O Monarca do Céu - Capítulo 136
Colin contra o Primeiro Tenente
Como de costume, Colin levantou mais cedo que a esposa.
Preparou o café e ficou sentado na bancada da cozinha olhando pro nada.
Ele tinha um longo dia pela frente.
Os pássaros cantavam do lado de fora e um sol bem fraco batia na janela de vidro da cozinha.
Colin ainda estava com a xícara em mãos e foi até a janela, a abrindo. Sentiu uma brisa leve no rosto, e sentiu também alguém o abraçando por trás.
Ele olhou por cima do ombro e viu Brighid ainda de pijama.
— Café tá pronto, não vai beber?
Brighid abraçou Colin ainda mais forte.
— Tá quentinho aqui…
Colin não disse mais nada, só olhou pela janela vendo o movimento.
Os estudantes pareciam mais agitados que o normal, afinal, o torneio de guildas estava próximo, e ele seria levado com extrema seriedade por todos os alunos que fossem participar.
— Amor… — Colin a encarou por cima dos ombros. Era a primeira vez que ela o chamava assim.
— O que?
Ela encostou a cabeça nas costas dele.
— Eu tenho uma novidade pra te contar.
“Novidade?”
— Que novidade?
— Lembra que eu disse que ainda não sabia quantos bebês estava esperando? Pois é, agora eu sei.
Colin parou a xícara frente aos lábios e engoliu o seco.
— Quantos são?
Ela fez uma pausa dramática.
— São três… não tenho certeza por estarem pequenininhos, mas pela forma fraca da mana deles, acho que são dois meninos e uma menina.
Apesar de já saber que ela estava grávida, ouvir aquelas palavras fizeram sua ficha cair de vez. Além das crianças do ducado, mais três estavam chegando, e isso o deixou assustado.
Seu pai não foi o melhor pai do mundo, e ele tinha medo de ser esse tipo de pai, seja pras crianças ou para seus filhos biológicos.
Um senso de protetor intenso ascendeu dentro dele, e em partes ele temeu por Brighid. Ele tinha medo de não ser forte o suficiente para protegê-la, e a melhor forma de testar isso seria um duelo treino com o pai de Samantha.
— Colin… — ela chamou — Não ficou feliz? Você não disse nada até agora…
Colin se virou para encará-la nos olhos.
Ele abriu um sorriso de canto, apoiou a mão na bochecha dela e a beijou na testa.
— É claro que estou feliz, só… estou tentando digerir essa coisa toda de ser pai… Tem certeza que é seguro você participar do torneio de guildas? Nossa guilda será provavelmente um alvo de muitas outras.
Ela o abraçou e encostou a cabeça em seu peito.
— Você fica tão fofo quando está preocupado comigo…. Mas não precisa se preocupar. — Ela olhou pra cima o encarando com um sorriso no rosto — Amor, tenta usar a análise em mim…
Colin achou aquele pedido estranho, mas o fez.
Status Geral:
Nome: Brighid Wrinklebud
Idade: 1376
Árvore primária: Conjuro. Nível: Monarca Arcano.
Árvore secundária: Reparo. Nível: Monarca Arcano.
Árvore secundária: Vácuo. Nível: Monarca Arcano.
Evocadora: Nível ∞
HP: 255. 100
MP: 3.960.000
Habilidades:
Força: 250
Destreza: 360
Agilidade: 238
Inteligência: 2280
Estamina: 1175
— Você é uma monarca de tríade arcano? — indagou Colin espantando. Aquele era o tipo de status que mais ninguém tinha, o status mais elevado se tratando de poder.
Brighid fez que sim com a cabeça duas vezes e encostou a cabeça no peito dele mais uma vez.
— Normalmente pessoas de nível inferior tem dificuldade pra ver os status de pessoas mais fortes usando a análise, mas você consegue ver a minha porque estamos casados.
