O Desejo Depois Da Morte - Capítulo 2
[Algumas horas antes.]
Em uma tarde abafada em Bangkok, a cozinha do restaurante exalava uma sinfonia de aromas exóticos.
Hazan estava imerso em seu trabalho, o avental branco envolvendo seu corpo, os cabelos castanhos escuros cobertos por um gorro de cozinheiro.
Em algumas panelas das quais manuseava, estavam legumes e carnes cortadas em cubos.
Hoje é o dia do pagamento, acho que consigo adiantar um pouco da dívida, comprar algo decente pra comer e pagar as contas desse mês.
Terminou de mexer em uma das panelas com uma colher, colocou um pouco da essência da mistura no pulso e experimentou, expressando satisfação.
Tá ótimo!
Tirou a panela de cima e colocou uma frigideira com uma carne já temperada para grelhar.
Para otimizar seu tempo, aproveitou para cortar o frango e vários outros legumes em cima de uma tábua de madeira, enquanto mexia a frigideira com a carne grelhando.
Dois cozinheiros cochichavam entre si, os pedidos deles não eram tão elaborados como os de Hazan, então eles podiam sempre relaxar um pouco. Fazia parte da rotina, já que todos repassavam suas tarefas para o jovem cozinheiro.
— Psst, ficou sabendo quem apareceu hoje? — murmurou um dos cozinheiros para o colega. — Somdak, aquele crítico gastronômico famoso, do site “Paladares Divinos”! Ele veio dar uma conferida no nosso cardápio.
— Eu ouvi falar! — respondeu o outro, animado. — Espero que ele goste da nossa comida.
— Bem, é melhor mesmo que ele goste — disse um terceiro cozinheiro, se intrometendo. — Seria um desastre se ele fosse arrogante como o Hazan.
— Falando nele, olhem só. — Um sorriso debochado se alargou. — Dizia que seria um campeão mundial, hehe, mas acabou sendo massacrado no ringue.
— Ele sempre estava cheio de si, né? Agora tá aqui, cortando verduras e seguindo ordens. Nada mais adequado para alguém como ele.
— Olha só, ele quase estragou o tempero desse prato. Acho que ainda não percebeu que não é tão bom.
As risadas ecoavam pela cozinha, a aversão deles pelo rapaz não precisava ser discreta.
O gerente Somchai atravessou as portas duplas, um homem de baixa estatura, barba rala e excesso de peso, seu olhar perspicaz observando a situação da cozinha.
Ele traçou um caminho até o grupo que se divertia às custas de Hazan, um sorriso insinuante brincando nos cantos dos seus lábios.
Com um gesto casual, retirou um envelope do bolso do seu uniforme de chef e o colocou sobre o balcão repleto de ingredientes frescos. — Senhores, aqui está um adiantamento pelo trabalho duro. Se forem gastar, que seja com sabedoria, não desperdicem tudo em bebida e mulheres, entendido? — Sua voz trazia uma camaradagem familiar.
No entanto, o olhar de Somchai desviou-se para Hazan, e ali transpareceu um desprezo notório, uma hostilidade que não fazia questão de esconder.
— Hazan, já finalizou o pedido número nove? — A pergunta veio da boca do gerente, um tom quase casual tingindo suas palavras. Um toque calculado, ele esbarrou no ombro do rapaz antes de continuar sua jornada em direção à saída da cozinha.
Droga!
A ponta da faca deslizou sobre o dedo indicador, causando um corte superficial. Hazan agarrou um pano e pressionou contra o ferimento que sangrava, perdendo a concentração por um instante.
Merda, a carne!
Seu olhar voltou à frigideira, retirou rapidamente o bife e vasculhou o entorno. Todos os outros cozinheiros o ignoraram, fingindo que ele sequer existia.
Por favor…
Pegou o bife e o cortou no meio, checando a carne e notando que tinha passado do ponto.
Temperar e grelhar outro bife vai demorar demais… Só passou um pouco, não deve ter problema.
Suspirou, montou o prato, distribuindo a carne, os legumes e a sopa em tigelas brancas distintas, colocando as tigelas em cima de uma mesa com rodinhas.
