Os Contos de Anima - Capítulo 51
Com dúvidas em sua mente, Lucet avançou como um raio saltando de árvore em árvore. A distância entre ele e o oponente encurtava cada vez mais a cada salto e a aura poderosa da natureza só crescia ao ponto de que o garoto sentia seu corpo ficando agitado.
— Tch! — ele reclamou ao dar um salto para o lado e chutar uma árvore para se direcionar a próxima, girando o seu corpo no processo e cortando o ar com a garra para destruir o crânio de uma das feras ósseas parecida com um esquilo que saltou de um galho acima de si e tentou lhe golpear a cabeça.
Ao observar o mapa, percebeu que enquanto saltava nas altas copas da florestas, as feras abaixo já haviam se aproximado muito de sua posição enquanto corriam para proteger seu mestre.
— Ah legal! — Lucet disse ao despedaçar mais um esquilo ósseo — Não bastava esse cara me invocar cem dessas feras, mas ainda por cima ele consegue controlar com habilidade o bastante para os comandar como se fossem tropas, atacando e recuando com facilidade. Já não tava dificil, agora vai ficar pior.
Mais uma vez analisando o mapa, ele aterrisou num galho e ali parou, observando a formação do oponente. Graças as quarenta e quatro feras que ele demoliu desde o inicio do combate, Lucet reduziu o número das tropas do oponente para cinquenta e seis, além disso, pelo que pôde notar, o oponente não parecia ser capaz de criar mais tão rápido pois, ele pensou, caso pudesse já o teria feito ao notar a destruição de tantos dos seus soldados.
Alguns momentos de estudo depois, Lucet determinou que o oponente era certamente inteligente. Ele dispôs dez elefantes, que ele reconheceu como pontos de aura da vida mais reluzentes no mapa, em volta de si combinados com dez tigres e os vinte lobos enquanto o restante das feras eram criaturas menores que ou voavam ou estavam escondidas nas árvores e aguardando para atacar furtivamente no momento que ele se aproximasse.
— Toda essa recepção só para mim — o garoto riu irônicamente — Me sinto até lisonjeado, heh!
Lucet respirou fundo e então se deixou cair do galho, caindo por alguns instantes antes de chutar a árvore em que estava e saltar para o próximo tronco. Nesses momentos em que “voava” pela floresta, o garoto começou a sentir o quão realmente grandes tinham sido as mudanças do seu corpo.
Com seu corpo de quase três anos atrás, ele dificilmente conseguiria se manter por tanto tempo saltando de uma árvore para outra. Além disso, a força do seu braço havia crescido o suficiente para destruir os oponentes de ossos reforçados com facilidade, mas isso ele também reconhecia que era obra da garra que havia sido melhorada enquanto dormia, o que o deixava curioso para testar os limites da arma.
Após alguns minutos, Lucet se viu perto do que havia de mais próximo e parecido com uma clareira que pode encontrar. Lá, ele conseguiu avistar a figura mascarada com seu cajado cuja a orbe verde brilhava como uma estrela e, se não fosse pelo seu olho do tirano filtrando quase toda a luz com sua tinge azulada de visão, ele teria sido cegado.
Sem perder tempo, ele carregou o máximo de mana que seus musculos da perna suportaram no meio do ar e então, quando tocou seus pés num galho, se inclinou para baixo e, antes de cair, empurrou com as duas pernas com toda a força que pôde, disparando na direção de um dos elefantes com tamanha velocidade que eles não puderam reagir quando ele pousou como um fantasma e prontamente pisoteou no chão, injetando sua aura de sombras no solo e estimulando a mana natural da terra.
O chão tremeu por alguns momentos e, antes que os animais ósseos fossem capazes de escapar ou retaliar, lanças de rocha carregada de mana saltaram feito flechas do solo e impalaram o cerco de quarenta feras, rápidamente destroçando as defesas. Lucet ergueu seu rosto e olhou para o oponente, visivelmente empolgado com um largo sorriso decorando seu rosto.
A figura virou-se para Lucet e se ergueu, pois estava sentando, fincando o cajado no chão, fechando o livro em suas mãos e murmurando algumas palavras. Lucet notou que em seu mapa todos os pontos de luz com exceção do oponente a sua frente foram rápidamente desaparecendo.
— Então será assim? — Lucet questionou — Não vai usar seu cajado aumentar seu poder ou para atacar?
