O Relicário - Capítulo 2
Chegando ao campo, Yumina pôde testemunhar uma luta simulada entre uma moça e um rapaz. A garota criava plantas as quais cresciam em instantes e efetuavam ataques de longa distância, enquanto um livro flutuava em torno da menina. Em contrapartida, o outro quem lutava fazia paredes e projéteis de gelo.
Ambos desferiam vários golpes, aproximando e distanciando-se. Seus movimentos de acrobatas profissionais enfatizavam o charme do combate. Os ataques não causavam sérios danos, visto se tratar de uma sessão de combate simulado e não uma luta mortal entre dois inimigos.
A recém-chegada, vendo aquilo, ficou boquiaberta e passou a acreditar ainda mais ante as coisas contadas a ela. Não era possível uma atuação live action ser tão bem-feita ao vivo.
Lily os chamou, pedindo para suspenderem a simulação um pouco. Quando o garoto olhou rumo a eles, a menina da magia de plantas disparou uma fruta do tamanho de uma laranja, criada magicamente, contra ele, antes que tais plantas sumissem em meio a pétalas douradas. Ao atingir o projétil comestível nele, a menina comemorou de mãos levantadas:
— Acertei!
O rapaz se virou, bravo e respondeu:
— Era para parar, sua porteira de maquete!
— A culpa é sua! Você sempre tá pegando no meu pé dizendo ‘aproveite quando o inimigo baixa a guarda’ e blábláblá. — respondeu esta, gesticulando com a mão, fazendo careta e imitando a voz do rapaz.
Com isso, aqueles dois ficaram discutindo, semelhante a dois irmãos, quando um trapaceia num jogo. O rapaz a chamava de nomes como “anã”, “baixinha”, “pintora de rodapé” e mais alguns que pertenciam ao mesmo patamar. Em resposta, a garota lhe mostrava a língua e o insultava, apelidando-o estranhamente de “alvo vivo”.
Lily, envergonhada, deu um berro, mandando pararem e virem conhecer a novata. Quando enfim deram ouvidos, um puxava as bochechas do outro fortemente. A cavaleira chegava a dar tiques nervosos de tanta vontade de lhes dar um soco.
Chegando onde Arnold e os outros estavam, Yumina percebeu melhor a excentricidade daquela dupla. A menina tinha estatura baixa e um comprido cabelo roxo lindo que prosseguia até a cintura. Suas orelhas eram felpudas, pontudas e fofinhas como as de uma pequena loba. Ela vestia uma saia e uma cauda da mesma cor do cabelo saía por detrás de sua roupa. A íris verde dela era outro detalhe formoso na aparência da mocinha.
O livro estranho carregado por ela tinha uma capa dura de couro, adornado no centro por um desenho de uma rosa desabrochada, embelezando o objeto mágico. As páginas amareladas pelo tempo mostravam não se tratar de um objeto novo. Os vértices prateados em formato caules de rosas ainda complementavam a frente do item intelectual.
— Oi! — Cumprimentou energicamente a garota — aposto que você é a pessoa quem Arnold tinha me dito trazer. Meu nome é Cecília Vermilion e fico muito feliz em conhecê-la!
A Fala de Cecília explicitamente mostrava que ela forçava em tentar ser formal, nem que fosse por uma única vez. Sua voz alta caracterizava uma pessoa bem socializável e amigável.
Embora tivesse recebido a saudação, a jovem recém-chegada não conseguiu prestar atenção direito, pois estava focada demais nas orelhas de Cecília. Talvez porque Yumina ainda não tinha aceitado totalmente o fato de ter ido a outro mundo, as palavras entravam por um ouvido e saíam pelo outro. Quando Cecília percebeu para onde Yumina estava olhando, ela falou:
— Bom… você nunca viu alguém meio-humana, né?
— Me desculpe. Realmente nunca vi. Nem sabia da existência.
— Já que se interessou tanto nelas, talvez mais tarde eu deixe você tocá-las.
Quando Yumina ouviu isso, seu interesse ficou evidente. Ela parecia uma criança ansiosa pelo truque de mágica proposto por um adulto. Ela chegou a desconcertar Cecília com tamanha obsessão em querer ver mais de perto tais membros da audição.