— O pedido tá pronto! — anunciou, pressionando o sino. Um garçom apareceu logo em seguida, levando o pedido para ser servido.
Pouco tempo depois, o som estrondo de passos enérgicos anunciaram a chegada de alguém furioso. O gerente Somchai passou pela porta dupla, seu rosto nada contente.
Ele marchou até Hazan, o puxando pela manga e o arrastando pelo restaurante. O ambiente era luxuoso, com candelabros presos no teto.
O interior tinha cores suaves de madeira clara, com mesas de madeira escura organizadas em fileiras, dando um ar refinado ao lugar.
— Francamente, não está cansado de me causar problemas? — perguntou o chef, disfarçando sua raiva assim que se aproximou de Somdak.
Somdak era um homem de meia-idade, trajando um terno branco bastante chamativo e um bigode fino. Seu rosto transparecia insatisfação.
Ele encarou os dois com desdenho, levantando de sua mesa e aumentando a voz. — Me digam o que é isso?! — O homem apontou para o prato. — Esta carne está mais dura do que uma pedra! Você chama isso de comida!? Hein!?
— Lamentamos p-profundamente q-que sua experiência não tenha atendido às suas expectativas — disse Somchai, juntando as mãos num gesto tranquilizante. — Nós n-nos esforçamos sempre para oferecer o melhor em nosso restaurante… Se houver a-algo em particular que p-possamos fazer para remediar o problema, por favor, nos informe.
— É mesmo!? Não sei como vocês conseguem chamar isso de culinária autêntica! É quase um insulto à minha profissão ter que tolerar essa refeição medíocre!
Somdak encarou Hazan, que estava com as mãos atrás das costas. — E você? Foi você quem cozinhou isso, não é? Não tem vergonha de ser um cozinheiro tão horrível? Como ousa cozinhar quando erra em algo tão básico!?
Foi então que seus olhares se cruzaram. Hazan encarou o homem irritado, o desafiando com o olhar. Aquilo só piorou a situação.
— O que está olhando, seu inútil? — O homem rosnou, seus olhos se estreitando.
Hazan não recuou. A fúria se acumulava nele, uma resposta instintiva às injustiças. E antes que pudesse pensar duas vezes, as mãos do cliente encontraram uma tigela fumegante de sopa, cheia de carne e vegetais.
Splash!
O choque se espalhou pelo restaurante enquanto o líquido quente e os pedaços de comida voaram em direção a Hazan.
A sopa atingiu seu rosto e avental, causando uma ardência imediata. O resto da sopa caiu no chão, manchando o carpete escuro do restaurante.
— Onde estão as minhas desculpas, hein!? — exigiu Somdak.
O cheiro da sopa invadiu seu nariz, se misturando com a confusão de emoções que o dominava.
Aquele era só mais um dia para o rapaz, já acostumado a lidar com situações parecidas. Abaixar a cabeça e se desculpar já tinha se tornado quase que um hábito.
O gerente agarrou a nuca de Hazan e o forçou a se curvar, sussurrando em seus ouvidos. — Anda logo e se desculpe, você é o culpado aqui!
Eu preciso desse emprego… Isso não é por mim…
Relutou por um instante, então, abriu a boca. — M-me desculpe…
— Hunf! — Somdak bufou, erguendo o queixo e arrumando o terno. — Veremos se vocês ainda terão clientes após eu compartilhar minha análise sobre essa catástrofe gastronômica!
Após dizer isso, o crítico se virou, retirando-se orgulhosamente do restaurante.
Hazan permaneceu parado, os cochichos dos clientes ecoavam por todo o lugar. Pouco a pouco, as pessoas se levantaram de seus lugares, com claras expressões de nojo, indo embora.
Quem jantaria naquele restaurante após presenciar duras reclamações de um crítico renomado?
Somchai olhou ao redor, notando a movimentação de seus clientes, e logo puxou Hazan violentamente pelo pulso. O rapaz era claramente mais forte do que o homem, mas se deixou ser levado.
Nos fundos da cozinha, o gerente empurrou Hazan para o canto e apontou o indicador em seu rosto.
