Reencarnação do Vampiro - Capítulo 28
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- Capítulo 28 - A verdade por trás do vampirismo. Parte 1
Jonathan acordou um minuto antes de o alarme disparar.
“Tenho que parar de usar o alarme, sempre acordo antes do horário programado”.
Ao olhar para a esquerda, viu Raina parada imóvel ao lado de sua cama, como um manequim. Ao levantar, percebeu que estava com fome e sede.
— Preciso me alimentar.
O rapaz foi ao banheiro tomar banho. Ao terminar, olhou para suas roupas.
“Preciso de roupas novas. Essas estão sujas de sangue”.
Jonathan havia dormido com aquelas roupas por causa da falta de estabelecimentos abertos.
Ao abrir a porta, viu Elisabeth o esperando sentada sobre a cerca de proteção do corredor. Atrás dela, havia um salão enorme a baixo.
— Bom dia! Trouxe roupas.
A mulher pôs-se de pé e andou até ficar frente ao rapaz e fez um sinal com a cabeça para que ele entrasse novamente.
O jovem fez, e a vampira entrou em seguida.
— O feitiço está ativo?
— Sim, mas o efeito logo acará.
— É o suficiente, serei breve.
— Ok, o que quer me dizer?
A garota ergueu o braço esquerdo e arregaçou a manga, revelando um pequeno círculo mágico preenchido com runas. A estrutura era complexa.
— O senhor sabe o que a teoria da relatividade geral de Einstein?
— O tempo é relativo e o espaço é como um tecido que é curvado pela massa de um objeto, criando assim o que nós chamamos de gravidade. Quanto mais massa um objeto tiver, mais curvo será o espaço em volta dele, quanto mais curvado, mais devagar passará o tempo.
— O senhor lembra da primeira pergunta que te fiz quando descobri que tinha 200 anos?
— Por que as coisas caem? Lembro perfeitamente.
— Aí o senhor respondeu: “sou um homem velho, não um deus, para saber de tudo”. Hahahaha. Foi a resposta mais seca, porém mais realista que já ouvi.
— Quem diria que nós teríamos respostas até pra isso.
— Pode parecer que não, mas essa descoberta beneficiou muito o mundo inteiro, inclusive nós vampiros. Veja.
O círculo mágico no pulso de Elizabeth brilhou.
— Runas que não necessitam que passe sangue sobre elas para que a energia mágica ative o feitiço. Bom, essas runas absorvem a energia mágica diretamente do seu corpo. Por isso, esse pequeno circuito mágico é tão complexo, é um sistema de ativação e desativação pela vontade do usuário.
Uma luz dourada em forma de sobretudo se formou na mão esquerda da mulher quando ela fez um gesto simbolizando estar segurando algo. Ao fazer o mesmo com a outra mão, uma luz em formato de calça apareceu.
O sobretudo se materializou aos poucos começando pela gola. De cada lugar materializado saiam raios azuis.
— É um feitiço de armazenamento. Esse em específico, é um que manipula o espaço.
— Manipula o espaço… Quer dizer que ele aumenta o espaço de um lugar? Ou cria um espaço pessoal em outra dimensão.
— Não, ele usa um espaço pré determinado, aumenta o tamanho dele e usa como armazenamento.
— Espaço pré determinado… onde exatamente fica esse… Espaço?
— Em esferas de vidro azuis. Elas ficam armazenadas em uma sala. Nós escolhemos esferas porque o que importa não é o objeto em si, mas a estrutura. Até mesmo uma caixa de papelão pode ser usada para esse feitiço. Vem, vou te mostrar.
…
Elisabeth e Jonathan pararam em frente a uma porta negra rústica. Havia um corvo de três cabeças grudado nela.
— E esse corvo?
— A, quando compramos essa mansão, já tinha essa porta. Eu queria escolher esse cômodo como meu quarto, mas não me deixaram ficar isolada do resto das pessoas. Não que eu quisesse, porém gostei da decoração da porta.
— Só por causa da porta?
— Eu estou por aqui há muito tempo. O tédio me consome às vezes.
— Existem muitas formas de passar o tempo nesse século. Filmes, séries e o que mais gosto, jogos eletrônicos. Como gosto de desafios, jogava muitos souls like. Tem também o maldito cara com cabeça de xícara. Se eu fosse capaz de ficar com raiva, teria quebrado a tv por causa desse jogo.
N/A: Referências.