O oponente deu uma leve chacoalhada com a cabeça e então respondeu com uma voz estranha, que ao mesmo tempo parecia suave como a dos alfae que estava tão acostumado a ouvir e feral como a dos faeram que havia ouvido anos atrás.
— Este cajado apenas amplifica minha emissão e controle da energia vital para que eu possa convocar mais servos de ossos — ele disse — Porém, tendo em vista que sua arma e suas técnicas consegue destruí-los com tanta facilidade, não vejo propósito em continuar usando-o, além disso, este cajado é fragil demais para usar como um bastão, portanto, ele ficará em desuso.
Isso dito, ele cobriu o cajado e o livro com sua aura verdejante e então, após um gesto de mão, os guardou num equipamento dimensional no formato de um colar que ele usava em seu pescoço. O oponente então se virou para Lucet e disse:
— Soube que derrotou uma faeram quando era mais novo.
— Sim, eu derrotei mesmo — Lucet concordou com um aceno da cabeça — Não foi nada fácil, sua raça é muito forte.
— Então acredito que já saiba que contra mim você não terá chance alguma correto? Afinal, você enfrentou uma novata sem experiência de combate real, se comparar a força dela contra a minha, sofrerá bastante.
— E você acha que eu não sei ? — Lucet riu e então adotou uma posição de combate com seus joelhos levemente dobrados, sua lâmina erguida na altura do seu pescoço e posicional horizontalmente a sua frente — Mas eu não planejo subestimá-lo, ou perder.
— Que assim seja meio sangue — o oponente respondeu — Espero que me mostre um combate tão interessante quanto os anteriores.
— Não se preocupe — Lucet retrucou com um sorriso confiante — Não sou de desapontar!
Uma aura verde flamejante cobriu o a figura do oponente mascarado ao mesmo tempo que a aura cinzenta de Lucet surgiu como névoa ao redor de si e, com um simples passo de cada um dos combatentes, o conflito iniciou.
Lucet pisou com força no chão e acelerou, sua garra cortando o ar diagonalmente no intuito de desferir um grande ataque contra o oponente que também avançava contra si. O mascarado, porém, saltou na direção oposta do corte e desviou do ataque de Lucet, rápidamente pisoteando o chão e acelerando contra o lado desprotegido do garoto que não possuía um braço.
O olho do tirano em Lucet reluzia levemente com a mana que o garoto infundia nele, dispensando qualquer outra função que não fosse o efeito de desacelerar o mundo ao seus olhos para conseguir reagir. Apesar destes efeitos, porém, Lucet era obrigado a admitir que o oponente era veloz, pois até mesmo no mundo azulado onde o próprio vento parecia se arrastar no espaço, o homem avançava em alta velocidade.
Não era nada próximo a velocidade gerada pelo lampejo, mas ainda assim era algo que ele não fora capaz de reagir rápido o suficiente. Sem escolha, Lucet jogou seu corpo para o chão e conseguiu desviar da mão do homem que havia estranhamente crescido e se tornado peluda com garras negras grandes feito canivetes, por um triz não lhe rasgando as vestes e o corpo.
Antes que pudesse pensar, Lucet viu a garra do oponente vindo em sua direção de cima no intuito de rasgá-lo em dois, porém, ele reagiu a tempo e desferiu um corte veloz contra a palma do atacante, facilmente cortando seus pelos, pele e musculos. Se não fosse pela velocidade que o inimigo conseguira retrair sua mão, Lucet era capaz de apostar que teria lhe decepado uma parte da mão naquele ataque.
Mas, sem sequer poder comemorar por um instante que fosse, o garoto viu um poderoso chute vindo em direção ao seu torso. Sem alternativas, Lucet tensionou o corpo, carregou a região e seu braço com toda mana que fora capaz e se protegeu o melhor que conseguira. Um baque surdo ecoou alto nos ouvidos de Lucet seguido de uma imensa dor nas suas costelas e braço que receberam o ataque que acabou por o erguer do chão e mandá-lo voando para o ar.
Porém, sem ter conseguido voar um metro que fosse, o oponente o alcançou com uma súbita aceleração que, quando Lucet olhou para os pés do homem, tinham se tornado tais como o de um lobo, com garras negras, ossos longos e pelos cinzentos, facilmente chegando ao garoto e o agarrando pelo braço antes de o virar por cima do corpo e o atirar na direção oposta.