— Você está acabando com a reputação deste lugar! — gritou transmitindo seu desprezo. — A reputação que demorei anos para construir! Acha que pode fazer isso e sair impune? Você é apenas um cozinheiro, um empregado!
As palavras soaram como um zumbido distante. Ele desviou o olhar e abaixou a cabeça. — Desculpe… — Sua voz saiu como um sussurro.
Cozinheiros que estavam por perto começaram a rir da situação, satisfeitos com aquela humilhação pública.
O gerente, com um olhar de desdém, balançou a cabeça negativamente. — Acha que sua incompetência pode ser justificada com um pedido de desculpas? Isso não passa de pura negligência.
Um sorriso de canto surgiu, a satisfação de quem saboreava um momento de poder. — Talvez seja hora de repensar sua permanência aqui. Eu poderia facilmente substituí-lo por alguém que saiba cozinhar.
A postura de Hazan mudou, arregalando os olhos, juntando as mãos em súpilica e encarando Somchai. — N-não, por favor! Esse emprego é tudo o que eu tenho!
O tom de suas palavras era cru, uma demonstração flagrante de superioridade. — Você não passa de um empregado, meu jovem. Não se atreva a esquecer isso.
Eu preciso do dinheiro, preciso do emprego…
Relembrou a si mesmo, mordendo o canto dos lábios e abaixando a cabeça.
E então veio o golpe mais doloroso.
— Sabe, Hazan, ouvi falar que sua tia está em coma desde aquele incidente na sua academia, e que você está afundado em dívidas. Tudo causado pela sua própria arrogância, e ainda assim, você não muda. Tsc, tsc, quem sabe se soubesse ser humilde, ela não estaria nesse estado lamentável agora…
A linha que mantinha sua mente calma se rompeu. Podia tolerar os insultos direcionados a ele e suportar quaisquer tipos de humilhações, mas não quando se tratava de sua tia — e única família, arrastada por palavras cruéis.
O jovem andou até o gerente, encarando os olhos orgulhosos.
— O quê? O que vai fazer, hein, garoto? — provocou Somchai, levantando o queixo com um sorriso provocante.
Seu uniforme de chef foi agarrado com uma força de aperto avassaladora, e um soco poderoso explodiu do punho cerrado de Hazan, mirando direto no rosto do gerente.
Bam!
Um estalo nítido cortou o ar, ecoando pela cozinha.
O rosto do gerente foi lançado para trás, sangue jorrando de seu nariz quebrado enquanto cambaleava para trás, caindo de forma desajeitada no chão.
— S-seu psicopata! Você a-acaba de assinar sua demissão e, a-acredite em mim, vou me certificar de que nunca mais encontre trabalho n-nesta cidade!! — Sua voz saiu trêmula e entrecortada, as palavras acompanhadas por uma dolorosa aspiração devido ao nariz esmagado.
Hazan o encarou de cima, alguns cozinheiros se colocando entre ele e o gerente.
— Ficou maluco, Hazan!? — acusou um deles, apontando para o rapaz.
Ele não respondeu. Caminhou até o cozinheiro numa expressão intimidadora.
Desde quando esse cara parece tão assustador…?
Instintivamente, se afastou em passos hesitantes, dando espaço para Hazan passar.
Hazan se agachou, fitando os olhos apavorados de seu chefe.
— Quero o pagamento desse mês — exigiu, um tom calmo na voz.
Somchai engoliu seco, olhou ao redor a fim de procurar apoio, mas todos estavam tão abalados quanto ele. Voltou para encarar o rapaz, e seu humor não era condizente com alguém que estaria disposto a esperar.
— T-tem um envelope em cima do balcão de ingredientes, p-pode pegar!
O rapaz se levantou e foi até o balcão. Pegou o envelope e checou o dinheiro, tinha quantia o suficiente para pagar três pessoas.
Se dirigiu à porta dos fundos do restaurante e olhou uma última vez para aqueles rostos ridículos que o julgaram. Somchai digitava uma sequência de números em seu telefone com veias pulsando pelo seu rosto.
