O Reflexo da Lâmina - Capítulo 5
— Certo, vamos lá então! Temos um ataque para impedir! — Dizia Khalir animada enquanto corria para um dos portões de saída do Jardim.
— É para o outro lado! — Gritou Thomas.
Khalir deu meia volta enquanto corria na grama, sendo observada de maneira torta por Lhonan.
— Eu tenho coisas a resolver com você, rival! — Yithir forçou o corpo de Khalir para apontar o dedo em direção de Thomas.
“Demorou mas você voltou, senhor décimo primeiro.” Thomas pensou.
— Vamos? Senhorita. — Lhonan disse com ânimo, colocando suas patas nas alças da mochila.
Eles então se despediram de Thomas, descendo a montanha com rapidez, para chegar a tempo.
“Como esse cara sabia que a aldeia estava sofrendo um ataque?” Yithir pensou.
“Ele tem aquelas sombras estranhas, não?” Khalir respondeu em seus pensamentos.
Lá em baixo, podia-se ver uma forte fumaça negra subindo aos céus. A iluminação causada pelo fogo naquele fim de tarde também era notória.
— Precisamos nos apressar. — Khalir disse ofegante.
— Sério? Até que você é esperta. — Yithir disse em tom de sarcasmo.
Lhonan riu dos dois. Quase sem entender quem falava, o gato apenas diferenciou os dois pela entonação vocal.
Eles continuavam a descer, se aproximando cada vez mais da grande aldeia de elfos até que podia-se ouvir o som do metal das lâminas batendo uma nas outras junto do cheiro de sangue e queimado que pairavam no ar. Por todos os cantos haviam soldados combatendo os goblins.
— Aah! Desgraça–
O grito do soldado fora cortado junto de seu pescoço, o sangue jorrou pelo chão e no rosto do soldado, ainda se podia ver o restante da angústia que ele sofreu em seus últimos momentos de vida.
A poça de sangue derramada pela grama refletia a luz das tochas e das casas que seriam incendiadas naquele confronto sangrento.
“Que merda foi essa!?” Khalir pensou.
O gigantesco goblin teria mais de dois metros de altura, usava um grande cutelo com ferrugem em vários cantos. Cicatrizes e deformações em sua face eram o que não faltavam, o assustador goblin mutante gritou palavras que nem Lhonan e Khalir interpretaram.
— Parece que ele quer nossa cabeça— Yithir disse enquanto forçava Khalir a puxar sua espada — não há tempo para indecisão!
O goblin especial decidiu começar o ataque primeiro, levantando o cutelo e atacando por cima.
“Bloqueie, gire, revide!” Yithir ensinou.
Seguindo seus ensinamentos, Khalir bloqueou o ataque com a espada. Por mais que o cutelo fosse velho, a força bruta do goblin ainda seria muito superior à força da garota. Ela firmemente aguentou o ataque e desviou o cutelo para o lado, tentando acertar o pescoço do Goblin.
A lâmina chega a raspar no pescoço de seu inimigo, porém o mesmo conseguiu voltar com o cutelo a tempo de defender o ataque e chutar a garota para longe
— Merda! — Yithir e Khalir gritaram ao mesmo tempo.
“Você precisa ser mais rápida, garota. Se não quiser ser atingida, concentre-se” Yithir pensou
O suor fazia a empunhadura da garota ficar trêmula, mas mesmo assim a garota reuniu coragem conforme seu suor escorria pelo seu rosto.
— Me divirtam mais um pouco! — a encapuzada disse.
Ao longe, a pessoa misteriosa analisava a luta da garota, sem interferir.
“Ele é forte demais” Khalir pensou com raiva em sua feição.
Procurando uma brecha, ela avançou na direção do goblin, segurando os ataques constantes do adversário com sua espada. As armas se batiam constantemente, até que a tão esperada brecha apareceu.
— Hoje não é seu dia de sorte.
Khalir disse enquanto cortava o goblin, arrastando sua espada de seu estômago até seu ombro. O goblin desabou para trás, junto de uma parede atrás do mesmo que estava fragilizada por conta do incêndio.
“Tenho mesmo de matá-lo?” pensou Khalir.
“Para de ser idiota, ele vai te matar caso não faça!” Yithir respondeu em seus pensamentos.
LKhalir refletiu com a ponta da espada no peito do goblin, respirou fundo e fechou os olhos.
— Me desculpe.
As palavras foram seguidas do som da espada penetrando o peito do goblin, seu último grito de dor ecoou pela mente da jovem garota.
” Estou lutando por alguém que eu nem conheço para defender pessoas que talvez nem fariam o mesmo por mim, isso vale mesmo a pena? ” Khalir refletiu.
— Isso é você que decide — Yithir disse.
Khalir puxou a espada do peito do goblin, limpando a lâmina ao passar a mesma na armadura de couro do goblin para tirar o excesso de sangue.
— Fique atenta, eles só vão recuar quando o chefe deles mandar — disse Lhonan aliviado ao ver a jovem bem.
