O Monarca do Céu - Capítulo 33
Magia de Análise.
Após procurar tanto, Colin enfim encontrou sua sala. Ela era como uma sala de aula comum e Kurth estava lá. Ele mal conseguiu conter o sorriso quando viu Colin entrando pela porta.
— Senhor Colin! — disse Kurth acenando com uma das mãos. — Por aqui, tem um lugar livre bem aqui!
Sem perder tempo, Colin se sentou no lugar livre atrás de Kurth.
— Bom ver você, Kurth. — O garoto abriu um sorriso de orelha a orelha e fez que sim.
— Eu sabia que o senhor encontraria logo a sala, tinha certeza disso!
Colin ainda não havia se acostumado com pessoas ficando felizes com sua presença, e para ele, a situação às vezes se tornava embaraçosa. Ele apenas conseguia coçar a nuca e desviar o olhar.
A fim de afastar o clima estranho, Colin resolveu fazer algumas perguntas sobre a aula.
— A aula que vamos ter agora, é sobre o quê?
— Magia básica! É um tipo de magia que pode ser usada por todos os magos, independente da árvore que ele controle…
Colin ergueu a sobrancelha surpreso. Era a primeira vez que ele se deparava com tal informação.
— E como isso funciona?
— Por exemplo, magos podem fortalecer seus músculos como os usuários de árvore da pujança, mas até certo ponto, pois eles não pertencem aquela árvore para evoluir tal habilidade. O fortalecimento tem um limite. Isso inclui poderes elementais também, como terra, água, fogo e ar.
Colin apoiou a mão no queixo, e tornou a ficar pensativo.
Ele estava intrigado com o tal limite, mas sua tríade era excelente. Apesar de ser a tríade mais difícil de se dominar, ela era versátil.
“Caso consiga chegar ao menos nível três nas árvores da minha tríade, talvez eu consiga vantagem em batalha. Se eu somar força com velocidade, talvez eu consiga derrotar Anton.”
— Ei! Kurth, você já dominou alguma técnica assim?
— Claro! Nos primeiros dias foram difíceis, mas depois de treinar muito, o senhor se acostuma. Atualmente, se eu me concentrar bastante, consigo correr a 60 km/h.
“Incrível, um garoto como esse alcançar essa velocidade sem pertencer a uma árvore de vantagem física como a minha, é realmente incrível.”
Kurth continuou.
— O professor disse que o diretor Hodrixey consegue alcançar 500 km/h para um não usuário de árvores de aprimoramento físico.
“Isso é quase a velocidade que consigo alcançar quando uso minha habilidade. Hodrixey é mesmo um monstro.”
A porta da sala se abriu, e o professor de magia básica entrou, portando uma Toga ornamentada e segurando um punhado de livros debaixo do braço.
Ele era rechonchudo e tinha pequenos óculos redondos. Suas bochechas eram rosadas e pareciam estar sempre cheias. Com uma voz rouca e abafada, ele se virou, apanhando um giz e escrevendo fórmulas matemáticas no quadro.
— Bom dia, alunos, hoje aprenderemos análise mágica. Percebi que tem um rosto novo por aqui, e pelo visto é alguém famoso…
Todos da sala olharam para Colin, e ele deu de ombros. Pouco a pouco ele estava se acostumando a isso.
— Sou o professor Belartius. Também sou especialista em análise mágica e criação de magia básica.
Belartius escreveu uma gigantesca fórmula no quadro de quase cinco metros de comprimento. Ele se virou para foliar o livro de análise mágica enquanto seu giz continuou escrevendo sozinho.
Colin já estava ficando zonzo olhando tantas fórmulas e números, mas ele estava decidido a prestar atenção. Ele não queria ficar para trás de Anton agora que o desafiou abertamente no meio de tantas pessoas.
— Pode não parecer, mas toda magia é baseada em uma fórmula matemática, os estudiosos chamam a magia de “ciência da criação absoluta”.
O professor fechou a página de seu livro e estendeu o indicador. Uma ventania concentrada invadiu a sala de aula e, do indicador de Belartius, surgiu uma pequena esfera, do tamanho de uma bola de gude.
— A equação que descreve esta minúscula esfera está escrita no quadro.
Todos ficaram boquiabertos e Colin não conseguiu segurar a surpresa. Como diabos conseguiram encontrar essa fórmula baseado apenas nisso?
Colin ergueu a mão para uma pergunta.
— Pois não, Sr. Colin?
— Depois de descobrir esta fórmula, o que fazemos depois?
Belartius sorriu, ele estava esperando que alguém perguntasse exatamente isso.