Hazan balançou a cabeça em decepção e saiu, batendo a porta.
Lá fora, nos fundos do restaurante, um corredor estreito o recebeu, com paredes de tijolos sujas de musgo e mofo.
Com o sol se pondo atrás das nuvens cinzentas, o tempo começava a esfriar. Andou até uma lata de lixo, tirou o avental, o gorro de cozinheiro e jogou lá dentro.
Ficou apenas com uma camiseta térmica preta justa ao corpo e uma calça jeans com alguns rasgos na parte da coxa.
Andou até um tanque de água que tinha no fundo daquele beco e lavou o rosto, retirando a gordura da sopa e aliviando a ardência que o incomodava.
Por trás da lata de lixo, escondida, havia uma mochila preta, velha e surrada, que ele passou a usar depois de ter suas coisas roubadas algumas vezes na cozinha.
Tirou um casaco preto bem desgastado de dentro da mochila e o vestiu.
Colocou as alças da mochila e caminhou em direção às ruas movimentadas da cidade. Os barulhos dos carros e das motos se misturavam em uma confusão caótica.
[…]
No entardecer nublado, as nuvens abraçaram a cidade com uma chuva fina. Hazan vagava pelas tumultuadas calçadas de bangkok, imerso na ambientação agitada da cidade.
A rua estava repleta de motos e tuk-tuks em um trânsito interminável.
Vendedores em suas tendas apresentavam diversos tipos de produtos.
— Venham provar nossos espetinhos de porcos suculentos e bem temperados! Aposto que vai te deixar com água na boca! — anunciou um deles.
— Conheça os segredos do autêntico “pad thai”, preparado com ingredientes frescos e uma combinação perfeita de sabores! Você não vai resistir! — gritou o outro, abanando o prato com um leque para espalhar seu odor convidativo.
À medida que caminhava, sua atenção foi atraída para uma barraca em particular. Lá, um vendedor entusiasmado oferecia uma variedade inusitada de espetinhos. Hazan franziu o cenho, fascinado ao ver que os espetinhos não eram de carne comum, mas sim de jacaré.
A fachada da barraca exibia o desenho de um jacaré sorridente, fazendo um aceno positivo com o polegar.
O vendedor habilmente espetava pedaços de carne de jacaré em finos espetos de bambu, grelhando-os sobre a chama aberta. — Venham, venham! Temos espetinhos grátis para os primeiros clientes! Experimentem essa iguaria aquática que derrete na boca!
Ele andou entre postes adornados com papéis de pessoas desaparecidas colados há tanto tempo que já tinham acumulado poeira e todo tipo de sujeira.
Era comum que pessoas desaparecessem naquela cidade, geralmente pessoas pobres, cujo ninguém se importava.
A chuva começou a se intensificar, acompanhada por sutis lampejos no céu que alertavam os transeuntes na rua.
Alguns desdobraram guarda-chuvas transparentes, todavia, Hazan contava apenas com seu capuz, o qual levantou para se proteger.
Adentrou aquele extenso corredor de barracas, procurando por uma que estivesse com um banco livre.
As vozes à sua volta se afastaram conforme avançava. Finalmente, encontrou um banco vago próximo a uma barraca repleta de espetos de porco grelhados e panelas de arroz generosamente enfeitadas com carne e macarrão.
O lugar estava vazio e com pouco movimento de pessoas por ali.
Colocou a mochila ao lado do banco e se acomodou, abaixando o capuz e sentindo o aroma convidativo da comida.
A visão à sua frente era uma tentação, a carne suculenta e bem temperada sendo grelhada na churrasqueira.
Encarar tanta comida de uma vez despertou sensações há muito tempo adormecidas em seu estômago.
Hazan esfregou a nuca com uma mão, estudando as opções, seus olhos brilhando de desejo.
Ele podia sentir o incômodo no estômago, uma lembrança ríspida das necessidades humanas que muitas vezes empurrava para segundo plano.
Quanto tempo faz que eu não como algo decente?
Hazan tirou uma nota de dinheiro da carteira e estendeu para o vendedor, pedindo um pouco de cada comida na barraca.
