Passos Arcanos - Capítulo 60
Quando o anúncio foi dado, as vozes morreram e a barreira que projetava o grande Quadro Arcano se abriu. O empurra-empurra gerou gritaria e uma mulher teve os cabelos puxados e foi lançada ao chão.
Sem tempo de se levantar, as pessoas passaram por cima dela e correram pra dentro da imensa floresta.
Orion assistiu o grupo da mulher fazer uma barreira ao redor e esperar que conseguisse se levantar para correrem juntos.
Não é uma corrida de verdade. Os pontos que o sistema vai me dar são por captura e também por criatura abatida. Eu posso esperar mais um pouco.
Mais cinco minutos, o tempo que Orion ficou com sua lança em mãos. E não só ele, outra pessoa tinha feito o mesmo, na outra ponta da barreira. Os cabelos eram curtos e brancos, forçar a vista ajudou Orion.
A mulher era Eliza Atena, a aprendiz de Ofélia. Por sorte, ela não o viu ali.
Orion deu partida e saiu correndo. A barreira oscilou ao entrar em contato com ele, e uma energia pareceu perdurar a sua volta. Seu Quadro Arcano diminuiu, marcando o número zero ao lado de seu nome.
E um rugido. Orion olhou para o lado e viu um tigre pular em sua direção. Era listrado e com dentes bem afiados. Sua lança girou em seu dedo e usando o cabo, golpeou o pescoço dele. Lançou-o no chão e girou a outra ponta, perfurando seu peito.
Normalmente, seu corpo esguicharia sangue. Esse tigre se transformou em uma gosma azulada, deixando uma esfera minúscula no lugar. Orion a pegou e guardou. Olhou novamente para o Quadro.
— Um ponto. Um tigre vale tão pouco? Que exagero.
Ele continuou avançando na floresta. Não sabia para onde estava indo já que não existia mapa para se basear. A única coisa que via eram as pessoas correndo e lutando. O grupo que protegeu a mulher tinha sido encurralado por vários babuínos por cima das árvores que usavam machados.
Eram animais bem evoluídos.
Assistiu por alguns minutos a tentativa falha de tentarem acertar os babuínos. E deu as costas, prestes a ir embora.
— Ah, merda.
Um Urso Negro, suas garras eram feitas de lâminas e andava sobre duas patas. Essas criaturas beiravam o absurdo. A sorte de Orion era que a mana delas não era tão forte.
Depois de desviar duas vezes das patas metálicas, Orion mudou a lança de lado e cortou o braço da besta depois de outro ataque. Seguiu o movimento e arrancou sua cabeça num arrastão de lâmina.
E os babuínos continuavam gritando e atirando machados de cima das árvores.
Orion guardou sua segunda esfera. Seus pontos aumentaram em um, outra vez.
— Isso não parece uma corrida. É mais uma caçada. E as pessoas que entraram são as presas.
Ele pegou sua arma, guardou novamente e saiu andando na direção oposta. Ali, o número de criaturas que derrotou foram até vinte. Eram sempre os mesmos. Tigres, Ursos, Babuínos e algumas abelhas que não suportavam fogo.
Por quase uma hora, ele permaneceu naquela área matando as criaturas que não acabavam nunca.
Quando pegou sua trigésima esfera, olhou os pontos no Quadro Arcano.
— Trinta pontos também. Cada animal deve dar uma esfera e uma quantidade de pontos. Mas, eu já matei mais do que deveria ter. E mesmo assim — ouviu os berros vindo de cima das árvores e o tintilar de aço contra aço —, eles continuam aparecendo.
Se os inimigos eram intermináveis, poderia testar sua mais nova arma. A manopla mágica.
Um machado voou em sua direção e Orion desviou, deixando que agarrasse no chão. Eram dez pulando de galho em galho, e focou o resto da mana em seus olhos. Captou os movimentos que aplicavam ao se mexerem e também ao atacarem.
Os dedos agarravam nos galhos na hora de lançar armas e suas patas torciam na lateral para correr.
Simples e fácil.
Esperou que outro machado viesse e não deixou que perfurasse o solo. Deu um passo para o lado e agarrou o cabo ainda no chão, puxou a arma do chão e jogou na direção das árvores. Correu em seguida na mesma direção.
Os machados serviram de degraus. Orion pulou para o primeiro e depois para o segundo, chegando no topo dos troncos. Os babuínos berraram de surpresa, e quando viram o humano avançar com agilidade, da mesma forma que eles, gritaram de ódio.
Ele estava copiando suas técnicas de movimento.
Orion passou por eles usando as mãos abertas. Acertou o pescoço, o olho, perfurou o peito e rodopiou no ar com um chute, acertando a cara dos babuínos e conseguindo se equilibrar em seguida.
Usou a mana na sola dos pés e se atirou mais para o alto. Encarou os cinco restantes e sorriu.
— Lança de Aço.
Sua arma veio de encontro com sua mão, surpreendendo-os. Ele já caiu cortando dois ao Meio, perfurando o terceiro e agarrou a cabeça do quarto. O quinto tentou pular pra cima dele, mas atirou o quarto e perfurou os dois no ar.
Mais dez babuínos tinham ido embora.
E ouviu, não muito distante, mais berros deles.
Não vai acabar nunca.
Recolheu as esferas ganhas do chão e tocou o solo, sugando um pouco de mana para sua manopla. Viu mais babuínos vindo e criou uma runa.
— Hidro: Chuva.
