O Destino de Quem Luta - 2
O tempo passou enquanto ela contava nuvens.
— Vamos ver… dezesseis, dezessete, dezoito… Ah, que chato! — ela gritou virando o corpo de um lado para o outro. — Vamos… pense, pense… ah, eu já sei! — ela se lembrou da pequena bolsa amarrada à cintura. — O que tem aqui?
Abrindo a bolsa, ela encontra vários objetos dentro, e pega um celular. Segurando o aparelho, ela não sabe o que é ou para que serve. Olhando de todos os ângulos e clicando nos botões, o celular liga e faz uma ligação.
— Ih… — ela se assusta com o toque e a vibração do celular. — Que treco medonho é esse?
Ao fazer a ligação, o celular não mostra sinal. Ela se aproximou do aparelho e o pegou.
— Para que serve esse negócio?
Do nada, um rugido alto se espalhou por toda a região e de repente vários pássaros começaram a voar, deixando as criaturas do vale completamente apavoradas, correndo em várias direções.
— O que foi isso?
Percebendo a agitação, ela se levantou e agiu rapidamente correndo. Animais grandes e pequenos corriam desesperadamente ao lado dela, destruindo e esmagando tudo ao seu redor, deixando-a completamente assustada, com medo de ser esmagada. Desesperada, ela viu um buraco entre uma árvore com várias raízes parecidas com teias, correu por baixo dele e se agachou.
— O que foi que deu neles? Foi por causa desse rugido?
Ainda agachada, ela se levantou e, sem entender a situação, começou a dar alguns passos e se surpreendeu ao ver estranhas criaturas de pele escura correndo e atacando violentamente os animais do vale. O grito e o sofrimento dos animais eram horríveis de se ouvir. Escondida entre as plantas, logo notou um movimento atrás de alguns arbustos que a fez estremecer: — Q-Quem está aí?!
Ela olha ao redor e rapidamente percebe algo estranho, uma pequena criatura branca peluda aparece, ela o observa, ele tinha orelhas grandes e uma cauda longa com pelos felpudos na ponta. Pela sua aparência, ele não provou ser perigoso.
— Ufa, ainda bem — ela suspira de alívio. — Você me assustou, pensei que você fosse…
De repente, uma enorme criatura de pele escura aparece, e leva o pequeno animal a uma ação violenta, algo que ela não esperava, deixando-a completamente apavorada. Ok, a situação ficou um pouco complicada agora. Essa criatura, sua aparência, era surreal — seu corpo tinha as feições de um tigre com a boca de um polvo cheia de tentáculos e seus olhos eram como os de uma aranha e sua cauda era longa como a de um escorpião e era extremamente forte.
Vendo algo inexplicável diante de seus olhos, o medo cruzou seu rosto, ela podia ver aquele monstro mastigando brutalmente o pobre animal. Após o engolir, a criatura começou a farejar e se virou com um olhar aterrorizante para ela. Engolir em seco, ela não tinha ideia do que fazer, o terror tomou conta de seu rosto e seu lábio inferior tremeu.
“Não… Não, não, não… Isso não é bom, não é bom”, pensou desesperada. Ela ponderava correr, mas, ela nem mostrou uma reação, o medo tomou conta de seu corpo completamente. “O que eu… Tudo bem, fique calma, se eu não me mexer, talvez essa coisa não me ataque.”
Com os olhos fixos nela, a criatura começou a se mover e rugir em sua direção. O medo era tanto que ela não conseguia pensar em nada. O barulho de um animal o distrai. Ela aproveitou sua distração e com essa chance se virou e agiu rapidamente sem perder tempo e começou a correr, titubeando pelo vale, correndo desesperadamente sem parar pelo campo.
Passando por vários obstáculos, ela se arrisca dando de cara com grandes plantas que batem em seu rosto e flores com espinhos roçando suas roupas, puxando-a, dificultando sua passagem. Ela olhou para trás e notou um movimento, viu que estava sendo perseguida por aquela criatura. Ele era ágil, aproximando-se muito rápido.
Em pânico, ela gritou por ajuda, esperando ter alguém neste mundo que pudesse ajudá-la, mas parecia inútil gritar já que não havia ninguém por perto que pudesse ajudá-la agora. Com isso em mente, ela era apenas uma presa fácil em um mundo totalmente hostil e incompreensível. A criatura estava se aproximando a poucos metros dela, mas ele esbarra em algo e do nada uma enorme cobra com escamas esverdeadas a ataca, envolvendo-se firmemente em torno de seu corpo, mordendo-o com suas quatro presas afiadas, e ambos lutam violentamente. Logo à frente, ela correu para uma área de rochas e raízes de árvores, mas se encontra em um beco. Uma grande coluna de rocha parecia se estender por vários metros, impossibilitando sua fuga.
— O quê?! — ela olhou para os dois lados. — Droga! E agora… como sairei dessa… ah! — ela notou uma pequena rachadura com uma abertura estreita e alongada, com lacunas ao redor.
