O Druida Lendário - Capítulo 25
Era uma manhã quente de sábado quando o celular de Daniel o despertou com uma notificação.
O rapaz se revirou na cama, esticou o braço para o lado e pegou o aparelho, então o trouxe para perto do rosto e acionou a tela enquanto o quarto ainda estava mergulhado na escuridão.
O brilho que irradiou do aparelho o cegou por um momento, mas quando a visão voltou, Daniel terminou de ler a mensagem que recebera, e um sorriso se formou em sua face.
Era uma mensagem de Júlia, avisando que iria passar o final de semana em Florianópolis para visitar seus pais. Ela pediu se ele aceitaria se encontrarem para almoçar.
Daniel agarrou o celular e respondeu que sim. E Júlia finalizou a conversa enviando o emoji de um gatinho sentado, acenando.
O rapaz deixou o celular de lado e tentou voltar a dormir, porém, a ansiedade não o permitia descansar naquele momento.
Fazia tempo que não via a garota pessoalmente. A relação entre os dois havia se resumido a algumas poucas trocas mensagens durante a semana. Isso o fez perceber que, desde o fim da Dark Age, sua vida consistia em trabalhar de manhã e de tarde durante a semana, e jogar Nova Avalon a noite e nos finais de semana.
Eu preciso sair de casa, ver gente, interagir com seres humanos de carne e osso, refletiu. Em seguida conferiu o horário, faltavam algumas horas para o encontro.
Seus olhos fixaram na cápsula de imersão. Seu instinto implorava para entrar e mergulhar no mundo do jogo, mas a poeira em seu quarto e as roupas sujas acumuladas em cima da cadeira gamer lhe diziam o contrário.
Daniel soltou um longo e pesaroso suspiro. Como sábado era o dia da limpeza do apartamento, levantou-se da cama, se espreguiçou e se preparou para a rotina matinal.
Horas depois a poeira fora tirada, o chão varrido, o banheiro limpo e a roupa lavada. Aliviado por finalizar os serviços domésticos mais cedo do que esperava, largou-se no sofá da sala.
O celular tocou outra vez, ele se esticou para alcançá-lo na mesinha em frente ao sofá. Era outra mensagem de Júlia, dizendo:
“Dani! Esqueci de te falar, mas o Cris me encheu o saco para vir junto. Desculpa não ter avisado antes, mas ele queria muito ver a ilha outra vez, então, podemos te visitar? Beijos e abraços… e me desculpe mais uma vez”. A mensagem terminava com um cachorrinho com as patas da frente juntas imitando um gesto de desculpa, seguido de uma gata mandado um beijo.
Daniel respondeu enviando a imagem de um cão revirando os olhos, mas acenando que sim, um tanto contrariado. Porém, a mensagem seguinte dela o fez sorrir como antes, ela transformou um vídeo da vitória deles em uma competição em um emoji personalizado, ele mostrava os dois correndo para o outro, e se abraçando, seguindo do resto da equipe e da torcida que veio como uma avalanche se aglomerar em torno deles.
Ele acomodou o celular em seu peito, pôs o braço sobre testa e contemplou o teto do apartamento. Antes estava empolgadíssimo com a oportunidade de revê-la, mas como ela estaria acompanhada de Cris, isso o impossibilitaria de ter um encontro mais íntimo com a garota.
Aquele pensamento o fez pegar um travesseiro para abafar um urro de frustração. Apesar de gostar muito do capitão da Red Crows, ele não poderia ter escolhido um dia pior para vir lhe visitar.
Daniel continuou deitado no sofá remoendo a situação. Conforme o tempo passou, a frustração foi abrandando até fazê-lo pensar no lado bom daquilo tudo.
Fazia muito tempo que não via Cristiano. Com toda a certeza eles teriam muito o que conversar desde a última vez que se falaram na final da fase nacional daquele ano.
Agora mais calmo, Daniel pegou o celular e mandou uma mensagem para Júlia, dizendo: “Onde vamos almoçar?”.
Não demorou para ela responder: “Você quer almoçar fora? Nós três? No mesmo lugar? Ficou louco? A gente vai naquele restaurante underground pegar o almoço, então iremos comer aí. Vai querer o de sempre?”
O de sempre? Ele releu a mensagem contente por ela ainda lembrar, em seguida respondeu: “Sim”.
Júlia digitou em seguida: “Ok. Estamos indo para lá. Logo a gente se fala pessoalmente”. Após a mensagem ela ficou offline no aplicativo de mensagens.
Daniel respirou fundo e largou o celular em cima da mesinha. Mil pensamentos passaram por sua cabeça, partindo dos mais inocentes e terminando nos mais indecentes, porém, no fim, o sentimento predominante foi felicidade, potencializada pela empolgação de rever seus velhos amigos.
Uma vez que o almoço estava a cargo dos convidados, restava-lhe apenas esperar, mas como aqueles dois não iriam demorar, entrar em Nova Avalon estava fora de cogitação, e por isso decidiu ligar a televisão para procurar algum canal interessante para passar o tempo.
Por sorte um de seus programas favoritos havia acabado de começar.