Colin engoliu o seco e encarou ela toda carinhosa o abraçando. Era bem difícil de acreditar que uma mulher tão gentil e meiga quanto ela seria tão monstruosa em termos de poder.
Ela se desvencilhou dele.
— Eu vou tomar um banho, tá? — Ela deu um selinho nele e foi toda feliz para o banheiro.
Colin deu um suspiro e coçou a nuca.
— Merda…
Apesar de Brighid nunca cogitar em fazer mal a ele, Colin ficou com medo da esposa por um instante e ficou com ainda mais medo do que o aguardava no futuro.
Se Brighid era tão forte assim, ele nem conseguia imaginar o quão poderoso Drez’gan poderia ser.
Ele terminou seu café sem pressa e esperou Brighid sair do banheiro para que ele pudesse tomar banho.
Cerca de vinte minutos depois, os dois estavam prontos.
Brighid usava calça e botas pretas, uma camisa branca de botões bem justa ao corpo e o cabelo dela estava trançado com mechas soltas ao lado do rosto.
Colin usava um blusão preto que funcionava como moletom, calças pretas e chinelo. Suas mangas estavam arregaçadas e suas mãos estavam nos bolsos.
Brighid estava abraçada ao braço direito dele.
Ambos atraíam olhares, já que aquele provavelmente era o casal mais famoso da capital.
Assim que chegaram na casa de Samantha, notaram que o portão estava escancarado, então decidiram entrar e ir mais ao fundo, bem em direção ao salão de treino.
Ouviram burburinhos assim que se aproximaram, e assim que cruzaram a porta viram um punhado de soldados vestindo uniformes em um canto e do outro lado estava Samantha acompanhada de outras garotas.
Todo burburinho cessou assim que eles viram que Colin havia chegado.
— Colin! — disse Samantha se aproximando — Você também veio, senhorita Brighid!
— O que significa isso? — indagou Colin olhando a plateia.
Samantha olhou para os convidados.
— Desculpa, Colin, é que meu pai disse a alguns soldados que faria uma luta teste com você, então muitos deles ficaram curiosos pra ver como seria.
Charlotte, a irmã de Samantha, se aproximou junto as garotas que Colin conhecera dias antes na festa.
— Senhor Colin! — disse Charlotte empolgada — Meu pai disse que eu podia assistir, então chamei minhas amigas.
Diana se aproximou de Colin com as mãos juntas, quase como se estivesse orando.
— Senhor Colin, irei pedir aos Deuses que protejam o senhor!
— Eu também! — disse Victória atrás dela, tão preocupada quanto Diana — Espero que o pai de Charlotte não seja muito rude com o senhor…
Brighid encarava tudo aquilo de canto. Ela estava com um pouco de ciúme, mas não repreendeu as garotas. Resolveu enxergá-las somente como fãs do marido.
Do outro lado, os soldados encaravam Colin com demasiado ódio.
— Espero que o comandante afunde a cara desse Elfo de merda! — disse um soldado.
— Aquelas não são as filhas do comandante Leerstrom? O que elas estão fazendo com aquele Elfo?
— E aquela outra mulher ali, não é a monarca de duas árvores?
— É a primeira vez que a vejo pessoalmente, ela é bonita mesmo… Isso é tão injusto, a gente ficou anos como recruta e só nos tornamos soldados agora e nenhuma mulher deu bola pra mim daquele jeito. Tsc! Aposto que é só porque esse filho da puta é famoso.
— Tá com ciúme do Elfo?
— E você não?
— Parem com isso vocês, é só aproveitar o show e ver o comandante limpar o chão com a carcaça do Elfo.
Leerstrom adentrou o salão se vestindo como um oficial. Seu uniforme militar era de um azul bem escuro com alguns adereços o enfeitando.
Ele carregava uma espada na cintura e estalava os dedos enquanto estava acompanhado de outros oficiais, e para surpresa de Colin, ele os conhecia.
Um deles era Janora, a santa, o outro era o Primeiro tenente Straus que ele viu ontem junto a Vrumud, o urso pardo.
