Shihais: Remanescentes da Aura - Capítulo 9
A estrada através do alto matagal direciona até o imenso portão duplo de uma colossal muralha negra em formato cilíndrico, presumivelmente protegendo a área interna da ASA.
Em volta, uma paisagem natural verdejante rodeia a estrutura.
Acima da entrada, um enorme brasão representando um tigre albino é observável. O desenho do animal fica à frente de um escudo vermelho com bordas prateadas, fazendo a arte ser destaque. Abaixo deste símbolo, há uma escritura dourada com o nome da instituição, detalhada como se fosse feita em um pergaminho.
O grande portão de ferro é protegido por quatro homens fardados, dois de cada lado; provavelmente são shihais garantindo a privacidade e a segurança dos que passarão pela entrada.
Assim que o camburão é avistado pelos guardas, o portão duplo é aberto lentamente.
Ao entrarem no campus, todos os viajantes descem do veículo apertado.
Sho é o mais aliviado ao sair.
— Finalmente ar fresco, meu traseiro já estava ficando quadrado de tanto tempo sentado.
Outros dois militares desembarcam juntamente do Major Hasegawa.
Mais militares… Acho que vieram com a gente para ajudar na segurança.
O vasto pátio recebedor dos recém-chegados possui árvores, arbustos e uma magnífica fonte de águas vermelhas, destacando uma estátua em bronze de um homem fardado.
Wow, olha só pra esse lugar! Tem até uma fonte com uma estátua! Impressionante, mas como fizeram a água dela ficar vermelha? Parece que está jorrando sangue… E aquela árvore imensa ali?! É tão vermelha quanto as águas da fonte!
Caminhos de brita conduzem ao prédio principal, um edifício cilíndrico com paredes de concreto brancas e detalhes rubro-negros. Ao lado, a imponente bandeira de Asahi balança ao vento, hasteada em uma altura que supera a do edifício.
As aulas devem ser nesse prédio, mal posso esperar para ver como é por dentro! E essas academias e quadras ao redor… tem tantas coisas que eu nem sei mais por onde olhar!
Repentinamente, uma voz lenta e falha surge: — Oh… finalmente chegaram, quase estourando o relógio, não é mesmo?
Todos voltam seus olhares e encontram um idoso baixo, com cabelo e barba claramente tingidos de preto; sua expressão séria amplifica a soberba em sua farda escura, repleta de distintivos que evidenciam uma profunda dedicação ao meio militar.
O Major Hasegawa se alerta com a nova presença, e diz com firmeza após um leve susto: — Oh! Coronel Kobayashi!
Todos os militares prestam continência.
É a primeira vez em que vejo um coronel, a patente dele é maior que a de major, isso explica o respeito. Que irado!
Ainda sendo respeitado e temido, o coronel responde a continência.
— Aha! Vejo que trouxeram os últimos ingressantes, agora a lista está completa, excelente!
O major cessa a saudação militar e pergunta: — O que fará com esses garotos, coronel?
— Ficarei com o gordinho aí, deixe-o ao meu comando. Agora, este outro aí…
Hipnotizado pela arquitetura da ASA, Akemi é encarado por todos à sua volta; porém, enquanto observa o local, um grito masculino ao longe se aproxima rapidamente: — Ei, você! O de cabelo castanho!
Perdido nos olhares à procura por quem chama, Akemi indaga: — E-eu?
Olhando para trás, percebe-se que é outro homem alto.
Seu quepe branco, em perfeita harmonia com a farda da mesma cor, cobre parcialmente seu rosto, dificultando a percepção de seus traços faciais; entretanto, isso não esconde o semblante de autoridade.
Ao se aproximar, ele confirma: — Sim, você mesmo. Sou um oficial com instruções para levá-lo à uma sala especial.
O Coronel Kobayashi aparenta se lembrar do paradeiro do jovem Aburaya.
— Hm, você deve ser o garoto especial. Ande! Siga este oficial imediatamente.
Sho encoraja seu colega com um gesto de afirmativo, então Akemi segue o oficial pelos caminhos de brita.
Garoto especial? Por que alguém me chamaria assim? De qualquer jeito, eu tenho que perguntar!
— Com licença, senhor oficial, por que estou sendo levado para uma sala especial?
— Não fui informado sobre os detalhes, estou apenas seguindo ordens.
Que cara frio… esse povo me dá medo…
Olhando à frente, Akemi percebe algo.
— Estamos indo mesmo para o prédio principal?
— A sala fica por lá.
Já vamos entrar?! Que demais!
Ao atravessar a entrada, as paredes brancas suavemente curvadas devido ao formato do prédio são notáveis, juntamente de um chão preto coberto por um grande tapete vermelho circular.
As paredes sustentam lousas escuras com informações escritas em giz branco, além de várias pinturas que retratam militares e figuras imperiais.
Tem tantas portas… mas não dá pra escutar nada, está tão vazio por aqui.
No fundo do edifício, há uma ampla escada em formato de U, com degraus de concreto revestidos em porcelanato.
Aquela é a única maneira de ir aos andares superiores?! Nossa, só de pensar em subir e descer já me dá frio na barriga.
À esquerda de Akemi, uma jovem entediada está sentada atrás de um amplo balcão, distraída ao lixar as unhas.
Um crachá de mesa exibe seu nome e profissão: Yui Kurosawa, recepcionista; uma jovem adulta de olhos âmbar e cabelos escuros presos em um coque alto, complementada por brincos prateados, batom vermelho, e um vestido gótico com babados e detalhes em renda.
É uma secretária? Bom, pela cara, não deve gostar muito do trabalho. Parece ser um pouco mais velha do que eu, mas, essa roupa pode ser mesmo um uniforme para áreas militares?
