Sirius - Capítulo 31
Capítulo 31: Nada Pessoal
— Você… você não é um companheiro do Jihan? Por que está nos atacando? — Perguntou Irmin.
— Hm? E do que isso importa?
— Estamos no mesmo grupo que ele! — Selene um pouco chocada com a resposta do homem retrucou.
— Eu sei.
— Entã-
— Mas veja bem… não é nada pessoal… afinal todos estamos sendo testados aqui. — Xu fitou ambas as mulheres. — Eu não sou nenhum tipo de monstro, então vou dar a vocês uma folga.
Wang fincou ambos os machados no chão.
— Não que eu ache que isso vá fazer muita diferença. A única arma de que um Berseker precisa é seu próprio corpo — debochou, levantando seus punhos.
Irmin levantou o escudo e, cobrindo sua boca, sussurrou para Selene.
— Escuta, nós não precisamos ganhar dele, só passar pela ponte. Vamos sustentar um pouco essa batalha e assim que acharmos uma oport-
— Ei! — gritou Wang, apontando para seu ouvido — Consigo ouvir o que vocês estão falando.
Irmin cerrou as sobrancelhas. O homem estava a mais de uma duzia de metros das duas.
TSK* “Que audição é essa?”
— Já vou avisando, eu não correria se fosse vocês.
— Eu já entendi — disse Selene à Irmin — Seguiremos com o plano, me proteja.
Lind concordou acenando a cabeça e a conjuradora imediatamente começou a concentrar a mana azul do ar.
— Como se eu fosse deixar! — imediatamente Xu disparou em direção as duas
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— RRRAA!
BUM*
Sem dar tempo paras as mulheres respirarem, Wang continuava com uma barragem de golpes. O escudo de Irmin repetidamente tremia ao absorver o tremendo impacto de seus punhos. Selene mal conseguia conjurar feitiços rápidos para atacar o berseker e mesmo quando conseguia, cada vez que era atingido, o homem ficava mais forte.
“Desse jeito não vamos durar muito…” pensou Lind. “Preciso pensar em um jeito de distraí-lo e tirar Selene daqui”
Mas antes que conseguisse chegar em alguma conclusão, Xu diminuiu a frequência de seus ataques.
— Por que você não foge? — em meio a batalha, Wang perguntou — Se abandonar a sua amiga e fugir, você deve conseguir alcançar aquele moleque.
“Ele sabe onde estávamos indo? Então ele estava nós ouvindo desde mais cedo…, mas por que não nos atacou antes?”
— Não está me ouvindo? Te fiz uma pergunta!
O punho de Xu esquentou até que o ar começou a tremer em volta de sua mão e, desferindo um soco potente no escudo de Irmin, ele a empurrou alguns metros. Uma rachadura surgiu no meio da madeira bruta.
— Desistam vocês duas, é só dizer a palavra que ambas sairão daqui.
Irmin e Selene permaneceram imóveis, sem responder o berseker. Wang, paciente, caminhou lentamente em direção às mulheres.
— AGORA! — gritou Selene — GLOBO AQUÁTICO!
Subitamente um círculo brilhou no chão e uma enorme bolha de água emergiu dos pés de Xu prendendo-o no ar. No mesmo momento, Irmin segurou Selene e correu em direção a ponte que a todo tempo estava atrás do berseker.
Mínimos segundos após passarem pela prisão, a água que a compunha explodiu, se transformando em vapor no ar.
— Chega de truques! — disparando para cima das duas, Wang puxou ambos os machados do chão, e pulando atacou com toda força o escudo de madeira bruta de Irmin, que imediatamente pegou fogo pela mana acumulada nas lâminas.
Com o escudo se desfazendo em brasas, Irmin se viu sem outra opção a não ser soltá-lo. Sua presença na batalha rapidamente diminuiu. O berseker instintivamente percebeu a mudança da atmosfera.
