Sirius - Capítulo 33
Capítulo 33: Uma Luta Solitária
Arvores altas bloqueavam a luz do sol, deixando apenas alguns raios iluminarem abaixo de suas copas. A vegetação nas Ilhas de Cadmus variavam entre uma e outra, nessa em específico folhas volumosas e inúmeros troncos conectavam-se uns aos outros para criar uma rede entre toda a floresta.
O ambiente perfeito para se criar uma emboscada. A terra, úmida pelo pouco contato com o calor, marcava os passos de animais e outros seres vivos que passavam por esses caminhos. O cheiro de madeira molhada inundava o ar com um odor característico.
Em meio a esse ambiente, uma jovem mulher beirando os 1,65 encarava de frente um homem negro de costas largas e de quase dois metros.
O brutamontes avançou rapidamente em direção a meio elfa, socando o chão nos seus pés.
“Ele é lento, mas…”
Saltando para trás para desviar do golpe, girou no ar, antecipando a sequência que viria logo após. Da terra, um grande espinho de pedra irrompeu o chão e perfurou o lugar para onde Akemi havia saltado.
“Esse homem é talentoso, em tão pouco tempo já conseguiu elevar sua dominação da mana até esse nível” pensou.
Olhando ao seu redor rapidamente, fez uma análise rápida da situação.
Os corpos de seus dois companheiros de equipe, assim como os de Simba e de alguns poucos monstros decoravam o chão da floresta.
“Não posso reclamar do meu time, tivemos um pouco de azar nos oponentes que encontramos… mas deve ter a ver com o Michael disse…”
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De volta alguns dias antes do início da terceira fase, Michael treinava Akemi, como vinha fazendo nos últimos meses. Porém, diferente de outros momentos, o loiro estava calado em silêncio no meio do duelo.
Em dado momento, uma flecha cortou a bochecha pálida do homem, o que fez a meio elfa parar de atacar por um instante.
— Se você não pretende concentrar-se no agora, acho melhor pararmos por aqui hoje — disse a arqueira.
Sorrindo despretensiosamente como sempre fazia, o outro respondeu:
— O que quer dizer… eu estou focado
TSK
— Já estamos nessa faz algum tempo, acha mesmo que eu não consigo perceber a diferença de atitude? Eu mal consigo te acompanhar quando é realmente sério!
— Mas já melhorou bastante — brincou
Akemi virou o rosto, desviando o olhar da direção do homem.
— Então… vai me falar o que está te distraindo?
Em resposta, ela ouviu um longo suspiro.
— Se não quer di…
— É sobre o Li.
Cerrando as sobrancelhas, perguntou
— O que tem ele?
— Viu, por isso eu não pretendia te contar, você sempre se arrisca muito quando se trata desse moleque.
— O que faço ou deixo de fazer é minha responsabilidade, não tem que se preocupar com isso — retrucou
“Mesmo assim…” pensou Michael
— Então?
— Tem alguma coisa de errado acontecendo por baixo dos panos — cedendo, ele respondeu. — Nem mesmo eu consigo entender direito o que se passa.
— Como assim?
— Algumas figuras estão tentando adulterar a última fase de testes.
Akemi arregalou os olhos, surpresa com a informação.
— Adulterando? Não deveria ser impossível?
Acenando a cabeça, confirmando a pergunta, Michael continuou: — Deveria, como você bem sabe, os testes são criados pelos Deuses Maiores, ou seja, entidades que existem desde que a humanidade se lembra.
— Seres imparciais e que mantêm o equilibro em Erebus, para o bem ou para o mal — comentou a mulher.
— Sim, supostamente era para ser dessa forma, entretanto, mesmo que não sejam eles que estejam “trapaceando”, também não estão se movendo para impedir que isso aconteça.
Akemi levou a mão ao queixo.
— E o que isso tem a ver com o Jihan?
Coçando a cabeça, ele respondeu: — até onde eu sei… o alvo principal dessas mudanças é o próprio Li.
— … Por quê?
— Eu também não sei… não consigo entender. Digo, os Deuses menores já foram seres vivos comuns, por que matar um novo talento?
Após alguns segundos de silêncio, ela perguntou: — tem alguma forma de ajudá-lo?
— Eu sabia que perguntaria isso… — suspirou — eu não diria que tem… mas quanto mais tempo ele ficar dentro do teste, maior a chance dele ser morto.
Michael mudou para uma expressão mais séria.
— Se quer ajudá-lo, o melhor começo seria eliminar a maior quantidade de participantes no menor tempo possível.
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“Eu sei que ele disse isso… mesmo assim…”
Voltando o seu foco para o inimigo, Akemi pulou para outro dos grandes galhos que compunham a floresta. Na posição onde estava a pouco, um tronco enorme destruiu todo o emaranhado em que ela estava segurando.
“Eu estou numa posição bem desfavorável aqui!”
— Você é bem mais forte do que eu pensava — elogiou o homem de voz grave. — É uma pena que caiu num time tão fraco, se estivesse do meu lado conseguiríamos passar nesse teste como uma brisa.
Logo depois, estendeu um sorriso de orelha a orelha.
— Minha pele é de prata, arqueira, ela reflete até mesmo o sol — declarou. — Acha mesmo que suas flechas conseguem me machucar?
As orelhas da meio elfa se levantaram.
— Você não pode me vencer, por que não desiste logo e nós poupa do cansaço?
E suas sobrancelhas arrebitaram.