— Sr. Colin, pode vir até aqui por gentiliza?
Colin estava receoso, mas decidiu ir mesmo assim. Ergueu-se calmamente e caminhou até ficar ante ao professor.
— Senhor Colin, vendo seu desempenho na prova de seleção, pude ver que é um habilidoso mago de nível dois da árvore dos céus, não é?
Colin fez que sim com a cabeça.
— Certo, tenho que o parabenizar. Existem pouquíssimos usuários do céu por aí, por isso você será perfeito.
— Perfeito para quê? — perguntou Colin.
— Para uma demonstração. Me sigam alunos, vamos para o estádio de treinamento.
O estádio era grande o bastante para caber ao menos 500 pessoas. No centro, havia uma grande arena onde os alunos usavam para treinos. Os 30 alunos de Belartius prestavam atenção na aula, enquanto outros alunos de outras turmas estavam ali simplesmente por estar. Muitos eram delinquentes e ficavam quase o tempo todo matando aula, já que ninguém era obrigado a participar de aula alguma.
— Muito bem, alunos! — disse Belartius. — Prestem atenção no poder que uma magia básica pode ter.
Os olhos de Belartius ganhou uma coloração azulada e sua íris ganhou a forma de um círculo mágico.
— Me ataque, senhor Colin, ou melhor, tente me atacar.
Colin estava receoso, ele não queria brigar com um professor em seu primeiro dia.
— Está com medo de um velho, senhor Colin?
Colin fez que não com a cabeça.
— Não quero machucar o senhor…
— Está tão convencido assim? Vamos lá, garoto, me mostre tudo que sabe, não serei tão bonzinho quanto Anton.
Colin franziu o cenho.
— Foi você quem pediu.
Raios Celestes brotavam sutilmente de Colin e como num piscar de olhos, ele desapareceu.
— Usou uma habilidade como essa assim tão rápido? Você é mesmo muito bom, mas…
Grab!
Abruptamente, Belartius virou-se para trás pegando Colin pelo pescoço.
Os alunos, e principalmente Colin, ficaram sem entender absolutamente nada. Belartius conseguia ler os movimentos de Colin como um livro.
Num empurrão, Colin se soltou indo para trás.
O único que conseguiu acompanhar sua velocidade anteriormente foi Anton e Stedd, então Colin deduziu que talvez eles pudessem ler suas habilidades com a magia de análise.
Colin se lembrou de sua luta com Anton, e recordou-se que ele conseguiu enganar Anton com seus diversos clones e sua velocidade que havia superado seus limites.
— Ainda estou me recuperando — disse ele. — mas tenho que testar isso novamente!
O corpo de Colin fora envolvido com uma gigantesca carga elétrica. De repente, vários de seus clones feitos de raios deixaram seu corpo e ficaram em volta do professor Belartius.
Os alunos ficaram impressionados com o nível da luta, principalmente os novatos que agradeceram aos deuses por não terem enfrentado Colin durante o exame.
— Você usa truques interessantes para um usuário da árvore dos céus, mas sou quase um mestre em magia básica. Precisará bem mais do que isso para me vencer.
Belartius concentrou uma quantidade absurda de mana em sua panturrilha e com os olhos seguia Colin e seus clones. Depois de alguns segundos observando, ele avançou, apanhando pelo pescoço o Colin original.
A plateia não escondeu a surpresa. Colin estava atônito, ele não esperava por essa.
Belartius olhou por cima de seus ombros encarando a plateia.
— Se estudarem ao menos magias básicas de classes diferentes e focarem em magia de análise, podem se sair muito bem contra oponentes tão fortes quanto Colin. Se usarem a análise e prestarem atenção, verão que a mana do usuário sempre muda quando ele realizará algum ataque. Se forem um especialista em magias de análise, poderão antecipar a magia de seu oponente somente com o olhar. Com um pouco de estudo conseguirão até mesmo obter o dado de status do oponente, mas não se enganem, quanto mais forte o oponente, mais difícil será enxergar o status dele.
Abrindo a mão, Belartius soltou Colin que foi de joelho ao chão.
Colin alisou o pescoço enquanto estava perplexo. Seus esforços foram todos em vão. Se fosse uma luta de verdade, ele seria derrotado em segundos. Erguendo a cabeça, ele encarou Belartius que estendeu a mão para ele.
Ignorando a mão de Belartius, Colin se ergueu e virou-se de costas.