— TSK! O que tem de errado com você! — Xu irritado atirou ambos os machados no chão novamente. — Se vai lutar tão porcamente só desistam logo! Peçam logo a rendição!
Selene olhou para sua amiga, preocupada em vê-la sem seu escudo.
— Irmin…
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Algumas memórias passaram pelos olhos de Irmin.
— Lind, nós compramos isso para você — a voz doce de selene corria nos ouvidos da mulher.
— Eu… isso deve ter sido muito caro, vocês não podem gastar tanto dinheiro em mim, não vale a pena.
— Como assim “não vale a pena”? — uma voz mais grave retrucou. — Você sempre nos ajuda em tudo, que tipo de amigos seriamos se deixássemos você se machucando em cada missão que realizamos sem nem te dar uma chance de se defender?
Lind encarou o escudo. A madeira bruta escura estava esculpida com várias runas que se conectavam em um grande círculo no meio do item. Suas laterais e seu centro estavam reforçados por um metal quase azul. A mulher encarou o presente com olhos apaixonados.
— Eu vou fazer um bom uso. Obrigada por confiarem em mim.
Como neve com a chegada do verão, o sorriso de ambos desapareceu em meio ao rio de memórias.
Quando passou a empunhar o escudo, sua confiança passou a crescer. As feridas cicatrizaram e raramente voltavam a abrir. Irmin já não se machucava, mas mais importante do que isso, as pessoas as quais ela protegia, também não.
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Uma gota de suor desceu pelo rosto de Irmin. Sua respiração ficou pesada, mas sua cabeça não abaixou.
— Por que nós não fugimos? Não somos lixos que nem você… — com seu corpo tremendo de leve, Lind levantou os punhos — Ele… ele disse para nós en- encontrarmos do outro lado e ficou para lutar sozinho. Ele… nós pro- prometeu que não morreríamos! — Fixando seu olhar no rosto do berseker, Irmin gritou — NÃO SOMOS TRAIDORAS!
— Você não sabe de nada — retrucou Wang, pegando seus machados do chão — mas já que se decidiram, vamos acabar logo com isso.
— Selene saia daqui.
— Irmin? Do que está falando?
— Se você estiver bem, eu vou estar bem!
Agora de costas para ponte, tudo que Selene precisava fazer era correr.
— Eu nã-
Enquanto seus olhares se encontravam, um projetil passou voando pelo ombro de Lind, acertando em cheio a mulher que estava logo atrás.
Os olhos de Irmin se arregalaram assistindo a fina linha de sangue que escorria pela lateral do lábio de Selene. Enquanto isso, os olhos azuis refletiam a mulher a sua frente, menos preocupados com seu ferimento do que com o que estava por vir.
— Lind…
— TSK* Errei o alvo.
Das sombras um homem de aparência velha, cabelos pretos e com uma voz de gralha se revelou no topo de uma árvore.
— Já chega de perder tempo, seu pai não ficara muito feliz com tanta demora.
E da base da mesma arvore, outro homem fisicamente semelhante, mas com uma voz mais doce, declarou.
— Eu decido quando acaba! — rebateu Xu.
— Nós não temos que obedecer a você, moleque. A única coisa exceção é sobre o alvo principal.
Ao mesmo tempo, em que os três discutiam, Irmin encarava Selene ir ao chão com o impacto da flecha. Sangue e mais sangue encharcava suas roupas. A escudeira em choque não conseguiu dar um passo a frente. Seus olhos piscavam repetidamente; ela estava ilesa, e a pessoa a quem sempre protegeu estava pouco a pouco perdendo a vida diante dela.
Enquanto lutava contra a paralisia, flashes começaram a piscar em sua cabeça. Sangue, sangue, sangue, corpos dilacerados e um urro de agonia. Vozes cantarolavam em sua cabeça.
“Mate-os”
“Mate todos”
“Não deixe nenhum deles fugir!”