— É verdade… Eu nunca pensei nisso. É uma ótima possibilidade. Ainda mais agora que a tecnologia de realidade virtual está em alta devido à evolução tecnológica.
A mulher abriu a porta e eles entraram. Dentro da sala, havia várias esferas azuis de vidro sobre mesas antigas de madeira.
As esferas emitiam uma luz fraca que mal iluminava a área ao redor.
— Eu disse antes que o objeto em si não importa, certo? O feitiço usa um objeto físico como… An… Para adquirir forma! Isso! O exemplo da caixa de papelão. O espaço de dentro da caixa está separado do espaço do lado de fora, certo?
— Sim e não. É só algo representativo. As leis da física, o tempo e a gravidade ainda afetam o espaço dentro da caixa.
— Sim, mas o que acontece se lançarmos um feitiço de separação espacial na caixa e usarmos a própria estrutura da caixa como forma de determinar qual área do espaço vamos separar?
— Já entendi como funciona. A estrutura das esfera faz o mesmo papel da caixa, mas elas são pequenas e fáceis de armazenar e transportar. O tamanho do objeto não importa, já que podemos expandir o espaço dentro do objeto.
— Como esperado do se….
— Ahem.
A sala em que Jonathan e Elisabeth se encontravam, não estava sob a influência de um feitiço anti-audição sobrenatural, qualquer coisa suspeita que fosse dita, poderia ser ouvida por todos os vampiros em volta.
— Como esperado de um prodígio. — disse Elisabeth.
A mulher deu alguns passos e pegou uma das esferas.
— Você sabe quais as possibilidades de infiltrações temos com isso aqui?
— Milhares, eu diria. Começando pelo fato de nunca ser um suspeito, já que suas armas nunca serão encontradas pela polícia ou seja lá quem estiver procurando.
— Uma vez, infiltramos mais de 100 membros dos nossos em uma festa em que a segurança era pesada. Nós até poderíamos passar por ela com facilidade, mas isso chamaria atenção e o alvo escaparia… Quer dizer, os alvos. Para isso, só usamos magia de transformação e o armazenamento mágico para guardar nossas armas.
— Magia de transformação? A convencional?
— Sim. Aquilo doeu pra caralho. Felizmente temos uma nova magia de transformação, mas os riscos são maiores se você perder a concentração. Pelo menos não dói, não que eu me importe, o problema são os outros.
— Os que falharam no treinamento de dor?
— Sim.
— Quem eram os alvos que você acabou de citar?
— Filhos da noite.
— Sempre eles.
— Esses caras tentam nos derrubar desde nosso primeiro encontro em 1397. Bom, na verdade quase conseguiram. Nós éramos o primeiro clã na escala de poder. Claro, ignorando as famílias e sociedades. Enfim, agora somos o segundo clã. Acho que você já deduziu quem é o primeiro atualmente.
Jonathan suspirou. Com sua audição sobrenatural, Elisabeth escutou um leve ranger de dentes.
“Não o vejo desse jeito a muito tempo. Mesmo assim, essa não é a totalidade de sua raiva. Ele se tornou uma pessoa mais controlada ao perceber que tomar decisões baseadas em sentimentos causam problemas. Pelo menos esse trauma teve alguma utilidade…”
— Em que está pensando olhando desse jeito pra mim? Tem alguma coisa no meu rosto? — questionou o belo rapaz.
— Ahem. Nada, nada. Só não percebi para onde olhava enquanto pensava.
— Sei.
“Como será a relação dele com os colegas? Apesar de não sentir empatia ou gostar de alguém que conheça a pouco tempo, nunca o vi fazer nada de ruim com alguém que não merecia. Por isso ele se agarra tão forte a seus princípios. Mas o que acontece se for forçado a uma situação em que terá que escolher? Meu pai não é mais o líder, seu controle sobre o que acontece é quase nulo”.
— Tenho exatamente trinta minutos para gastar antes da aula começar. Quero me alimentar, você vem comigo? — disse Jonathan.
— Ah! Tem uma pessoa que vai adorar te conhecer. Ela é humana.
A mulher pegou Jonathan pela mão e o puxou.
— Vamos!
…
— Olá, Larissa! Olha só quem eu trouxe.
Elisabeth empurrou a porta bruscamente, fazendo-a bater na parede, causando um estrondo.
— Aí, que susto!
— Desculpa, eu pensei que tivesse escutado meus passos, afinal estou de salto alto.
— Eu estava distraída.
