Quantyum: A Queda da Humanidade - Capítulo 2
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Eu me afundei em uma poltrona preta de um corredor fechado que a diretora pediu que eu esperasse, ela havia de dito que eu não poderia observar as batalhas dos concorrentes porque isso me daria uma vantagem “Decisiva” na última luta, após isso, me guiou até este local e disse que iria organizar uma sala para que eu me preparasse.
Sinceramente acho desnecessário tal medida, é extremamente raro que algum aluno entre pelo campeonato de seleção, já que os defensores sempre estão sempre nas melhores colocações da escola.
As garotas não pareciam apresentar nada de especial, o garoto… bem, mesmo com aquela primeira impressão esquisita, deve ser apenas um garoto comum, afinal, é extremamente raro nascerem garotos com uma boa afinidade com o Quantyum, estamos em pleno ano 983 P.q, o último relato de um garoto com uma boa afinidade foi a cerca de cem anos.
— Tudo pronto! — A diretora abre a porta repentinamente
Disfarcei o susto que havia levado rapidamente e perguntei — Isso realmente é necessário? Não vejo a necessidade de um aquecimento.
— Acredite em mim, se aquecer é melhor que ficar aqui sentada esperando e evita que você distenda o musculo.
— Você já organizou tudo de qualquer jeito, eu prefiro não desperdiçar seus esforços
— Me siga, por favor
Me levantei e a segui, atravessando o pequeno corredor. Depois de muitas curvas, corredores e portas chegamos a um elevador, de acordo com a diretora a sala se encontrava no andar menos cinco.
Diferente do térreo, o andar menos cinco parecia voltado especificamente para aquecimentos, suas paredes, metálicas e completamente lisas, possuíam um tom de cinza com linhas vermelhas horizontais e diversas portas feitas de metal com um aspecto resistente.
Consegui ouvir sons de disparos e explosões vindos de dentro de algumas delas.
— Aqui, esta será sua sala — falou a diretora, enquanto apontava para uma porta mais próxima, muito parecida com todas as outras que se encontravam no recinto
— Você irá me acompanhar ou…?
— Não se preocupe, o ambiente é monitorado eu estarei em uma pequena sala observando, aproveitarei para fazer um check-up em você, batimentos cardíacos, pressão, coisas do tipo.
— Compreendo — Disse, já me encaminhando para a sala
— Há! Você vai encontrar a sua arma no caminho para a sala.
— Obrigada.
Sem mais delongas, abri a porta, e adentrei o que parecia um pequeno corredor, enquanto ouvia a mesma fechar atrás de mim.
Mais adiante, encostada na parede com uma bainha azul escura, estava uma espada, confeccionada especialmente para mim. Me aproximei e na hora de pegá-la, vi a pequena etiqueta que sempre a colocam não importa quantas vezes eu arranque:
Cod:2.134459-06.
Portadora: Jessy Ligther
Material de fabricação: Lonsdaleíta
Codinome: Shinner
Eu a segurei pelo cabo em forma de cruz, seu punho de couro vermelho possuía ao redor uma espécie de proteção espiralada que subia até a lamina, seus punhais dourados refletiam o brilho da pequena luz que brilhava na base da espada.
Lentamente, retirei a espada da bainha até que a deixei cair no chão, flácida. Eu provavelmente já havia usado essa espada milhares de vezes, mas sempre me encanto todas as vezes que a desembainhava.
Em minhas mãos estava uma espada de folha larga de aproximadamente noventa centímetros, sua lâmina possuía uma coloração roxa que se degradava em rosa até sua ponta, a arma possuía um brilho próprio, proveniente de seu material.
Segurei-a pelo cabo, deixei sua ponta encostar no chão e voltei a caminhar pelo corredor, atrás de mim pequenas fagulhas saltavam resultantes do encontro da espada com o chão metálico.
Normalmente, isso poderia danificar espadas comuns, mas eu não me preocupei, eu sabia que quando fosse utilizá-la, minha espada não possuiria um simples arranhão.
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— Ela me parece preparada — falei, enquanto observava a garota transformar em retalhos cinco fantoches em tamanho humano — Mesmo sendo o seu primeiro ano como defensora
— A condição física está excelente — Diz Maurice, Coordenador honorário do subnível cinco — Bem melhor do que a última vez que checamos.