— Bela demonstração, professor…
— Obrigado! Você também foi bem, usuários da árvore-do-céu são todos fortes, até mesmo os de nível dois como você. A fórmula da sua mana também é longa e complexa, demorei anos para aprender ao menos o básico e mesmo assim consigo analisar só usuários do céu que vão até o nível 4.
“Magias da minha árvore são realmente tão difíceis de analisar?”
— Nunca gostei de estudar — disse Colin ainda de costas. — Mas acho que talvez eu deva levar os estudos mais a sério a partir de hoje.
— Me deixaria muito feliz se isso acontecesse. É difícil para nós, da classe mais baixa, nos adaptarmos a elite, por isso temos que fazer tudo que estiver ao nosso redor para alcançá-los.
Em passos lentos, Colin subiu os degraus da arquibancada encarando Kurth e o restante de seus colegas de classe que estavam com os olhos brilhando.
— Você foi incrível! — Kurth se empolgou.
— Não fui, ele acabou comigo rapidinho.
— Não foi?! Mal deu para ver você se movendo de lá para cá, sem falar nos seus clones que se moviam tão rápido quanto você, sério, foi incrível!
Colin encarou Kurth com o canto dos olhos e sorriu coçando a nuca. Apesar de tudo, ele era só uma criança, era fácil se impressionar, mas ele tinha razão. Colin era um ponto fora da curva mesmo com sua mana drasticamente reduzida depois da prova de seleção.
Belartius se moveu para frente da turma e apoiou as duas mãos na anca.
— Agora quero que, em ordem alfabética, todos desçam aqui e tentem lutar comigo. Apontarei falhas em suas técnicas e como vocês poderão melhorar em suas habilidades. Ao final dos testes ficará como dever de casa aprender a enxergar os status de alguém.
Um a um, os alunos em ordem alfabética, enfrentaram Belartius.
Ele era um bom professor, apesar de sua aparência pacífica, ele era alguém a ser temido. Colin ainda pensava em como conseguiu perder tão rápido e mesmo Belartius não especificando em que Colin havia pecado, ele já sabia a resposta.
Não havia como um mago de nível 2 vencer um professor tão habilidoso. Ele precisava de treino, mas precisava principalmente a refinar ainda mais a manipulação da mana.
“Ver a forma da mana… consegui isso lutando contra Barone. Acho que sei como fazer o princípio da magia de análise.”
Depois da aula instrutiva de Belartius, Colin aprendeu sobre poções na aula da professora Labella e depois aprendeu sobre o básico de evocação de seres de outros planos com o professor Primius.
Na aula de poções, ele soube ser possível elevar a reserva de sua mana através de poções, e que algumas poções poderiam aumentar sua mana permanentemente, mas essas poções em específico necessitavam de ingredientes quase impossíveis de serem encontrados.
Eles poderiam ser comprados em mercados espalhados por toda capital, mas custavam uma fortuna. Até a própria elite tinha um pouco de dificuldade em adquiri-los.
Colin caminhava pelo corredor enquanto pensava em tudo isso. Havia um longo caminho a percorrer se ele quisesse se dar bem no futuro.
— Colin? — chamou Stedd, que estava de pé na frente dele.
Colin olhou para os dois lados, desvencilhando de seus pensamentos longínquos.
Stedd segurava um papel em mãos.
— Vai ficar me seguindo agora? — perguntou Colin.
— Minha vida sem você é sem graça. — Stedd lhe deu uma piscadela e depois balançou o papel em sua mão. — Consegui a permissão para a excursão. Parece que vocês irão escoltar um bando de agricultores que veio de uma cidade vizinha fazer negócio aqui na capital.
Pegando o papel, Colin leu linha por linha.
O documento dizia também que a universidade não se responsabilizava pela morte dos estudantes. Na borda do papel havia espaço para uma assinatura, insinuando que ao assinar, o estudante estaria concordando com o contrato.
— Aqui não diz para onde as caravanas irão e nem quantos dias isso durará. Sem contar que posso morrer nisso aqui.
— Não me vem com essa, você está sempre se jogando em qualquer situação que tenha risco de morte.
Colin deu de ombros.
— É — disse ele. — Você tem razão. Alunys e Kurth já assinaram isso?
— Sim, só falta você.
— Sério? Pensei que a garota iria amarelar.
— Eu também. Agora assina logo isso porque tenho que entregar a secretária.
— Tem uma caneta aí?
Stedd enfiou a mão no paletó azul retirando uma caneta.
— Aqui, só assinar.
Apoiando o papel na parede, Colin assinou seu primeiro nome e entregou o papel a Stedd, que ergueu a sobrancelha.
