Eu conheço a Evelyn há tempo suficiente para saber que isto é uma ideia dela, realmente tu tens um coração mole — zombou o John dando algumas gargalhadas em seguida.
À medida que eles percorriam aquela cidade o movimento dos seus passos acelerava assim como as suas falas.
— Amanhã eu vou ter que partir para Washington com a Jennifer, vão ser dias entediantes lá, eu já me tinha acostumado a vocês aqui na Spes Homini.
— Pensa positivo, vão ser só uns meses, pelo menos até isso estar resolvido, eu espero, — enquanto continua o seu discurso, sorridente ele pendurou o seu braço no ombro do amigo — não posso viver sem o teu fraco sentido de humor e a tua personalidade fria por muito tempo.
— Vá-lá eu não sou assim tão frio.
— Tens razão, não és um bloco de gelo como o Michael, mas às vezes consegues ser mau quanto ele.
— Que engraçado, achei tanta piada que até me esqueci de rir — revelou ele com a face totalmente séria.
— Bloco de gelo! Bloco de gelo!
— Já agora, desta vez pergunto eu, que tal irmos beber alguma coisa como no dia que nos conhecemos? — perguntou John receoso enquanto coçava a cabeça.
— Vamos, vai ser divertido.
— Senhor presidente, a ameaça terrorista em San Antonio foi neutralizada, a equipa especial da ONU revelou-se um sucesso.
— Excelente notícia, isso pode ajudar na minha popularidade — revelou ele enquanto esfregava a cabeça, ao mesmo tempo que analisava as dezenas de gráficos contidos na sua mesa.
— Irei me retirar agora senhor.
— Entendido… já agora, gostaria de preparar uma grande cerimônia para a chegada deles, muita comida e jornalistas, isto é um grande feito para nós, podes tratar disso?
— Começarei os preparativos assim que possível.
— Não poupes no orçamento.
— Claro, senhor — disse com uma voz calma o homem no mesmo momento em que encarava ameaçadoramente o presidente.
— Muito bem, agora sim podes retirar-te.
Após escutar aquilo, o assessor do presidente retirou-se fechando a porta violentamente.
— E se o Guterres tiver razão e ele já está aqui infiltrado? O melhor seria eu duplicar a segurança, só por precaução. Não nada disso, eu estou só sendo paranóico, não tem como aquilo ser verdade sequer — perguntava confuso o presidente enquanto era consumido pelas dúvidas da sua mente.
Toc Toc Toc
— Pode entrar!!!
— Bom dia senhor, desculpe o incomodo mas gostaria de saber o que eu irei servir aos convidados na conferência eleitoral.
— Ainda faltam semanas para esse dia, mas enfim, surpreende-me — falou o chefe de estado ao esfregar a mão na cara.
— Fazem semanas que não recebemos um único contrato, maldita seja a guerra civil… eu só queria não ter que pedir mais um empréstimo, as minhas poupanças não vão aguentar — revelou um homem misterioso entediado enquanto apoiava a sua cabeça na mesa.
De repente de um dos computadores o som de notificação encheu a sala, um dos homens sentados num sofá correu para ver o que era.
— Finalmente recebemos uma missão e parece que eles oferecem muito dinheiro.
Ao ouvir aquilo a cabeça dele levantou-se de imediato, os seus olhos reluziam, parecia um animal cheirando comida, a sua respiração emanava felicidade.
— Di… di… dinheiro — disse ele antes de saltar para cima do seu assistente — Mostra-me agora.
— Este é dos bons chefinho — revelou o assistente enquanto dava o seu lugar ao homem misterioso.
— O alvo é o presidente dos Estados Unidos da América, eles não estão a ser um pouco audazes? Contudo eu tenho um plano melhor.
— Qual chefe?
— Ainda bem que perguntas-te, vamos raptar o presidente —revelou ele ao mesmo tempo que esboçava um longo sorriso.
— Mas chefe, temos um pequenino problema, é na América. Não podemos entrar lá.
— E quem disse que eu ligo ao contrato com o Michael?