Pacto com a Súcubo - Capítulo 121
— O lugar parece uma fortaleza — disse Tâmara, com um monóculo num dos olhos, que possibilitava ver melhor à distância.
Estavam no alto de um prédio, observando o prédio vizinho que, de acordo com os pensamentos de Andrei, seria onde Kath estaria escondida. A estrutura se erguia em muitos andares. Um muro alto delimitava as fronteiras da propriedade. No interior, muitos homens armados circulavam. Usavam ternos pretos e tinham, nos ouvidos, dispositivos de comunicação. Uma barreira circundava todo o prédio, como uma bolha transparente, que distorcia levemente a luz que a atravessava.
— Notou os sensores? Provavelmente alarmes. Também tá cheio de câmeras — disse Clara, com os olhos brilhando em vermelho. Ela não precisava do auxílio de tecnologia para poder enxergar à distância.
— Os guardas… eles sempre andam pelos mesmo locais, e evitam outros — continuou Tâmara. — E tem aquelas plantinhas amarelas em locais aleatórios do terreno. Elas devem marcar alguma coisa. Devem haver bombas subterrâneas… minas. Quem pisar perto de uma daquelas plantinhas, vai perder uma perna, no mínimo. É mesmo uma fortaleza.
— Precisamos detonar as bombas antes de entrar — respondeu a súcubo.
— Eu não tô vendo nada! — reclamou Mical, com a mão sobre a testa, para proteger os olhos do sol.
— E a barreira? — perguntou Tâmara. — Como derrubamos?
— Precisamos saber de que tipo é — respondeu Clara. — Alguma que vocês conhecem? — perguntou para as duas irmãs.
Jéssica estava deitada, olhando através do monóculo da mira do fuzil.
— Não é enoquiana. Se fosse, quebrar não seria problema. É um tipo de magia diferente. Acho que.. ali! O templo!
— Templo? — Clara ergueu uma sobrancelha. — Oh, agora eu vi! Ali, bem no cantinho!
— Sim — respondeu Jéssica — Aposto que a energia usada para manter a barreira de pé vem dele. Deve ter uma grande fonte de poder.
Clara assentiu.
— Sinto cheiro de gato — disse Lírica, finalmente, após farejar.
Clara a olhou de canto de olho.
— Gato? Certo, certo, tem gatos andando por toda parte nesta cidade! Agora tente não atrapalhar com comentários irrelevantes, certo?
A demi-humana a olhou com ressentimento.
— Isso é importante — disse, magoada.
— A barreira — disse Mical — tem que ter uma falha!
Todos a olharam com interrogação. Ela continuou:
— É impossível desativar só uma parte da barreira, e eles não vão querer desativar a barreira inteira sempre que alguém precisar sair ou entrar. Seria arriscado demais. Então precisa ter uma falha. E como todo o prédio é cercado por muros, só tem um lugar onde essa falha poderia estar.
Renato, que estava em silêncio todo esse tempo, se aproximou.
— E é justamente ali onde tem mais guardas. E, provavelmente, mais minas escondidas também — disse ele. Sorriu e deu de ombros. — Vamos entrar pela porta da frente!
*
Assim que o sol desapareceu, e apenas estrelas adornavam o céu, eles puseram o plano em ação.
As ruas estavam desertas, com exceção de algum veículo militar que de vez em quando aparecia. O toque de recolher, aparentemente, estava acontecendo no mundo inteiro.
Mical foi a primeira a se aproximar, caminhando tranquilamente, pisando firme sobre o asfalto frio. Todos a observavam do carro.
Diante do portão, ela posicionou as mãos como se segurasse a bazuca, e, de repente, partículas de luz brilharam, como uma cascata de faíscas, e aquele cilindro metálico se materializou.
Um dos guardas viu a garota, mas antes que pudesse avisar os outros:
— Aaah! — Mical disparou. O coice do tiro fez a garota se desequilibrar e ela quase caiu para trás.
A energia dourada e verde explodiu da ponta da bazuca e se chocou contra o portão, erguendo uma bola de fogo e escombros, e retorcendo o metal, jogando as grades para longe.
O guarda que estava próximo foi pego na explosão e arremessado pela onda de choque, e enquanto deslizava sobre o chão, ativou uma das minas, que ergueu um gêiser de fogo e terra ao ar. Ele não foi atingido, porque passou rápido, mas permaneceu desacordado.
