O Monarca do Céu - Capítulo 191
Círculo de Invocação.
Após acatarem as ordens de seu novo rei, as criaturas partiram. Começaram a se organizar para a maior invasão na história do território hostil. Colin e Ayla estavam na residência, sentados no chão com as pernas cruzadas de frente para o outro, analisavam documentos na baixa mesa de madeira frente a eles.
As criaturas forneceram aqueles documentos. O alfabeto dos documentos era bastante confuso, era semelhante a hieróglifos, porém, bem diferentes na forma como se lia. Por sorte, Ayla levou somente algumas horas para aprender o alfabeto das criaturas e, assim que o fez, tratou de transcrever para o papel qualquer coisa que remetesse a Nag e seu poderoso exército.
Pelas anotações, era possível especular que Nag tinha cerca de dez mil Orcs sob seu comando, e quinhentos avançaram pelas terras de Ayla. Era um número preocupante, mas a rainha acreditava em seus guerreiros e nos três carniceiros que vieram junto a seu futuro marido.
Também havia registros de canhões poderosos sob posse não somente dos Orcs, mas também dos Hobgoblins, que era a maior preocupação de ambos. O número expressivo deles poderia ser um problema, um problema que Colin estudava as opções que tinha para resolver.
O errante entendeu rápido o padrão alfabético das criaturas após uma explicação didática de Ayla. O número de inimigos se aproximava de um milhão, enquanto havia menos de duzentas mil criaturas, com apenas cinquenta mil delas aptas para o combate.
Ayla estava concentrada, lendo os documentos e anotando coisas importantes. Ela não queria deixar passar nada. Se a vitória sobre Nag fosse um sucesso, ela queria ter uma noção do inventário e do espólio generoso que iria gerar, porém, Ayla não estava planejando se apossar de nada no território hostil. Ponderava em deixar tudo para as criaturas. Aqueles seres seriam parte de seu território, e seria mais inteligente que eles conseguissem se defender sem sua ajuda.
Almejava até mesmo usar as criaturas como extensão de um exército, um grupo de extermínio talvez. Estudava as chances de alguns orcs de Nag se juntarem a ela, já que Orcs eram tão práticos quanto as criaturas, obedeciam sem pestanejar aos mais fortes.
Com Colin se tornando o pilar que ela desejava, seria difícil todas aquelas criaturas não acatarem as suas ordens ou as ordens de seu futuro marido.
Perder não era uma opção e, sem que percebesse, havia adotado a ideia expansionista de Colin, tentando moldá-la à sua maneira, tentando torná-la benéfica para todos.
Colin, por outro lado, sabia da responsabilidade que tinha em mãos, e o peso em seus ombros o fez ponderar opções que tinha em mente há algum tempo.
— Ayla, vou dar uma volta. — Colin se ergueu.
Ela assentiu com a cabeça e continuou suas anotações. Sua mente estava focada apenas nas anotações no momento. Colin saiu da residência e vagou por aquela vila. Os orcs estavam com ainda mais medo dele pelos últimos acontecimentos.
Ao longe, Colin viu Ergoth sacudir seu machado de um lado para o outro em uma área cercada por grama-baixa. Orc o percebeu. Apoiando o machado no ombro, Ergoth deu alguns passos em direção ao carniceiro.
— Senhor Colin! — chamou Ergoth encharcado de suor — Algum problema?
Colin fez que não com a cabeça.
— Apenas dando uma volta. Não sou um especialista no manuseio de armas, mas seus movimentos são bons.
Sem jeito, Ergoth coçou a nuca apoiando o machado no ombro. — O-Obrigado! É uma honra ouvir isso de alguém como o senhor!
— Não precisa ficar sem jeito, não sou tão especial assim.
— O senhor derrotou Bonlion, para o povo do território hostil é o suficiente para reconhecê-lo.
Com as mãos nos bolsos, Colin abriu um sorriso e assentiu.