Ao se virar para trás, Khalir percebe que o tempo todo Lhonan estava dando suporte ao invocar espíritos menores para ajudar na batalha.
— Espera! Esse desgraçado não era o chefe? — Yithir gritou indignado
— Ele era apenas um goblin guerreiro. — Lhonan respondeu
— Apenas?!
Khalir estava suando e com a respiração pesada, o ar rarefeito também era uma das dificuldades do cenário. Mas sem se importar com isso, a jovem prosseguiu em frente e adentrou mais na aldeia.
— Saiam! Seus malditos! — gritou o soldado.
Ele estaria cercado por três goblins, o ataque do terceiro então o acertou no braço, fazendo o soldado se distrair e tropeçar em uma pedra.
— Não! — gritou o soldado mais alto ainda.
O segundo goblin com uma espada curta se aproximou do soldado caído e se preparou para finalizar o elfo indefeso com um corte no pescoço.
Em desespero, o soldado fechou os olhos quase chorando, aceitando sua morte após ter combatido tantos goblins na invasão.
O som de carne sendo perfurada foi seguido do sangue que jorrou na cara do soldado. Nervoso e com medo, o soldado abriu os olhos e viu o segundo goblin sendo perfurado pela espada branca da ruiva, que em seguida foi retirada.
— O primeiro já foi. — A ruiva disse com desânimo, mas determinada em salvar o soldado.
O soldado entendeu rapidamente o que aconteceu, então ele se levantou e empunhou sua espada, ficando lado a lado com a ruiva.
— Agradeço! — disse o soldado.
Sem tempo para espera, o então primeiro goblin avançou pulando e atacando Khalir com um porrete de madeira.
“Eu acho que eu já decorei esses padrões de ataque”
Khalir defendeu o ataque que vinha de cima, recuando um pouco para trás.
“Agora é pela direita”
Assim como Khalir teria esperado, o goblin faz exatamente o que ela teria esperado. Khalir defende o ataque vindo da direita, rapidamente contra-atacando.
“Por algum motivo sinto que eu já vivi tudo isso”
Antes que Khalir possa terminar seus pensamentos, o soldado aproveita a brecha para atacar o goblin, cortando habilmente a cabeça de seu adversário fora com sua técnica de precisão.
O último goblin restante tenta fugir correndo, ao ver seus aliados sendo massacrados.
— Não vai fugir — disse o arqueiro que teria recém chegado com um sorriso no rosto.
A flecha de aço em alta velocidade perfura o peito do goblin, a expressão de desespero era nítida. Mas sem chance alguma, o goblin cai morto ao chão.
” Bela pontaria” pensou Lhonan.
— Os reforços chegaram? — o soldado disse aliviado.
Algumas horas se passaram, toda a cidade já teria sido evacuada e a invasão foi contida, a fumaça lentamente se desfazia naquela madrugada.
— Eles se saíram tão bem! Hahahah, isso realmente me diverte, a garota realmente enfrentou um goblin guerreiro sozinha? — a pessoa encapuzada dizia, ao observar a invasão de longe.
Os soldados e moradores teriam ido se abrigar para a cidade vizinha que ficava a uma hora dali — Prazer! meu nome é Felipe — ele disse com o capacete em mãos e com um sorriso em seu rosto — muito obrigado por ter salvo a minha vida, moça.
Khalir e Lhonan estavam caminhando junto aos sobreviventes para a cidade vizinha.
— Não foi nada. — Khalir disse enquanto olhava para trás, seus cabelos balançavam com o forte vento da noite.
A carroça ao lado carregava os corpos dos mortos na invasão, contavam mais de dezenas, em algumas carroças os corpos eram até empilhados.
— Essa é a vida, Khalir — Yithir sussurrou.
— Você disse alguma coisa? — Felipe disse enquanto olhava para ela
— Não foi nada — ela olhou para ele e então voltou a olhar para frente — meu nome é Khalir, esse gato ao meu lado se chama Lhonan.
” Longos cabelos azuis, você me lembra nosso antigo rei, senhor Felipe” Lhonan pensou.
— Oi Lhonan! — Felipe disse com um sorriso no rosto
— O que você quer? — Lhonan respondeu ranzinza
— E-ESPERA! VOCÊ FALA!?
— Eu também me impressionei — Khalir diz enquanto acaricia a cabeça de Lhonan.
Aquela confusão se estendeu até que eles chegassem na cidade.
— Eu tenho um tio que tem uma pousada aqui, posso arranjar alguns quartos.
” Denovo essa sensação que tudo isso já aconteceu, maldito deja-vu “
“Você deve estar pensando demais” Yithir respondeu em seus pensamentos.
— Tudo conforme o planejado — disse a pessoa encapuzada.
Em cima de uma das torres de vigilância da cidade, o vento forte batia em sua capa e abaixou seu capuz, revelando uma mulher de cabelo preto e curto, com olheiras e olhos vermelhos. Sua aura parecia a de um fantasma, desaparecendo da torre sem deixar vestígios.