Shihais: Remanescentes da Aura - Capítulo 29.1
[Refeitório da Academia Shihai de Asahi, pelas 10h30 da manhã.]
Retinindo o barulho de inúmeras conversas sobre diferentes assuntos, um vasto salão claro exala o aroma da comida tradicional asahiana.
Lá, alunos uniformizados ocupam várias mesas circulares espalhadas, enquanto bancos de madeira aguentam o peso de tanta gente.
Enfeitada por quadros de pinturas e lousas com panfletos, as paredes do local são de um branco clínico; pelas bases, rodapés pretos com uma borda vermelha acima dão um toque sutil baseado nas cores da ASA…
Eis que Akemi e Miya chegam ao recinto. Perto da entrada, os dois jovens têm suas visões iluminadas pela luz solar vinda das amplas janelas; janelas estas que desvendam a paisagem das árvores e gramados verdes da ASA.
Esse lugar é imenso, deve haver mais de cinquenta alunos…
— Todos aqui são das turmas F — comenta Miya, de olhos à frente e rosto naturalmente contente.
— Acredito que sim, mas como pode ter tanta certeza?
— Os gakurans e seifukus pretos são padrões dos alunos de categoria inicial. Posteriormente, usaremos uniformes diferentes.
— Sério?! E como serão?! — Alguém parece muito animado.
— Hihihi, também tô animada pra saber. Mas agora, precisamos nos preocupar com outras coisas — diz Miya, preparando uma passada confiante de quem deseja conquistar o mundo… Mas dessa vez, o universo tem outros planos. — Temos que achar um integrante da nossa turm-AAAAAAH! — E lá vai ela, sendo quase derrubada por um abraço surpresa pelas costas.
Oh! Nem foi tão difícil de achar.
Com um sorriso tão largo quanto seus braços rodeando um corpo delicado, Nikko Ichikawa rapidamente manifesta seu alívio e felicidade.
— Miyazinha! Finalmente te encontrei! — exclama a de maria-chiquinhas e bigodes felinos maquiados, afastando seus olhos verdes apenas o suficiente para ver o rosto confuso da amiga frente a frente ao girá-la.
— O-oooi, Nizinha. Como vai? — pergunta Miya, receosa como se acabasse de ser atacada por um filhote de tigre.
De fato ambas adoram abraçar os outros por trás, né?
Animada, Nikko relata: — Vim pra academia sem comer de manhã, então quando fomos liberados da sala vim correndo pro refeitório. Achei que você viria logo logo, o que não foi o caso. Então, fui atrás de você por toda a parte! Mas todo mundo sabe que sou horrível em procurar — assume disfarçando a boca — daí decidi voltar pra cá quando, puf! Você aparece bem na minha frente! He hiii! — ri ela.
— Olha, fico feliz que esteja bem — Miya responde, tentando processar tudo o que aconteceu nos últimos segundos — e… desculpe por não conseguir falar com você antes, cheguei na sala um pouco tarde, hihi — diz ela, ajeitando o cabelo para tentar disfarçar o constrangimento.
— Awn, não tem problema! — Nikko a abraça novamente, agora com força extra.
— É… eu também. Mas… poderia me soltar? Ficar assim em público é meio estranho.
E o feitiço volta contra o feiticeiro…
Com toda sua doçura feminina… ou felina, Nikko esfrega carinhosamente o rosto na bochecha de Miya. — Aaah, só mais um pouquinho, vai!
— Agh! Ni! Não precisa disso, tem gente olhando!
— Por favoooor! É que faz muito tempo que não te vejo, e… — Nikko se interrompe ao perceber uma presença ao lado. Seus olhos verdes encontram Akemi observando-a com um rosto curioso. Imediatamente, ela cessa o abraço, cruza os braços e ergue uma sobrancelha inquisitiva. — Quem é? — indaga ao cutucar a amiga com o cotovelo.
— O nome dele é Akemi Aburaya, estava sentado do seu lado na sala, não o reconhece?
— … Aaaah, o garoto bisonho! — Nikko estende a mão para um aperto — prazer em conhecê-lo, bisonho!
— O prazer é todo me… Ma-ah, mas pera aí! Bisonho por quê?!
— Durante minha formação, alunos desastrados eram chamados de bisonhos. Nunca soube ao certo o significado, mas sempre achei essa palavra engraçada. Por isso estou te chamando assim! Pode?
Isso só pode ser brincadeira…
— … Faça como quiser…
O cumprimento é aceito.
Pelo menos ela não parece querer me matar…
— Hihihi, ele é um bom menino, estava comigo nesse meio tempo. Com certeza se darão muito bem!
— … Hmmmm… — sorrisos e olhares maliciosos surgem em Nikko — então você sumiu esse tempo todo com um garoto…? Hiroomiii… — ela cobre a boca e flexiona os joelhos, aparentando presenciar a maior fofoca do mundo — achei que você gostava de outra pessoa! Não sabia que era tão safada!
Ein?!
— … M-m-me-me-mme… — balbucia Miya, tão corada quanto Akemi — m-me chamou de quêêêê…?!
— Você bem que poderia me ensinar seus truques depois, né?
Encurralada por olhares invasivos, a garota envergonhada tenta manter a compostura…
Da forma que acha melhor.
Pof!
— Aiii! — clamoriza Nikko ao levar um servido soco no braço — pra que agredir?! — pergunta ela, massageando o local da dor e encarando a agressora.
Pelo visto todo cuidado é pouco quando se irrita um Miyazaki.
— Isso foi no primário! E já te falei que não queria ouvir mais nada sobre isso!
Rindo como sempre, a brincalhona levanta as mãos em rendição. — He hiii! Tá bom, tá bom, eu paro!
— Que seja! Hmpf! — De bico emburrado e braços cruzados, Miya desvia o olhar, pronta para denegrir a existência dos outros por longos segundos.
— Eiiii! — Nikko segura o braço da chateada, tentando puxá-la — não pode me ignorar por muito tempo! Vem! Sei onde está a nossa turma! São muito simpáticos, você e o seu amiguinho precisam conhecê-los!