Assim que eles adentraram, os soldados ficaram em formação de sentido.
— Descansar! — disse o primeiro tenente Straus.
— Elfo! — disse Leerstrom empolgado — Eu sabia que viria! — Ele pegou na mão de Brighid e beijou as costas da mão dela — Senhorita Brighid, creio que não fomos devidamente apresentados no nosso último encontro…
— Tudo bem… — disse Brighid meio sem jeito — Colin me falou um pouco do senhor.
— Que bom! — Olhou para Janora e Straus atrás dele — Espero que não se incomode, Colin, comentei que faríamos uma luta treino e o primeiro tenente Straus insistiu em vir junto. Ele disse que seria bom para seus homens aprenderem algumas coisas.
Colin franziu o cenho ao encará-los.
Ele não teve nenhum encontro amigável com nenhum daqueles dois. Janora, a irmã de Melin do lótus, tentou recrutar Meg a força quando estavam no ducado, já Straus quase havia o agredido por não ter prestado continência ao urso pardo.
— Olha só! — disse Janora cruzando os braços e abrindo um sorriso de canto — O Elfo ficou mais forte, está até parecendo um homem agora.
— Gostaria de me desculpar por ontem — disse Straus curvando o corpo — Eu me exaltei, senhor Elfo…
Leerstrom olhou para os três.
— Então vocês já se conhecem, isso facilita as coisas. — Leerstrom fez uma pausa — No caminho pra cá o primeiro tenente comentou que queria mostrar as habilidades para os novos recrutas que acabaram de se tornar soldados, e como você é famoso, talvez você o faria suar um pouco.
Colin deu de ombros.
— Por mim tudo bem…
— Ótimo! — Então garotas, que tal irmos para as arquibancadas apreciar o show?
Charlotte e as amigas ficaram um pouco assustadas com a mudança repentina. Straus era subordinado direto de Vrumud, e a guilda de Vrumud era uma das mais temidas da capital. Primeiro, que a força de Vrumud era lendária, e isso era somado a brutalidade em batalha de seus três tenentes, com Straus sendo o segundo em comando da guilda.
— Papai… — chamou Charlotte quase sussurrando, preocupada com o que poderia acontecer com Colin — Será só treino, não é?
— Claro! — respondeu Leerstrom a tranquilizando — Não precisa se preocupar, agora vamos lá pra cima, querida.
Charlotte e as garotas se afastaram junto a Leerstrom.
— Boa sorte, Elfo. — disse Janora em tom de deboche.
Brighid não estava gostando da atmosfera do lugar, muito menos do homem que supostamente teria uma luta treino com seu marido.
Nobres ou membros de alta patente não eram nem um pouco confiáveis.
— Colin… é só treino, então não se exalte, tá?
Colin tocou gentilmente no rosto da esposa.
— Não precisa ficar preocupada, está tudo sob controle.
— Espero que esteja…
Ela foi para cima, se sentando ao lado de Janora que mantinha um semblante de deboche.
Os soldados também estavam em seus devidos lugares e foi quando cristais que brilhavam nos quatro cantos da arena começaram a girar, criando uma barreira para proteger os espectadores do duelo.
— Colin… — disse Straus enquanto desabotoava o roupão militar — Eu ouvi muito sobre você. A maioria daqueles homens lá em cima também.
Straus tinha queixo quadrado, cabelo preto que ia na altura dos ombros e olhos azuis. Ele era o tipo de homem que tinha beleza, status e dinheiro.
Assim que tirou o roupão, ele revelou um corpo repleto de cicatrizes. Ele retirou a espada de prata da bainha e a girou no ar duas vezes.
— Estou aqui pra fazê-los perder o medo que sentem de você. Mostrar pra eles que você ainda é um homem que pode sangrar e morrer.
Colin tirou a mão direita do bolso e esticou o braço.
Em vez da clássica espada, Claymore se transformou em uma adaga.