— Vamos! — disse Tâmara, pulando para fora do carro.
Os outros a seguiram.
O tempo era essencial. Usaram o efeito surpresa na hora de arrebentar o portão. Não demoraria para que os guardas entendessem o que estava acontecendo e se organizassem, portanto eles tinham que ser rápidos.
Mical, que tinha se tornado um alvo, pulou para o lado, para se proteger atrás dos muros, enquanto uma onda de chumbo e fogo se erguia sobre ela.
Tâmara era ágil, se movimentava como o vento, correu para o meio da batalha balançando aquele fuzil gigantesco. Não usava a roupa tecnológica. Era apenas sua perspicácia e o gatilho. E ela tinha um talento natural para matar. Era como fazer poesia.
Não errava um tiro.
Jéssica era uma ótima atiradora à distância. Uma perfeita sniper. A magia em volta dela reluzia na cor do crepúsculo, aumentando seus sentidos, aguçando a visão, tornando sua mira perfeita.
Lírica saltava alturas incríveis. Era como uma pluma deslizando no ar. Veloz e ágil feito um gato. Suas garras eram afiadas e seus dentes arrancavam pedaços.
Clara se tornou uma névoa vermelha, escura e fria, que tomou todo o ambiente. Era como um fantasma, uma assombração que sussurrava e gargalhava da escuridão. De vez em quando, alguém caía no chão, tremendo em espasmos, enquanto sangue fluía de suas partes íntimas.
E tinha Renato. Era pura fúria. Uma raiva tão devastadora que assustaria o mais terrível dos demônios do Inferno. Balançava sua espada com maestria. Todas as batalhas que enfrentou, deixaram-no mais forte.
— Vejam! Eles têm um mago! — gritou Lírica, antes de ser atingida por uma rajada de energia e ser lançada para longe.
O mago era um dos seguranças. Usava roupas pretas, assim como todos os outros, mas estava com suas mãos erguidas e, diante dele, brilhava um círculo mágico.
Ele direcionou o ataque em direção à Jéssica, mas Clara pulou sobre ele. O mago, num movimento rápido, virou-se, e atingiu a súcubo que, com a força do ataque mágico, foi arremessada às alturas.
Jéssica e Tâmara dispararam ao mesmo tempo contra ele, mas com um movimento de suas mãos, as balas mudaram a trajetória e foram direto para Renato. O garoto, com um salto, evitou ser atingido, enquanto corria em direção ao mago, com a espada em punho.
Mas Jéssica e Tâmara receberam rajadas de energia e também foram jogadas longe.
Renato, assim que chegou perto, atacou.
A energia fluía de uma mão do mago para outra, como numa corrente, e ele usou essa corrente energética para bloquear a espada de Renato.
O garoto tentou um novo ataque, dessa vez lateral. Partiria esse mago desgraçado em dois. Mas novamente seu golpe foi bloqueado e, com um tipo de empurrão, ele também foi atingido por aquela magia e arremessado para longe.
A magia dele parecia inquebrável. Os outros guardas aproveitaram para se reagrupar. Miravam suas armas nos invasores, que se defendiam como podiam.
Mical estava escondida atrás do muro, acocorada, de olhos fechados. Ouvia os tiros, os gritos, o desespero. A luta ecoava em seus ouvidos, e ela odiava esse som. Quando criança, teve o sonho de ser médica. Adorava a ideia de curar as pessoas. Tirar vidas era algo totalmente assombroso para ela.
Mas, mesmo assim, queria ajudar seus companheiros. Sua irmã arriscava sua vida junto dos outros. Era inadmissível que ela ficasse de fora, escondida, esperando que os outros fizessem todo o trabalho.
Sentia-se uma covarde.
“Persegui os meus inimigos e os encontrei”; lembrou-se de um versículo. “E não voltei enquanto não foram destruídos”; ela passava as palavras em pensamento, sussurrando como em oração. “Massacrei-os e não puderam levantar-se; jazem debaixo dos meus pés! Salmo 18 da bíblia sagrada!”
Respirou fundo e tirou coragem, e entrou na batalha também. À contra gosto, mas ainda convencida de que era o certo a se fazer.
E, sem perder tempo, usou sua bazuca mágica. E foi seu ataque que, ao explodir contra o mago, desintegrou seu círculo mágico, quebrando suas defesas e inutilizando seus ataques. E, dessa vez, ele é quem foi arremessado para longe.