Shihais: Remanescentes da Aura - Capítulo 35
Agora é chegada a vez de Minoru Suzumura — aluno 10, que de nota 10… digamos que não tem nada.
Desde o instante em que é chamado, há algo inconfundível no rapaz. Seus ombros estão um pouco caídos e as olheiras fundas sob seus olhos dourados flagram horas em claro numa noite sem descanso. Seu cabelo castanho claro raspado nas laterais balança suavemente enquanto arrasta os pés até o centro do tablado.
Dá para sentir o peso da exaustão que o segue como uma sombra invisível, e certamente, ele não deseja pegar nenhuma arma…
Usando a posição de descansar no sentido literal da palavra, o jovem se apresenta com sua voz resistindo à fadiga. — Nome: Minoru Suzumura, idade: 19 anos, um metro e oitenta e cinco de altura, formado no-
Mas claro, o Major Yura já está no limite, como de costume.
— O QUE É ISSO, DEZ?! SUA CARA DE SONO NÃO NOS FARÁ TE LEVAR A SÉRIO! COMO ESPERA IMPRESSIONAR COM ESSA APARÊNCIA DE MORTO-VIVO?
Minoru tenta abrir a boca para se explicar. Talvez alguma desculpa simples, algo como “não dormi bem” ou “minha rotina exigia muito de mim”. Mas o coitado mal tem tempo de soltar um resmungo. — Ah-
— NÃO INTERESSA!!! ARRUME A CARA ANTES QUE EU O FAÇA CAVAR UMA TRINCHEIRA COM OS DENTES! AGORA APRESENTE SUAS HABILIDADES!
Minoru suspira internamente. O cansaço estampado em seu rosto só parece se aprofundar, mas ele dá um aceno discreto com a cabeça. — Vamos lá, só preciso acabar com isso logo… — murmura ele.
Sem escolha, o rapaz fecha os olhos e ajusta a postura. A lentidão tem um propósito. Seus dedos se fecham em um punho.
Minoru respira fundo, e apesar das olheiras profundas em seus olhos fechados, há algo mais — um foco inabalável, um controle dentro de si.
Com o braço esquerdo na horizontal, o garoto ergue o antebraço com o punho fechado, e no mesmo instante, um bloco deformado de terra sobe, tornando-se um pedaço do mundo flutuando ao comando de um áurico.
— Hm, um dobrador de terra? — O major se interessa.
Minoru avança o pé direito com firmeza, posicionando-se diante do grande bloco de terra erguido à sua frente. Sem tocar, ele desfere um soco direito e potente no ar, controlando o impulso do golpe. O bloco reage imediatamente, arremessado com uma força devastadora. No meio do trajeto, a massa de terra se desfaz em incontáveis esferas rochosas, transformando-se em uma chuva de projéteis mortais na horizontal.
Mas em um movimento ágil, Minoru se abaixa para tocar as mãos no solo com precisão; e subsequentemente, um muro rígido de terra se ergue, interceptando e bloqueando os próprios projéteis lançados.
As pequenas rochas batendo na parede levantam poeira a cada impacto.
Minoru mantém os braços rígidos e pisa fortemente no chão; um errôneo pilar de terra sobe. Com um golpe sutil, o rapaz rapidamente passa o pé de raspão na base do pilar, cortando-o e suspendo-o no ar mais uma vez, e em sequência, após um salto com um giro, ele chuta o pilar, lançando mais uma estrutura em direção à parede de terra.
Porém, incessantemente, formatos distintos do solo continuam sendo erguidos e atirados na direção do muro criado, seja por socos, chutes no ar, ou até cabeçadas.
São golpes realizados de maneira bruta, mas mesmo assim, a parede segue intacta, aguentando os meteoros imparáveis voando na sua direção…
Minoru pausa seus ataques por um momento, para em seguida, pisotear com força o chão. O solo responde como se estivesse vivo, ondulando em uma linha rápida e feroz na direção do muro. Incrivelmente, a estrutura terrosa é facilmente derrubada já no impacto da primeira onda.
De olhos estreitos, o major sussurra consigo mesmo: — Dobra simples… sem muita suavidade. Mas solidamente eficiente.
