O Espadachim Negro - Capítulo 14
O rapaz repousava sobre uma cadeira em um quarto de estalagem, ao seu lado Sayaka estava deitada em uma cama.
Algumas horas haviam se passado desde sua chegada, após explicar tudo que aconteceu o médico da vila cuidou da jovem e a deixou junto de Telas na estalagem. Felizmente ela só precisaria repousar e tomar alguns remédios.
Quanto a situação da vila, finalmente havia paz. Aquela dupla que mais parecia um casal de jovens namorados havia se tornado heróis aos olhos daquelas pessoas humildes.
Boatos eram espalhados entre o próprio povo “tem alguém lutando por nós, um jovem que empunha uma espada como um soldado real e era poderoso como um mago de elite.
Os viajantes que passavam pela vila escutavam sobre e passavam a diante como um telefone sem fio. Não demorou para que a maior parte do povo do reino soubesse dos rumores sobre os jovens heróis.
No dia seguinte os jovens se preparavam para ir, a carruagem que os levaria de volta já estava esperando.
Apesar de ainda estar fraca, Sayaka já podia viajar de volta e o cocheiro já havia se recuperado do ataque do lupino e não via a hora de sair daquele maldito lugar.
Enquanto se dirigiam até o homem impaciente, que aguardava na carroça com as rédeas já em mãos enquanto resmungava algo sobre nunca mais voltar ali, o prefeito chamou o garoto.
— O que deseja senhor prefeito? — questionou ele.
— Vim entregar o relatório da missão, você precisa entregar ele para a recepcionista da guilda na capital. Mas também vim para agradecer vocês, você salvou o meu povo tantas vezes. Me sinto até mal por não poder dar uma recompensa a altura além do dinheiro da missão.
Telas sorriu para o homem e disse:
— Não esquenta com isso, eu apenas fiz o que tinha que fazer. E mesmo se não fosse uma missão, eu ainda chutaria a bunda esquelética daquele bastardo.
— Você é um bom rapaz, com certeza será um grande herói algum dia.
Após as despedidas eles retornaram para a capital, diferente de antes a viagem havia sido tranquila. Mesmo o clima sombrio da floresta agora estava mais amigável.
Quando a dupla entrou no salão da guilda de aventureiros, muitos repararam nos jovens. Telas exalava uma aura poderosa, mesmo que não tivesse consciência disso. Não se tratava de magia, e sim algo que apenas os maiores lutadores, aqueles que haviam superado diversas provações possuíam. Qualquer guerreiro experiente poderia perceber isso com um olhar.
Mas o que mais chamava atenção era sua amiga, ela parecia uma pessoa que havia acabado de sair de um hospital. O que meio que era o caso, porém para pessoas que não sabiam disso era algo estranho.
— Ei dona Mary, completamos a missão. O prefeito disse para entregar isto para você — disse Telas de forma tranquila e despojada, caminhando até o balcão de forma calma e confiante, bem diferente do garotinho que via tudo com brilho nos olhos.
“ Ele parece outra pessoa, a missão deve ter sido dura. Foram apenas dias, mas parece que estou o vendo depois de ano. Que tipo de situações ele passou par amadurecer em tão pouco tempo? “ pensava a jovem recepcionista. Mas logo voltou a si e pegou o relatório e começou a lê-lo.
— Pelo que vejo vocês passaram por muita coisa, deve ter sido difícil… — disse enquanto lia o documento. — Espera, o que!
Os jovens se assustaram com a reação repentina da mulher.
— Fizemos algo errado senhorita? — perguntou Sayaka.
“ Ele venceu o Lobo Branco? E derrotou um necromante com um exército de mortos vivos? Esse garoto é mesmo humano? E o que será essa energia escura que o prefeito disse ter visto cobrindo o corpo dele? Aaahh tantas perguntas. “ pensava a mulher, antes de ser tirada das nuvens pelo questionamento da jovem.