A mulher se aproximou da humana e viu um caderno com o desenho de um rosto. Estava inacabado, mas podia-se ter uma ideia de qual rosto era.
— É meu pai ou Jonathan? Não, é o do meu pai, com certeza.
— Como a senhora sabe?
— Graças a sua incrível habilidade de desenho, posso diferenciar as características faciais. O rosto do desenho é claramente mais velho. Meu pai foi transformado com 25 anos. Jonathan tem 18.
— Eu queria desenhar o rosto dele. — Larissa apontou para Jonathan. — Mas não pude ver direito, então me baseei no quadro do salão principal.
— É literalmente o mesmo rosto, a única mudança é que um é um pouco mais velho.
— Por que a senhora veio aqui?
— Pra te apresentar meu mais novo amigo.
“Essa garota sabe interpretar. É até incrível como ela nem sequer desconfia quando estou mentindo”.
— Jonathan Crane, é um prazer — Beijou a mão da garota.
— Larissa, o prazer é todo meu.
— Ele disse que precisava se alimentar, então eu o trouxe aqui.
Larissa e Jonathan voltaram seus olhares para Elisabeth. A mulher de cabelos cacheados balançava seus olhos alternando entre o rosto dos dois.
— Não se preocupe, não o trouxe aqui para treinar autocontrole. Você não ouviu os rumores?
— Que ele dominou a sede de sangue logo após completar a transição? Todo mundo só fala disso aqui.
— Bem. Você é minha humana e sabe que não deixo ninguém se alimentar do seu sangue. Porém, ele é uma exceção.
— Como aprendeu a se controlar desse jeito? — questionou Larissa.
— Sou um mago, o treinamento de autocontrole pelo qual passei foi rigoroso.
— A maioria dos magos tem vantagem, mas mesmo assim, a sede de sangue é muito forte. Até mesmo Arthur teve dificuldade de se controlar perto dos humanos.
— Bem, já que vocês estão devidamente apresentados, vou te contar um pouco sobre o que uma humana está fazendo aqui.
Elisabeth deu alguns passos em direção a uma mesa e se sentou nela.
— Larissa fazia parte do grupo de humanos pertencentes ao clã Oblivion. Mesmo não sendo vampiros, são considerados membros do clã.
Ela interrompeu sua fala e olhou para as unhas azuis de seus dedos esquerdos.
— Continuando. Esses humanos são a origem do sangue que o clã Oblivion comercializa. Também são responsáveis pela alimentação dos membros do clã. São pessoas que se juntaram a nós por conta própria quando meu pai era vivo, elas se estabeleceram, formaram famílias e deram origem à novas gerações. Atualmente, aqueles que decidirem ficar, ganham muito dinheiro e podem escolher morar em suas próprias casas, mas ainda participando das questões do clã. A função desses humanos não é apenas doar sangue, eles são muito mais importantes. Por serem humanos, podem viver uma vida comum e ainda servirem ao clã, trabalhando em profissões importantes por todos os estados de um país. Um belo exemplo é o pai dela, que é promotor de justiça. Quando algum dos nossos se mete em problemas, ele nos ajuda.
— Então, somos foras da lei? — perguntou Jonathan.
— Quebramos a lei e damos segurança ao povo. Quando chegamos aqui, os ataques de vampiros eram constantes, até mesmo a luz do dia, pessoas morriam. Então estamos quites. Sem falar que só cometemos crimes quando um humano começa a confusão. Ninguém se machuca sem motivo. Bem, às vezes os policiais nos pegam matando vampiros, por não saberem a verdade, acabamos sendo acusados de assassinato… Bem, tecnicamente somos culpados, mas não é da conta deles o que fazemos na sociedade sobrenatural.
— E como humanos se juntaram a um clã de vampiros?
— Esses humanos estão conosco desde que o fundador ainda era vivo. Ele convidou algumas pessoas para morar aqui. Elas teriam proteção, comida, água, roupas, casa e até banho todos os dias. Mas tinha um preço. Elas teriam que doar um litro do seu sangue. Eles aceitaram e suas futuras gerações viveram nesse clã até o ano de 1975, até que Faustos decidiu que a contribuição dessas delas era insuficiente se comparada aos outros membros. E também, é claro, como ele sempre faz, para camuflar suas ações, disse que não queria tratar nossos companheiros humanos como gado, que ninguém aqui era visto como alimento e blá blá blá. Tudo pra não sair mal na fita… Onde foi que aprendi essa palavra, mesmo? Tanto faz. — disse Elisabeth, segurando o queixo com os dedos, tentando se lembrar. A mulher arregalou levemente os olhos e fez uma expressão de esclarecimento, indicando ter se lembrado.