Straus usou sua análise apurada em seu oponente, enxergando toda informação possível sobre o mesmo.
Status Geral:
Nome: Colin
Idade: 24
Árvore primária: Céu. Nível: 06
Árvore secundária: Pujança. Nível: 08
Árvore secundária: Caos. Nível: 06
Mestre da espada: Nível 05
Evocador: Nível 00
HP: 55. 100
MP: 30. 875 + (100.000).
Habilidades:
Força: 285
Destreza: 160
Agilidade: 250
Inteligência: 180
Estamina: 1280
Oratória: 40
Seres vinculados:
Leona: Nível Avançado.
Jane: Nível Lendário.
1058 pontos em pujança, pontos necessários para o nível nove: 12 pontos.
1700 pontos em caos. Para alcançar o próximo nível é necessário mais um pacto de alma.
1990 pontos habilidade primária, pontos necessários para o nível 7: 120 pontos.
Consorte: Brighid Wrinklebud.
Título Ativo: Pele de Aço.
“285 em força?” pensou Straus “O garoto nem mesmo é um oficial e tem tudo isso? E o que é Mestre da espada? E que habilidade é essa oratória? Porque ele tem tudo isso?”
Straus engoliu o seco.
Apesar de toda surpresa, o que mais assustou era que o “Consorte” estava a mostra. Era um tipo de título que só aparecia quando alguém se casava com um ser místico, mais precisamente um monarca.
Casar com um ser místico tinha certas vantagens, mas era bem raro ver esse tipo de coisa, já que para um ser místico aceitar se casar com alguém, o processo teria que ser natural.
Quando feito, era bem difícil de se quebrar.
Seres místicos eram leais como cães aos seus consortes, e ter um ser místico por perto era sempre vantajoso.
Não havia só uma ligação física entre eles, era algo que se estendia para o espiritual e até mesmo cósmico.
Colin abriu um sorriso de canto ao notar a apreensão de seu adversário em relação a ele.
— Tudo bem com você, oficial?
Straus olhou para a arquibancada, focando seu olhar em Brighid.
“Agora eu entendi porque esse verme é tão forte, a monarca é também um ser místico, mas qual?” Ele voltou seu olhar pra Colin “Me lembrei, os relatórios diziam que o elfo chegou à capital com uma asmurg e uma fada” Ele voltou seu olhar para Brighid “Uma fada? Esse Elfo tem uma fada como consorte? Porcaria! Essa mulher está transmutada? Não… a essência dela é mais parecida com a de uma humana. Tsc! De tantos idiotas que ela poderia se apaixonar, ela se apaixonou por um Elfo perigoso como esse, que porcaria!”
Colin e o resto da plateia que assistia a luta achou estranho todo aquele silêncio.
“Tenho que falar com General Vrumud. Vai ser impossível alcançar o Elfo sem passar pela fada, e ela parece ser mais forte que esse imbecil, além de ele estar vinculado a um ser lendário… Jane, que ser é esse? É místico também? Que merda, estou deixando minhas preocupações transparecerem. Mesmo que seja treino, eu tenho que ir com tudo.”
— Ei! — chamou Colin — Tem certeza que está tudo bem com voc-
Booom!
Straus deu uma estocada no ar e uma pressão de ar foi em direção a Colin, seguindo de uma explosão ensurdecedora.
Se não tivesse uma barreira ali, a arena estaria aos pedaços.
Charlotte e as amigas estavam com os olhos esbugalhados de espanto. Até mesmo os soldados estavam em choque com aquela demonstração de poder.
— O Elfo morreu? — perguntou um soldado.
— Essa não era pra ser só uma luta treino?
— O-O senhor Colin está bem, não está? — perguntou Diana com a voz engrolada.
Charlotte cerrou os punhos temendo o pior.
Brighid, Janora e Leerstrom continuavam com suas expressões irresolutas, até que Leerstrom abriu um sorriso de canto.