— E o seu povo, como está? Devo ter os assustado um pouco.
— Bem, não somos um povo com tradição guerreira. Alguns ficaram, sim, assustados, mas eles sabem que o senhor não fará nada, estão apenas com medo do que acontecerá se… se o senhor perder para Nag…
— Vai ficar tudo bem, eu garanto. Agora preciso ir, a gente se fala, Ergoth.
Sem dizer mais nada, Colin continuou e foi em direção a floresta, caminhando despreocupado até um lugar inóspito rodeado por grama e árvores baixas.
Após um suspiro, ele olhou para os dois lados e assentiu.
— Esse lugar deve servir.
Transformou Claymore em uma lança e começou a fazer um círculo mágico no chão, um círculo de invocação de alto nível. Depois do círculo feito, ele transformou Claymore em uma adaga e caminhou até o centro do círculo.
Cravou a adaga no pulso e rasgou, deixando sangue pingar nas linhas do círculo. Girou Claymore e cravou no centro do círculo, usando a magia contida na espada para ativar o círculo que brilhou em roxo.
— Certo, agora se concentra.
Colin se afastou para longe do círculo, juntou as duas mãos e começou a se concentrar. Faíscas ficaram ainda mais agressivas, serpenteando no ar. Todo círculo foi tomado por algo que Colin não conseguia descrever em detalhes, e marca da aranha nas costas de sua mão esquerda começou a arder.
Vapor começou a sair do círculo, um vapor gelado que nublou a visão do carniceiro. Acompanhado daquela névoa, veio uma pressão esmagadora, como se o oceano estivesse acima de sua cabeça. Seu nariz começou a sangrar, sua visão ficou turva e após um estalo, Claymore foi lançada para longe.
Ting!
A névoa desapareceu, dando lugar a um miasma esverdeado maquiavélico, capaz de apodrecera grama entorno. Pássaros alçaram voo e animais se afastaram o mais rápido possível.
Um par de patas de aranha saiu daquele círculo, depois mais outro, mais outro e mais outro. Viu-se um cabelo escuro reluzente, em seguida, viu-se dois pares de olhos assustadores. A criatura que saiu dali tinha o corpo de uma mulher da cintura para cima, e, da cintura para baixo, era uma aranha com detalhes avermelhados na bunda e patas.
Aquele ser assombroso abriu sua boca de aranha e começou a babar sem parar. O círculo se desfez e a aranha havia saído por completo.
Colin limpou o sangue do nariz com as costas da mão e deu dois passos à frente.
— E aí, Jane.
A aranha bateu as patas no chão violentamente, correndo até Colin. Ficou cara a cara com ele enquanto rosnava.
— Desgraçado! — Dizia em um tom de voz apavorante, como se várias vozes em lamúria falassem ao mesmo tempo — Sabe por quanto tempo fugi de Drez’gan? Meses! Ainda por cima tive que despistar aqueles apóstolos incontáveis vezes, quase fui morta porque você não cumpriu sua parte do acordo!
Colin olhou para os dois lados e deu de ombros.
— Você está aqui agora, não está? Cumpri minha parte do acordo, devia me agradecer.
As veias da têmpora de Jane saltaram de raiva.
— Seu pirralho arrogante, eu sou uma rainha! Veja como fala com uma rainha, errante de merda! Posso matar você com um estalar de dedos, então tenha mais respeito!
— Quanto mau-humor. Você está livre, não precisa mais se esconder de Drez’gan.
Jane olhou ao redor, cheirando o ar duas vezes.
— Quanto fedor, onde estamos?
— No território hostil, isso fica a oeste do centro-leste do continente.
As patas da aranha começaram a entrar em suas costas e a feição de Jane mudou drasticamente, assumindo a forma esbelta de uma mulher.
— Você está mais forte, garoto. — Disse agora em um tom de voz sedutor — Então — Jogou os cabelos escuros para trás do ombro — Colinzinho, me atualize. O que aconteceu desde que nos vimos da última vez?
