Shihais: Remanescentes da Aura - Capítulo 25
Preparados para o primeiro dia, a turma da sala 1F escuta atentamente as instruções do Subtenente Masaru Miyazaki.
— Farei esclarecimentos e tirarei dúvidas sobre a academia. Temos até o meio dia para conversar. Saibam que não sou de chamar pelo número de vocês, prefiro os sobrenomes. Com o tempo decoro…
Preparando um discurso, o instrutor saca outra prancheta e ajeita os óculos para lê-la.
— Primeiramente, é fundamental que compreendam a gravidade de suas responsabilidades como alunos daqui, pois caso algum de vocês cometa um erro, os civis podem não julgar o infrator, e sim o nome e a reputação da ASA, bem como imagem do Exército Asahiano.
Na bancada superior traseira à direita do instrutor, Nihara — aluno número 12 — lança um olhar de desdém, insinuando não ter paciência com as informações ditas.
Apesar de notar a atitude negativa do parente, Masaru continua lendo o papel da prancheta, dizendo tediosamente: — Também, é preciso reforçar a importância do respeito mútuo entre todos os membros da instituição e blá blá blá… Só tem rolha escrita aqui! — Ele larga a prancheta no púlpito, ajeita a postura e fixa os olhares na turma. — Entendam, qualquer forma de discriminação ou violência fora de questão não será tolerada e resultará em punições.
Todos percebem a seriedade das palavras do professor.
— Mas vamos ao que interessa. Hoje, dia 28 de um final de abril, vocês estão começando as instruções como alunos de categoria F, e essa turma é a 1F, conforme indicado na placa da porta desta sala. Se forem aprovados no final deste ano, já serão considerados shihais de grau E.
Como é?!
A informação surpreende e anima Akemi, fazendo seu coração acelerar e sua feição brilhar. De olhos arregalados, ele se inclina um pouco para aproveitar cada segundo com uma intensidade renovada.
— Vocês progredirão de ano em ano até alcançarem o grau A, e sobre os graus S e SS, estes são designados exclusivamente pelo imperador, a depender dos feitos de vocês como shihais de grau A.
E-eu já posso me tornar um shihai no ano que vem?! É sério isso?!
— Alguém tem alguma dúvida?
Aruni — aluna número 14 — insegura e tremendo no assento central da bancada superior traseira à esquerda do instrutor, levanta a mão esquerda fechada.
— Senhorita Yamamoto, prossiga.
— M-Mestre Masaru, soube que não poderemos voltar para casa ao fim das atividades… O-onde iremos dormir?
— Excelente pergunta! Agora que são recrutas da ASA, ou seja, militares áuricos de categoria inicial, irão passar vinte e quatro horas por dia servindo neste quartel.
Kentaro — aluno número 03 — na bancada de Akemi, indaga com sua voz rude e meio arranhada: — Pera aê! A gente não pode sair daqui?!
— Vocês só poderão se retirar da academia em casos de missões fora, férias, e dispensa, o que é bem difícil de se conseguir, espero que se acostumem. Sobre os dormitórios, desenharei um mapa.
Masaru vira de costas para pegar dois gizes, ambos localizados no longo suporte de madeira que acompanha toda a parte inferior da lousa negra.
De frente para o quadro, ele desenha com um giz em cada mão. Surpreendentemente, chamas alaranjadas seguem o caminho de suas mãos enquanto rabisca a uma velocidade assombrosa.
Akemi é o mais fascinado.
Wow! Ele está usando aura de fogo?! Como ele faz formas geométricas tão perfeitas e tão rápido?!
Com o desenho terminado, Masaru explica à turma: — Isto é o melhor possível. Se alguém não enxergar ou não entender algo, o problema não é meu.
Ele já terminou?!
Apontando para alguns pontos do mapa desenhado, o instrutor continua: — Fora o térreo, o edifício possui seis andares com quatro salas em cada, e no corredor dos andares, há várias portas. Cada sala tem sua própria reserva à direita, onde os armamentos estão guardados, caso sejam necessários.
Reserva…?
Akemi discretamente encara Aya — aluna número 11.
Deve ser por lá que aquela doida mascarada atrás de mim quase furou meu pescoço. Nunca mais piso lá.