— Quem diria…
A poeira se dissipou aos poucos e todos puderam observar que Colin estava sem um único arranhão ao lado de uma pequena cratera.
Seus olhos brilhavam em um amarelo intenso.
— Não há como negar, o garoto é bom — disse Janora sorrindo — Ainda por cima ele tem uma análise bem apurada.
Brighid deixou escapar um sorriso de canto. Ela o treinou, viu de perto o que Colin é capaz de fazer. Straus era um primeiro tenente enquanto Colin era um estudante comum a frente de uma guilda, mas mesmo assim, a força e habilidades de Colin no momento alcançavam facilmente a de um monarca.
— Ei! Isso é mesmo possível? — disse um dos soldados.
— Ele desviou? O Elfo desviou daquilo?
Straus franziu o cenho.
“Ele se esquivou?” pensou Straus “Tsc! Esse verme é rápido!”
— Muito bem! — disse Straus empinando o nariz — Pensei que pegaria você nesse primeiro golpe, mas você se esquivou. Meus parabéns!
Straus apertou o cabo de sua espada e avançou em uma estocada tão rápida quanto o seu disparo anterior.
Ting!
A lâmina de ambos se chocou.
Colin girou a adaga e a deslizou sobre a lâmina de Straus até sua guarda mão.
As faíscas deixadas por aquele movimento nublaram a visão de Straus, então Colin só forçou ainda mais sua adaga contra a guarda mão do primeiro tenente e a cortou, fazendo um corte profundo nos braços de Straus que saltou para trás depois daquele contato.
Colin apoiou uma das mãos na cintura e apoiou a adaga sob o ombro.
— Muito bem! — disse Colin o provocando — Eu queria cortar os seus braços fora, mas você se esquivou, meus parabéns!
A arena toda ficou em silêncio.
Os mais chocados eram os soldados, que até então estavam céticos em relação a Colin, mas logo eles começaram a acreditar em tudo que ouviram sobre ele.
— Senhor Colin é tão forte assim? — perguntou Victória impressionada com o que via.
Leerstrom cruzou os braços e franziu o cenho.
“Esse garoto é uma aberração. Ele ainda nem está sério e mesmo assim conseguiu ferir alguém como Straus usando movimentos simples.” Ele olhou Brighid de canto “O garoto tem tamanha habilidade e nem assim é monarca… O quão forte essa mulher deve ser? Tsc… eu nem sequer consigo ver os status dela com a análise”
— Ele feriu o senhor Straus? — se perguntou um dos soldados.
— S-Sim… então esse Elfo é realmente tão forte quanto dizem?
— E-Eu acho que sim!
Ouvir aquilo dos próprios homens fez o sangue de Straus ferver. O primeiro tenente cerrou os dentes e fez sua mana se manifestar, agitando as roupas e o cabelo de Colin.
— Muito bem, Elfo, aqui vou eu!
Vush! Vush! Vush!
Straus lançou uma saraivada de cortes na direção de Colin.
Colin jogou a adaga pra outra mão e esticou o braço direito. Suas tatuagens brilharam em alvo e os golpes com mana de vácuo desapareceram por completo.
A plateia que assistia ficou boquiaberta.
— O que foi isso? — indagou um dos soldados.
— Ele dispersou o poder do primeiro tenente com uma mão?
“O que foi isso?” se perguntou Leerstrom “Ele é um… é um errante?”
Straus estava tão chocado quanto os espectadores.
Saltando para trás, Straus assumiu uma posição de saque da sua espada. Respirou fundo e começou a concentrar uma enorme quantidade de mana na lâmina.
Vush!
Straus apareceu atrás de Colin num piscar de olhos.
Tentou degolá-lo, mas Colin se abaixou e Straus passou direto, abrindo a guarda.
Naquele instante, não só os soldados, mas Leerstrom e até mesmo as garotas sentiram uma forte intensão assassina que fizeram eles sentirem uma arrepio na espinha.