A tela da TV agora exibia um homem de meia idade com o cabelo pintado de branco, o sujeito vestia um terno listrado de azul e dourado, e tinha em mãos um tablet finíssimo. Ele se aproximou de uma das câmeras do estúdio, e anunciou aos seus expectadores:
— Essas foram as principais notícias da manhã. E para hoje, meus amados fãs, nós teremos uma entrevista super especial. Vocês não vão acreditar, mas a minha maravilhosa equipe convidou ninguém menos que a mais linda do mundo; a guerreira das estrelas; a dona do sotaque mais invejável; aquela que, além de comandar seu time, também é a fundadora da própria organização. É claro que depois de tantas dicas vocês já sabem de quem eu est…
— Mas que enrolação para apresentar aquela fanática — Daniel resmungou, ciente do quão bem Kronos sabia vender o seu peixe, não era por nada que ele era considerado o Deus do Hype.
— …Estou falando de ninguém menos que a nossa cearense favorita, a Anika da Starfall. E se você, assim como eu, está ansioso para a entrevista, ela começará daqui a uma hora, à uma e meia da tarde. Agora fiquem com os melhores momentos da semana. Vejo vocês no próximo bloco.
Kronos se despediu e a vinheta da próxima atração entrou na sequência. Aquela era uma boa oportunidade para ficar em dia com os últimos acontecimentos em Nova Avalon.
O tempo passou. E Daniel se deixou levar pelo programa. Seus olhos vidrados no televisor absorviam cada tática e estratégia dos clipes com as melhores jogadas dos torneios paralelos ao circuito principal.
O televisor então exibiu os times classificados para o Campeonato Mundial. Quem apresentava o programa era uma jornalista especializada. E, no momento que ela colocou na tela a formação da equipe a representar o Brasil, o coração do rapaz largado no sofá parou.
No meio dos sete jogadores estava Cristiano, identificado pelo nome de seu avatar, Crown. Porém, o que deixou Daniel enraivecido foi quem estava a sua esquerda, Gustavo, aquele que herdou o martelo, o escudo, e a armadura lendária de Dante.
A imagem da equipe mudou, trocando a foto dos jogadores pela de seus avatares. Crown se destacava com seus equipamentos de altíssimo nível.
Ele trajava um vestido longo, tingido de branco e azul, sobreposto por um manto que se estendia até o chão. A mão direita erguida na altura do peito segurava um gigantesco livro de feitiços, a arma dos conjuradores.
Desde a última vez que Daniel viu Crown, a única peça de equipamento diferente estava em sua cabeça. Antes ele usava um gigantesco chapéu pontudo e cinzento, mas agora o avatar fazia jus ao nome, pois uma coroa prateada adornava sua cabeça, combinando à perfeição com os longos cabelos brancos do avatar.
Os olhos de Daniel então focaram naquele à esquerda de Crown, o avatar de Gustavo, ele ostentava o armamento de Dante. E só de olhar para o Martelo de Ametista nas mãos de um medíocre fez Daniel ranger os dentes com a raiva que sentia.
O programa avançou para a escalação da próxima equipe, mas antes que Daniel pudesse conferir, a campainha tocou.
— Finalmente — falou antes de se erguer do sofá.
Em pé ele se espreguiçou, então caminhou até a entrada do apartamento onde ficava o interfone. Em seguida, aproximou o rosto do aparelho, e perguntou:
— Quem é?
— Eu — disse uma voz feminina.
— Um momento.
Daniel apertou o botão para liberar o acesso ao prédio. O som do destravamento ressoou pelo alto-falante, seguido pela voz da garota:
— Abriu.
Daniel retornou à sala na esperança de poder ver as demais escalações para o Campeonato Mundial, porém, chegou justo na hora da pausa comercial, e quando ela acabou, o toque da campainha reverberou pelos cômodos. Ele se apressou até a entrada do apartamento, abriu a porta, e recebeu as visitas.
Júlia estava radiante como sempre, com uma expressão feliz no rosto. Seu cabelo castanho e ondulado recaia em seus ombros.
Ela vestia um traje casual, uma camiseta branca cuja manga dobrada se estendia até o cotovelo, uma saia preta que ia até antes dos joelhos e uma sandália castanha-clara.
Daniel se aproximou. Os dois se cumprimentaram com um singelo beijo no rosto. Em seguida ele se afastou e pegou as sacolas que ela carregava nas mãos.
O cheiro das refeições escapou do isopor e da caixa de papelão, atiçando ainda mais a fome do rapaz.
Em seguida Daniel olhou para o sujeito ao lado da garota, Cristiano, uma figura de 1,9 metros de altura, magro como um esqueleto, possuidor de um longo cabelo preto e descuidado, e cujos olhos transpareciam um tédio contínuo.
Cristiano vestia uma camiseta branca de bordas vermelhas, com um corvo vermelho bordado no peitoral, a calça jeans justa e surrada realçava sua magreza, enquanto o tênis verde destruía seu visual como um todo.
Para compensar a vestimenta, Cristiano segurava uma caixa de Cervosa, a famigerada cerveja artesanal produzida por seu pai.
— De uniforme até nos fins de semana? — perguntou Daniel.
— …tem que vestir a camisa da corporação. — Ele respirou fundo e disse com uma expressão assustadoramente séria: — E eu não ganho um beijinho no rosto?
— Vá à merda — retrucou o anfitrião, se esforçando para não rir. — Entre. Fique à vontade. A cerveja você pode deixar no balcão ao lado da pia.
— Entendido, capitão — disse o velho amigo assim que adentrou no apartamento.
Quando Daniel pôs os pés na cozinha, Júlia já havia servido à mesa, em seguida ela ajudou Cris a colocar as cervejas na geladeira, porém, três garrafas foram deixadas no freezer para gelar mais rápido.
Ela olhou para a mesa, depois para os rapazes, e então perguntou:
— Vamos comer?
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