— Você não tem um sobrenome? Sempre fui curioso para saber de qual vilarejo Élfico você veio.
Colin estendeu a mão pedindo o papel e assinou seu nome completo. Stedd apanhou o papel e fez uma careta ainda mais estranha.
— Colin Silva… nunca ouvi falar do nome dessa família antes e nunca li nada sobre. Pensei que fosse um Calimaniano ou elfos que seriam da família Keldres ou Zoxit, porque você se parece um pouco com eles. Elfos que se parecem muito com humanos. — Stedd deu de ombros. — Deixa pra lá. Os Silva devem ser outro ramo desses clãs esquisitos.
— É, devem ser.
Dobrando o papel, Stedd o guardou no paletó junto a sua caneta.
— A excursão é daqui a 6 dias, se prepare.
[…]
Destrancando a gigantesca porta de madeira, Loaus passou por ela e passou a chave na fechadura. Chegou ao quarto cheio de livros com sua irmã sentada em uma mesa repleta de pergaminhos enquanto parecia estudar sobre magia de conjuração elementar.
Erguendo a cabeça, Liena fitou o irmão trazendo uma trouxa de roupas e as espalhando por cima da mesa. Eram roupas de camponeses comuns. Botas simples, vestidos de segunda mão e um amontoado de trapos.
— Onde conseguiu isso? — perguntou Liena apanhando as roupas e as cheirando.
Algumas delas tinham o cheiro de mofo, e outras o forte cheiro de suor. Resultado de horas labutando debaixo do rigoroso sol do verão.
Loaus tirou a blusa e vestiu uma roupa simples de camponês com uma gola de cordinhas.
— E então, como estou?
— Não sei… pobre?
— Não devia dizer essas coisas, eles trabalham para o papai e você vai conhecer muitos pobres daqui a um tempo.
— Mas isso não muda o fato de que eles são pobres, muda?
— Não, mas tente parecer gentil pelo menos. Eu não queria dizer, mas você carrega muito os traços de uma mulher nobre.
Liena pegou um vestido manchado e o ergueu no alto, observando uma mancha logo abaixo no busto.
— Se ser pobre é isso, então prefiro continuar sendo nobre. Sou uma princesa, não dá para fugir disso.
— Dá, sim, pare de lavar o cabelo todos os dias e de usar aquelas loções para pele. Quer misturar, não quer? Temos que parecer como eles.
— Deus me livre de me parecer com gente assim. O cabelo até aceito, mas minhas loções vão continuar querendo ou não!
Pegando um sapato de couro, Loaus o calçou sentindo bastante conforto.
— Vai fazer o quê? Levar as loções com você? Não seja burra. Dará na cara que você não é uma camponesa.
— Está dizendo que uma mulher camponesa não pode cuidar da pele?
— Com o preço que elas custam? Acho meio difícil.
Mais uma vez, Liena puxou uma peça de roupas e a ergueu.
Era um vestido em um tom amarelo-claro, e ele não estava manchado nem cheirando mal.
— Para de me encher e diz quando vai ser a nossa fuga.
— Daqui a seis dias.
Abaixando a peça de roupa, ela voltou os olhos para o irmão.
— Gostei do lance das roupas e tal, mas como vamos despistar os guardas?
— Lembra de Billy Tony Tony?
— O filho do cozinheiro?
— Isso, ele é dá árvore do silêncio, consegue nos deixar invisíveis. Fiz um acordo com ele, mas acho que você não gostará muito…
Liena ergueu uma das sobrancelhas desconfiada.
— Não vou gostar?
— Bem… ele disse que ajuda a gente sob uma condição.
— Que condição?
Loaus deu um suspiro.
— Você tem que beijá-lo.
Liena ficou boquiaberta e logo fez depois, uma expressão de nojo.
— Eu não vou beijar o filho de um cozinheiro! Meu primeiro beijo tem que ser com um homem importante, um príncipe ou um rei, não com um reles filho de um cozinheiro que nem cozinha tão bem.
Loaus se sentou na cadeira e suspirou.
A coisa mais difícil era o temperamento de sua irmã, e ele tinha medo que ela mantivesse este mesmo temperamento enquanto estivessem viajando com outras pessoas. Diferente do castelo, lá fora, não teria ninguém para os proteger, então Liena precisaria manter a língua menos afiada.
— É só um beijo, por que o alarde?
— Beije-o você então!
— Ele pediu foi por você, não por mim.
— Nem fiz o ato e estou começando a me sentir uma prostituta… tá bom, eu faço! Mas se ele contar para alguém, perderá a cabeça na guilhotina!