— Meu pai, ao se envolver em um acidente pouco tempo depois de ser transformado, imaginou que o sangue também era reposto após um humano ingerir o nosso. Logo depois de as bruxas se unirem a nós, ele pediu para elas testarem essa hipótese. Com isso, descobrimos que, além da regeneração, a produção de sangue também é acelerada pelo sangue de vampiro.
— Isso é equivalente a ter um estoque infinito de sangue.
— Não é novidade para ninguém hoje em dia. Muitos vampiros vivem entre os mortais sem serem descobertos, usando esse tipo de tática. Não era para acontecer tal coisa, mas infelizmente, há um século, essa informação vazou. Mas relaxa, em nosso território, essa prática é proibida. Além disso, há uma limitação nesse método, as proteínas e vitaminas usadas para repor o sangue são do próprio humano, não do sangue do vampiro, ou seja, ele tem que esperar o humano se alimentar e descansar, para ter mais.
Elisabeth olhou para Larissa e percebeu que ela olhava fixamente para Jonathan.
— Hahaha. Vai deixar ele seco de tanto olhar. Hahahahahaha…— Deu uma gargalhada escandalosa e genuína.
“Como senti falta dessa risada. Não importa o quão madura e elegante você se torne. Suas gargalhadas permanecem iguais a quando você era apenas uma criança”.
Elisabeth falava e agia com elegância. Porém, Seu riso era a única coisa que não combinava com seu jeito de agir, no entanto, com sua personalidade sim.
— A senhora disse que ele precisava se alimentar e o trouxe até aqui. Daqui a quinze minutos começa a aula dele.
— É verdade, você havia me dito antes. Bem, se tu não se importa em se alimentar diretamente de humanos, pode beber o sangue dela.
— Só me alimento com o consentimento da pessoa em questão. Me diga, criança, você me permite ou não?
— Eu não me importo, mas só posso deixar a senhora Elisabeth beber meu sangue.
— Não há problema. Pode deixar ele se alimentar o quanto quiser. Lembra do que eu disse sobre pessoas interessantes? Esse homem é alguém que vai além de interessante….É fascinante.
— É a primeira vez que escuto a senhora dizer que alguém é fascinante. Se você é fascinante para minha senhora, é fascinante para mim. Pode beber meu sangue o quanto quiser. Além do mais, eu já estava querendo saber como é a sua chupada.
Jonathan voltou apenas seus olhos para Elisabeth, que tinha uma expressão malícia enquanto olhava para sua serva.
— Que foi? Talvez ela tenha aprendido algo comigo em nosso tempo juntos.
— Talvez Helena tenha aprendido algo com você também.
A mulher mudou de uma expressão zombeteira para dúvida.
— Oi, como é?
— Não sabe? Talvez não tenha nada a ver com isso.
— Eu realmente estou boiando…. Acho melhor se apressar, sua aula começa em 15 minutos.
O belo rapaz se aproximou da garota de cabelos loiros escuros e olhos verdes claros.
— Tem alguma parte específica do seu corpo que não posso morder?
— Não deixo ninguém além da senhora Elisabeth beber meu sangue, se deixasse, a preferência seria beber pelo meu pulso, mas você pode morder meu pescoço… Se minha mestra permitir.
A mulher de cabelos castanhos assentiu com a cabeça.
Larissa inclinou a cabeça para o lado, deixando seu pescoço vulnerável. O jovem vampiro colocou os cabelos da garota atrás de sua orelha, e os segurou para que não fosse um incômodo.
Seus olhos ficaram vermelhos, os caninos tornaram-se presas.
— Sabe qual o procedimento padrão, não é? — perguntou Elisabeth.
— Não encravar os caninos na jugular.
— Esqueça o procedimento padrão. Isso é para novatos. Antes que me questione, há dois motivos para isso. Um, sou uma vampira experiente e velha, se perder o controle, quebro seu pescoço, dou meu sangue a ela e está tudo certo. Dois, você manteve o controle ao completar a transição, então não há motivos para ter medo.
— Sabe muito bem que se alimentar como vampiro causa mais impulsos assassinos do que em transição.
— Sei bem disso. Eu estou aqui, então pode ficar tranquilo.