— Você vai se arrepender se continuar me subestimando assim…
Um fino raio de luz atravessou a copa da floresta e refletiu nos olhos azuis de Akemi. Suas pupilas, como um olho de gato, se estendiam verticalmente e não reagiram ao incomodo. O vento passou pelas laterais de seu corpo e, do topo da árvore, a meio elfa saltou para trás… desaparecendo no meio do ar.
Simba piscou duas vezes, não entendendo o que tinha acabado de acontecer. Olhando ao redor de si mesmo, se perguntou para onde ela havia ido.
Um eco de voz ressoou pela floresta.
— Você sabia, Simba?
— Se escondendo? — O homem respondeu com um soco no chão. Não tão distante, vários espinhos saíram do chão e destroçaram a base de um tronco, derrubando-o por completo.
A voz, no entanto, não cessou.
— Elfos são a manifestação da mana da natureza… em carne e osso.
Repetindo a ação anterior, outra árvore caiu.
— Me deixe te contar outro segredo…
— Ei! Apareça, covarde!
— A mãe natureza não tolera arrogância!
Subitamente, um projetil atingiu o ombro do humano, perfurando-o levemente.
“Minha pele? Como!?” uma leve sensação de preocupação passou por sua mente, porém, mesmo sentido uma pontada de dor, o homem não deixou transparecer em sua face.
— Se isso é tudo que você tem, é melhor desistir aqui!
— Eu me pergunto… sua pele é bem resistente, mas e seu interior?
ARGH
Sem conseguir controlar sua expressão, Simba franziu a testa. Os músculos de seu ombro contrariam-se, como se estivesse com câimbra.
“O que é isso? Veneno?”
— Métodos desonrosos, utilizar veneno numa batalha justa!? Deveria se envergonhar!
— Não sou tão suja a ponto de utilizar esse tipo de coisa… vamos apenas dizer que é uma paralisia temporária.
Um vulto subitamente passou nas sombras e reagindo, Simba, com o braço ferido, socou o chão novamente. Uma forte dor percorreu seu corpo inteiro. Olhando para o machucado causado pela flecha, o homem notou que estava mais aberto do que antes.
“É melhor eu levar essa luta mais a sério… isso pode ficar perigoso em pouco tempo.”
Fechando os olhos, ele se concentrou.
“Posso não conseguir vê-la, mas definitivamente consigo sentir sua intenção.”
Rapidamente, Simba moveu a sola de seu pé em outra direção. Uma fina, mas longa, estaca de terra, surgiu do chão, atingindo uma flecha e a desviando do alvo.
“Fácil, tenho certeza de que não é tão tranquilo manter-se no estado em que ela está agora. Eu, pelo contrário, consigo fazer isso o dia todo.” sorrindo, pensou consigo mesmo. “Só preciso manter a cabeça no lugar… ela é só uma fra…”
ARGH
Sua expressão logo se fechou novamente quando outra flecha veio da direção oposta e atingiu a perna que havia usado antes.
Uma veia apareceu na testa do homem que a pouco estava confiante e calmo. Cerrando os punhos, os músculos de seu tórax descoberto saltaram.
— CHE… — Pulando no ar e ignorando as feridas de sua pele abrindo cada vez mais, Simba concentrou toda sua mana nos punhos e pernas — …GA!
E atingiu com toda a força o solo. Centenas de estacas e espinhos espalharam-se do centro do impacto, devastando toda a vegetação num raio de 15 metros.
GASP COFF COFF
Tossindo sangue, Simba respirou ofegante.
“Fazia muito tempo em que eu não ficava ferido assim, isso foi perigoso” pensou “Agora, onde será que o corpo dessa desgraçada está?”
Olhando de um lado para o outro, localizou um trapo do capuz que a mulher estava usando, meio soterrado pela terra.
— HAHAHA, acho que exagerei, ela não valia tanto esforço assim.
VUSH
Uma brisa passou pela sua espinha.
STEP
E dois pés leves pisaram nos ombros largos do homem.
Virando o pescoço, seus olhos cegaram-se com uma forte luz.
BUM
Que em formato de flecha, explodiu em seu rosto.
Antes que pudesse saltar, uma grande mão saiu da fumaça do impacto do projetil e agarrou a perna de Akemi, fazendo-a arregalar os olhos.
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CLANG
Do outro lado das ilhas de Cadmus, a batalha voraz entre os dois guerreiros chegava a um impasse. Feridos e cansados, os golpes que ambos trocavam se tornavam cada vez mais desajeitados e tortos.
Tomando uma curta distância um do outro, se encararam com olhos afiados, sinal de que a luta ainda não tinha acabado.
— Você… Xu… O que tem de errado com você.
— AHN! — irritado, ele respondeu — Achei que estávamos chegando em algum lugar, tem mais alguma coisa pra falar?
— Você não é alguém que luta de forma tão tosca! — gritou — O homem que conheço é alguém que vive a batalha.
Rangendo os dentes, o outro respondeu: — Acha que eu não estou levando isso a sério!?
— Então… então, por que você não sorriu nenhuma vez!? O berseker que conheço é alguém que vive sua vida para ter mais uma luta! — retrucou — Um simplista idiota que resolve tudo na base da força!
Levantando os braços que empunhavam machados incandescentes, Xu gritou, enquanto descia em guilhotina ambos, mirando-os no chão:
— O QUE VOCÊ SABE SOBRE MIM, SEU DESGRAÇADO!?