Parecia um bom lugar para se esconder, mas ela se sentiu meio insegura se entrasse ali. Bem, para ela, era melhor arriscar do que ficar do lado de fora com aquela coisa a perseguindo. Criando coragem, ela entrou pelos lados, o lugar era estreito e tinha um caminho que parecia seguir uma linha reta, com paredes de pedra impossíveis de escalar, mas havia pouca iluminação e a atmosfera do lugar dava uma estranha sensação de desconforto.
“Essa foi por pouco”, ela pensou, suspirando. “Se aquela coisa não tivesse aparecido naquele momento, ele teria me pegado”. Cansada e exausta, sua roupa estava encharcada de suor, ela sentou no chão e encostou-se a uma pedra abraçando os joelhos, agora tudo o que ela podia fazer era esperar, para que aquele monstro não a encontrasse. No entanto, um rugido alto a surpreendeu, era um sinal que ele se aproximava.
— Não… — Seus olhos arregalaram-se de medo.
Espreitando atrás da pedra, ela o observou em silêncio e viu que ele estava ferido com marcas de mordida por todo o corpo e se movia olhando para ambos lados, como se ele estivesse procurando por ela. Nervosa, seu batimento cardíaco acelerou, ela suou e suspirou pesadamente, até que, a criatura se afastou do local.
— Ai meu Deus! — ela suspirou. — Ele se foi, que bom — de repente seu estômago começa a roncar. — Ah, que forme… Espera? — ela começou a olhar em sua pequena bolsa presa à cintura. — Será que tem algo de comer aqui… Ah! O que é isso? — ela examinou uma pequena embalagem — Barra de cho-co-la-te…?
Ao encontrar uma barra de chocolate, ela começa a abrir o pacote e comer um pedaço, experimentando-o. “Hmm, isso é bom,” ela pensou com um sorriso de lábios apertados. Então ela mordeu cada pedaço até não sobrar nada, e ela ficou satisfeita.
— Bem, eu não sei o que é chocolate, mas deve ser o suficiente para matar minha fome por enquanto — ela se levantou e olhou pela fresta. — Será que ele foi embora? Se eu der uma olhada, talvez…
Do nada a mesma criatura que estava perseguindo-a aparece tentando entrar pela fresta. Assustada ela caiu no chão e entrou em pânico rastejando para trás, mas parece que ele não consegue entrar devido ao seu tamanho, mas ele insistiu em tentar novamente usando suas garras, mas percebe que é inútil continuar e desisti.
— Mas que porra foi essa?! — ela estava tremendo de medo.
Seu coração quase saiu pela boca de tanto susto, mas algo inesperado acontece, a criatura começou a andar de um lado para o outro, até que parou e ele simplesmente se deitou, ficando parado, apenas olhando para ela pela fresta.
— Ah!? Só pode ser brincadeira…
Irritada, ela pensou: “Eu não posso acreditar que ele ficará ali esperando que eu saia daqui de alguma forma.” Ela se levantou do chão e abanou sua saia para tirar o resto da sujeira e tomou uma atitude: — Já vi que seria ruim para mim se eu tentar sair daqui, principalmente com aquela coisa lá fora. Preciso encontrar outra maneira, talvez haja um meio de sair dessa lacuna… — ela olhou para o interior da fenda. — Não sei não… Sinto que vou me dar mal se for por esse caminho, mas o que posso fazer… — ela suspirou. — Que ótimo, estou falando sozinha… Ahhh! — atormentada, ela esfregou o cabelo com as mãos — Essa minha situação está de lascar o cano!
O interior da fenda estava um pouco escuro, mas podia ver a luz do sol vindo das paredes acima. Havia limo verde nas paredes rochosas e algumas folhas ao longo do caminho. Parecia ser apenas uma fenda em uma coluna de rocha, mas ela parecia um pouco preocupada. Ela respirou fundo e começou a avançar, sabendo que poderia haver outros perigos além do desconhecido e caminhou calmamente enquanto olhava ao redor. Depois de muito caminhar, o local escureceu e ficou cada vez mais difícil de enxergar, mas ela logo vê uma luz no que parece ser o fim da fenda. Atravessando a abertura estreita, ela se encontra em um lugar escuro cheio de plantas e cogumelos luminosos cercados por rochas e terra úmida.
— Que lugar esse?
O lugar todo era uma grande caverna, era fechada e escura, mas iluminada por plantas e cogumelos emitindo luzes azuis. Admirada pela beleza, ela começou a caminhar observando em volta. Enquanto isso, algo se moveu, pequenos passos silenciosos vieram do topo da caverna, algo que nem ela suspeitou. Pequenos detritos caem em poças de água efetuando sons assustadores. Um pressentimento a deixa incomodada, e do nada, algo começa a descer lentamente em sua direção sem ela perceber, nem imaginava o perigo que estava por vir.
— Hum! O que é isso que estou sentindo? — uma sensação estranha ocorreu em seu corpo, como se seus instintos estivessem avisando. — O que é isso? — ela rapidamente olhou ao redor, mas não havia nada — acho que foi só impressão minha.