— Coloque uma roupa, vamos voltar.
Colin deu um passo e sentiu vertigem. Apoiou as mãos nos joelhos e golfou, tossindo severamente em seguida. Seu nariz escorreu sangue novamente e ele o limpou, limpando também o canto de seus lábios.
Jane acariciou as costas dele.
— Tudo bem, querido? Por que não descansa?
Colin deu alguns passos e encostou em uma árvore, deslizando as costas até sentar no chão. Sua visão ainda estava embaçada, mas ele estava melhorando.
Jane agachou na frente dele e franziu o cenho.
— Você não fez isso, fez? Seu corpo não consegue gerar mana, então como… — Ela olhou para trás, vendo Claymore cravada na grama — Idiota… Quer se matar?
— Funcionou, não funcionou?
— Quanto tempo você usou?
— Dez, vinte anos, do que isso importa? Você está aqui, não está? Só me deixe recuperar, trarei o Elfo do mar também.
Jane puxou o braço esquerdo de Colin, vendo que nele estava a tatuagem de uma hidra dando uma volta em seu braço.
— Não seja estúpido, você vai morrer se usar tanta energia vital em tão pouco tempo, e como conseguiu fazer um contrato com um Elfo do mar?
Colin respirou fundo e limpou o sangue do nariz novamente.
— Encontrei em outro plano, ele estava preso. — Ele olhou no fundo dos olhos de Jane — Escuta, estou sem tempo, eu vou invocar o Elfo e a gente vai para casa.
— Por que essa pressa? O que é tão importante para você sacrificar cinquenta anos da sua vida?
— Vou entrar em guerra contra uma horda de Hobgoblins. Fizemos acordo com criaturas, basicamente os ameacei para trabalharem para mim, mas não posso os usar como bucha de canhão.
Ainda nua, Jane se ergueu apoiando as mãos na cintura, encarando Colin como uma mãe encararia o filho levado.
— Está com pena de monstros agora? Tsc…
Colin tossiu mais duas vezes, cuspindo sangue.
— Como pode ver, eu não posso gerar magia. Só tenho Claymore que serve para tapar buraco. Minha única opção é essa.
— Levanta! — Ordenou Jane. — Não vou deixar você se matar. Como matará Drez’gan para mim se estiver todo detonado? Já foi imprudente demais me invocar.
— Você tem que fazer o que mando, eu sou o seu-
Cof! Cof!
— O meu o quê? Mal consegue ficar de pé. A gente fará o seguinte, você ficará aqui e descansar. Nem pense que carregarei você seja lá onde for, porque não irei.
Colin tentou se levantar e não conseguiu.
— Tsc… Tudo bem, mas descansaremos só por um tempo.
Colin fechou os olhos e segundos depois ele apagou. Seu corpo estava fadigado, havia atingido um limite que não havia atingido em meses. Jane suspirou encarando Colin de cabeça baixa, roncando baixinho.
Aranhas minúsculas subiram pelos pés de Jane, tomando conta de todo seu corpo. Se transformaram em uma camisa de manga longa escura que valorizavam seus seios fartos. Calças pretas que valorizavam suas nádegas e botas também pretas. Caminhou até uma árvore e a tocou com um indicador. A estrutura da árvore mudou, ficando espelhada.
Jane ajeitou o cabelo liso como vidro e fez algumas caretas. Seus olhos negros ficaram esverdeados e seu lábio fino ficou mais grosso, assumindo um tom avermelhado e de simetria perfeita. Jogou uma mecha para trás da orelha e apoiou as mãos na cintura fazendo outras poses.
— Pronto! Agora tenho que cuidar desse pirralho. Onde já se viu, governei o abismo por eras, agora tenho que ficar aqui cuidando de um homem feito.
Caminhando até Colin, Jane ajoelhou, sentou sob o calcanhar e tombou o corpo dele, apoiando a cabeça em seu colo.
