Ryokosha - O Caminho Da Espada - Capítulo 1
A chuva caia lentamente sobre os telhados negros, as ruas molhadas eram agora palco para um pequeno grupo de comerciantes, cobertas de papel e tecido se faziam presentes, enquantos outros estavam a armar suas tendas. Em Sanchirudoren, a noite anuncia a chegada dos viajantes mais longínquos. As estradas são mais calmas.
Uma pequena caravana atravessou os arcos da cidadela, os cavalos quase não precisam de esforço, as rodas de madeira deslizam sobre os tijolos da rua principal.
— Peixe fresco, Porco selvagem e bebida quente! Se aproximem! — gritava um senhor, suas vestes combinavam com o tom de vermelho e azul da sua loja.
A chuva continua a castigar aquela noite, um trovão é lançado aos céus.
Trajando vestes negras, e protegido por sua sugegasa, um homem se expõe a chuva, deixando para trás a caravana em que esteve viajando. Seu olhar é protegido pelo chapéu de palha, o mesmo causa certa aflição aos comerciantes.
Ele caminha em direção ao senhor que havia anunciado seus pratos do dia, ou melhor, da noite.
— Onde posso encontrar um lugar calmo para dormir, amanhã mesmo irei partir. — perguntou o homem.
— Por algumas moedas você pode se aconchegar na estalagem do velho Han. — disse o senhor.
— De onde venho, tudo que tinha ficou lá. Assim como as poucas moedas que guardei.
Suas roupas estavam pesadas, a chuva era a culpada.
— Você poderia me ajudar aqui na entrada, recebi muitos que sentem fome, ou desejam afogar um pouco de seus pensamentos em minhas bebidas. Não é muito, mas tenho um pequeno lugar nos fundos da loja.
— Já é o suficiente— o homem levantou seu olhar, o chapéu revela seu olhar calmo.
As horas rolavam, pessoas de todos os tipos adentravam o pequeno restaurante. O homem as atendeu, e por mais que sua falta de jeito em recepcionar não atrapalhasse, recebia olhares tortos. Nada que o fizesse desanimar.
— Hanzou, desde quando você contrata mendigos? — gritou um homem.
— Deixe-o em paz, você não é muito diferente.
O homem de vestes negras nada o fez, ou se quer proclamou.
Mais tarde, Hanzou retorna para a entrada. Agradecendo aos últimos clientes que estavam a partir, seu semblante era de alegria.
— Você me trouxe sorte hoje, garoto. Não vejo tantas pessoas assim desde que me mudei para cá. — disse ele, colocando a mão sobre o ombro do outro ao seu lado. — Vamos, está na hora de fechar.
— Não sei se foi sorte, talvez você tenha ótimas habilidades na cozinha.
Hanzou sentiu-se um pouco mais com essas palavras.
— Diga-me, como se chama?
— Não tenho um nome há dias, talvez meses. Apenas me chamam de Ryokosha.
— Bem, deixe-me te apresentar seus aposentos esta noite.
Ambos atravessam o salão principal do restaurante, algumas mulheres em belos vestidos florais arrumam os pratos sobre as mesas. Chegando aos fundos da loja, Hanzou abre a porta.
— Como eu disse, não é muito, mas este velho quarto deve servir. Guardávamos alguns ingredientes aqui.
O senhor acende uma vela que há no canto, o chão é de madeira, uma das janelas não está coberta, apenas um pedaço de tecido protege da chuva.
— Se sentir fome, deve ter sobrado algum peixe na cozinha, sinta-se à vontade.
Eles se despedem, Hanzou encosta a porta. Seus passos são ouvidos até que estejam longe o suficiente. O homem retira seu chapéu, a palha está frágil.
— Tudo parece se desfazer ao meu redor.
Encostado a parede, apoiando sua cabeça em alguns sacos que foram deixados no local ele adormece.
“A escuridão prevalece, uma criança erguida e ensopada, suas mãos tremem, levadas ao rosto como se buscasse entender se era real aquilo que acabara de presenciar. Uma luz surge, lentamente se espremendo até o rosto daquela criança.”
Ele acordou, o sol havia adentrado pela janela, e banhando seu rosto.
Fiquei sonhando outra vez.
— Preciso continuar
De pé, ele agarra seu chapéu, bate rapidamente suas vestes, agora secas, porém, empoeiradas.
— Senhor Hanzou? — gritou ele, enquanto saia daquele quarto.
— Hanzou? Ainda está dormindo?
Em meio ao salão ele grita o nome daquele que lhe deu um teto, mesmo que por uma noite.
— Ele deve estar… — suas palavras são interrompidas por uma queda brusca, havia escorregado em algo.
O sangue escorre do corpo de uma das moças que ali trabalhava, ela está estirada ao chão, seus dentes foram quebrados por um grande impacto. Suas vestes rasgadas revelam seu gélido corpo esbranquiçado.
— Está acontecendo novamente, não! Não! Não!
Rapidamente ele se levanta, tentando não olhar para aquela moça, desviou sua atenção para a porta de entrada, para onde o mesmo caminha. Suas mãos ensaguentadas abrem caminho na direção do exterior.
À sua frente três homens empunham espadas. Suas vestes semelhantes a uniformes do exército não deixavam dúvidas. Estavam ali para levá-lo.
— Andarilho, você está preso! Como pode fazer tamanha atrocidade com aqueles que lhe dão onde dormir e comer. — disse um dos homens.
— Eu não fiz isso!
— Suas mãos estão cobertas de sangue, um monstro como você deve ser executado.
— Olhe bem o que fez ao Hanzou. — proclamou o outro homem.
O andarilho prolonga seu olhar para uma árvore ao lado, pendurado pelo pescoço está o corpo do senhor Hanzou, aquilo que restou dele. Da cintura para baixo não estava lá, ainda a pingar o sangue do seu intestino exposto.
— Eu jamais faria isso!
Ao fundo os locais começam a sair de suas casas, gritos de uma mulher são ouvidos, seus desespero é sentido por todos.
— Peguem ele. — disse um dos soldados.
O Andarilho, em um ato desesperado, corre pelas ruas da cidade.
A população agora ciente, arremessa pedras, madeiras e objetos em sua disposição contra o mesmo. Os tijolos das ruas continuam molhados pela chuva, o fazendo escorregar.
Alguns homens se reúnem ao seu redor, desferindo chutes contra suas costelas e rosto.
Os três soldados se aproximam, dispersando aqueles homens.
— Não sejam iguais a ele! Este homem, digo, este monstro será julgado pelo nosso senhor.
Dois dos homens o carregam, fraco e machucado, o andarilho se vê arrastado em direção ao seu destino.