A sensação ocorreu novamente. Era como se ela pressentisse o perigo e, do nada, desceu algo como tentáculos e tentou atacá-la, mas ela tropeça em uma pedra e cai no chão e acaba não conseguindo pegá-la.
— Ai… doeu… hum! — ela observou algo estranho através do reflexo da água. — O que é isso…
Quando ela olhou para cima, seus olhos vibraram ao ver vários insetos enormes de pernas longas descendo bem na frente dela com grandes garras e outros com aparência de crustáceos.
— É sério isso… — ela estremeceu. — Droga… isso não é nada bom.
As coisas ficaram ainda piores, vários insetos começaram a surgir de vários buracos nas paredes, alguns com olhos compridos, outros que parecem ter a boca no estômago, e alguns mais bizarros que outros. Ela estava cercada por essas criaturas com mais de dois metros de altura.
Levantando-se do chão, teve em vista correr de volta para de onde ela veio, mas uma enorme lacraia aparece bloqueando seu caminho e parte para atacá-la, mas um dos insetos avança sobre seu corpo com golpes violentos, e a garota observa tudo acontecer à sua frente. Sem saber o que fazer, um pequeno verme brota do chão e sobe entre seus pés.
— Ah, que coisa nojenta! — assustada, ela saiu correndo desesperadamente em linha reta.
“Preciso sair deste lugar, senão acabarei morrendo de verdade aqui”, pensou ela enquanto corria desesperada sem parar. Suas roupas ficavam sujas de lama a cada passo que dava, ela não tinha ideia do que fazer ou para onde ir. Esses insetos estavam determinados, eles a perseguiram sem parar e continuavam vindo de todas as direções. À frente, ela vê uma fenda na parede rochosa com um rastro de plantas luminosas e corre para dentro. Com passos rápidos, logo vê um brilho no final do caminho e se encontra novamente em outro lugar cercado por paredes de pedra, com vários cristais emitindo luzes azuis brilhantes acima das paredes da caverna.
— Eu não acredito, outra caverna… — ela pisa em algo. — Ah, isso são… ossos?
A área estava repleta de carcaças e ossos. Andando devagar, ela pisa em um fio sem perceber, e do nada, um rugido estrondoso sai de um enorme buraco e várias pernas saem. Ela se assustou ao ver que, de repente, uma aranha gigante começou a sair de um buraco na parede avançando em sua direção. Nervosa, ela deu apenas alguns passos para trás e começou a correr, mas a aranha avança rapidamente atacando-a com sua enorme garra, ela tenta se esquivar, mas é arremessada com a força do impacto, rolando no chão. Ainda consciente, ela tentou se levantar, mas foi pega pela garra da aranha, sendo levada até sua mandíbula serrilhada.
— Ah, não… ele vai me comer! — lutando para se libertar, ela grita de agonia. — Eu não quero morrer, eu não quero morrer…
Prestes a ser devorada, uma pequena esfera de luz aparece flutuando na frente dela e emitiu um forte brilho dourado iluminando tudo ao seu alcance e um enorme feixe de luz atinge a aranha atravessando a coluna de rocha, podendo ser vista de longe no horizonte.
Um misterioso garoto todo encapuzado aparece caminhando pacificamente em um campo verde aberto seguindo um caminho de terra. Seu cabelo era preto espetado, olhos castanhos e usava um cachecol azul.
— Ah, que saco… ter que andar devagar carregando essas coisas frágeis é uma chatice — ele carregava um enorme bolsa de couro nas costas.
Ele parou após ver um enorme raio de luz dourada saindo do pico de uma colina que chamou sua atenção.
— Eita! Mas que raio é aquele?
No céu, um pequeno grupo de seres misteriosos — três ao todo — estavam posicionados em uma aeronave com estrutura como um veleiro e ambos tinham rostos e corpos diferenciados.
— Ah, vocês viram aquilo? — perguntou Sevens, um réptil de quatro olhos, pele azul clara com listras pretas em partes do corpo. Ele segurava um binóculo observando o horizonte.
— Sim. Eu também vi — disse Godoy, um ser alto parecendo um sapo, musculoso com grandes braços, carregando uma grande arma nas costas. Ele tinha a pele raiada de verde e azul e tinha duas grandes presas na boca. — O que era aquele raio?
— Isso não tem importância para nós. Vejamos… espera aí, estou vendo alguém? — ele aumenta a visão do binóculo e avista o garoto informando tudo sobre ele. — Altura 1,74, cabelo preto, pele morena clara, cachecol azul… Diz aí Glyn! O que dizem as descrições?
Ambos olham para um ser humanóide com cara de gafanhoto de pele escura usando um traje coberto com ferramentas e dispositivos nas costas, cintura e nos braços.
— Conforme a informação — disse Glyn ao ler um cartaz de procurado —, é ele mesmo.
— Parece que encontramos nosso alvo, meus irmãos! — ele diz isso em voz alta, e toda a tripulação escuta a notícia e comemoram, e Sevens reage com um sorriso que se inclina para a direita.
— E o que estamos esperando, vamos! — Godoy solta um sorriso malicioso.
A aeronave então começou a descer.