O Conselheiro da Rainha - Ato 10
Adentrando a porta, uma escadaria circular os levava para baixo, a mulher gato sempre olhava para trás e Cain apenas olhava para baixo, sério e sem muita expressão. A mesma estava um pouco apreensiva em relação a aquele menino.
Após um tempo andando naquela escada, uma porta finalmente aparece, também era dupla porém mais simples. Lekmuhzhuha a abriu, revelando um monte de tesouro, não só moedas mas joias, taças, pratos e talheres, tudo feito puramente de ouro, era tanto brilho que o corpo de Nhomuhcsiah reagiu a isso fechando um pouco os olhos.
“Tão inútil como uma vida aqui, não só aqui mas lá fora também, ouro é frágil, só serve para ligações de cabo para condução de energia; só tem preço porque o brilho é bonito e é meio difícil de achar… ugh”
Cain fazia umas expressões que aparentava ser de desgosto e nojo por ver tanto ouro e riqueza em um só lugar. Logo o corpo se adapta ao brilho podendo enxergar melhor.
— Espere aqui, vou trazer o que você quer, enquanto isso… — se virava para Cain, sorria e aparentemente “sensualizava” — eu vou pensar na maneira em que você possa me pagar.
— Tudo bem, o caminho é livre, e pegue o tempo que puder, não tenho pressa, afinal, não muda nada — olhava para o lado, notava um banco de madeira simples, seguia e se sentava calmamente enquanto a mulher se afastava.
Demorou um pouco, mas logo ela voltou com uma espécie de medalhão ornamentado pedida por Cain que notou a presença da felina, mas não disse nada. Já na outra mão, uma joia grande, circular e achatada, a mesma estava em um suporte dourado no formato de uma serpente.
Cain estava olhando para o chão, seus olhos pareciam tremer, deixando a mulher um pouco desconfiada e preocupada em relação ao menino, afinal, não é da noite pro dia que um garoto estranho que sabe seu nome, aparece pedindo algo.
— Ei menino, você está bem? — tentava chamar a atenção dele — ou só está pensando muito?
— Nenhum nem outro, é mais complicado; isso vai servir de grande ajuda, alto dano, inimigos irão para o chão de maneira rápida — se levantou e pegou os dois objetos das mão da mulher.
— Sim, eu não sabia ao certo qual era a sua classe e seu elemento então peguei os neutros.
— Bom, nativamente sou do tipo elétrico, então tenho vantagem contra água e vento.
O medalhão e a joia somem em um brilho, a força dele cresce e foi sentido pela mulher, deixando-a com os pelos de seu corpo arrepiado. A força dele a deixou um pouco agoniada, não parecia normal e muito menos “positiva”.
— Wow, menino, qual seria a sua idade? Estou curiosa pra ser sincera — disse um pouco nervosa, mas claramente ela estava ficando corada.
Afinal, magia fácil.
— Quatorze anos, e me chamo Tromuha — disse ele sem nenhum receio, mesmo mentindo, não se dava pra saber ao certo se era verdade ou mentira.
— Certo Tromuha, bem, sobre o método de pagamento, talvez não seja lá muito… — foi interrompida.
— Eu aceito, tenho nenhum problema com isso, eu sei muito bem o que você sente, está na cara, o seu corpo está quente, um calor natural, afrodisíaco, você está com vontade de fazer isso, não é de se negar, afinal, eu vejo e leio; te darei alívio, mas em troca… — a encarava.
A felina estava agora tremendo de medo, mas não podia negar o que realmente estava sentindo. Será realmente necessário fazer isso com ele? Não… não é o certo, mas de quebra tem a magia… de resto a dignidade…
— Eu quero sua lealdade ladina, me obedeça e em troca terá a magia que tu quer — seu tom de voz havia mudado, em seus olhos o brilho profundo fazia a mulher ter algum tipo de náusea.
— Tudo bem, não sei ao certo, mas eu sinto que te conheço de algum lugar — dizia gaguejando e se aproximando, calmante mas um pouco apreensiva.
— Eu sei que você me conhece, sei muito bem quem você é, mulher, mas sem apresentações, apenas receba a magia — terminou Cain, e Lekmuhzuha logo caiu ao chão, desmaiada.
No castelo, Muhimoketsu estava sentado em um banco, estático enquanto a sua frente, um pintor, que desenhava sua face com alguns lápis e pedaços de carvão,
A rainha e Cecília estavam mais para trás do pintor, vendo como ficaria o retrato, até então, tava tudo indo bem.
A menina jovem com seu filho ficou encantada pelo artista e com o desenho, a última vez que ela viu algo do tipo foi com Csisál, que desenhava e projetava os vestidos que a mesma fazia. Relembrando melhor, os traços de sua irmã eram belos.
A rainha comentava algo parecido em resposta à jovem.
Após um tempo o artista terminou o retratos e mostrou para os três na sala, Muhimoketsu pede para ele desenhar um outro, mas com o cabelo bem curto, dizendo que seu irmão não era idiota e claramente cortaria o cabelo o bastante para ser irreconhecível.
Após um tempo, os desenhos foram terminados, pagos e copiados por magia, entregues para os soldados, que se espalharam e colaram cada papel em diversos lugares.
— Irmão, tem certeza que aquele preço não é um pouco exagerado? Nhomuhcsia só tem quatorze anos, assim como você — disse a menina um pouco apreensiva.
Ambos estavam no quarto, Sálmuhaketsu brincava no chão com algumas pedrinhas e gravetos.
— A cabeça dele vale pelo pecado que cometeu; matou a nossa irmã, o nosso rei e ainda abusou de você, gerando esse filho, o demônio só morre, se o hospedeiro morrer; a recompensa é bem alta pois terão muitos problemas na hora de enfrentá-lo, muitos podem morrer — disse Muhimoketsu, sentado na cama, ele olhava para o chão.