— Você me deve uma, garoto.
…
Anoiteceu.
Colin abriu os olhos devagar, olhando para Jane. Ele se sentou, massageando o ombro. Sentiu como se tivesse dormido uma semana inteira.
— Por quanto tempo apaguei?
— Seis horas, mas não se preocupe, devorei tudo aquilo que o afligia. — Ela abriu um sorriso de canto — Como se sente depois do tratamento privilegiado, querido?
“Devorou tudo que me afligia?”
Ele coçou a nuca.
— Melhor…
Jane passou as mãos pelos ombros dele por trás, o abraçando e abrindo um sorriso malicioso.
— Seu danadinho — Disse em seu ouvido — Você engravidou a queridinha de Drez’gan, sabe que ele não vai perdoar isso, né?
Colin deu de ombros.
— A hora dele também vai chegar.
Jane o abraçou mais apertado.
— Olha só, o pirralho está confiante, mas ainda falta bastante para você conseguir arranhá-lo. Conhecendo-o e conhecendo você, o resultado seria óbvio, você seria destruído em segundos, talvez menos que isso.
— Como você sabe de todas essas coisas se eu não disse nada?
Jane apoiou o indicador na têmpora de Colin.
— Sou uma súcubos, garoto, estive na sua cabeça, você não pode esconder nada de mim, nadinha. Seu plano de conquistar o continente é válido — Ela chegou mais perto do ouvido de Colin — Anda relutante com o casamento, não é?
Colin ficou em silêncio e Jane se afastou, erguendo-se.
— Aí está a resposta. Não devia se sentir tão culpado, pode demorar, mas ela perdoará você. Seres místicos são idiotas quando o assunto é amor, e você precisa de foco. Você ainda pensa como um plebeu, reluta em coisas que não devia e gasta tempo pensando em coisas inúteis. — Ela abriu um sorriso sedutor — Sorte sua que agora estou aqui para auxiliá-lo. — Jane apoiou a mão no queixo — Parece que teremos muito trabalho pela frente, animado?
Após se levantar, Colin alongou-se.
— Se está sabendo de tudo, sabe que vai ter que lutar com milhares de goblins, não sabe?
Jane cruzou os braços e fez beicinho.
— Não devia ser tão mal comigo, Colinzinho, meus poderes vão demorar a retornar, talvez leve anos. Infelizmente estou no meu básico, mas deve ser o suficiente. Não precisa convocar o Elfo do mar, não agora.
Colin enfiou as mãos nos bolsos e começou a caminhar em direção a Claymore cravada na grama. Jane apressou o passo e abraçou o braço esquerdo dele.
— E então, quando vamos atrás da chifruda? Seu papaizinho deve estar enchendo a cabeça da garota de porcaria. Não planeja mandar alguém atrás dela?
Colin parou de se mover.
Safira continuava sendo importante para ele, tão importante quanto Brighid.
— Nem uma palavra sobre Safira ser uma caída ou ela ter matado meus amigos, nem para Ayla, nem para ninguém.
Jane fez o gesto de passar um zíper sobre os lábios.
— Pode confiar em mim, Colinzinho, não direi nada.
— Safira não é um monstro, ela estava sendo controlada.
— Não duvido disso. — Jane encostou a cabeça no ombro dele — Apesar desse fedor, o ar desse mundo é muito puro, meus pulmões estão ardendo. Deve levar algum tempo até que eu me acostume. — Ela ficou em silêncio por um instante — Há um meio de fazer com que você volte a gerar mana. Precisa fazer um contrato com uma entidade que tenha mana abundante, tão abundante que reconstrua o que seu pai destruiu em você.
“Entidade com mana abundante?”
— Isso não é raro? — indagou ele — Entidades poderosas não pertencem a outros planos?