Subitamente uma presença tomou conta da atmosfera. Os três homens instintivamente se atentaram a fonte da perturbação. A terra esfarelou-se no ar, cobrindo o corpo da escudeira que, pouco a pouco, parecia aumentar, quase triplicando de tamanho.
— O que é isso? — perguntou Wang.
— Droga… eu deveria ter ido pela cabeça da outra — reclamou o arqueiro, perdendo sua atitude arrogante anterior.
No mesmo momento em que falou, os olhos da criatura se voltaram para o topo da árvore. Glóbulos vazios encaravam o velho, e como se sugassem todo o ar da atmosfera, ele se engasgou com a própria respiração. A sensação de terror tomou conta da mente do homem que, instintivamente deu um passo no ar para trás, desequilibrando-se.
Reagindo ao deslize do arqueiro, o monstro instantaneamente disparou na direção em que ele estava caindo.
— Para trás! — O homem na base da árvore levantou uma espada longa e a brandiu para tentar parar o ímpeto da criatura. O monstro apenas o acertou com tudo, atirando-o longe e pulou no ar, agarrando a perna do arqueiro.
CRACK*
Um estalo de ossos se quebrando ecoou pela floresta. Tudo havia se passado em um instante, do momento em que Irmin se transformou, até o momento em que ela estourou os ossos do corpo do alvo.
— Não se mova!
O monstro reagiu, olhando para trás.
— Ela continua viva, mas se você der um passo, não vai estar por muito tempo.
Xu segurava o corpo de Selene, que estava perdendo muito sangue. A lâmina de seu machado colada em seu pescoço
— Eu não sei que merda é você, mas claramente está consciente o suficiente para saber do que estou falando!
Wang percebeu que Irmin havia focado exatamente a pessoa que feriu sua amiga, ignorando todos os outros. O monstro aflito tremia os punhos, sua fome de violência brigava com sua preocupação.
— Monstro imundo!
O guerreiro aproveitou a indecisão de Lind e acertou o ombro da besta. A espada afundou alguns centímetros na carne musculosa, mas só serviu para atrair a atenção da gigante, que utilizou do homem como uma válvula de escape para sua fúria. Sem conseguir retirar sua espada da “pele” ele se tornou um alvo fácil. Irmin agarrou sua cabeça e afundando suas mãos em seu crânio, fez um rio de sangue jorrar.
Wang engoliu a seco, o monstro voltou a encará-lo nos olhos. Uma sensação de terror tentou tomar controle dos sentidos do berseker, que resistiu.
Isso não vai funcionar em mim! — Como resposta, Xu aproximou a lâmina no machado do pescoço da conjuradora. Um fino fio de sangue desceu pela arma.
O monstro urrou em agonia, mas não ousou tentar alguma coisa, pouco a pouco a terra começou a derreter e, alguns segundos depois, a massa que cobria o corpo da escudeira cedeu, revelando seu corpo desacordado.
Selene que mal conseguia falar suspirou, chamando o nome da mulher.
— Desista agora.
Os olhos da conjuradora voltaram-se para quem a fazia de refém.
— Se você não pedir para se retirar agora, vai acabar morrendo de hemorragia — disse Xu — se chegar e esse ponto, qual vai ser o sentido de tudo isso?
Selene olhou para Irmin e voltou seus olhos para Wang.
— Ela vai ficar bem, eu sei que é difícil confiar em mim, mas você não tem muita opção agora.
Poucos segundos depois a conjuradora fechou os olhos e pediu a desistência. Para o grupo ser eliminado todos os três integrantes tem que se retirar ou morrer. Nesse momento a presença dela ali só causaria mais problemas.
Xu se virou para a direção da ponte, um homem corria em sua direção e, quando estava próximo de chegar, diminuiu o passo.
— Você finalmente chegou… está atrasado, Jihan.
Uma veia saltava em sua testa, suas unhas afundavam em sua mão enquanto tentava manter a calma.
— É bom… é bom que você tenha uma boa explicação para o que está acontecendo aqui… Wang!