— Sinceramente, não precisava ter me dito para não seguir o procedimento padrão. Sou um novato, mas não sigo esses procedimentos. Sabe porque?
Jonathan e Elisabeth disseram em uníssono.
— Porque não sou nada dentro do padrão.
— Porque você não está nada dentro do padrão.
O belo rapaz mordeu o pescoço da garota. Penetrando suavemente suas presas.
Quando a primeira gota de sangue tocou sua língua, seu corpo estremeceu como se mil terremotos acontecessem dentro de sua carne.
Sentimentos explosivos surgiram do fundo de seu ser, fazendo-o querer pular e gritar de alegria.
— Ah, ele tem uma mordida suave. Parece até que é experiente.
Jonathan havia perdido a noção de tempo. Um mero segundo parecia horas. Seus sentidos focaram-se apenas no sangue.
O paladar sobrenatural era capaz de identificar todos os gostos presentes naquele sangue. Álcool, café, bolo de cenoura com calda de chocolate. Até mesmo o tipo de bebida era distinguível.
Gin e energético com sabor de kiwi. Era a bebida que ela havia bebido na noite anterior. Não foi moderadamente, o sangue da garota tinha muito álcool.
As memórias da mulher foram absorvidas consecutivamente pelo jovem. Ele pode ver desde a primeira memória até as mais recentes.
Dentre elas, uma em que ela estava em uma balada, dançando e bebendo. Larissa e seus amigos já haviam bebido muito e todos estavam embriagados, exceto Larissa, que por causa do sangue de vampiro, tinha a residência aumentada contra qualquer substância.
Um veneno letal, causaria apenas dores ou outros efeitos colaterais. O resto das memórias, mostravam a garota levando todos seus amigos em segurança para casa.
O vampiro se perdeu em meio a sensação de saborear aquele sangue de qualidade excelente.
— Droga, ele perdeu o controle.
Em meio ao deleite. A imagem de uma garota adolescente com o pescoço cheio de sangue e a visão de Helena o empurrando veio à mente de Jonathan.
O rapaz soltou a garota repentinamente e ficou imóvel por alguns segundos, olhando para a parede.
— Não perdi o controle. Sou um homem que nunca volta atrás com minha palavra. O que prometi no passado não pode ser quebrado.
— Desculpa, é que o sen- você estava tão imerso. Pensei que havia perdido a noção do batimento cardíaco.
— Como eu disse, os impulsos de um vampiro são maiores do que os que estão em transição.
O belo homem virou sua cabeça em direção a Larissa.
— Tome um pouco de sangue, seu ferimento está vazando muito, se demorar mais, vai morrer de hemorragia.
— Espera! Eu dou meu sangue a ela.
Jonathan parou por um momento e verificou as memórias da garota em sua mente.
— Agora entendi o porquê de chamar ela de sua humana. A criança é uma serva de vampiro.
Ao contrário do termo escravo de vampiro, que é usado para se referir aos mortos-vivos, ou em raras ocasiões a humanos cuja mente está sob a influência do controle mental. O termo servo de vampiro se refere a alguém que se alimenta constantemente do sangue de um único vampiro.
Uma pessoa não pode servir mais de um vampiro ao mesmo tempo. Todos os dias o servo deve se alimentar do sangue de seu mestre. Para se tornar um servo por ligação, é necessário que se alimente três vezes do vampiro e deixe a pessoa a qual quer servir se alimentar pelo menos uma vez de seu sangue.
Caso se alimente do sangue de outro vampiro, a ligação é instantâneamente quebrada. A ligação mútua dura enquanto o humano ainda tiver sangue de vampiro em seu organismo. Essa ligação também pode ser feita entre vampiros, porém eles usam para outros propósitos.
— Servos de vampiro. Algumas culturas e lendas os chamavam de ghoul.
Elisabeth mordeu seu pulso e deu sangue para Larissa.
— Informações incorretas foram passadas para as novas gerações. Ghoul é o termo usado para se referir aos nossos mortos-vivos, não aos servos. Um servo, na maioria das vezes, se junta a você por pura vontade, um zumbi, não.
Devido a ligação entre o vampiro e servo, a pessoa passa a aceitar de bom grado às ordens de seu mestre. Mesmo que ele se recuse a seguir uma ordem, uma sensação de dever e ingratidão toma conta da pessoa. Além do fato do vampiro ficar irritado e não fornecer mais sangue a ele.