— Eu preciso fazer umas perguntas para vocês depois. Mas por enquanto é isso, por terem concluído uma missão do chamado ao heroísmo mais os bônus de perigo pelo que está descrito aqui, vocês têm experiência de aventura o suficiente para avançar para o Rank B de aventura.
A dupla se surpreendeu, não sabiam que essas missões valiam tanto assim. Porém para seu azar eles não foram os únicos a ouvir.
Um grupo de três homens foi até o balcão e com toda educação e elegância de um orc esbravejou:
— MAS QUE PORRA É ESSA?! COMO ASSIM ESSES FEDELHOS VÃO IR PARA O RANK B?
Ele era careca, estava acima do peso e tinha como característica marcando seu bigode preto que ia para cima. Os outros dois eram um homem loiro de olhos azuis muito magro e um homem negro com músculos enormes.
— Eles ganharam o dobro de experiência devido ao bônus de perigo Marcus, eu tenho que passá-los. Porém vou conversar com o mestre antes — respondeu Mary de forma direta, porém educada.
O gorducho não havia gostado nada dessa resposta, e mais uma vez abriu a boca.
— Não tem nada para discutir, nós estamos aqui vai fazer dois anos e ainda somos da Classe D. Quase ninguém da nossa classe tem coragem de pegar as missões de chamado ao heroísmo, e você quer que eu acredite que esses pirralhos de merda não só pegaram uma como cumpriram com um bônus de dobro de experiência?
A cada palavra que falava, saliva voava de sua boca, sua face estava enrugada e seus olhos que queimavam em fúria cortavam a pobre mulher como facas.
— Ei gorducho, abaixa a bola aí. Vai escovar os dentes antes de sair xingando os outros, dá pra sentir o bafo daqui. A gente nem a dona Mary não tem nada haver se vocês são um bando de fracos incompetentes — disse Telas, zombando do homem que já o estava irritando.
Aquelas palavras foram como um soco no estomago não só para o homem como também para seus amigos, nervos saltaram de suas testas, suas veias marcavam seus corpos de tal forma que era como se fossem explodir em mil pedaços ali mesmo.
— SEU PIRRALHO FILHO DA PUTA!!! COM QUEM VOCÊ ACHA QUE ESTA FALANDO, EU VOU TE DAR UMA SURRA!!! — gritou o mais musculoso dos três, indo para cima do jovem como uma fera ensandecida.
— Espera! Lucas você não pode brigar aqui! — gritou Mary, porém não foi ouvida pelo homem que já estava a poucos centímetros de Telas.
O robusto desferiu um jab em direção ao rosto do rapaz, o mesmo continuou com sua expressão indiferente enquanto aquele punho gigante se aproximava de sua face.
Quando estava a um centímetro de acerta-lo em cheio o jovem se moveu para o lado, agarrou o braço do agressor e o empurrou para frente o que somado com a aceleração do soco fez com que o homem fosse jogado ao chão, caindo de cabeça no piso de tacos de madeira que rachou com o impacto.
Todos olharam com espanto para aquela cena, até mesmo aqueles que não tinham interesse na briga se viraram após ouvir o estrondo.
Todos se perguntavam como um garoto conseguiu arremessar com tanta facilidade um homem de 1.90 de altura e que deveria pesar uns 100kg.
— Pirralho maldito, o que você fez com Lucas?! — questionou Marcus, furioso e incrédulo ao mesmo tempo.
— Um golpe lento como aquele não me acertaria nem em um milhão de anos — respondeu indiferente.
“ Lento? Lucas é a linha de frente do nosso grupo, seus socos podem matar lobos com facilidade. Mesmo eu seria nocauteado facilmente. Não isso deve estar errado, esse moleque deve ter algum artefato, sim deve ser isso. “ pensou Marcus.
— Telas já chega! Não tem por que brigar com esses caras — disse Sayaka.