O outro quem acompanhava Cecília tinha cabelos brancos como a neve e olhos azuis claros. Ele era mais alto que sua amiga e vestia uma blusa preta de gola alta, junto de um casaco branco aberto por cima. Um cachecol vermelho enrolava seu pescoço. Olhando nos olhos da forasteira, Ele se apresentou:
— Deduzo ser você a tão falada Yumina. É um prazer te conhecer! Meu nome é Sakurai Fuyuki.
Ele certamente era mais comportado que sua colega. Seu tom de fala transpassava sua sutileza. Além de alguém esteticamente bonito aos olhos de Yumina, o homem passava a impressão de ser gentil e companheiro, remetendo a um honrado cavalheiro.
Cecília olhou para ele com olhar de malícia e puxou uma gracinha:
— Ué, amigão? Você não tem o hábito de cumprimentar garotas tão chique assim, a menos que esteja querendo conquistá-las. Por acaso tá querendo arranjar a quinta namorada da semana?
Nesse instante, o garoto deu um tapa na nuca dela com o rosto vermelho de raiva. Os dois voltaram a discutir infantilmente, até o grito de Lily os interromper, lembrando uma mãe a qual chega botando a ordem.
Depois de uma bronca, ordenando Cecília parar de inventar coisas, a loira finalmente anunciou o desejado por ela desde o início: “o almoço está pronto”.
Ao ouvir essas palavras, a barriga da meio-humana roncou e todos escutaram. Ela ficou corada, semelhante a um tomate bem maduro. Sakurai aproveitou a chance de dar o troco e falou o quão alto foi o ronco do estômago e os dois começaram a sua briguinha mais uma vez.
A cavaleira, de veias saltadas e respiração pesada, já não aguentava mais tanta criancice e deu uma porrada na cabeça dos dois com tanta força que acabaram ganhando um galo. Depois disso, eles somente se desculparam e nem mais um pio foi expelido.
De volta para dentro da residência, eles foram à sala de jantar. Lá, havia uma mesa, a qual abrigava cinco lugares. Ela era feita em madeira de lei, assim como as cadeiras. Um pano branco vestia o móvel. Os assentos, embora duros, não deixavam de ser confortáveis.
Em cima da mesa, diversos alimentos preenchiam-no. Só de olhar tantos tipos de comida e sentir o seu cheiro sedutor, a boca salivava. A comida variava desde a simples salada até a filés suculentos, grelhados lentamente e temperados com um molho esverdeado.
Os pratos de porcelana eram bem elegantes, detalhado nas bordas em tinta azul. Os talheres tinham mesma aparência daquele que Yumina pegou no episódio do quarto.
Tendo todos se sentado, a ordem em torno da mesa ficou assim, da esquerda à direita: Sakurai, Cecília, Lily, Yumina e Arnold.
Todos se alimentavam, entretanto Yumina ainda desconfiava e se recusava a comer, mas Arnold e Lily provaram não haver mal na comida ao pegar um pouco de cada do prato dela e comer na sua frente. Sendo assim, ela passou a comer, mas com extrema cautela.
“Nossa!” Falou a desconfiada em pensamento “Essa comida tá uma delícia! Espera! Não devo parecer uma esganada. Mas está tão bom…”
E ainda, ela reconheceu qual era o molho usado na carne vermelha:
“É aquele molho que pesquisei na internet dias atrás… Qual era o nome? Ah sim! Chimichurri. Ele é comum na Argentina e no Uruguai. Como ela arranjou essa receita sendo aqui outro mundo?”
Antes de Yumina expressar essa dúvida, o mestre de barba branca perguntou sobre o treinamento da dupla de mais cedo e a loba respondeu:
— O cérebro de iglu estava me ajudando a aprimorar técnicas de defesa, já que não sou boa em combate.
— Quem é cérebro de iglu? — indagou Sakurai claramente incomodado.
— Quem mais? Você, obviamente!