— Não precisamente. — Ela apontou para o céu noturno — A rachadura pode ter ajudado seres poderosos a passarem para cá, seres que estão além da compreensão assim como eu. A eles damos o nome de entidades. Devem ter vários nesse mundo neste exato momento.
Colin ficou interessado, mas no momento ele havia problemas batendo a porta, quem sabe depois que os resolver ele vá atrás de novas criaturas para fazer contratos.
— Não precisa se preocupar com isso — disse ele — Consigo me virar sem mana.
— Por enquanto. Você pode ficar tão forte quanto a vampira Morgana, mas lutar contra Drez’gan sem mana é suicídio, e é questão de tempo até ele chegar aqui, neste plano. Pensa só, se Drez’gan passar para esse plano e você for o imperador do continente, quem acha que vai ter que enfrentá-lo? Isso mesmo, você, Colinzinho, então é melhor que foque em ficar forte, se você perder para Drez’gan, então será o fim de tudo. O fim para você, a fada, Ayla, seus filhos, amigos, todo mundo. Não pense que alguém ajudaria você nisso, ninguém é tão louco quanto você para enfrentar a criatura mais poderosa do abismo.
Colin assentiu. Ele tinha noção da responsabilidade que estava sob seus ombros, mas queria dar um passo de cada vez. Primeiro, tinha que dar um jeito em Nag, só então pensaria no que viesse a seguir.
Jane se desvencilhou do carniceiro, foi para frente dele e lhe deu um peteleco na testa.
— Relaxa, garoto, você ainda deve ter alguns anos até Drez’gan aparecer, exceto se o véu caia de vez, então estaremos perdidos. — Ela abriu um sorriso sedutor — Você tem sorte que estou aqui agora, se você me ouvir, então tudo sairá perfeitamente bem.
— Mas não foi você que perdeu para Drez’gan e foi mandada para cuidar de um fosso como punição por ser insubordinada?
Jane deu outro peteleco na testa dele.
— Nem mais um pio sobre isso, garoto. Digamos que eu apenas não tive sorte.
Colin passou a mão na nuca e suspirou.
— Não tem nenhuma forma de invocar Valagorn sem que eu use mais energia vital?
Jane cruzou os braços e assentiu.
— Têm, mas vai doer. Você ficará pior do que ficou agora.
— Não importa, eu aguento.
— Você é anormal, sabia? Deve ser a primeira criatura que encontro que não se importa tanto com a própria vida. — Ela suspirou — Primeiro, você precisará beber meu sangue. Sou uma criatura do abismo, meu sangue será veneno para você, mas ao menos não precisará usar energia vital para invocação, meu sangue fará essa função.
Jane caminhou até Claymore e a pegou. Por ter vínculo mágico com Colin, ela poderia portar a espada sem que fosse reprimida pela mesma.
— Um artefato feito da raiz da grande árvore, uau… Se eu tivesse uma dessa Drez’gan teria problemas. Uma pena que você ainda não está usando toda capacidade dela.
Colin ergueu as sobrancelhas.
— Toda capacidade? Essa espada pode fazer mais?
Foi a vez de Jane fazer uma careta.
— Devia estudar mais, garoto. Músculos não são a única coisa importante. É uma pena que nesse estado ela absorva somente 100 mil pontos de mana.
— Somente? — Indagou surpreso — Quanto de mana isso pode absorver?
— Um dos doze artefatos feitos com a raiz da grande árvore? 500 mil pontos de mana, no mínimo. — Jane cerrou o punho sobre o cabo da espada e Claymore começou a absorver sua mana — Sabe de uma coisa interessante, Colinzinho? — Ela jogou a espada para ele — Existe um boato que quando Sefeh forjou os doze artefatos, disseram que ele usou o fogo em sua mais pura essência, o mesmo fogo que dizem ter aquecido a semente da grande árvore para que ela geminasse e dessa origem a tudo. O mesmo fogo que está com sua pirralha, Safira.
Colin engoliu o seco e Jane continuou.