— É mesmo, você está certa.
Marcus estava prestes a atacar Telas pelas costas, porém seu amigo raquítico sussurrou algo em seu ouvido, fazendo o rechonchudo dar um sorriso.
— Você acha que pode sair ileso depois de derrubar o Lucas usando um artefato? Porém como sou um homem muito bom e generoso estou disposto a deixar isso passar. Porém essa sua namorada vai ter que fazer uns favores pra gente se é que me entende — disse Marcus, dando um sorriso desprezível após dizer a última parte.
Ao ouvir aquela criatura imunda dizer tais palavras os olhos do jovem instantaneamente mudaram de cor, e nervos saltaram pelo seu rosto.
— O que me diz garota, você só precisa de divertir um pouco com a gente que não vamos espancar o seu namoradi… — Antes que pudesse completar sua sentença, o homem sentiu uma dor aguda em seu estomago, ele tentava puxar o ar para os pulmões porém não conseguia e logo uma dor terrível se espalhou para todo seu corpo a partir da barriga.
Telas estava a sua frente, ele havia recebido um soco em cheio no qual o braço do garoto estava quase que inteiramente afundando dentro da barriga do homem, sendo engolido pelas dobras de gordura.
O rapaz tirou seu braço de dentro da barriga do gordo e em um piscar de olhos agarrou a face do mesmo a apertando com sua mão. Sangue escorria do nariz e boca do homem conforme o rapaz aumentava a força do aperto, seus olhos pareciam que iam saltar para fora de seu rosto.
— Lave sua boca com fogo para falar da Sayaka seu desgraçado — disse o jovem enquanto olhava no fundo dos olhos do homem.
O mesmo estava em pânico, seu corpo inteiro tremia como se estivesse convulsionando, isso era devido ao medo que cada célula de seu corpo sentia ao olhar no fundo daqueles olhos roxos, onde tudo o que ele via era escuridão.
O jovem então soltou o rosto do homem, apenas para desferir um chute em sua barriga, a velocidade do golpe foi tanta que sua perna parecia um borrão ao se mover.
Um estrondo foi ouvido junto de uma explosão de ar, resultando no robusto sendo arremessado como uma flecha para fora da guilda, atravessando o portão do salão e colidindo contra uma árvore do outro lado da rua a qual foi partida ao meio com o impacto.
O homem magro que era o arqueiro do grupo estava paralisado, em sua mente ele pensava estar tendo um pesadelo.
Telas virou seu rosto, o encarando no fundo de seus olhos, aquela sensação de ameaça foi o suficiente para que o homem tremesse todo, ele tirou uma adaga de sua cintura e apontou para o garoto hesitante.
Seus pés tremiam como gelatina enquanto ele dava passos para trás enquanto o garoto caminhava lentamente em sua direção.
— Fi-fique longe de mim!!!
A cada passo que o espadachim dava, o meliante recuava mais, até que suas costas tocaram a parede. Em uma atitude irracional devido ao terror extremo ele continuou tentando recuar, como se quisesse atravessar a parede. Seu rosto estava coberto de lágrimas e catarro.
Quando o jovem enfim se aproximou, ele materializou Masamune e colocando a mesma no pescoço do bandido ele olhou no fundo de seus olhos e disse:
— Se vocês bastardos falarem o nome de alguém que amo mais uma vez, eu não terei misericórdia.
Em seguida se virou, desmaterializando a arma e voltando até o balcão. Muitos o encaravam com temor, outros com curiosidade. Porém não demorou para que o cheiro de urina infestasse o salão.
Caído no chão, completamente paralisado havia um homem magro, com as calças molhadas e uma adaga em sua mão.
O silencio reinou no ambiente, muitos olhavam para aquilo tudo surpresos, outros curiosos. Porém ninguém naquele local podia tirar os olhos daquela pessoa que havia acabado de esmagar três aventureiros como insetos.