Passos Arcanos - Capítulo 273
Antonio Forwe foi escoltado para um pátio afim de usar seu pergaminho. Os outros ficaram extremamente insatisfeitos. Tinham ido até ali atrás de Lafel, ele era parte do plano para que um dos filhos bastardos do Mestre Forwe fosse alocado em primeiro na sucessão.
Ainda precisava dele, de uma maneira ou de outra.
— Podemos marcar uma segunda reunião – Alique Forwe falou. — Tomamos o garoto a força e vamos embora.
— Um fica e os outros fazem isso – Marcius disse. — Seria a escolha sensata. Se voltarmos, os outros vão ficar muito putos. Era pra levarmos o garoto de vez.
Antonio concordou com leveza já com o pergaminho na mão, mas não o abriu.
— Aquele Baker sabe bastante das coisas que fazemos. Pode ser que a rede dele seja melhor que a nossa. O Jornal Continental está sendo bem pago pela gente, mas não sabemos muito de quem financia o restante. Temos que ter cuidado daqui pra frente.
— Aquele moleque não teria dinheiro para usar o Jornal Continental dessa maneira. Estamos pagando quase dez milhões por mês. A Montanha Azul também está intacta, ele só pode fazer um movimento de pegar os mineradores no ato.
— Por que ele precisaria esperar? — Antonio abaixou o papiro. — Ele pode simplesmente destroçar nossa linha e nada vai acontecer. Entenderam? A Ordem não faria nada para puni-los. O Baker não precisa de motivos nenhum para fazer isso.
E era o que mais incomodava Antonio. Eles conseguiram entrar na cidade porque pagaram um dos membros de uma família que tinham contato ali no norte. Com uma pequena falácia, estavam ali. Se fosse fácil e entrar, seria um estalar de dedos para tirar Lafel dali.
Agora que eles tinham se mostrado, Lafel teria guardas o protegendo.
— Vamos voltar todos – anunciou aos que ainda procuravam por soluções. — Faremos isso de outra maneira. Os Baker tem mais inimigos nas Terras Fluviais do que nós. Podemos simplesmente cobrar alguns favores aos Lila e Dalila, além dos Crons terem uma rixa com o Castelo de Espadas por conta dos Baker também.
Foi a jogada mais sensata que tiveram. Usaram o pergaminho e saíram. Pisaram em VilaVelha, uma cidade que já foi rica, mas atualmente passava por uma das maiores crises. As ruas vazias antes eram socadas de pessoas, as torres mágicas que borbulhavam Magos e Arche-Magos simplesmente com um punhado sentado ou conversando bem baixo.
A cidade inteira se transformou em cinza, num aspecto moribundo.
— Nos encontramos aqui ao anoitecer – disse Antonio aos demais. — Peçam ajuda, mas não sejam arrogantes. Sabem como esses mesquinhos das Terras Fluviais são. Se existirem acordos comerciais, peçam uma negação simples. Sabendo o que os Baker necessitam, nós podemos cortar suas ligações.
— Certo.
I
Quando retornou para casa, Antonio tinha amargura descendo pela garganta. A fineza da conversa para conseguir tirar os Baker de qualquer acordo comercial com VilaVelha, e quem diria que eles não tinham sequer uma família que os apoiava.
Na verdade, tinha sido o oposto. Lila, Dalila, os Crons, Castelo de Espadas e mais uma dúzia nem mesmo ergueram sua voz para alimentar qualquer ação contra a família nortenha. Intocáveis, foi como um dos Anciões dos Lila ousou dizer.
— Eles não tem medo de ninguém e agem de uma forma que o Império Nevasca os proteja.
Essa frase ficou agarrada nele. Os Baker eram fortes a esse ponto. Claro, Antonio soube do ocorrido do ataque a cidade de VilaVelha, mas não esperava que sofreram baixas tão drásticas. As famílias secundárias, que subsidiavam as Nobres sequer deram ouvido que eles estavam lá.
A politicagem morreu naquela cidade.
— Antonio, o Mestre Forwe está lhe chamando.
Ele fechou os olhos e respirou fundo. Logo agora.
— Diga que estarei lá em cinco minutos. — Ele retirou o casaco grosso de cima das costas e jogou em sua cama. — Preciso trocar as roupas sujas.
— Ele ordena que seja agora.
Antonio olhou para o rapaz em sua porta e só viu ele dando de ombros. Não saber o motivo não era o preocupante, era o imediato. Mestre Forwe tinha suas próprias maneiras de lidar com as coisas, e prioridade não era das maiores.
Ele já não tomava conta dos problemas fazia anos.
— Deve ser sobre alguma mulher. — Suspirou e saiu andando. — Ele sempre pede pra eu chegar correndo.
Queria que tivesse sido. No instante que correu a porta para a lateral, avistou uma cena tão rara quanto neve ali nas Ilhas Vulcânicas. O Mestre Forwe estava sentado em sua almofada acima dos três degraus. Uma mulher de cada lado e os Anciãos e Mestres todos a frente, ajoelhados e esperando.
— Finalmente. — Mestre Forwe tinha o semblante queimando. Suas sobrancelhas pareciam duas estacas na direção do nariz e sua boca se curvava para baixo. Ele não estava nada contente. — Achei que o chamado de seu Mestre não iria te convencer a vir, Antonio.