Colin avançou com a adaga na direção do pescoço de Starus, mas sua adaga parou antes de completar o ato.
Crash!
A barreira que protegia os espectadores se quebrou.
— Senhor Colin, isso é um treinamento… — Leerstrom estava lá em baixo, segurando o pulso de Colin com uma das mãos.
Suor seco escorreu pela têmpora de Straus e ele caiu de bunda no chão.
“Ele é rápido!” pensou Colin cruzando olhar com Leerstrom.
— Eu não ia matá-lo, mas isso significa que é sua vez, certo, senhor Leerstrom?
— Ahem! — disse o Mordomo na porta — Senhor Leerstrom, os homens do imperador estão à sua espera.
Leerstrom soltou o pulso de Colin e abriu um sorriso.
— Receio que vamos ter que deixar nosso duelo pra depois. — Ele olhou para a plateia — Bom, pessoal, por mim eu deixaria vocês aqui treinando à vontade, mas minha esposa não ia gostar de ver tanta gente aqui. Entrarei em contato com os senhores para remarcarmos novos treinos em conjunto, mas caso queiram ver mais do senhor Colin, recomendo ficarem atentos ao torneio de guildas, ele irá participar. Obrigado a todos por apreciarem o treino.
Os soldados estavam apavorados. Aquele treino não durou sequer cinco minutos, mas foi o suficiente para deixá-los morrendo de medo do Elfo que havia derrotado o primeiro tenente sem dificuldade alguma.
Colin estendeu a mão para ajudar Straus a se erguer.
— Tudo bem aí?
Straus cerrou os dentes e se ergueu sozinho.
— Não preciso da sua ajuda!
O primeiro tenente apanhou suas roupas no chão e saiu do salão sem dizer mais nada. Os soldados o seguiram, dando olhadas disfarçadas pra Colin.
— Senhor Colin! — exclamou Charlotte ao se aproximar com os olhos brilhando — O senhor foi incrível! Onde aprendeu a lutar desse jeito?
Colin apoiou as duas mãos na cintura enquanto estampava um sorriso de canto.
— Depois de quase morrer tantas vezes você acaba adquirindo experiência em uma coisa ou outra.
— Eu sabia que o senhor venceria! — disse Victória.
— Certo, certo — disse Samantha tocando no ombro da irmã — Colin é um homem ocupado, acredito que ele tenha outro lugar pra ir no momento, portanto deixem-no em paz.
— O senhor vai voltar, não vai? — indagou Charlotte esperando um sim.
Colin coçou a nuca meio sem jeito.
— Eu dou um jeito de voltar.
— Agora vão pra dentro — disse Samantha — Se mamãe descobrir que vocês estavam vendo uma luta ela vai ficar uma fera.
As garotas saíram do salão dando tchau com as mãos.
Samantha cruzou os braços e balançou a cabeça.
— Não liga pra elas, são só adolescentes…
— Meus parabéns! — disse Janora se aproximando dos fundos — Foi algo surpreendente de se ver. Sua sorte era que Straus era um merda. — Ela passou por Colin — De qualquer modo foi um show e tanto. — Ela deu um tchau de costas — A gente se vê, Elfo.
Samantha franziu o cenho vendo Janora se afastar.
— Qual o problema dela?
Brighid se aproximou de Samantha.
— Agradeça ao seu pai por nos deixar entrar — disse a fada — Sua casa é muito bonita.
Samantha não morava ali por ter problemas graves com a mãe. Por causa do torneio de guildas, Ultan tem passado mais tempo cuidando de burocracia, e isso deixava uma lacuna na agenda de Leerstrom, lacuna essa, preenchida pelas horas de treino com Samantha.
— Obrigada! — gracejou Samantha — Se quiserem a gente pode entrar e tomar um chá.
Brighid abanou uma das mãos e abraçou o braço direito de Colin.
— Eu adoraria, mas terei que deixar pra outra hora…
— Isso aí — disse Colin — Obrigado, Samantha.