Lucet bateu de costas no chão e sentiu um gosto metálico subir a sua garganta ao passo que seus musculos e ossos protestavam contra o impacto transmitindo ondas de dor que diminuíram por um breve, e doloroso instante, sua capacidade de reação, que o homem aproveitou para chegar até si e o erguer pelo colar de sua camisa.
O garoto, porém, reagiu e encolheu seu corpo antes de disparar um chute duplo no torso do oponente e usar o impulso para se desvencilhar e, no instante que aterrisou, pisotear o chão novamente e mirar uma estocada contra o peito do mascarado.
O mascarado, entretanto, respondeu de uma maneira que Lucet não esperava e deu dois curtos saltos para trás antes de mirar um chute na mão do garoto, fazendo a lâmina negra voar para longe e ser fincacada numa árvore ao passo que Lucet sentiu os ossos da sua mão racharem apesar do reforço de mana concentrada na região.
Sem se deixar abater, Lucet pisoteou o chão com força e ergueu uma pedra abaixo de si para lhe dar impulso, disparando feito uma flecha e mirando uma joelhada voadora na direção do rosto do oponente que não conseguiu reagir a tempo por Lucet usar sua mão para puxar a perna do oponente na sua direção e dar a si mesmo ainda mais velocidade, desequilibrando o homem no processo.
— Te peguei! — Lucet exclamou quando sentiu seu joelho rachar a máscara e atingir o rosto por trás.
O oponente caiu e rolou três vezes para trás antes de saltar e se por de pé ao passo que Lucet se levantava do ataque improvisado que ele acabou por cair de mal jeito. Quando Lucet, porém, viu o rosto do guerreiro, ele ficou ambos surpreso e temeroso com a aura assasina que agora irradiava do homem.
Diante de si, o homem de feições alfae se mostrava…Bestial. Apesar de ter características claramente da raça mágica dos alfae, neste momento algumas delas se mostravam estranhamente ferais. Seus olhos pareciam diferentes, um pouco maiores e de cor dourada, que não existia na raça dos alfae, com suas orelhas mais grossas e peludas, uma espécie de pelugem cinzenta cobrindo parte do seu rosto, quase como uma barba ao passo que seu nariz crescia, afinava e então começava a parecer algo entre um nariz humanóide e um focinho.
Agora que finalmente observou com mais atenção, ele reparou também que o oponente havia se tornado mais muscular, suas vestes ficando mais justas em seu corpo enquanto sua altura havia aumentado uns dez ou vinte centímetro e, como se uma luz acendesse em sua mente, ele se tocou do que estava vendo.
— Você é…Como eu? — Ele disse lentamente, sem saber como reagir a súbita revelação.
— Não sou como você! — Ele rugiu, sua boca mostrando as presas afiadas dentro dela — Você é um meio sangue! Um corvo! Um ninguém! Eu sou qualquer coisa, menos isso! E você vai me pagar pelo que fez!
— Espera cara…
Lucet não teve tempo de terminar sua frase quando o homem desapareceu e no instante seguinte reapareceu, acertando um sono em seu plexo solar que o fez não apenas perder todo o folêgo e as forças, como também sair voando por metros e bater contra uma árvore que rachou com o impacto.
Cuspindo sangue, Lucet notou seus sentidos falhando. Seus ouvidos zuniam enquanto sua visão rápidamente escurecia, um frio tomando conta de seus membros enquanto sua consciência flutuava. Seu corpo parecia rodopiar, o ar se recusando a entrar em seus pulmões por mais que se esforçasse, seu corpo caiu de joelho no chão.
O garoto trouxe uma mão ao peito, apertando desesperando enquanto tentava fazer sua mana se mover e estabilizar a região para que pudesse puxar um novo folêgo, porém, antes que conseguisse movimentar direito sua energia, sentiu seu corpo ficando mais leve ao passo que viu o rosto estranho do oponente cujas feições descansavam entre os alfae e faeram.
A grande mão de garras negras e pelos cinzentos se fechou em volta do seu pescoço e rápidamente apertou. Lucet, que neste momento finalmente havia começado a sentir alguns fios de ar em seus pulmões rápidamente se desesperou pois os necessários goles de ar adicionais não vieram.
Seu coração martelando violentamente em seu peito na tentativa frenética de trazer ar para o corpo, Lucet sentia suas extremidades tremerem levemente. Foi então que o garoto, olhando diretamente nos olhos do homem, viu que ele estava se deleitando e até relaxando com o sofrimento angústia que estava causando, e isso deu a Lucet uma idéia, uma dolorosa, mas provavelmente a única chance de vitória que teria.