— Querem apanhar de novo? — Ameaçou Lily de punho cerrado
Os dois cessaram a discussão imediatamente, amedrontados por ela. Arnold, na tentativa de consertar o problema, teve outra ideia:
— E se cada um se apresentar?
— Eu começo! — Exclamou a garota de orelhas exóticas — Assim como falei antes, meu nome é Cecília Vermilion. Uso magia de plantas e a uso pra curar os outros. Por focar na retaguarda, não me preocupo muito em vestir roupas de proteção ou armas. Gosto de carne, doces e frutas, principalmente morangos!
Em seguida, foi a vez de Arnold e ele disse tudo olhando nos olhos de cada um:
— Eu, Arnold Kreiss, sou um mestre de magia de eletricidade. Por um tempo, andei por diversos lugares e, em alguns deles, encontrei os demais dessa sala. Sugeri se juntarem a mim e aceitaram. Agora, residem aqui comigo e treinam para lutar contra o mal.
— Me chamo Lily Silva. Sou uma cavaleira que utiliza magia de fogo. Gosto de treinar com minha espada, passeios e explorar. Porém, me irrita a falta de comportamento e disciplina, dando ênfase a ocasiões especiais. — Ela disse essa última parte encarando a dupla de brigões
— Sou Sakurai Fuyuki. — respondeu ele com olhar baixo — Tenho especialidade em magia de gelo. Gosto de observar a natureza, passar o tempo com quem tenho familiaridade… e…
O jovem não sabia de outras coisas possíveis de se dizer. Apresentações não eram seu forte. Um silêncio desconfortável pairou dentro da sala, enquanto o rapaz procurava reunir suas palavras. Constrangido pela sua falta de ideias, lentamente Sakurai abaixava sua mão e voltava a comer, tentando fingir não estar acontecendo nada.
Cecília viu outra oportunidade de uma brincadeira, mas preferiu não a fazer, porque Lily percebeu as intenções dela de antemão e lançou um olhar muito intenso, tanto que a mocinha arteira até sentiu um frio na barriga.
Lily estava por um fio de dar um cascudo naqueles dois novamente. Seus dentes rangiam e seus dedos dos pés se debatiam, no intuito de aliviar tanto estresse acumulado no corpo da loira.
A fim de cortar o silêncio, Arnold pediu à última que se apresentasse. Ela respirou fundo, e começou a contar:
— Meu nome é Yumina Watanabe. Sou de uma cidade de, supostamente, um mundo paralelo a esse. Lá não há magia, animais encantados, ou coisa do tipo. Nunca conheci meus pais. Fui criada por um orfanato até meus dezoito anos. Foi quando saí para morar sozinha. Naquele universo, eu não tinha amizades ou pessoas em quem verdadeiramente apoiar. Todos os dias eram repetitivos e chatos, mas, pelo menos eu tinha muita facilidade de absorver conhecimento.
Deprimida, Yumina continuou a falar, remexendo a comida com seu garfo:
— Talvez seja por isso a razão da qual eles queriam distância de mim. Eles não conseguiam me acompanhar. Além do mais, eles não tiravam a cara de uma porcaria de tela sequer quando iam ao banheiro! O fato de sempre estar isolada me aborrecia e as coisas pioravam ao passar do tempo. Eu tinha o costume de desabafar numa escola abandonada chamada Michio. Poder soltar pensamentos presos me davam a sensação de ser mais viva. A propósito, eu estava lá até tudo isso acontecer.
Com um riso auto depreciativo, ela perguntou:
— Gostaria de saber o porquê estou aqui. Afinal, por qual motivo uma coitada como eu viria parar aqui, do nada?
Todos sentiram o peso daquela pergunta, em especial Sakurai, o qual queria a ajudar de alguma maneira a amenizar a dor dela.
— Bem… — hesitou Arnold — Você é daqui e não de lá.
Yumina ouviu, mas não compreendeu, portanto perguntou sobre o significado da afirmação. Ele continuou:
— Quando você ainda era um bebê, seus pais te enviaram deste mundo a fim de te proteger.
— Me proteger do quê?