— Por nada.
Os dois se dirigiram para a saída e deixaram aquela linda mansão caminhando pela calçada em direção ao centro da cidade.
Brighid encarou Colin de canto com o cenho franzido e ele a encarou de volta.
— O que foi?
— “Eu dou um jeito de voltar”, que história é essa?
— Eu só fui educado, não precisa ficar com ciúme.
Brighid fez beicinho e empinou o nariz.
— Humpf! Melhor que seja só isso mesmo!
— Claro que é só isso. Aquelas garotas tem o que? 16, 18 anos? Prefiro as velhas como você.
Ela deu uma cotovelada em Colin.
— Eu não sou velha, se fosse colocar minha idade em padrões humanos eu teria 23 anos. Vocês que envelhecem cedo demais. — Ela fez uma pausa e abaixou a cabeça entristecendo o olhar — Colin, você ia matar aquele tenente?
— Não.
Ela ergueu a cabeça, o encarando no fundo dos olhos.
— Seja sincero comigo…
— Estou sendo. Aquele cara é subordinado de um membro do lótus, um grandão que parece um armário. Não quero problema com ele por agora.
Colin não estava mentindo.
Apesar de desejar uma luta intensa, ele decidiu guardar isso para o torneio de guildas.
Brighid apenas assentiu, mas seu coração ficou em dúvida se Colin estava sendo ou não sincero. No fim, ela resolveu confiar nele.
— Vamos passar no Stedd e depois nas crianças. — disse Colin.
— Faz tempo que não vejo Stedd, — disse Brighid — será que ele está bem?
— Aquele cara sabe se cuidar.
Em cima do telhado ao longe, estava o ruivo junto a um homem negro de dreads longos. Ele era tão musculoso quanto Vrumud. Usava um quimono preto com as mangas rasgadas, e em seus pulsos havia pulseiras que se pareciam com pulseiras budistas. Havia também um grande colar budista em seu pescoço.
Do lado dele estava uma kinesi com o cabelo na altura dos ombros. Seu olhar de peixe morto era bastante intimidador. Ela usava um vestido hanfu preto, e no ombro dela estava uma bainha longa sustentada por uma alça.
Depois de a verem cruzar a rua ao longe, o ruivo cruzou os braços e encarou os companheiros.
— E então, o que acharam? — indagou o ruivo.
— O garoto é forte, — disse a kinesi — Mas aquela mulher é uma aberração. Dá pra sentir aquela mana monstruosa daqui. Melhor chamar outros monarcas arcanos além de nós, mas mesmo assim as chances de haverem baixas são grandes.
O ruivo assentiu.
— E você, Raudal, o que achou?
O homem negro apoiou a mão no queixo pensativo.
— A mesma coisa que Le Jun. Melhor chamar todo mundo e não correr nenhum risco desnecessário, mas com a ciência de que alguns de nós não voltemos dessa missão.
— Entendi… Se vocês dois estão dizendo isso, então significa que o negócio é sério.
— O garoto é um errante? — indagou a kinesi — O formato hostil da mana dele lembra a de um errante.
Os rapazes deram de ombros.
— Um errante aqui na capital do império? — indagou Raudal coçando a bochecha com o indicador — Acha que o garoto está trabalhando com eles?
O ruivo cruzou os braços e fez que não.
— Acho difícil. O garoto é um errante incompleto, só reparar nas tatuagens cheias de falhas.
Le Jun apoiou a bainha no ombro e se retirou para os fundos.
— Se eu fosse você chamaria Leidvard — disse Le Jun antes de desaparecer na escuridão. — Ele adoraria conhecer um colega da mesma raça desprezível que a dele.
O ruivo olhou pro lado e Raudal também havia sumido.
— Esses dois… me deixam com todo trabalho pra ficar só com a diversão… Tsc! Leidvard era o único que eu não queria envolver nisso. Aquele imbecil nunca sabe a hora de parar.