Ele agarrou o braço do homem e puxou seu torso para cima com tudo que pode, conseguindo uma pequena chance de respirar com a súbita resistência, que ele não desperdiçou e puxou o máximo de folêgo que conseguiu, reunindo suas forãs para então desferir um chute no ombro do homem que, apesar de não lhe soltar, relaxou o aperto por tempo o suficiente para que Lucet pudesse tomar outro folêgo, dessa vez consideravelmente maior, e fazer seu cérebro, que a essa altura essa zonzo pelo deprivamento de oxigênio, recuperar a claridade e a capacidade de controlar seu poder novamente.
O homem rosnou e então mirou um soco contra o plexo solar de Lucet, mais uma vez o fazendo-o voar com a força do golpe, colidindo contra uma árvore a alguns metros da anterior que havia se partido, rápidamente caindo de joelhos antes de desesperadamente procurar por ar, seu corpo convulsionando devido ao esforço.
Apesar de um sádico, o homem sabia que não podia dar chances do garoto resistir novamente, portanto, num piscar de olhos alcançou o garoto, o levantou novamente e desta vez, sua mão no formato de uma lança com os dedos retos e esticados, o homem se preparou para dar o golpe final enquanto segurava Lucet pelo pescoço, pronto para lhe arrancar o coração. Com seus olhos ferozes cravados nos do garoto, ele disse num rosnado cruel.
— Este é o preço do seu crime, meio sangue — ele falou, retesando seu braço para atacar — Nem mesmo a guardiã pode salvá-lo, afinal, você desafiou o rei, agora pague o preço por sua arrogância, e estupidez.
Lucet tossiu sangue e então, com um sorriso confiante no rosto, disse:
— Vai se ferrar seu hipócrita! Vocé é sim que nem eu… — ele disse com alguma dificuldade — Aliás, você é pior! De vez aceitar sua linhagem e extrair poder disso, fica se escondendo, hah! Covarde!
O homem o olhou chocado, a resposta do garoto o distraindo por um segundo, que para Lucet foi mais do que o suficiente. Quando fora golpeado pela segunda vez no plexo solar e fora arremessado na árvore, ele já havia se preparado e concentrado toda sua energia para reforçar o ponto de impacto que, felizmente, conseguiu ser preservado.
Apesar do impacto contra a árvore ser dolorido, isso não havia sido o suficiente para lhe machucar tanto, e por tal, quando pareceu estar convulsionando em busca de ar, na verdade estava apenas fingindo pois já havia tomado ar o suficiente, apenas usando aquele tempo para direcionar vagarosamente sua aura da fé com cuidado para sua perna direita, afim de não deixar o oponente descobrir sua farsa.
No instante que o inimigo travou de surpresa, Lucet moveu agitou e comprimiu a aura da fé depositada em sua perna e, após surgir uma bota dourada em seus pés, Lucet executou o lampejo com apenas uma perna e desferiu uma joelhada instantanea que partiu pelo menos oito costelas do oponente, fazendo-o cuspir sangue e cair no chão, soltando Lucet no processo.
Sem perder tempo, ao tocar o chão, Lucet saltou e, após virar uma cambalhota no ar, executou o lampejo mais uma vez com apenas uma perna e mirou um golpe com seu calcanhar que reluzia com a bota dourada que o cobria, instantaneamente acertando o inimigo com um golpe brutal que lhe partiu em pedaços o esterno e feriu seus orgãos internos.
De repente, Lucet sentiu seu tornozelo ser pego pelo oponente antes que pudesse retirar seu pé, porém, agora completamente enfurecido com o ser a sua frente, o garoto ao invés de se desvencilhar, colocou todo o peso de seu corpo sobre a perna presa e então carregou sua perna com energia, invocando a bota dourada antes de executar um lampejoa queima roupa no peito do inimigo, liberando um pulso de chamas brancas antes de empurar o alfae para dentro da terra, desvencilhando seu pé no processo.
— Tch! — Lucet disse, olhando para o homem agora inconsciente enquanto sentia seu peito com a mão, analisando os ferimentos — Maldito! Me fez gastar aura da fé com você! — o garoto falou irritado, caminhando lentamente em direção a árvore onde se encontrava sua arma cravada enquanto cuspia sangue e circulava sua mana para tentar acelerar a recuperação dos danos sofridos.