O mesmo estava encostado na parede e de braços cruzados, o olhar de raiva e pensativo era o que o se mostrava na face.
— Que pena, enquanto isso eu me pergunto se meu filho souber, que ele foi gerado por um casal incestuoso, se fossemos primos até iria, mas… irmãos?— disse triste.
— Realmente complicado, mas recomendo ele treinar a arte dos combates, ele pode se tornar um bom soldado, isso se ele quiser, pois a vocação dele pode ser diferente do que esperamos.
— Uhum, sim, terei cuidado com esses caminhos, não quero que ele seja um delinquente qualquer e que faça mal a outras pessoas — falou a jovem.
— Exato, mas o mais importante, faça ele ser gente, vai ser importante — o jovem se levanta da cama, e segue para a porta.
Saindo do quarto e a fechando, de maneira violenta mas silenciosa.
Do lado de fora, Muhimoketsu cerrava os punhos e andava em passos pesados que faziam pequenas ventanias acontecer perto do menino. Ele caminhou pelos corredores que agora estavam restaurados e sem nenhuma marca do combate passado.
Parando de caminhar, ele olhava para o chão, além dele notar sua expressão de raiva e choro em seu rosto, ele notava algo a mais, algo feito de ouro, que fazia uma espécie de auréola nele.
— Mas o que… o que é isso?
Notando a presença dessa coisa estranha, ele olhou rapidamente para trás, pensando que iriam sumir quando fizesse isso, na verdade não sumiu e se manteve ali, na posição e rodando no sentido horário.
— Estranho, o que realmente é isso, é como uma hélice dourada com… desenhos? Espera! — ele tentou olhar melhor, havia sete daquelas pás douradas e na ponta de cada uma tinha um desenho.
Eram rostos, das sete, sei haviam faces, já que uma tinha um desenho de uma estrela de dez pontas e um círculo no meio, todas cravadas no metal como um carimbo.
Após tentar tocar naquelas “pás”, as mesmas se movem em um sentido confuso até que todas se juntam, formando um leque onde os desenhos se arranjaram em ordem.
Impressionado, abismado e alegre, por seu pensamento Muhimoketsu ficava animado, e seu objetivo realmente estava dando certo, já que o mesmo agora era “digno”.
— Uma arma divina, os deuses me deram e cada pá tem suas gravações! Isso, com este leque conseguirei matar meu irmão, e garantir que ele nunca mais reencarne! Oh meu Deus, espero que me perdoe depois de tudo isso, só quero libertar meu irmão…
O menino saiu andando, seguiu direto para a área de treinamento onde seu mestre estava treinando novos futuros soldados para o reino. O treino dele não era tão rigoroso, mas mesmo assim puxava muito do porte físico de cada um deles.
Muhimoketsu se aproximou do professor e chamou sua atenção, disse que queria mostrar algo para ele. Guiando para fora da arena, em um corredor lá estava o leque, encostado e reluzente pelo sol da tarde que passava pelas janelas.
— Espera, isso é o que eu estou pensando? — disse o mestre, impressionado e bem animado enquanto tocava na arma.
— Sim, é uma arma divina mestre, eu também estou impressionado pois além de ser meu, tem a gravura de cada um dos deuses — disse o jovem bem calmo em relação ao clima do adulto.
— Minha nossa, isso é maravilhoso menino! Uma arma tão poderosa, agora sim eu posso te considerar mais forte que eu — ficava de pé e apreciava o leque dourado.
— Ué, como assim, a sua lança não é uma arma “divina”? — questionou ele.
— Não, existem duas classes desses armamentos, a “arma sacra” e a “divina”, a sua é “divina” e a minha é “sacra”, meu armamento está abaixo do seu por conta disso.
— Está dizendo que armas “sacras” são inferiores às “divinas”?
— Exatamente, as sacras são feitas por anjos e entregues para você, e ela tem o que você precisa, as divinas são feitas para Deuses e eles podem dar para alguém que ele escolher, claro, a arma vai ser mais inferior que a original.
— Eles me escolheram… mas escolheu meu irmão também! Que estranho, isso não deveria estar certo — disse Muhimoketsu após pensar rapidamente.
— Demônios são o oposto de anjos, as armas dele são as “terríveis” e as “demoníacas”, e moleque, hora de treinar, e muito duro pois depois de amanhã iremos atrás de seu irmão.
Muhimoketsu suspira e acena com a cabeça, os dois se separam e o menino vai direto para a antiga área de lazer de seu irmão, agora com a grama mais alta e mais flores.
Muhimoketsu havia cuidado daquele lugar durante muito tempo enquanto seu irmão trabalhava, e era atormentado pelo demônio.
O treino dele foi simples, repetindo tudo o que ele havia aprendido com esse tempo; movimentos leves e precisos, mas agora com muita mais rapidez já que aquele leque não pesava nada em suas mãos.
“Essa é a diferença? Parece que estou segurando um pedaço de algodão, quase não tem peso!”
Em um de seus movimentos, uma das pás do leque se soltou, Muhimoketsu se assustou com isso e ficou perplexo. Se aproximou do pedaço que foi arremessado na parede e logo o pegou, notando melhor, aquela pá estava afiada em um dos lados, o menino logo olha para o leque.
“Pensei que eram somente pás, mas isso daqui serve como espadas também! Cada uma tem um fio próprio” disse enquanto via o quão afiado era “aparenta estar bastante afiado, a ponto de cortar papel facilmente, mas não mecorta”.
O jovem continuou seu treino, e tentou ser o mais dinâmico com o leque e com as pás que agora serviam como espada.