O vestido apresenta uma saia rodada até os tornozelos, acompanhado por uma blusa de mangas longas e bufantes. Mesmo predominantemente preta, a roupa possui um tecido branco do peito aos ombros, realçando um grande laço vermelho e botões verdes.
Apesar da falta de movimento no local, a presença da moça adiciona um toque peculiar na entrada do campus…
Akemi acompanha o oficial até uma porta adjacente às escadas nos fundos do primeiro andar.
O oficial gira a maçaneta, revelando o que há dentro da sala.
Essa gente sentada nessa mesa… Isso é algum tipo de conselho de autoridades? Ei, aquele é o…
Um homem no centro da mesa de vidro retangular chama atenção.
Ma-Marechal Ichikawa?!
A mente do rapaz entra em alerta máximo; um dos shihais mais respeitados de toda Asahi está na sua frente.
Seu nome é Jin Ichikawa. Com cabelos rasos e grisalhos, espessa barba branca, e olhos verdes penetrantes, ele marca uma presença imponente. Vestindo uma farda branca com detalhes em dourado e verde, o veterano emana respeito.
Acompanhando os livros e artigos que relatam os feitos heroicos do marechal pela pátria, em apenas uma página, é contado como ele derrotou um exército inimigo de mil homens sozinho, usando sua temível e cortante aura de vento.
Caramba, ainda é cheio de fibra e saúde mesmo com idade avançada, incrível! Ma-mas, por que ele está aqui?! Era pra eu me encontrar com alguém assim?!
Mesmo impressionado, o corpo do garoto treme diante da presença do shihai.
— A-ah! Marechal Ichikawa — Akemi se curva em respeito — não esperava encontrar você aqui pessoalmente! E-eu sou um grande fã! Sei de todas as suas histórias e de co-
O marechal se levanta bruscamente.
— Ho ho ho! Então você é o jovem I- ahem, Akemi Aburaya… Levante a cabeça! Seja bem-vindo à Academia Shihai de Asahi. Ouvi falar sobre o incidente que o fez ser um trivial que despertou uma aura além da idade prevista.
Ele sabe meu nome! E essa voz forte… esse sorriso… A personificação de um verdadeiro herói está bem na minha frente!
O rapaz se anima pelo reconhecimento de alguém tão renomado, sua fala não esconde a empolgação.
— Sim! Minha vida mudou completamente, mas nunca imaginei que isso me levaria até aqui tão rápido.
— Gostaríamos de observá-lo em ação! Por favor, demonstre sua aura para nós.
Akemi fica paralisado diante do pedido repentino, sentindo o peso da situação sobre seus ombros, porém, busca controlar a ansiedade e age.
— C-certo.
Por favor, funciona!
O jovem se concentra e busca emanar sua habilidade.
Só que mais uma vez… falha em conjurar as descargas elétricas. Nada acontece.
Essa não, agora não!
Suas mãos tremem e o nervosismo o domina; ele olha para o marechal, temendo a reação diante do fracasso. Enquanto isso, os outros superiores o encaram com confusão.
— E-e-eu posso explicar! Ultimamente eu nã-
— Ho ho ho. Não se preocupe, jovem. O controle de nossa aura nem sempre é simples, posso vê-la em você e sentir sua energia. Tenho plena certeza de que possui um imenso potencial.
Ah… Que alívio, achei que eu seria expurgado daqui… Não esperava que ele seria tão compreensivo.
— Agradeço, marechal. Suas palavras têm um significado profundo para mim.
— Eu só queria vê-lo pessoalmente, quando fiquei sabendo do seu caso, quis te trazer aqui na hora.
Ele se interessa tanto assim por mim? Esse acidente repercutiu mais do que eu pensava.
— Sinto-me honrado com o reconhecimento, mas, permita-me perguntar… Por que vocês queriam me ver?
— Alguns jovens passam por aqui antes de prosseguirem no teste, apenas foque-se em suas habilidades e esteja alerta. Você está dispensado, fique aos comandos do militar ao seu lado.
O oficial chama a atenção do garoto: — Siga-me.
Ambos saem da sala e começam a subir pela escada em U.
— E agora? Para onde vamos?
— Você seguirá comigo até a área de entretenimento do prédio.
Área de entretenimento?! O que ele quer dizer com isso?!
Eles sobem até chegarem a um andar onde há uma passagem diagonal.
— Venha por aqui, iremos no espaço à frente.
O fim da passagem dá acesso a um extenso corredor reto na vertical, com uma grande vidraça que oferece a vista dos campos da ASA e de outros estabelecimentos desconhecidos por Akemi.
Tem mais construções nas na parte posterior desse prédio… até onde isso vai dar?
Dado alguns passos, a primeira entrada à direita já revela algo.
— Woah! Isso é algum tipo de anfiteatro?
Mesmo na semi-escuridão, o design quase triangular e a atmosfera teatral marcada pelos tons de vermelho da grande sala deixam o rapaz curioso.
Nesta área de teto fechado, arquibancadas com assentos decaem até um palco de madeira com longas cortinas pretas em ambos os lados.
— É um auditório, não se distraia com isso, nosso destino está na próxima porta no final do corredor.
Enquanto caminha, Akemi ainda observa o auditório.
Eles devem usar esse lugar para estratégias e reuniões importantes… Mas, parando para pensar, por que um lugar tão grande como esse só tem duas portas…? Espera um momento… esse som… Tem alguma coisa muito estranha por perto!
Um barulho suave de vozes exaltadas dá a entender que há uma plateia em êxtase por perto.
O som aumenta ao chegarem diante da segunda porta perto do fim do corredor; o oficial a abre e aponta para o garoto entrar.
Quando cruza a porta, Akemi se depara com uma imensa arena.