— Tenho que ir, faltam 5 minutos.
— Eu te acompanho. Tenho que fazer o mesmo caminho de qualquer forma.
…
Ao chegar na sala de aula, Jonathan parou na porta e olhou em volta.
“Mais da metade dos alunos dessa turma já chegaram”.
O belo jovem estava na turma A. A turma a qual o estudante iria ficar era decidida conforme o número da equipe a qual o acólito pertencia.
O total de salas era 7, indo da turma A até a G. Cada sala podia conter um total de 14 equipes, ou 42 alunos. Porém, com a chegada de Jonathan, haviam 301 pessoas, fazendo com que uma das turmas tivesse 43 ao invés de 42 alunos.
O belo jovem chegou 2 minutos antes do horário. Ele sentou-se e esperou.
Passados dois minutos, a professora chegou. Ela usava óculos, vestia um paletó e saia formal de cor cinza.
— Bom dia, crianças. Meu nome é Amy Stronghold. Serei a professora de vocês. Darei aula sobre magia e vampirismo. Sou uma bruxa vampira, então sou uma ótima candidata a dar aulas.
Amy ajeitou os óculos, deu três passos a direita parou e virou-se para seus alunos.
— Sou uma anciã de 588 anos. Então exijo respeito não só como professora, mas também pela minha idade, posição e força dentro deste clã.
Ela pigarrou e ajeitou os óculos novamente.
— Dito isso, vou lhes dizer o que irão aprender hoje e amanhã. Irei contar a vocês toda a história da criação do clã Oblivion e também, como surgiu a convenção Imortal. Já adiantando, nossa convenção leva esse nome porque uma grande parte das bruxas também são vampiras. Ou seja, somos uma conversão de bruxas cuja os membros são imortais. Então faz todo sentido minhas ancestrais terem adotado esse nome. Eu sei que é meio óbvio, mas nossa convenção não atendia por esse nome antes. Bem… deixemos isso para depois. Também há algo importante sobre o vampirismo que precisamos revelar a vocês. Sendo mais específica, irei lhes explicar os processos por trás de todas as nossas características.
A porta se abriu e Elisabeth, Sara e Helena entraram.
Jonathan que até então, olhava para os lados sem prestar muita atenção, focou-se na aula.
“O que minhas crianças estão fazendo aqui? E a Helena também… acho que já entendi. Querendo ou não, se ela não tivesse me transformado, nada disso existiria. Acho que é justo que ela também seja considerada parte da história desse clã”.
— Para contar a história da nossa família, primeiro temos que começar pelos primeiros membros. Tenho que deixar bem claro que somos uma família apenas por consideração. Como uma organização, somos um clã. Como organização, apenas os puro-sangue podem criar uma. Uma família é todo e qualquer vampiro que tenha sido transformado por um puro-sangue e seja considerado por ele como parte de sua família. Há também os membros de segunda geração, mas isso não vem ao caso nessa aula. Entenderam?
— Sim!
— Por que não tornar essa aula ainda mais interessante? Sendo assim, vamos ouvir a história do clã Oblivion da boca de quem estava lá, certo? Vamos começar pela pessoa que tornou tudo isso possível, afinal se não fosse por ela, nosso fundador teria morrido como um simples humano. — Amy fez gesticulou em direção a Helena e continuou. — Apresente-se.
— Meu nome é Helena Bragança e como vampira, tenho 1043 anos. Sou a pessoa que transformou Vladmyr. Não irei me prolongar muito, mas em resumo, eu e Vlad, éramos noivos por casamento arranjado. Ao contrário de muitos noivados, eu e ele nos amávamos. Por motivos egoístas eu o deixei, mas acabei percebendo que não valia a pena viver sem ele, pois o amava… Ainda o amo. Voltei 5 anos mais tarde e mostrei a ele o que havia me tornado. Compreensivo como sempre, tentou entender meu lado.
Helena suspirou, demonstrando claramente a dificuldade que tinha em desenterrar certas lembranças.
“Quem diria que iria se arrepender do que fez no passado. Você não me comove. Por mim pode sofrer pelo tempo que for, sempre será merecido”. Pensou Jonathan.
— O transformei com a promessa de viver pra sempre ao seu lado, porém devido a problemas pessoais, o deixei novamente, no entanto não voltei para ele dessa vez. Sei que não são ações nobres, mas eu era jovem e tola. Após isso, nunca mais tive notícias dele, apenas de sua família. Fiquei sabendo que os pais dele desapareceram misteriosamente. Sei que essa informação não vem ao caso, mas acho que é importante citá-la aqui. De repente desperta algum gatilho na mente de vocês, facilitando a recuperação das memórias. Bem, é isso, não tenho mais nada a dizer.