A respiração do garoto está forte, pesada, mas cada movimento seu manteve o mesmo rigor, a mesma fluidez. Não há espaço para falhas, vexames e hesitações, já que há um profissional da área observando.
O Major Yura cruza os braços, claramente impressionado, embora faça questão de esconder qualquer sinal de admiração. — Nada mal, é de fato um áurico de terra do tipo dobrador?
— Sim, senhor. Aperfeiçoei minhas técnicas baseadas nos clássicos Mestres da Terra — responde Minoru, curvando-se.
— Mestres da Terra, é? Realmente suas habilidades de dobra são notáveis, dez. Mas… deixe-me perguntar uma coisa. Como que nos dezoito anos da sua existência… VOCÊ AINDA NÃO EVOLUIU O SEU TIPO ÁURICO?!
— Não… evolui? — Ainda curvado, Minoru ergue a cabeça, flagrando seu rosto confuso. — Perdão, senhor. Eu… nunca pensei em evoluir meu tipo áurico… Na verdade, eu nunca tive tempo…
— AH, CHEGA DE PICUINHAS! MESMO QUE ESTEJA NUM ESTADO DEPLORÁVEL, VEJO POTENCIAL EM VOCÊ!
— Um… potencial?
— PODES SER MAIS QUE ISSO, DEZ! SE FOR QUALIFICADO, PODERÁ ESTAGIAR COMIGO! E DAÍ TU VERÁS! O TRANSFORMAREI EM UMA MONTANHA IMBATÍVEL…! AGORA VOLTE AO SEU POSTO!
Por mais exausto que esteja, Minoru sente um ânimo subir. O canto de sua boca se curva em um sorriso cansado, mas sincero. — Uma montanha, é? — murmura ele.
No fundo, ele não pode negar que a ideia o agrada. Mesmo com o major sempre gritando, há oportunidades ali, e talvez um pouco de respeito escondido por trás da grosseria.
Minoru caminha de volta à formação de seus companheiros, e no decorrer do caminho, sua mão direcionada abaixo abre-se, e dessa forma, o solo do tablado de terra vagarosamente retorna ao seu estado natural de antes.
O Major Yura examina de braços cruzados, mas há algo diferente em seu olhar. Algo que se aproxima de… admiração? — Um com a aura originária das raízes da terra. Boa genética, alto, direto, simples. Mas isso não basta, ainda falta muito chão… Este aluno será o que eu sempre quis ser… — Ele observa o garoto de rosto cansado por mais alguns segundos, balançando a cabeça com um sorriso mínimo. — Esses jovens… podem ser ridículos ao extremo, mas têm potencial… PRÓÓÓXIMOO!!! — grita ele, o tom autoritário de sempre, mas desta vez, há um brilho nos olhos…
A próxima a entrar em cena é Aya Hattori — aluna número 11 — uma garota em que o silêncio aliado à postura enigmática já desperta olhares atentos entre os presentes.
No tablado de terra, Aya permanece imóvel, praticamente uma estátua em seu novo uniforme militar. Nenhuma arma visível, nenhum movimento brusco, apenas um cabelo preto chanel, com leves toques acinzentados nas pontas.
Um detalhe interessante, certamente difícil de ignorar, é sua máscara preta simples que oculta boa parte do rosto, mas não esconde o suficiente para impedir que um par de olhos verdes brilhem sob a luz… Bem, pelo menos um deles brilha; o outro, um verde mais claro, parece carregar uma história à parte, uma cicatriz invisível da vida, talvez algo que afete sua visão, provavelmente tornando-a menos precisa, menos nítida… Mas será que alguém ousa subestimá-la por isso?
Aya continua ali, parada com seu corpo magro e ligeiramente curvado. Poderia parecer despreocupada, largada, porém, há algo que ninguém consegue ignorar.
Ela pode não estar em movimento, mas sua energia é densa, uma presença que alerta todos os sentidos, principalmente os do Major Yura, que está com uma expressão um tanto mais… intrigada.
— VAMOS, ONZE! NÃO TENHO O DIA INTEIRO! APRESENTE-SEEE!!!
Ele espera uma reação, um movimento qualquer, mas Aya continua inativa. Nada de palavras, nem sinais. Apenas a quietude de uma gárgula.