— Do outro lado da parede do corredor, há cinco quartos para cada turma, acomodando três alunos por dormitório. Também tem grandes banheiros localizados à esquerda dos quartos, o nosso fica logo à frente da porta.
Nikko — aluna número 02 — ao lado de Akemi, levanta a mão fechada, e confusa, pergunta sem qualquer autorização: — Mestre Masaru! Os toaletes são unisex?
— Senhorita Ichikawa, sei do luxo que vive, mas na sua casa há banheiros destinados a sexos diferentes?
— É… Não…
— Então, espero que vocês não causem problemas perante a isso. Alerto que se qualquer tipo de fuleragem cair no conhecimento da diretoria, os envolvidos sofrerão medidas disciplinares severas.
Kentaro, ao lado de Nikko, indaga diretamente: — E como saberemos com quem iremos dividir o quarto?
— Isso já não é da minha conta, quero que vocês se virem entre si para decidir os companheiros de dormitório.
Mayumi — aluna número 07 — na bancada frontal à esquerda, levanta o braço e solicita com firmeza nas palavras: — Permissão, Mestre Masaru!
— Senhorita Sanada.
A ruiva não esconde a determinação no olhar.
— Como serão os nossos horários?
— Peço que espere um segundo.
Masaru volta à lousa e aproveita o canto direito para escrever.
Novamente, sua velocidade com o giz é impressionante, soltando chamas a todo vapor.
— Como notaram, nossa reunião hoje se iniciou pelas oito horas. Entretanto, a partir de amanhã será diferente. Ao acordarem às cinco, façam suas higienes pessoais e se preparem, pois as aulas teóricas vão das seis da manhã até o meio-dia, quando temos um intervalo para descansar e almoçar.
É bem parecido com as rotinas da escola, só que… com algumas horas bem adicionais. Ah, não parece ser tão ruim.
— Quando bater uma da tarde, o próximo instrutor quer vocês já no campo 1, as sessões de treinamento e ACFs ocorrerão por lá podendo seguir até às sete da noite, onde haverá mais um tempo livre para ser utilizado aos estudos, refeições, interações sociais e prática de esportes. E finalmente às nove, é o horário do descanso de vocês, para que possam se revigorar para o próximo dia.
Minoru — aluno número 10 — no canto da parede da bancada superior traseira à direita, ergue o braço.
— Suzumura, certo? Diga.
— O que você quer dizer com “Atividades da Guarda”? No horário das nove?
— Bem observado. Sua turma entenderá melhor posteriormente, por enquanto, não se preocupe com isso. Só te aconselho que arrume um jeito de sumir com essas olheiras, não serão nada úteis quando as guardas começarem.
Miya — aluna número 13 — no canto superior esquerdo, levanta a mão.
— Hiro- digo, Senhorita Miyazaki. Pode perguntar.
Com um tom debochado, Miya pergunta: — Grandiosíssimo e digníssimo Mestre Masaru, como serão distribuídas as disciplinas áuricas ao longo do ano? Teremos instruções específicas para cada aspecto das nossas habilidades áuricas?
O modo como a filha chama destrói todo o ego do pai.
Sentindo uma pontada na alma, o instrutor, ao mexer na haste dos óculos e demonstrar uma leve irritação, diz: — Hm, quer saber, me chamem de Sub Masaru, já está de bom tamanho.
— E sobre as nossas disciplinas? — cobra Miya, com o cotovelo sobre a mesa e o queixo apoiado na mão acentuando seu tédio.
Que isso?! Ela pode falar com ele assim no meio da sala?!
Masaru normalmente responde: — No próximo ano, vocês terão a chance de selecionar entre uma variedade de disciplinas que atendem às suas preferências individuais, desde técnicas de controle e manipulação da aura até estratégias de combate. Reconhecemos que muitos dos nossos alunos não têm intenção de estarem na linha de frente, optando por serem médicos ou mecânicos. Portanto, oferecemos instruções adaptadas para cada área militar.
A sala em silêncio absorve as palavras do professor.
A atmosfera é carregada de expectativa.
— Além disso, ao longo da formação, vocês também participarão de missões e exercícios de campo, onde terão a oportunidade de aplicar o que aprenderam em situações do mundo real. Essas experiências serão fundamentais para o seu crescimento e preparação para os desafios que enfrentarão como shihais.