— A condição da Shinner, como está?
— A mesma de sempre, isso até me preocupa um pouco, nunca vi uma espada com condições tão fixas, mesmo depois de ser utilizada por dois anos, pela Jessy, ela ainda permanece imutável, não encontraram um mero talho na espada.
— Isso já era previsível, se considerarmos o material da dela.
— Sim — Ele tira os olhos das câmeras e se vira para mim — Então, diretora Scarlett, como está o campeonato?
— Humm — Eu pego meu celular e dou uma olhada — O garoto está indo bem, ao que me parece.
— Tem alguma chance?
— De vencer a Jessy? — Eu exibo um sorriso, deixando-o sem resposta
— Quanto falta para terminar a última batalha?
— Você está bem curioso hoje em Maurice. — digo em tom de aviso — Cerca de vinte minutos
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O suor escorria por todo o meu rosto, a roupa que eu havia encontrado para treinar, agora jazia encharcada.
A diretora estava certa ao me dizer que um treino faria bem, eu me senti mais concentrada, o resquício de tensão se foi junto aos fantoches que eu havia retalhado, minha mente se encontrava tão resiliente como um oásis no deserto.
Depois de ficar encarando o que restou dos fantoches, coloco a espada encostada na parede para descansar um pouco.
— Parece que gostou do treino — diz uma voz atrás de mim
Eu me viro e vejo a diretora, encostada na parede
— A quanto tempo você está aí?
— Isso não importa, importa? — Ela responde, balançando os ombros — A primeira fase acabou. Sabe o que significa, certo?
Eu esboço um pequeno sorriso, havia chegado a hora. enxugo meu rosto com uma toalha que estava ao lado, e caminho para a porta.
— Onde pensa que vai nesse estado?
— Hã… — Olho para baixo e vejo que estou encharcada de suor — Não dá tempo de tomar banho? Dá?
— Claro que dá, você não vai aparecer em público neste estado, obviamente — A diretora pegou um pequeno controle na mão e apertou um botão, uma pequena porta se abriu na lateral da sala — Você tem dez minutos.
Eu corro para a sala que havia acabado de se abrir. Lá, me deparei com oque esperava, um pequeno banheiro, meu uniforme dobrado em cima de uma bancada e um box com chuveiro,
Não observei demais detalhes, me despi rapidamente e me enfiei debaixo do chuveiro com a mente a mil, pensei nas mais diversas estratégias, das melhores as piores, de simples as complicadas, então, de repente eu percebi, em todas as minhas simulações o inimigo era aquele garoto, mas isso não podia estar certo, eu nem sabia quem havia passado na primeira etapa e as chances de ele passar eram baixas.
Chega — Pensei — Não importa quem tenha vencido, eu não irei ser derrotada. Prefiro mil vezes morrer a encarar outro daqueles olhares da minha mãe
— Dois minutos! — Grita a diretora do lado de fora
Desliguei o chuveiro e me enxugou rapidamente, visto meu uniforme, que agora possui um broche fixado no ombro, a logo da escola. Saio do banheiro correndo e pego a espada no embalo, a diretora me acompanha a passos largos.
— Mostre o caminho. — Peço
— Com todo o prazer.
Ela me guia, subimos o elevador, e começamos a correr no instante em que as portas se abrem, a diretora pega em meu braço e aumenta a velocidade, quase me derrubando.
Ela parecia conhecer exatamente o caminho para onde devíamos ir, não hesitou uma única vez nas diversas bifurcações que tivemos. Ao pararmos, me vi diante de um portão cinza-escuro com detalhes azuis, ao lado dele, um painel exibindo o formato de uma mão aberta.
A diretora posicionou sua mão no painel, e lentamente, o portão se abriu. Em seu interior, só jazia a escuridão.
— Entre, rápido!
Eu me apresso e entro, escuto o portão se fechar atrás de mim, deixando-me no completo vazio.
— E do outro lado! — Ouço uma voz desconhecida, claramente amplificada por caixas de som — A nova aluna do ensino médio em seu primeiro ano como defensora! O escudo mais letal! A rosa com os piores espinhos! Filha única da família Lighter…!