O major abre os braços, é como se isso pudesse ajudar a tirar uma resposta da garota. — ÔE! ONZE! OUVIU O QUE EU DISSE?!
Aya ainda não mexe nem um músculo, ignorando deliberadamente…
O instrutor ameaça um passo à diante, irado. — Ah, mas essa desgraç-
Mas antes que exploda de vez, uma voz fria surge às suas costas. — Ela não responderá, senhor. — É Kinyoku quem quebra o silêncio. — Ela é muda.
— O QUÊ?! MUDA?! E NINGUÉM SE DIGNOU A ME AVISAR…?! O QUE EU FAÇO COM ESSA GAROTA AGORA?! — Parado, ele começa a gesticular freneticamente, pulando e balançando os braços. — VAMOS ONZE! MOSTRE UM SINAL DE VIDA, SUA PESTE! — O simples fato de saber da condição de Aya desestabiliza seu mundo. — Argh, essa coisa não me responde, será que ela é mesmo somente muda?
E então, uma resposta silenciosa finalmente vem. Aya move o braço esquerdo.
Lentamente, ela o estende em direção ao chão, na diagonal, dedo indicador apontado. Um gesto simples, mas carregado de um peso invisível, capaz de gelar os ossos de quem não entende o que está por vir.
Um silêncio absoluto toma conta. O que ela está fazendo? O que isso significa?
De repente, uma densa cortina de fumaça, escura como a noite, começa a se formar na ponta de seu dedo esticado, serpenteando ao redor de seu corpo, envolvendo-a por completo em um manto sombrio.
A fumaça flutua, se espalha, preenchendo o espaço ao redor de Aya, escondendo sua figura cada vez mais, até que tudo o que resta é um borrão indefinido.
— Ah, francamente… FUMAÇA?! É ISSO…? RÁ! VOCÊ GERA FUMAÇA PELOS DEDOS, ONZE?! E O QUE FARÁ COM ISSO? DEFUMAR ALGUÉM?! OU SE TORNAR UM INCENSO HUMANO?!
Entretanto, sem poder continuar sua zombaria, um brilho quase imperceptível surge em meio à escuridão da fumaça, e sequencialmente, um objeto afiado como a lâmina da morte rasga o vento em linha reta.
Ele voa na direção do major em frações de segundos. O brilho de uma lâmina prateada é a única coisa visível antes de atingir um alvo.
Entretanto, um pilar de terra perfeitamente retangular se ergue à frente de Yura, bloqueando o ataque enquanto ele permanece imóvel de braços cruzados, sem mover um único centímetro.
A arma se crava violentamente no pilar, um som seco se espalha pelo campo, e por um instante, tudo para.
Com uma cara de poucos amigos, o instrutor recua as mãos às costas e caminha lentamente para que possa olhar o objeto que vinha em sua direção: uma kunai.
— Hmmm… — Ele mal consegue articular as palavras, mas o semblante de superioridade não é abalado.
A fumaça negra se dissipa, revelando Aya, que permanece intocada e imóvel.
— Ser um mero áurico sem altas formações militares e atirar um objeto cortante na direção de um Alto Major Comodoro… Confesso que poucos, ou até mesmo ninguém, sobreviveria às consequências de um ato arriscado e desrespeitoso como este… mas quer saber, onze? SUA ATITUDE PRA MIM FOI EXCELENTE! — O sorriso de ponta a ponta e cenho franzido enaltece a feição satisfeita e empolgada do major. — OUSADIA! CONFIANÇA! DECISÃO! TODAS ESSAS CARACTERÍSTICAS SÃO NECESSÁRIAS PARA SUPERAR OS MAIS FORTES! TODOS VOCÊS DESTA TROPA DEVEM TER ISTO EM MENTE! EENTENDIIDOOOS???!!!
— SIM, SENHOR!!!
— Excelente… ONZE! — O major aponta para o posto de Aya, que então segue as ordens. — Sabe… pensando melhor agora, essa garota me parece familiar. Sinto como se já tivesse a visto antes. Mas onde…? Ah… lembrar não é o meu forte. Vejamos, quem são os próximos…?