Os babuínos pararam de correr ao serem acertados por imensos jatos de água vindo de cima. Uns foram mortos na hora, outros caíram no chão, tentando se levantar, mas sendo golpeado incessantemente pela água.
A quantidade de mana usada tinha sido bem branda. Orion sentiu que a dificuldade maior em conjurar magia seriam aquelas de Grau Dois ou Três. Contanto que usasse as mais básicas, não teria problema com a dormência nos braços.
Poderia testar mais magia assim.
— Lyn: Fagulha Elétrica.
Uma runa azul cresceu ao lado da primeira. A água que era bombardeada por outras runas maiores ganhou uma parceira nas costas. Um pequeno risco eletrificado acertou a água e a descarga resultou numa trovoada ensurdecedora.
Até Orion protegeu o rosto. Quando o som parou de se propagar com tanta intensidade, procurou os corpos dos Babuínos. Foram todos carbonizados.
Cessou as duas runas e pegou mais sete esferas. Já tinha 57 pontos também.
A única coisa que não tinha sentido era o fato dos animais o atacarem como se fossem lunáticos. Não sentiam medo ao verem seus aliados serem mortos ou sumirem. Atacavam no mesmo padrão, como se fossem ordenados a isso.
Depois de mais uma hora, Orion pegou cem esferas e cem pontos igualmente. Cansado de carbonizar, afogar, sufocar e afundar babuínos e tigres, sentou-se em cima de uma árvore, bocejando.
Lutar era divertido, mas qual era a necessidade de ficar ali o tempo todo?
Abriu seu Quadro Arcano e reparou em um pequeno ponto ao lado de seu número de pontos. Clicou e viu o nome das pessoas que também entraram. Ele estava em uma posição bem perto dos últimos, com míseros cem pontinhos.
Viu o nome de Eliza e seus quinhentos pontos, ficando impressionado. Ela estava em quarto lugar, apenas cem pontos atrás do primeiro. Pra conseguir avançarem tão rápido, eles precisavam de grupos que contabilizavam juntos seus abates.
Ficar sozinho na Corrida do Baiacu era desvantajoso já que teria de lidar com os inimigos sozinho e o cansaço o deixaria exposto.
Quando viu mais babuínos correrem em sua direção, Orion usou uma magia de vento e derrubou todos no chão. Esperou que eles subissem e os derrubou de novo. Fez aquilo dez vezes, rindo todas as vezes que caíam de bunda no chão.
Depois, os derrotou com lâminas feitas de ar. Usou a mana da própria árvore pra isso.
No final das contas, a beleza do Sol Negro era sugar e liberar.
Descansou por mais uma hora e saiu andando pelos galhos. Derrotou quem viesse em sua direção, conseguindo mais algumas dezenas de esferas. Era entediante ver que nada mudava e que a distância entre ele e os primeiros colocados só aumentava.
Estava ali pra treinar, mas era um treino chato.
— Como posso deixar mais divertido? — Era a pergunta que fazia sempre que estava entediado em casa com as runas. Bateu na própria mão. — É óbvio. Usar as runas.
Um Urso Negro berrou não muito distante dele só que apontava sua hostilidade para outras pessoas. Orion viu a dificuldade deles e seguiu adiante, caminhando até eles.
— Ei, esse Urso é nosso — um dos Cavaleiros segurava sua espada, mas se atentava ao animal. — Se afaste.
Orion ergueu os dedos e estalou.
No final das contas, eu sou Orion Baker e o Professor também.
O Urso ficou agarrado em uma runa rosa que afundou o solo, o jogando dentro de um buraco.
Os quatro ficaram abismados só de verem a besta se debater para tentar escapar. Não conseguia pular e suas patas metálicas perfuravam a terra sem conseguir prender-se.
— Fácil e estranho. Eu só usei uma magia básica de remodelar no chão e conseguiu criar um buraco. Certo, o que posso fazer a mais? — Outra runa cresceu sobre a cabeça do Urso. — Gali: Pressurizador.
A imensa pressão gravitacional condensou o corpo da criatura até que explodisse.
Não houve sangue, mas a esfera que escapuliu de seu corpo voou para cima das pessoas ali presentes. Orion não se importou com a esfera.
— Foi bem fácil. Não são resistentes a nada, nem ao atrito do ar.
Ver uma magia explodir um animal tão facilmente deixou as pessoas medrosas em relação a Orion. Assim que os viu, recuaram na mesma hora, erguendo suas armas.
— Ah, podem ficar com a esfera. Sabem de algum lugar que tem bastante inseto por aqui?
— Insetos? — a mulher com o cajado perguntou. A magia que assistiu explodir o Urso Negro era gravitacional, bem diferente das comuns que encontrava em sua cidade. — Tem a Tumba dos Mosquitos, perto do Vale da Ruína.
— E sabem pra onde fica?
Ela apontou. Seus dedos tremiam.
— Só seguir nessa direção.
Orion agradeceu e saiu andando. Já afastado, o Cavaleiro xingou e gritou para a mulher.
— Por que disse pra ele onde fica aquele lugar? É uma mina de ouro pra gente, sua idiota.
— Se soubesse que a runa que ele utilizou foi uma de Grau Dois, não ia me xingar, imbecil — respondeu, irritada. — Aquele cara deve ser algum Mago vindo de uma cidade comerciante. Não viu a calma dele?
O Cavaleiro e os outros se calaram. A mulher continuou:
— Ele não parece estar aqui pra ganhar dinheiro. Parece mais interessado em se divertir. Só de sentir a mana dele, eu me arrepiei toda. Era um fluxo perfeito.