Felic Forwe não disse seu título. Ele realmente estava irritado.
— Posso me sentar, Mestre? — Uma almofada na primeira fileira ainda estava vaga. — Para poder te ouvir melhor.
— Venha.
Antonio passou por mais de quinze Mestres, depois os dez Anciãos. Assim que se ajoelhou, viu que Mestre Forwe não tirava seus olhos de si.
— Pode me dizer o que houve em Keifor? E qual o motivo de Mestre Baker enviar uma mensagem dizendo que se outra tentativa de trazer meu filho de volta a força, ele vai criar um pequeno tumulto na nossa casa?
Antonio não esperava que Mestre Baker fosse enviar uma mensagem tão rápida. Nem mesmo que o Mestre Forwe a levaria a sério. O que mais impressionava era que essa carta deveria ter sido entregue a algum Ancião antes de chegar no Mestre.
— Ele está sendo rude – respondeu Antonio de maneira calma. Se gaguejasse, estaria enrolado. — O Mestre Baker nos recebeu, mas não enviamos nenhuma mensagem falando que chegaríamos. Ele alega que Lafel está em sua cidade e que não irá liberá-lo por nada. Tentamos todos os meios possíveis, mas aquele jovem não mede esforços. Até mesmo disse que traria problemas para nós caso…
— Ah, ele disse que iria trazer problemas?
Antonio ficou chocado. Ele foi cortado. O Mestre nunca tinha feito isso antes.
— Vou dizer o que acontece, Antonio. Ninguém segura minha família, nem mesmo meu filho mais novo. Entretanto, aquele jovem tem o apoio de Maverick. O que está descrito nessa mensagem é que se você fizesse qualquer movimento contra eles, o próprio Mestre Baker viria pessoalmente aqui, maldição.
Aquele tom de voz era de raiva e medo? Antonio ficou ainda mais surpreso. Por que o Mestre Forwe teria medo dos Baker?
— Tem ideia do que fez? — Felic brandiu o braço com fúria. — Tem ideia de quem está alfinetando? Nós estamos do outro lado do continente e ele trouxe a carta quase que pessoalmente.
Antonio piscou os olhos. Não tinha entendido essa última parte.
— Explique, senhor.
— O incidente em VilaVelha abriu uma imensa margem do poder que Orion Baker tem. — Felic respirava tão pesado que chamas poderiam escapar de suas narinas a qualquer momento. — Ele tem alguém que pode abrir portais espaciais. Um desses portais se abriu bem no nosso jardim. O mensageiro passou para cá, mas Orion Baker estava do outro lado, esperando. Eu recebi essa carta pessoalmente, mas ele deixou claro que voltaria caso os Anciãos fizessem qualquer movimento, e você fez mais um.
— De certo, ele tem algum culhão para não vir pessoalmente. Mesmo um homem como ele…
— Onde deixou seu juízo quando foi em Vila Velha pedir ajuda para cortar as ligações daquele homem? — Felic o cortou mais uma vez, furioso. — Onde está sua sabedoria para entender que uma família que ficou vinte anos enfiado na merda não tem nada? Eles tem apenas um inimigo e você quer fazer da gente o segundo?
Um inimigo? Isso era importante.
— E quem seria essa pessoa?
— Está ouvindo o que diz? Orion Baker decidiu criar um JuckParo para Lafel e minha esposa porque você disse ao meu filho que se ele não voltasse, a mãe dele poderia correr perigo.
A magia que ele colocou em Lafel não surtiu efeito? Era para que nada além deles soubesse disso. Como Orion Baker burlou isso?
— Você, sim, tem culhão para alegar algo desse gênero. Tirar minha primeira esposa de mim e ainda dizer ao meu filho coisas assim. Fico pensando que você não tem mérito algum para ser descente, não um Ancião, mas um verme.
Palavras eram só palavras. O que Felic faria com ele decidiria suas próximas ações. Antonio não tinha medo de erguer a mão contra o Mestre Forwe, não quando assistiu sua decadência física nos últimos anos.
— Isso tudo causa uma dor de cabeça inteira. Mas, Mestre Baker é novo e precisa aprender algumas coisas sobre a força. Ela pode nos moldar ou pode nos amassar. Agora, ele pode ter razão quanto ao que diz respeito a você, Antonio, mas ninguém ameaça minha família e mantém meu filho em sua cidade. Eu mesmo irei conversar com ele. Espero que não faça nada enquanto isso ou não terei pena de arrancar sua cabeça com as próprias mãos.
Pior que vindo de Felic Forwe, ele era capaz disso. Antonio abaixou a cabeça quando o Mestre ergueu-se da almofada e saiu com suas esposas ao lado. Ainda de cabeça baixa, Antonio fechou os olhos e sentiu o frio do chão de madeira.
Felizmente, não teve que fazer nada. Mestre Forwe daria um jeito no Baker.
— Lafel tem que ser trazido de qualquer maneira – disse Alique a sua direita. — Precisamos disso para o próximo passo.
— Sabemos disso. — Outro respondeu a direita. — Sem Lafel, não podemos fazer nada.
Antonio respirou mais uma vez pesadamente e ergueu o corpo.
— Ele vai vir. E Mestre Baker vai trazer ele para nós.