“Gatilho? Não me importo com a morte deles. Nunca foram meus pais nem em minha vida anterior. Os únicos pais que realmente tenho são Suzan e Marcos, nada pode mudar isso. Podem me matar um milhão de vezes, nunca irei negar esse fato”.
— Bem, acho que é nossa vez. Olá, crianças, como vocês estão?
— Bem! — Todos os alunos responderam, exceto Jonathan.
“Voltei ao fundamental. Que evolução emocionante”.
— Ótimo! Vamos começar pelo básico. Eu sou Elisabeth e essa é minha irmã.
— Sou Sara.
— Não liguem para ela. Minha querida irmãzinha sempre foi mais adepta ao humor de nosso pai. Quero dizer, rabugenta. Já eu, sempre fui a mais…
— Sem noção. — disse Sara.
— Espontânea. Não seja cruel com sua querida irmã.
“Rabugento, é? Sempre gostei da sua personalidade, porém há vezes que você passa do limite”.
— Antes de começarmos, tenho que deixar duas coisas claras. Uma delas pode ser que alguns de vocês saibam, mas a outra não. Bom, a primeira coisa é que eu e Sara, somos irmãs gêmeas. Não idênticas é claro, não me venham com perguntas bestas. A segunda coisa é que eu e Sara não somos filhas de sangue do nosso fundador, somos adotadas. Vocês entenderam?
— Nossa, eu jurava que eram filhas biológicas.
— Bem que notei que elas não se pareciam com ele.
— Sei lá derrepente elas fossem mais parecidas com a mãe.
Uma pequena agitação surgiu depois de Elisabete ter revelado essa informação.
— Ok, vamos lá, silêncio. Nós fomos as primeiras pessoas que nosso pai transformou. Também somos as primeiras membras desse clã. Nós conhecemos o fundador a mais de oitocentos anos atrás, quando nossa cabana havia pegado fogo e ficamos presas dentro.
Elisabeth interrompeu sua fala e deixou que Sara continuasse
— Por sorte, destino ou, caso algum de vocês seja cético, por razões aleatórias. Meu pai estava passando por perto e viu nossa casa em chamas. Ele usou suas habilidades sobrenaturais para nos ajudar. O fundador conseguiu tirar nós duas e o nosso pai biológico da casa, mas ao tentar salvar nossa mãe, um pedaço de madeira caiu em suas costas e ele acabou virando cinzas junto com nossa amada mãe.
Elisabeth continuou a história.
— Vagamos por muito tempo mendigando até que nosso pai cansou-se da gente nos vendeu. Nosso criador nos encontrou algum tempo depois e decidiu conversar conosco. Bom, vou pular essa parte pois vocês já devem imaginar reação de um humano descobrindo a existência de vampiros, certo? Ele nos contou a verdade e convidou-nos para fazer parte da família que estava prestes a criar.
Sara novamente continuou a contar.
— Nessa família ninguém ia abandonar uns aos outros. O amor e amizade que teríamos, iria ser mais forte do que qualquer relação sanguínea por mais forte que fosse. Nessa família iríamos viver e morrer uns pelos outros. Sem muito a perder, aceitamos e ele nos deu seu sangue. Bebemos juntas e morremos juntas, nos tornando assim.
Elisabeth e Sara disseram em uníssono.
— Os primeiros membros do Clã Oblivion e dando início a nosso clã.
— Depois disso, nenhuma pessoa foi convidada a fazer parte do clã até o ano de 1275. O ano em questão foi quando Faustos Miller, o atual líder, se juntou a nós.
— Bem, isso é tudo sobre a criação do clã. Antes de começarmos a aula sobre o funcionamento do vampirismo, lhes farei uma pergunta.
A professora ficou em silêncio por alguns segundos e olhou para os rostos de todos os alunos. Jonathan foi o último para quem ela olhou. Seu olhar não saiu dele.
— Como acham que o vampirismo surgiu?
Um dos alunos levantou a mão.
— O mocinho aí de trás. Como se chama?
— Cristofer. Pelas características do vampirismo, eu diria que foi criado por um bruxo ou bruxa, mas a magia que alimenta os vampiros não é a mesma que as bruxas usam para fazer seus feitiços.