Quando a tigela transbordante foi colocada diante dele, Hazan arregalou os olhos. Aquela montanha de comida e aromas o fizeram salivar involuntariamente. A colher de madeira e os hashis esperavam ansiosos para atacar aquele banquete, e foi isso o que ele fez.
Hazan mal terminava de engolir para abocanhar de novo, se alimentava como se estivesse com medo de sua tigela criar pernas e sair correndo por aí.
Uma moça se sentou no banco ao lado, de cabelos e olhos pretos. Ela riu de maneira discreta, observando Hazan comer com tanta vontade. Ela usava um vestido vermelho que combinava com a cor de seu batom. O vestido enfatizava seu corpo esbelto.
Com um grão de arroz teimosamente preso à bochecha, Hazan parou quando percebeu a risada. Ele virou o olhar em direção à garota ao seu lado, um arco irônico em suas sobrancelhas. “O que há de tão engraçado?” parecia questionar com um olhar.
A garota, surpresa ao ser pega rindo, abanou as mãos. — Ah, desculpe, não quis ofender. Só achei engraçado o quanto você está aproveitando a comida — respondeu ela com um sorriso, fazendo um gesto para o grão de arroz na bochecha de Hazan.
Hazan notou o gesto e limpou o arroz, voltando a encarar a tigela de comida em sua frente. — Comer bem é um luxo pra mim.
A moça compartilhou um sorriso empático. — Não me leve a mal, mas eu estava certa. Você realmente está saboreando cada mordida.
Hazan sorriu de canto com um aceno de cabeça e voltou a comer normalmente. — E você? O que está fazendo por aqui?
A moça inclinou a cabeça levemente, cruzando as pernas e virando o corpo na direção do rapaz.
— Só… fugindo um pouco dos problemas, sabe? Esse lugar me ajuda a espairecer a cabeça.
Hazan assentiu, entendendo o sentimento. — Às vezes, é bom ter um lugar assim para onde podemos escapar.
— Também estou procurando por companhia, sabe? — disse ela com uma voz sedutora. — Talvez você seja o cara certo.
— É, talvez eu seja.
— E eu estou afim de descobrir…
A mulher se aproximou, o cheiro doce de seu perfume se tornando intenso. Seus lábios beijaram o pescoço de Hazan, subindo lentamente até sua boca, e então eles se encararam ao mesmo tempo.
— Mei? O que está fazendo aqui?
Um homem moreno vestindo um blazer preto e uma camisa social vermelha apareceu ao empurrar as pessoas pelo corredor, os dentes cerrados e o olhar fixo na moça ao lado de Hazan. Ele usava um relógio de prata e um de seus dentes era dourado. A moça, Mei, levantou o olhar para o homem com uma expressão completamente assustada. Ela se afastou de Hazan e levantou do banco, indo para o lado dele.
— Q-que bom que você chegou, c-chefe! Esse cara fedendo a sopa estava me assediando! — acusou Mei, apontando para Hazan.
O homem apertou os punhos, seu rosto se tornando vermelho como um tomate.
— Seu maldito! — ele gritou tão alto que mesmo as pessoas das barracas vizinhas conseguiram ouvir. — Acha que pode mexer com uma funcionária minha e sair impune?
Diante daquela ameaça, Hazan terminou de comer sua tigela tranquilamente, segurando-a com as duas mãos e tomando o caldo que sobrou. Ele soltou um suspiro de satisfação, sentindo a comida preencher seu estômago vazio.
Com a refeição concluída, ele limpou os lábios com um guardanapo de papel e encarou o homem de volta.
— Vocês dois deveriam se esforçar mais. — Soltou um suspiro. — E eu deveria ter dado uma lição pior no Somchai.
Os dois se entreolharam atônitos por um momento, surpresos com a dedução do rapaz. O homem deu de ombros e andou até Hazan com os punhos cerrados.
— Hehe, espertinho, pelo menos isso nos poupa tempo. Passa o envelope com o dinheiro e eu prometo que vou evitar esse seu rostinho bonito.
Hazan, ainda sentado, balançou a cabeça em desaprovação, seus olhos firmes. — Eu me recuso.