Muitos daqui aparentam almejar a linha de frente, também me imagino assim, mas, será que eu consigo?
Na mesma bancada da própria irmã e de Miya, Sho — aluno número 15 — pede a palavra.
— Yamamoto.
— Soube de estágios, como saberemos quem pode ser o nosso mentor?
— Vamos com calma. Vocês precisam de mais informações antes. Quando se tornarem shihais de grau E, seus serviços na ASA serão substituídos por um estágio nos primeiros seis meses. Esse estágio funciona da seguinte maneira: doze shihais de grau S ou superior poderão convocar, a seu critério, cinco alunos de grau E, independentemente da sala. Os alunos terão como mentor o shihai que os selecionou.
— Perdão, senhor. Então não poderemos escolher? — indaga Sho.
— Desconheço de onde você tirou isso, mas não. Os shihais estarão observando a todo momento. Se quer mentores mais renomados, mostre que merece.
Mesmo que seja direcionada para um em específico, a colocação deixa a maioria dos alunos em alerta…
Após responder Sho, Masaru volta o olhar para a turma.
— Durante o estágio, vocês não precisarão permanecer na academia, podendo residir em suas casas ou nos aposentos de seus mentores, a depender da preferência do superior. Porém, não vão achando que a vida é um morango, a época de estágios é a que mais dispensa alunos da instituição. Os mentores não têm paciência com os fracos.
O quê?! Ma-m-mas…
Akemi levanta o braço no padrão que lhe foi cobrado.
— Fala logo, recruta.
— Se no estágio estaremos recém promovidos à shihais de grau E, como podemos ser dispensados pelos mentores? O que acontece com o nosso título?
— Os mentores darão instruções e missões para seus subordinados, se não forem seguidas da maneira planejada, eles simplesmente retiram o cargo do falho e o expulsam da academia.
— M-mas eles só expulsam? o que acontece depois? O aluno só é apagado daqui e a sala fica com menos gente?
— Recruta, você acha mesmo que damos chance para quem não atende aos nossos requisitos para chegar ao topo da ASA? Se decepcionar na missão, há outras instituições áuricas por aí.
A fala afeta Akemi como uma pedra que esmaga suas esperanças.
Caramba, eu não posso falhar! Mesmo que tenha sido breve, até o vovô finalmente me incentivou a continuar com isso. Não posso deixá-lo na mão.
— Pelo menos tem algum modo de se comunicar com as pessoas de fora?
— Nos dormitórios, existe um serviço de cartas, é só escrever e deixar no compartimento da janela. O resto é com as nossas falcorujas.
Repentinamente, Nikko se levanta animada.
— Vocês têm falcorujas aqui?! Onde?! Onde?! Eu preciso ver uma! — exclama ela, animada e com as mãos sobre a mesa.
— Você verá pela noite, agora sente-se.
Enquanto Nikko volta ao seu assento, Akemi a observa com estranheza.
Ela tá bem? É um pouco eufórica demais. Aliás, se ela faz parte da família Ichikawa, já deve ter visto vários híbridos, já que são animais caros.
— Aí! Vai ter algum tipo de campeonato entre a gente? — indaga Kentaro, despreocupado e chulo.
— Se novamente perguntar desse jeito sem solicitar, irá se arrepender. Mas sim, terão campeonatos, inclusive entre turmas.
— Legal — diz Kentaro, com um sorriso de canto.
— Alguém tem mais alguma dúvida?
Miya levanta a mão.
— Senhorita Miyazaki?
— Este será sempre o nosso mapa de sala?
Masaru suspira com a mão no rosto: — Haaah. Olha, saibam que eu não dou a mínima sobre onde vocês irão se sentar, desde que não atrapalhe a mim.
A informação alegra alguns da sala.
— Alguém mais? — O instrutor procura solicitações pela turma.
…
— Se não há mais dúvidas, acho que já os informei sobre tudo o que precisávamos. Agora são nove e meia da manhã, todavia, como este é o primeiro dia de vocês, fui recomendado a deixar que se sintam mais à vontade e conheçam melhor as instalações da academia. Por isso, estão liberados. Podem deixar as suas maletas por aqui.
Desse modo, as instruções iniciais são encerradas…