— Não sei o que seu papaizinho pretende, mas pode estar relacionado com a criação ou destruição de tudo, e a garota é a peça principal para isso acontecer. — Jane suspirou — Não sei de quem devemos ir atrás primeiro, seu pai ou de Drez’gan. Bem, chega de papo e enfie essa espada no centro do círculo.
A mente dele borbulhava de perguntas, mas Colin apenas respirou fundo. Quanto mais tempo passava, mais problemas surgiam. Afastando aqueles pensamentos, ele caminhou até o círculo e enfiou a espada.
— Aqui, beba. — Jane se aproximou e rasgou o pulso com uma das unhas — Beba até encher sua bexiga.
Colin pegou o braço dela e começou a beber o sangue de seu pulso.
— Quando estiver completamente saciado, comece o ritual. Vai te machucar, mas será necessário para que tudo funcione perfeitamente. Depois que terminar, seu corpo rejeitará meu sangue, será quase meia hora de dor lacerante que sentirá por cada centímetro do seu corpo.
Ele afastou o pulso de Jane e limpou o sangue que escorria pelo canto de seus lábios. A súcubos foi até o centro do círculo e deixou sangue cair em cima da espada, energizando o círculo por inteiro. Faíscas púrpuras começaram a serpentear o círculo, e uma poderosa descarga elétrica iluminou parte da floresta.
Dando alguns passos para trás e fechando seu corte, Jane fez que sim para Colin. O errante esticou o braço esquerdo e a marca de hidra começou a brilhar em um púrpuro lampejante. Os raios do círculo ficaram mais agressivos, queimando até folhas que nele caíam.
Viu-se chifres, cabelo branco, uma mão azulada com correntes e ali estava Valagorn, o Elfo do mar. As faíscas cessaram e a escuridão os abraçou novamente. Ainda acorrentado, o Elfo encarou Colin, depois olhou para Jane.
— Que lugar é esse? — Indagou Enquanto se erguia — Colin, é você, não é?
— Sim, sou e-
O carniceiro sentiu um aperto no peito e caiu no chão abraçando o estômago. Seus olhos arregalaram e uma dor lacerante tomou conta do seu corpo. Era como se cada centímetro de suas veias estivesse pegando fogo e todos os seus músculos estivessem atrofiando.
— Colin! — Valogorn correu até o errante se contorcendo. — O que aconteceu? — Indagou olhando para Jane.
— Ele vai ter que aguentar isso por meia hora, não tem muito o que possamos fazer.
— O que você fez? — Indagou desesperado.
— Nada. Foi a escolha dele. Vamos esperar isso acabar.
Valagorn arrebentou a corrente de ferro no pescoço, assim como aquelas em volta dos seus pulsos e em seus tornozelos. Acariciou o pulso e encarou Jane.
— Uma súcubos… Quando o garoto me disse que havia feito acordo com uma súcubos, eu não acreditei.
Jane abriu um sorriso de canto.
— Tudo bem, a chave dele ainda está incompleta. — Colin ainda se remoía no chão. Jane colocou as mãos para trás e se aproximou do Elfo com um sorriso sedutor — Pensei que sua raça estivesse extinta depois da queda da grande cidade de Atlas.
Valagorn se abaixou e tocou a testa de Colin com o indicador. O carniceiro parou de se remoer e começou a dormir tranquilamente.
— Anestesiei o garoto. — Ele se ergueu — Ele deve acordar em algumas horas.
Jane franziu o sobrolho e assentiu.
— Elfos do mar e seus truques.
Valagorn suspirou.
— Se eu estivesse com toda minha mana, teria curado o garoto por completo. Ele nos invocou, certo? Agora é o nosso mestre ou algo assim?
Ambos olharam para Colin dormindo serenamente na grama.
— Infelizmente o pirralho é a nossa única esperança.
— Esperança?
— A gente tem tempo até ele despertar, vou contar tudo a você.