— Anos atrás, um homem mau surgiu. Ele almejava poder e queria controlar todos. Ele era forte, mas não o suficiente, então, começou a buscar por maneiras de expandir suas habilidades. O homem encontrou informações de uma joia que poderia lhe conceder o poder tão sonhado. Seus pais e eu descobrimos isso e passamos a procurá-la também. Por sorte, a achamos primeiro. A pedra estava em um antigo templo indígena, no meio de uma selva densa. Não tínhamos muitas informações, mas não podíamos arriscar deixar um objeto perigoso à mercê do inimigo. Depois de seu pai chegar em casa, passou a estudar a joia.
Mais sério, ele prosseguiu:
— Numa noite, enquanto procurávamos por pistas do funcionamento da relíquia, saiu da joia uma espécie de luz intensa. Junto do brilho, conseguimos ouvir muitas vozes gritando em agonia. Elas falavam tudo quanto é coisa, mas consegui ouvir a sílaba “Yu”. Pensávamos que iríamos ensurdecer, no entanto, o silêncio voltou logo depois.
E ainda falando, adicionou:
— Após todo esse alvoroço, meses depois, você nasceu e tivemos a irônica revelação de a pedra apenas funcionar contigo. A partir disso, criamos um relicário para guardá-la. O problema, é que o homem quem tentávamos impedir nos rastreou e adquiriu um novo objetivo: levar você junto dele e criá-la como sua “filha fiel”.
— Pois continue! — Apressou Yumina
Com olhar esquivo, ele concluiu:
— Antes disso acontecer, nós usamos uma magia capaz de transportar matéria a outros mundos. Eu não tinha tanta energia, por isso, seus pais precisaram ficar aqui e me ajudaram a te enviar.
Yumina naquele instante teve algo como uma lembrança, mas não sabia dizer o que era, apenas tinha a impressão de aquilo realmente ter acontecido, e assim, deu corda ao assunto, perguntando sobre os eventos posteriores os quais envolviam seus pais.
Arnold olhou de lado como alguém quem tem más notícias e explicou não ter ciência do paradeiro deles, pois os pais dela haviam sido pegos pelo malvado homem e não se ouviu mais nada sobre eles. A jovem sentiu um forte aperto no coração e fez mais uma indagação:
— Então, me trouxeram de volta a um lugar onde eu não sabia sequer ser possível existir e querem que eu enfrente um cara de quem nunca ouvi falar, mas que deseja dominar tudo e todos?
Vendo o quão esquisito e repentino soava, após confirmar a pergunta anterior, o velho deu continuidade:
— Parece mentira o que digo, mas por favor, acredite em mim. Fique e nos ajude. Entretanto, caso deseje, posso te mandar de volta à sua outra casa.
E veio a grande indecisão da novata: acreditar, ficar e talvez encontrar seus pais, ou voltar para sua antiga vida, cuja tal, embora fosse deprimente, ela tinha certeza da veracidade. Depois de um tempinho de reflexão, ela pediu um prazo e o mago consentiu.
A partir da resolução provisória, Cecília elogiou a comida, dizendo estar uma delícia e Lily, vermelha e lisonjeada por quente elogio, agradeceu:
— Puxa, obrigada! Hoje a cozinheira fui eu.
E Cecília cometeu mais uma de suas peripécias:
— Então é por isso! Falta sal.
— Engraçadinha. — Respondeu Lily de cara fechada
A segunda coisa que se sucedeu foi a meia loba ter feito um pedido a seu mestre:
— Ei, Arnold! “Nós” podemos voltar ao campo de treinamento e mostrar à Yumina nossas habilidades?
Os olhos de Cecília brilhavam feito dois faróis. Sua cauda parecia um espanador de tanto balançar. O lado criança dela a dominava e por isso, ansiava fortemente exibir seus talentos para aquela quem poderia tornar-se sua amiga futuramente.
Ele permitiu e ainda complementou ser uma oportunidade da jovem se acostumar com o ambiente. E partiram eles ao campo de treinamento, onde seria visto a seguir, apresentações visivelmente incríveis pelo ponto de vista de uma leiga como Yumina.