Quanto exagero — Pensei envergonhada
— JESSY LIGTHER! — Grita o narrador. No exato momento em que ele fala meu nome, um feixe de luz adentra o local onde eu estava e começa a se alongar. Instintivamente, coloco a mão sobre o rosto por causa da iluminação repentina, quase tampando meus ouvidos em seguida, devido ao grande urro do público da arena.
Dou alguns passos à frente, e saio de onde quer que eu estivesse. Primeiramente, reparo que ao invés de terra, o que agora cobria o chão da arena era grama, completamente diferente do que eu havia visto antes. Em seguida, reparo em quem eu iria enfrentar.
Era ele, o garoto de cabelos brancos, possuía alguns ferimentos no braço, a roupa típica de todos os competidores, camisa cinza com calça de tactel leve e chinelos. As vestimentas possuíam alguns rasgos e manchas de sangue, mas fora isso, ele parecia bem.
— Se preparem! — Ordenou o narrador
Rapidamente, me coloquei em postura de combate, as duas mãos no cabo da espada e com a face plana da lâmina ao lado do meu rosto.
— Que comece! O último duelo deste torneio! — Grita a voz, seguida de uma enorme sirene.
Mas nós não começamos, ficamos parados, em posição de combate, analisando um ao outro, os olhos do garoto, castanhos, quase pretos, pareciam analisar a composição da minha alma.
O silêncio da plateia me parecia enlouquecedor, a brisa fria da manhã varria a grama em pequenas ondas e bagunçava meus cabelos, acima de nós, nuvens negras cobriram o sol.
Eu estava com os sentidos ligados ao máximo, podia sentir as correntes de ar, escutar a respiração de milhares de espectadores, e ver cada folha de grama cedendo perante a força do ar, ao mesmo tempo percebi que o garoto do outro lado da arena sentia as mesmas coisas.
Estávamos à espera de uma falha, por menor que fosse, mas sabíamos que ela não ocorreria facilmente. Então, eu escutei, pequeno e rápido caindo no meio da arena.
Plic!
Uma gota de chuva. Nós soubemos imediatamente. Era agora. Ou nunca.
Em um raio, cruzamos o espaço que nos separava, nossas espadas se encontram, a força de impacto causa uma pequena onda de choque ao nosso redor.
Eu quase cometi um tremendo erro nos primeiros dez segundos de luta, pega de surpresa pela resistência oferecida pela espada do garoto, não usei força o suficiente, o impacto entre nossas armas fez com que meus braços se arrepiarem e quase soltassem a arma.
Depois de alguns segundos na mesma posição, eu tiro os olhos das espadas e o encaro. Seu olhar era como um imenso deserto congelado.
— Qual seu nome — Perguntei
— Você deve ter ouvido — Ele responde, sua voz parecia expressar tudo que seu olhar revelava, como se não houvesse resquício de sua própria personalidade.
— Cheguei enquanto me anunciavam
— Hu… — Ele exibe um pequeno sorriso sinistro — Nesse caso… Porque eu deveria te contar
Com suas últimas palavras, ele me empurra para longe, não pude evitar, já que não imaginava esse movimento.
— Eu estou sendo benevolente e perguntando seu nome. — Digo a ele — Não costumo saber o de todos os que eu derroto.
— Sendo assim, é bom saber o nome de quem te vence, certo?
— Sonhar é bom, garoto, mas sonhar alto demais…
— Aaron FastShine. — Responde com um sorriso
— Muito bem, Aaron. Agora, se me der licença — falou levantando a espada — Vou abaixar sua autoestima.
Ele assume posição de batalha, eu tento cruzar a distância que nos separa, mas, no meio do caminho sou interrompida, algo salta para fora da terra. Eu desvio por instinto, mas ainda sim fico com um arranhão horizontal na bochecha, sangue quente escorre do ferimento.
Depois de me afastar alguns passos, percebi o que havia emergido do chão, era um tipo de espinho metálico prateado, que agora possuía quase três metros de altura por dois de largura.
— Pois se você me der licença — Diz o garoto do outro lado da arena — Vou queimar sua língua.
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