— As bruxas não utilizam feitiços, porém eu explico isso outro dia. Voltando ao assunto anterior, que tipo de características referindo-se?
— Meu criador disse que a única forma de alguém que não é vampiro tem de matar um de nós é com uma estaca de madeira. Porém isso só é válido para vampiros abaixo do nível superior. Então, perguntei o que acontece se perdermos a cabeça. Ele naturalmente respondeu que se não for colocada no lugar em um certo período de tempo, outra cabeça cresce no lugar. Por curiosidade perguntei o que acontece com o cabelo. Tipo, fica careca ou cabeludo. Meu mestre respondeu que o cabelo cresce exatamente igual ao que era antes, não importando o corte. Então fico me perguntando, como isso é possível? Regenerar uma cabeça é uma coisa, mas o corte de cabelo… É como se tivéssemos um registro das mudanças do nosso corpo.
— E temos. Essa característica está nas instruções do vampirismo. Explicarei o que é isso, mas antes, tenho que explicar sobre o que o colega de vocês acabou de dizer. A energia mágica que está em nossos corpos, não é a mesma que as bruxas humanas utilizam, e para que vocês entendam o porquê do vampirismo não parecer natural, é extremamente necessário que eu explique os três tipos principais de energia mágica e suas variações.
“Variações, em minha antiga vida, tínhamos conhecimento de apenas três tipos”.
— Vamos começar pela mais fraca, mais fácil de dominar e usar, porém ironicamente mais útil em combate corpo a corpo: a mana. Fonte de energia dos magos. Por sorte, temos um em nossa classe, não é Jonathan.
Todos da classe voltaram sua atenção para o jovem, que sentiu-se levemente incomodado ao ser observado pelos colegas.
— Não vai participar da aula?
— Apenas receber o conhecimento que você tem a compartilhar é o suficiente. Para mim esse é o melhor jeito de participar.
“Você? Garoto abusado. Bom, tanto faz. Só tive alunos bundões por mais de 40 anos, vai ser bom ver algo novo. Os estudantes anteriores não respondiam sequer um “a” para mim. Não por respeito e sim por medo”.
— Como vou saber se está acompanhando o que digo se não participar?
— Com exames é claro. É pra isso que eles servem.
— Se não quiser participar, o problema é seu. Não sou obrigada a bajular nenhum de vocês. Não se esqueçam que são adultos agora.
A professora ajeitou os óculos e continuou.
— Recapitulando. A mana é fonte energética dos magos. Essa energia origina dos seres vivos, todos sem exceção. Plantas, animais, insetos, algas, fungos e claro, os vampiros também. Nós estamos vivos, quero deixar isso bem claro. Podemos ter filhos, beber, comer e mais uma infinidade de coisas que os humanos podem. Não somos tão diferentes deles, somos uma versão modificada, literalmente fomos reprogramados.
A professora pigarreou e prosseguiu com a aula.
— O segundo tipo é a energia mágica comum. Utilizada pelas bruxas. Diferente da mana, ela não é útil em combate corpo a corpo. Pelo menos não em sua forma mais pura. No entanto, ainda é útil em combate. Porém permite a execução de magias mais complexas, como o rastreamento. Também é possível reviver os mortos. E não, não estou falando de necromancia. Com a mana é até possível fazer isso, porém o processo é tão difícil e complexo que seria necessário um grupo gigantesco de magos envolvidos em um ritual que duraria vários dias. A mana tem suas magias e feitiços baseados em elementos da natureza, como fogo, água e eletricidade, por exemplo. Já a energia mágica comum, baseia-se na manipulação completa da magia.
O cabelo de Amy, cujo penteado era um coque mantido por uma caneta, começou a se desfazer. Ela parou, desmanchou-o e o refez novamente, espetando a caneta para segurá-lo.
— Até vinte anos atrás não sabíamos a origem dessa magia… Porém hoje, os tempos são outros e, graças ao avanço da ciência e a escolha dos humanos de abandonar a superstição e se agarrar a lógica, conseguimos achar respostas que jamais imaginamos conseguir até esse século.
Jonathan, direcionou seu olhar para a professora.
“Parece que isso te interessa. Essa sua atitude indica que sabia das informações anteriores. Pouco importa, pelo menos não atrapalha a aula, conversando ou fazendo bagunça. Infelizmente alguns idiotas não crescem junto com o corpo e idade”.